Do rosto limpo ao glamour total mais ousado. Do penteado bagunçado ao look clean. Das unhas nude até as mais complexas nail arts. Tudo é possível, exceto o equilíbrio? Especialistas nos falam sobre as correntes oposta Vivemos em tempos turbulentos. Época em que camisolas coexistem (ou coexistirão, segundo as previsões de moda, no outono-inverno 2025/2026) com casacos de pele. São tempos em que os penteados bagunçados de Prada e Caroline Hú e a sua revisão da feminilidade coexistem com looks ultra-polidos, como os coques elegantes de Christian Siriano ou os penteados trançados de Ulla Johnson. Mais do mesmo se aplica em questões de maquiagem ou unhas.
As unhas nude apresentadas no último desfile da Burberry e da Courrèges (sem um traço de esmalte) convivem com as ‘garras’ de Stella McCartney, da mesma forma que os rostos sem maquiagem de Chloé ou Zimmermann coincidem com os lábios escuros e vinílicos de Tom Ford, a boca neon da Lacoste ou delineador infinito da Coperni. “Não me surpreende que haja polarização nas tendências de beleza, porque também há uma polarização nas ideologias políticas, por exemplo”, diz Sara Jiménez, diretora de relações públicas e comunicação da Beauty Cluster e especialista em psicologia do consumidor. Ela acrescenta: “Essa polarização da beleza que estamos vivenciando atualmente reflete um profundo fenômeno sociocultural, ligado à necessidade de pertencimento e diferenciação dentro da sociedade”.
Tendências versus rebelião
Um conceito, o de pertencimento, explicado por Henri Tajfel em 1979 com a sua Teoria da Identidade Social: segundo ela, o nosso pertencimento a determinados grupos influencia a nossa autopercepção e autoestima. Antes de Tajfel, na década de 1940, Abraham Maslow, com sua pirâmide de necessidades, já identificava o pertencimento como uma necessidade fundamental do ser humano. “Hoje em dia, com as mídias sociais ampliando a visibilidade de diferentes estilos de vida e estéticas, é natural que surjam movimentos e correntes opostas. Tudo isso gera um diálogo constante que muitas vezes parece mais um debate entre tradição e inovação, e a rebeldia costuma ser associada aos movimentos mais inovadores ou transgressores, esquecendo que fazer parte da moda não é nada rebelde. Ser rebelde não significa fazer parte de um grupo, mas sim questionar ou desafiar as regras que esse grupo impõe”, diz a especialista do Beauty Cluster. “Lutamos para eliminar certos rótulos, mas ao mesmo tempo as pessoas querem fazer parte de um grupo”.
Leia também:
Tom Ford
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A maquiagem como forma de expressão
Dependendo do campo, as tendências são aceitas pela sociedade mais rapidamente ou de forma mais lenta. “É fácil ver como as pessoas mudam seu estilo de acordo com as tendências da moda da estação. É uma forma rápida e fácil de fazer experiências com o nosso corpo, seja dando um toque diferente ao look com um acessório ou mudando radicalmente a nossa maneira de nos vestir para experimentar estilos diferentes”, explica Xabier.
Mas quando se trata de maquiagem, as tendências geralmente não são adotadas tão levianamente, de acordo com a especialista da MAC. “A maquiagem representa a personalidade de cada indivíduo e mudar a nossa identidade é muito mais complicado. A maquiagem é algo mais pessoal, onde brincamos com as características do nosso rosto e nem todo mundo tem essa capacidade camaleônica de mudar de estilo tão rapidamente. Precisamos de mais tempo para nos vermos refletidos no espelho com uma maquiagem diferente e nos aceitarmos”. Felizmente, a nossa relação com a maquiagem mudou. “Graças às novas gerações e seu entusiasmo em experimentar coisas novas, o mundo da maquiagem está evoluindo mais rapidamente e agora podemos ver uma enorme variedade de estilos e personalidades na sociedade. Essas gerações das quais estou falando abriram os olhos para o passado, perderam o medo de tentar, de mudar. Embora ainda haja um longo caminho a percorrer”, conclui Rodrigues Lucena.
Lacoste bks S25 011
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Hiperconsciência sobre cuidados com a pele vs. simplicidade cosmética
Talvez em decorrência da sobrecarga de informação a que estamos expostos, “temos mais acesso do que nunca a dados sobre cosméticos e saúde, mas também a discursos contraditórios. E isso cria duas correntes: uma que segue todas as tendências à risca e outra que se sente sobrecarregada e decide desistir”, diz Raquel González, cosmetóloga e criadora da Byoode. Mireia Fernández, diretora da dermocosmética da Perricone MD, acrescenta: “Somos bombardeados com tantas opções que ou nos concentramos em analisar cada ingrediente, cada formulação, ou simplesmente nos desconectarmos”.
Assim, em termos de cuidados com a pele, surgem tendências opostas, como a tendência coreana que defende rotinas de tratamento com passos infinitos, ou a tendência minimalista ou “skinimalistic’: “basta alguns produtos bem escolhidos”, afirma Patricia Garín, diretora de dermocosmética da Boutijour. Na mesma linha, Estefanía Nieto, diretora de dermocosmética da Medik8, fala sobre uma tendência de hiperconsciência em relação aos cuidados com a pele e a resposta oposta que opta pela simplicidade absoluta. “Você não precisa de 12 passos, mas precisa de ingredientes ativos bem formulados e apoiados por estudos, como retinol ou peptídeos”.
Não é surpreendente que surjam tendências como “indulgência” ou “ciência sem limites”. O primeiro fala sobre a ascensão do luxo e dos gastos com a beleza como uma experiência sensorial. “O consumo de produtos de beleza já não é meramente funcional, mas uma experiência de luxo autocuidado. A tendência da ‘indulgência’ reflete uma mudança de mentalidade: já não compramos produtos apenas por necessidade, mas pelo prazer que nos proporcionam e pela ideia de ‘merecer’ esse mimo”, defende a especialista do Beauty Cluster. Uma ideia apoiadora por relatórios como o da McKinsey & Company de 2023, segundo o qual o mercado da beleza premium está crescendo duas vezes mais rápido que o mercado de produtos de médio porte. A polarização desta tendência? “Os dados indicam o crescimento das vendas de marcas privadas na Espanha, como a Deliplus, por exemplo”.
A tendência da “ciência sem limites”, fala de como a linha entre beleza e ciência se tornou tênue. “Os consumidores de hoje não buscam apenas produtos estéticamente apelativos, mas também soluções com respaldo científico que ofereçam resultados visíveis e rápidos”, acrescenta Jiménez. Ou seja, a utilização de tecnologias de ponta a serviço da cosmética. “As marcas estão investindo em biotecnologia, ingredientes encapsulados e fórmulas personalizadas para oferecer experiências ‘hiperindividualizadas’. O crescimento dos cuidados clínicos com a pele é uma resposta direta a um consumidor mais informado, que exige transparência e eficácia demonstradas por estudos científicos”.
Christian Dior HC S25 075
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‘Clean girl look’ vs. ‘bed hair’
Moda e beleza sempre desfrutaram dessa dualidade, diz o estilista Moncho Moreno. “Na década de 1960, podíamos encontrar os penteados elegantes de Jackie Kennedy e, ao mesmo tempo, hippies com seus cabelos soltos. A mesma coisa aconteceu nos anos 90 com o grunge desgrenhado e o cabelo ultra-liso das supermodelos. E agora estamos vendo isso com o visual de ‘clean girl’, caracterizado por penteados perfeitos e polidos, e ‘bed hair’. Segundo a especialista, tudo faz sentido: há quem gosta de se arrumar e brincar com a imagem e outros que buscam conforto e um visual mais autêntico.
Unha nude vs. Nail art ousada
Se há uma área onde a polarização das tendências de beleza é notável, são nas unhas. Ana Dobrokhotova, instrutora internacional de unhas na Semilac, confirma: “Por um lado, temos um visual minimalista e clean, com unhas curtas e naturais, muitas vezes em tons claros ou até transparentes. Uma tendência que enfatiza a saúde e a sutileza”. No outro extremo, encontramos unhas ousadas: “designs de unhas radicais, incluindo arte pintada à mão, strass e até mesmo as artes de unha 3D”.
E o meio termo?
O meio termo existe, mas é menos marcante, porém o mais comum. E para qual o tendemos. “O princípio de Le Chatelier diz que, quando um sistema em equilíbrio passa por uma mudança, ele se ajusta para neutralizá-la e retornar a um estado de estabilidade”, explica Sara Jimenéz. “O mesmo acontece com a sociedade: embora em certos momentos observemos extremos em tendências e comportamentos, com o tempo surgem correntes que suavizam esses contrastes criando uma oscilação entre inovação e tradição”.
A especialista conclui que, embora hoje a polarização na beleza pareça mais evidente do que nunca, o mais provável é que o ciclo natural nos leve de volta a um ponto intermediário, “onde diferentes expressões coexistirão sem que nenhuma delas seja percebida como uma reação extrema à outra. A história da moda e da beleza nos mostrou que tudo é cíclico, e os equilíbrios sempre acabam sendo restaurados, mesmo que seja em uma nova forma”.
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*Matéria originalmente publicada na Glamour Espanha
Do rosto limpo ao glamour total mais ousado. Do penteado bagunçado ao look clean. Das unhas nude até as mais complexas nail arts. Tudo é possível, exceto o equilíbrio? Especialistas nos falam sobre as correntes oposta Vivemos em tempos turbulentos. Época em que camisolas coexistem (ou coexistirão, segundo as previsões de moda, no outono-inverno 2025/2026) com casacos de pele. São tempos em que os penteados bagunçados de Prada e Caroline Hú e a sua revisão da feminilidade coexistem com looks ultra-polidos, como os coques elegantes de Christian Siriano ou os penteados trançados de Ulla Johnson. Mais do mesmo se aplica em questões de maquiagem ou unhas.
As unhas nude apresentadas no último desfile da Burberry e da Courrèges (sem um traço de esmalte) convivem com as ‘garras’ de Stella McCartney, da mesma forma que os rostos sem maquiagem de Chloé ou Zimmermann coincidem com os lábios escuros e vinílicos de Tom Ford, a boca neon da Lacoste ou delineador infinito da Coperni. “Não me surpreende que haja polarização nas tendências de beleza, porque também há uma polarização nas ideologias políticas, por exemplo”, diz Sara Jiménez, diretora de relações públicas e comunicação da Beauty Cluster e especialista em psicologia do consumidor. Ela acrescenta: “Essa polarização da beleza que estamos vivenciando atualmente reflete um profundo fenômeno sociocultural, ligado à necessidade de pertencimento e diferenciação dentro da sociedade”.
Tendências versus rebelião
Um conceito, o de pertencimento, explicado por Henri Tajfel em 1979 com a sua Teoria da Identidade Social: segundo ela, o nosso pertencimento a determinados grupos influencia a nossa autopercepção e autoestima. Antes de Tajfel, na década de 1940, Abraham Maslow, com sua pirâmide de necessidades, já identificava o pertencimento como uma necessidade fundamental do ser humano. “Hoje em dia, com as mídias sociais ampliando a visibilidade de diferentes estilos de vida e estéticas, é natural que surjam movimentos e correntes opostas. Tudo isso gera um diálogo constante que muitas vezes parece mais um debate entre tradição e inovação, e a rebeldia costuma ser associada aos movimentos mais inovadores ou transgressores, esquecendo que fazer parte da moda não é nada rebelde. Ser rebelde não significa fazer parte de um grupo, mas sim questionar ou desafiar as regras que esse grupo impõe”, diz a especialista do Beauty Cluster. “Lutamos para eliminar certos rótulos, mas ao mesmo tempo as pessoas querem fazer parte de um grupo”.
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Tom Ford
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A maquiagem como forma de expressão
Dependendo do campo, as tendências são aceitas pela sociedade mais rapidamente ou de forma mais lenta. “É fácil ver como as pessoas mudam seu estilo de acordo com as tendências da moda da estação. É uma forma rápida e fácil de fazer experiências com o nosso corpo, seja dando um toque diferente ao look com um acessório ou mudando radicalmente a nossa maneira de nos vestir para experimentar estilos diferentes”, explica Xabier.
Mas quando se trata de maquiagem, as tendências geralmente não são adotadas tão levianamente, de acordo com a especialista da MAC. “A maquiagem representa a personalidade de cada indivíduo e mudar a nossa identidade é muito mais complicado. A maquiagem é algo mais pessoal, onde brincamos com as características do nosso rosto e nem todo mundo tem essa capacidade camaleônica de mudar de estilo tão rapidamente. Precisamos de mais tempo para nos vermos refletidos no espelho com uma maquiagem diferente e nos aceitarmos”. Felizmente, a nossa relação com a maquiagem mudou. “Graças às novas gerações e seu entusiasmo em experimentar coisas novas, o mundo da maquiagem está evoluindo mais rapidamente e agora podemos ver uma enorme variedade de estilos e personalidades na sociedade. Essas gerações das quais estou falando abriram os olhos para o passado, perderam o medo de tentar, de mudar. Embora ainda haja um longo caminho a percorrer”, conclui Rodrigues Lucena.
Lacoste bks S25 011
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Hiperconsciência sobre cuidados com a pele vs. simplicidade cosmética
Talvez em decorrência da sobrecarga de informação a que estamos expostos, “temos mais acesso do que nunca a dados sobre cosméticos e saúde, mas também a discursos contraditórios. E isso cria duas correntes: uma que segue todas as tendências à risca e outra que se sente sobrecarregada e decide desistir”, diz Raquel González, cosmetóloga e criadora da Byoode. Mireia Fernández, diretora da dermocosmética da Perricone MD, acrescenta: “Somos bombardeados com tantas opções que ou nos concentramos em analisar cada ingrediente, cada formulação, ou simplesmente nos desconectarmos”.
Assim, em termos de cuidados com a pele, surgem tendências opostas, como a tendência coreana que defende rotinas de tratamento com passos infinitos, ou a tendência minimalista ou “skinimalistic’: “basta alguns produtos bem escolhidos”, afirma Patricia Garín, diretora de dermocosmética da Boutijour. Na mesma linha, Estefanía Nieto, diretora de dermocosmética da Medik8, fala sobre uma tendência de hiperconsciência em relação aos cuidados com a pele e a resposta oposta que opta pela simplicidade absoluta. “Você não precisa de 12 passos, mas precisa de ingredientes ativos bem formulados e apoiados por estudos, como retinol ou peptídeos”.
Não é surpreendente que surjam tendências como “indulgência” ou “ciência sem limites”. O primeiro fala sobre a ascensão do luxo e dos gastos com a beleza como uma experiência sensorial. “O consumo de produtos de beleza já não é meramente funcional, mas uma experiência de luxo autocuidado. A tendência da ‘indulgência’ reflete uma mudança de mentalidade: já não compramos produtos apenas por necessidade, mas pelo prazer que nos proporcionam e pela ideia de ‘merecer’ esse mimo”, defende a especialista do Beauty Cluster. Uma ideia apoiadora por relatórios como o da McKinsey & Company de 2023, segundo o qual o mercado da beleza premium está crescendo duas vezes mais rápido que o mercado de produtos de médio porte. A polarização desta tendência? “Os dados indicam o crescimento das vendas de marcas privadas na Espanha, como a Deliplus, por exemplo”.
A tendência da “ciência sem limites”, fala de como a linha entre beleza e ciência se tornou tênue. “Os consumidores de hoje não buscam apenas produtos estéticamente apelativos, mas também soluções com respaldo científico que ofereçam resultados visíveis e rápidos”, acrescenta Jiménez. Ou seja, a utilização de tecnologias de ponta a serviço da cosmética. “As marcas estão investindo em biotecnologia, ingredientes encapsulados e fórmulas personalizadas para oferecer experiências ‘hiperindividualizadas’. O crescimento dos cuidados clínicos com a pele é uma resposta direta a um consumidor mais informado, que exige transparência e eficácia demonstradas por estudos científicos”.
Christian Dior HC S25 075
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‘Clean girl look’ vs. ‘bed hair’
Moda e beleza sempre desfrutaram dessa dualidade, diz o estilista Moncho Moreno. “Na década de 1960, podíamos encontrar os penteados elegantes de Jackie Kennedy e, ao mesmo tempo, hippies com seus cabelos soltos. A mesma coisa aconteceu nos anos 90 com o grunge desgrenhado e o cabelo ultra-liso das supermodelos. E agora estamos vendo isso com o visual de ‘clean girl’, caracterizado por penteados perfeitos e polidos, e ‘bed hair’. Segundo a especialista, tudo faz sentido: há quem gosta de se arrumar e brincar com a imagem e outros que buscam conforto e um visual mais autêntico.
Unha nude vs. Nail art ousada
Se há uma área onde a polarização das tendências de beleza é notável, são nas unhas. Ana Dobrokhotova, instrutora internacional de unhas na Semilac, confirma: “Por um lado, temos um visual minimalista e clean, com unhas curtas e naturais, muitas vezes em tons claros ou até transparentes. Uma tendência que enfatiza a saúde e a sutileza”. No outro extremo, encontramos unhas ousadas: “designs de unhas radicais, incluindo arte pintada à mão, strass e até mesmo as artes de unha 3D”.
E o meio termo?
O meio termo existe, mas é menos marcante, porém o mais comum. E para qual o tendemos. “O princípio de Le Chatelier diz que, quando um sistema em equilíbrio passa por uma mudança, ele se ajusta para neutralizá-la e retornar a um estado de estabilidade”, explica Sara Jimenéz. “O mesmo acontece com a sociedade: embora em certos momentos observemos extremos em tendências e comportamentos, com o tempo surgem correntes que suavizam esses contrastes criando uma oscilação entre inovação e tradição”.
A especialista conclui que, embora hoje a polarização na beleza pareça mais evidente do que nunca, o mais provável é que o ciclo natural nos leve de volta a um ponto intermediário, “onde diferentes expressões coexistirão sem que nenhuma delas seja percebida como uma reação extrema à outra. A história da moda e da beleza nos mostrou que tudo é cíclico, e os equilíbrios sempre acabam sendo restaurados, mesmo que seja em uma nova forma”.
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*Matéria originalmente publicada na Glamour Espanha