Após explorarem os cinco oceanos durante quase sete anos, Celso Pereira Neto, 32 anos, e Lucas Pereira, 29, estão prestes a concluir uma das maiores aventuras de suas vidas. A bordo do veleiro Katoosh, eles deixaram o Brasil em março de 2018 com o sonho de dar a volta ao mundo. Embora a travessia esteja perto de acabar, a história não parece que terminará nos portos brasileiros. Para os irmãos, o retorno marca o início de um novo desafio.
Se para a maioria das pessoas se lançar ao mar parece um enredo de cinema, para Neto e Lucas, a vida em um veleiro sempre foi algo natural. Desde a infância, eles estão acostumados à rotina flutuante. Em entrevista à coluna Claudia Meireles, os dois revelaram que a paixão pelo oceano vem de berço. Seus pais, Celso e Cláudia, já levavam uma vida a bordo antes mesmo de os irmãos nascerem.
“Quando a gente nasceu, nossos pais já moravam a bordo do veleiro Katoosh, nome dado em homenagem ao nosso poodle de estimação. Minha mãe passou toda a gravidez comigo no barco. Quando eu nasci, atracamos por um tempo, mas com um mês de vida já estávamos de volta ao mar”, conta Neto.
A mesma história se repetiu três anos depois, com a chegada de Lucas. Os dois passaram os primeiros anos embalados pelo balanço das ondas até que os pais decidiram que era hora de mudar de vida.
“Depois de rodar o Brasil inteiro, eles sentiram que precisávamos de uma base em terra para frequentar a escola, fazer amigos e ter uma vida social”, relembra Lucas.
Vida fora d’água

Com a decisão de ancorar em terra firme, a família escolheu Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Ali, os irmãos passaram a ter uma rotina parecida com a da maioria das crianças, mas sem jamais perder a conexão com o mar.
“Mesmo tendo uma casa normal, nunca abandonamos o barco. Sempre que podíamos, velejávamos para algum lugar. Ter o sonho de ir cada vez mais longe foi algo natural”, explica Lucas.
Para quem estava acostumado a olhar o horizonte por outra perspectiva, seguir um caminho tradicional nem sempre foi fácil. Quando chegou a hora de ingressar na faculdade, Neto percebeu que aquele não era seu lugar.
“Foi um período frustrante. Entrei no curso de engenharia, porque imaginava que gostaria de mexer com manutenção e mecânica, mas foi bastante decepcionante. Não só o curso, mas manter aquela vida, como um todo”, revela.
Neto foi ambicioso quando decidiu mudar de rota. Largou a faculdade de engenharia e resolveu que queria viver de um sonho que antes não parecia tão distante: dar a volta ao mundo em um veleiro.
“Quando dei start nessa ideia vi que demandaria tempo e esforço. É preciso preparar inúmeras coisas, desde a parte financeira até o próprio embarcação. Então, ajustei os planos e fui morar no barco, mas apenas com o intuito de voltar a ter uma vida a bordo”, explicou o primogênito.
Irmãos Katoosh pelo mundo
Para conseguir sustentar a vida a bordo, Neto passou a trabalhar com passeios pela região de Angra dos Reis e Rio de Janeiro. Enquanto isso, Lucas parecia estar bastante satisfeito com o caminho traçado.
“Um ano depois que eu já estava vivendo nas águas, Lucas decidiu que iria se juntar a mim. Eu pensei – agora temos a tripulação completa para dar a volta ao mundo: nós dois”, disse Neto.

Antes de zarpar, os irmãos passaram quase dois planejando e arrecadando fundos para expedição. “Sabíamos que precisávamos reformar o barco para torná-lo seguro para o projeto. Então, continuamos trabalhando com passeios turísticos e investimos cada centavo no Katoosh”, relembra Lucas.
Sem dinheiro para contratar profissionais, os dois decidiram fazer todo o trabalho sozinhos. Refizeram a parte hidráulica, mecânica, elétrica e estrutural do barco. “Tudo o que não sabíamos, a gente foi aprendendo na prática. Foi um ano de muito esforço, mas, no final, o veleiro estava pronto”, conta Lucas.

Em 5 de março de 2018, os irmãos deixaram o Brasil rumo ao Caribe. O plano inicial era ter reservas para seis meses e, depois disso, eles planejavam trabalhar em outros barcos pelo mundo. Mas algo inesperado aconteceu: a jornada ganhou popularidade nas redes sociais.
Atualmente, eles somam mais 1 milhão de pessoas acompanhando cada etapa do projeto. “Vimos que podíamos transformar isso em um meio de sustento”, revelou Neto.
Vida de influenciador
No começo da expedição, a monetização não era suficiente, mas, com o tempo e o aumento da audiência, os irmãos passaram a se manter com o conteúdo produzido. Atualmente, contam com patrocínios, um grupo de apoiadores e uma loja on-line.
“A rotina é intensa. Além de velejar, temos que estudar as rotas, fazer manutenção no barco, produzir conteúdo para diversas plataformas e interagir com nosso público”, explica Lucas.

Até o fechamento da reportagem, os meninos estão atracados na Bulgária. Antes de chegarem ao país dos Balcãs, os dois estavam na África do Sul, um dos lugares que já faz parte da lista de países que eles consideram imperdíveis.
“O país sul-africano era daqueles destinos que a gente não dava muita coisa, mas foi um dos países que mais nos surpreendeu. Primeiro, a beleza natural, com as cadeias de montanha, serras e os animais que são incríveis. Além disso, a simpatia do povo e a culinária são inconfundíveis”, relata Lucas.
Belezas paradisíacas e desafiadoras
Se por um lado a África do Sul foi um dos lugares mais lindos do mundo, os irmãos refletem que velejar pelos mares que banham a costa do país africano não é para qualquer um. “É a segunda navegação mais perigosa do mundo. A rota é marcada por fenômenos meteorológicos, como correntezas muito fortes, instabilidade, ventos que variam muito, além das ondas que são gigantescas. É um lugar que historicamente tem muitos naufrágios”, conta Neto.
Apesar da viagem ter sido tensa, não foi a primeira vez que o veleiro Katoosh foi confrontado com cenários desafiadores. Em 2019, os irmãos enfrentaram o maior perigo de toda a travessia.
“Estávamos chegando na Polinésia Francesa. Estava vindo uma tempestade forte e a gente queria chegar rápido no porto. Faltando umas 12 horas para atracarmos, ouvimos um forte estrondo e o barco ficou desgovernado”, lembrou Lucas.

O barulho foi por conta de um acidente envolvendo uma baleia que estava parada em uma profundidade em que não era possível detectar. “Infelizmente, nesses casos, não tem como evitar. Tudo que estivesse no nosso rumo, iria bater. A gente ficou 86 horas enfrentando a tempestade que estávamos tentando fugir. Foram inúmeros desafios”, explica Neto.
Apesar do susto, o destino final foi uma das experiências mais significativas do projeto. “A Polinésia Francesa foi o lugar mais bonito que já visitamos. Durante os dois anos de pandemia, ficamos por lá e conseguimos explorar bem a região”, revela Neto.
O retorno ao Brasil e os próximos passos

Faltando apenas dois meses para acabar a expedição, Neto e Lucas refletem que a reta final da jornada está sendo vivida com um mix de emoções.”Por um lado, queremos muito concluir esse projeto, pois foi um desafio gigantesco. Mas, ao mesmo tempo, à medida que o tempo está passando, a viagem está ficando cada vez melhor. A gente ama estar no mar, fazendo travessia. Então, sim, tem uma certa tristeza de estar acabando”, revela Lucas.
A previsão é que o Katoosh chegue ao Brasil na segunda quinzena de abril de 2025, fazendo escalas na Namíbia e na ilha de Santa Helena antes de atracarem em Ubatuba.
Embora a volta ao mundo esteja chegando ao fim, Neto e Lucas garantem que a jornada está longe de acabar. “Seria muito frustrante não ter um próximo projeto. Ainda não podemos revelar os detalhes, mas será algo inédito no Brasil. Estamos muito animados e prontos para o que vem pela frente”, finalizam os irmãos.
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Após explorarem os cinco oceanos durante quase sete anos, Celso Pereira Neto, 32 anos, e Lucas Pereira, 29, estão prestes a concluir uma das maiores aventuras de suas vidas. A bordo do veleiro Katoosh, eles deixaram o Brasil em março de 2018 com o sonho de dar a volta ao mundo. Embora a travessia esteja perto de acabar, a história não parece que terminará nos portos brasileiros. Para os irmãos, o retorno marca o início de um novo desafio.
Se para a maioria das pessoas se lançar ao mar parece um enredo de cinema, para Neto e Lucas, a vida em um veleiro sempre foi algo natural. Desde a infância, eles estão acostumados à rotina flutuante. Em entrevista à coluna Claudia Meireles, os dois revelaram que a paixão pelo oceano vem de berço. Seus pais, Celso e Cláudia, já levavam uma vida a bordo antes mesmo de os irmãos nascerem.
“Quando a gente nasceu, nossos pais já moravam a bordo do veleiro Katoosh, nome dado em homenagem ao nosso poodle de estimação. Minha mãe passou toda a gravidez comigo no barco. Quando eu nasci, atracamos por um tempo, mas com um mês de vida já estávamos de volta ao mar”, conta Neto.
A mesma história se repetiu três anos depois, com a chegada de Lucas. Os dois passaram os primeiros anos embalados pelo balanço das ondas até que os pais decidiram que era hora de mudar de vida.
“Depois de rodar o Brasil inteiro, eles sentiram que precisávamos de uma base em terra para frequentar a escola, fazer amigos e ter uma vida social”, relembra Lucas.
Vida fora d’água

Com a decisão de ancorar em terra firme, a família escolheu Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Ali, os irmãos passaram a ter uma rotina parecida com a da maioria das crianças, mas sem jamais perder a conexão com o mar.
“Mesmo tendo uma casa normal, nunca abandonamos o barco. Sempre que podíamos, velejávamos para algum lugar. Ter o sonho de ir cada vez mais longe foi algo natural”, explica Lucas.
Para quem estava acostumado a olhar o horizonte por outra perspectiva, seguir um caminho tradicional nem sempre foi fácil. Quando chegou a hora de ingressar na faculdade, Neto percebeu que aquele não era seu lugar.
“Foi um período frustrante. Entrei no curso de engenharia, porque imaginava que gostaria de mexer com manutenção e mecânica, mas foi bastante decepcionante. Não só o curso, mas manter aquela vida, como um todo”, revela.
Neto foi ambicioso quando decidiu mudar de rota. Largou a faculdade de engenharia e resolveu que queria viver de um sonho que antes não parecia tão distante: dar a volta ao mundo em um veleiro.
“Quando dei start nessa ideia vi que demandaria tempo e esforço. É preciso preparar inúmeras coisas, desde a parte financeira até o próprio embarcação. Então, ajustei os planos e fui morar no barco, mas apenas com o intuito de voltar a ter uma vida a bordo”, explicou o primogênito.
Irmãos Katoosh pelo mundo
Para conseguir sustentar a vida a bordo, Neto passou a trabalhar com passeios pela região de Angra dos Reis e Rio de Janeiro. Enquanto isso, Lucas parecia estar bastante satisfeito com o caminho traçado.
“Um ano depois que eu já estava vivendo nas águas, Lucas decidiu que iria se juntar a mim. Eu pensei – agora temos a tripulação completa para dar a volta ao mundo: nós dois”, disse Neto.

Antes de zarpar, os irmãos passaram quase dois planejando e arrecadando fundos para expedição. “Sabíamos que precisávamos reformar o barco para torná-lo seguro para o projeto. Então, continuamos trabalhando com passeios turísticos e investimos cada centavo no Katoosh”, relembra Lucas.
Sem dinheiro para contratar profissionais, os dois decidiram fazer todo o trabalho sozinhos. Refizeram a parte hidráulica, mecânica, elétrica e estrutural do barco. “Tudo o que não sabíamos, a gente foi aprendendo na prática. Foi um ano de muito esforço, mas, no final, o veleiro estava pronto”, conta Lucas.

Em 5 de março de 2018, os irmãos deixaram o Brasil rumo ao Caribe. O plano inicial era ter reservas para seis meses e, depois disso, eles planejavam trabalhar em outros barcos pelo mundo. Mas algo inesperado aconteceu: a jornada ganhou popularidade nas redes sociais.
Atualmente, eles somam mais 1 milhão de pessoas acompanhando cada etapa do projeto. “Vimos que podíamos transformar isso em um meio de sustento”, revelou Neto.
Vida de influenciador
No começo da expedição, a monetização não era suficiente, mas, com o tempo e o aumento da audiência, os irmãos passaram a se manter com o conteúdo produzido. Atualmente, contam com patrocínios, um grupo de apoiadores e uma loja on-line.
“A rotina é intensa. Além de velejar, temos que estudar as rotas, fazer manutenção no barco, produzir conteúdo para diversas plataformas e interagir com nosso público”, explica Lucas.

Até o fechamento da reportagem, os meninos estão atracados na Bulgária. Antes de chegarem ao país dos Balcãs, os dois estavam na África do Sul, um dos lugares que já faz parte da lista de países que eles consideram imperdíveis.
“O país sul-africano era daqueles destinos que a gente não dava muita coisa, mas foi um dos países que mais nos surpreendeu. Primeiro, a beleza natural, com as cadeias de montanha, serras e os animais que são incríveis. Além disso, a simpatia do povo e a culinária são inconfundíveis”, relata Lucas.
Belezas paradisíacas e desafiadoras
Se por um lado a África do Sul foi um dos lugares mais lindos do mundo, os irmãos refletem que velejar pelos mares que banham a costa do país africano não é para qualquer um. “É a segunda navegação mais perigosa do mundo. A rota é marcada por fenômenos meteorológicos, como correntezas muito fortes, instabilidade, ventos que variam muito, além das ondas que são gigantescas. É um lugar que historicamente tem muitos naufrágios”, conta Neto.
Apesar da viagem ter sido tensa, não foi a primeira vez que o veleiro Katoosh foi confrontado com cenários desafiadores. Em 2019, os irmãos enfrentaram o maior perigo de toda a travessia.
“Estávamos chegando na Polinésia Francesa. Estava vindo uma tempestade forte e a gente queria chegar rápido no porto. Faltando umas 12 horas para atracarmos, ouvimos um forte estrondo e o barco ficou desgovernado”, lembrou Lucas.

O barulho foi por conta de um acidente envolvendo uma baleia que estava parada em uma profundidade em que não era possível detectar. “Infelizmente, nesses casos, não tem como evitar. Tudo que estivesse no nosso rumo, iria bater. A gente ficou 86 horas enfrentando a tempestade que estávamos tentando fugir. Foram inúmeros desafios”, explica Neto.
Apesar do susto, o destino final foi uma das experiências mais significativas do projeto. “A Polinésia Francesa foi o lugar mais bonito que já visitamos. Durante os dois anos de pandemia, ficamos por lá e conseguimos explorar bem a região”, revela Neto.
O retorno ao Brasil e os próximos passos

Faltando apenas dois meses para acabar a expedição, Neto e Lucas refletem que a reta final da jornada está sendo vivida com um mix de emoções.”Por um lado, queremos muito concluir esse projeto, pois foi um desafio gigantesco. Mas, ao mesmo tempo, à medida que o tempo está passando, a viagem está ficando cada vez melhor. A gente ama estar no mar, fazendo travessia. Então, sim, tem uma certa tristeza de estar acabando”, revela Lucas.
A previsão é que o Katoosh chegue ao Brasil na segunda quinzena de abril de 2025, fazendo escalas na Namíbia e na ilha de Santa Helena antes de atracarem em Ubatuba.
Embora a volta ao mundo esteja chegando ao fim, Neto e Lucas garantem que a jornada está longe de acabar. “Seria muito frustrante não ter um próximo projeto. Ainda não podemos revelar os detalhes, mas será algo inédito no Brasil. Estamos muito animados e prontos para o que vem pela frente”, finalizam os irmãos.
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