A espera por benefícios no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) atingiu níveis críticos, com 1,8 milhão de pedidos acumulados na fila, dos quais cerca de 900 mil dependem de perícias médicas para serem liberados. O problema, que afeta milhões de brasileiros em busca de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e outros benefícios, reflete uma combinação de falta de médicos peritos, greves prolongadas e falhas estruturais no sistema previdenciário. Em cidades como Sumaré, no interior de São Paulo, a situação chegou ao extremo: uma mulher de 52 anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), precisou ser transportada de ambulância para uma agência do INSS, mas não havia perito disponível para atendê-la. Esse é apenas um dos muitos relatos que ilustram o drama enfrentado por segurados em todo o país.
Por trás dos números, há um embate entre o governo e a Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP). A entidade denuncia a existência de “perícias fake”, uma prática que consistiria em desmarcar agendamentos automaticamente para maquiar as estatísticas, sem oferecer solução real aos segurados. O Ministério da Previdência Social rebate, afirmando que os peritos estão boicotando o atendimento em um movimento que classificam como “lockout”. Enquanto as acusações voam de ambos os lados, a fila cresce, e a capacidade mensal de realizar 250 mil perícias não acompanha a demanda, que ultrapassa 900 mil avaliações pendentes. O déficit é agravado pela ausência de 650 peritos, afastados por políticas internas, e outros 450 em licenças ou férias.
A crise atual tem raízes em anos de instabilidade. Desde a pandemia, o INSS enfrenta desafios como o fechamento temporário de agências e a adoção de medidas emergenciais, como o Atestmed, que permite análise documental sem perícia presencial. Apesar de ter sido uma alternativa na época, a ferramenta voltou em 2023 como política permanente, gerando críticas por supostamente aumentar o risco de fraudes e expor dados médicos. O governo aposta em soluções como um novo concurso para 500 vagas de peritos, mas a demora na implementação mantém os segurados em um limbo de incertezas.
Origem do caos: greve e falta de pessoal
A paralisação dos médicos peritos em 2022 foi um divisor de águas na crise do INSS. Iniciada em março daquele ano, a greve se estendeu por meses e resultou em um acordo que, paradoxalmente, reduziu a produtividade em 40%, com metas diárias menores para os profissionais. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que os peritos cumprem menos de 50% da jornada de trabalho prevista em lei, contribuindo para o ritmo lento de atendimento. Hoje, com apenas 3.100 peritos ativos, o órgão não consegue zerar o estoque de pedidos, que inclui benefícios essenciais para a sobrevivência de muitos brasileiros.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tentou intervir, determinando que 70% das agendas fossem mantidas durante a greve, mas a ANMP acusa o governo de descumprir a decisão ao cancelar 100% dos agendamentos em algumas ocasiões. Esses cancelamentos, muitas vezes sem aviso prévio por SMS ou ligação, deixam segurados desorientados. Em resposta, o Ministério da Previdência pressiona os peritos com ameaças de suspensão de salários, enquanto a associação alega que as desmarcações são uma tática para forçar o fim da paralisação. O resultado é um impasse que paralisa o sistema e penaliza quem mais precisa.
Atestmed: solução ou problema?
Introduzido em 2020 como medida emergencial durante a pandemia, o Atestmed permite a concessão de benefícios com base em documentos médicos, sem a necessidade de perícia presencial. Retomado em 2023, o sistema é defendido pelo governo como uma forma de agilizar processos, mas enfrenta forte oposição dos peritos. A ANMP argumenta que a análise documental por servidores administrativos, sem formação médica, compromete a qualidade das avaliações e abre brechas para fraudes. Além disso, a exposição de dados sensíveis a funcionários não vinculados a conselhos de medicina é outro ponto de crítica.
O impacto do Atestmed é visível nos números. Em 2022, 65% dos pedidos analisados automaticamente foram indeferidos, o maior índice desde 2006, segundo dados extraoficiais. Esse alto volume de negativas gera retrabalho, com segurados recorrendo a recursos administrativos ou ações judiciais para reverter as decisões. Apesar das controvérsias, o governo insiste na ferramenta, enquanto planeja um novo concurso público para reforçar o quadro de peritos, uma medida que, por enquanto, permanece no campo das promessas.
Histórias reais: o custo humano da espera
Por trás das estatísticas, há vidas afetadas pela lentidão do INSS. Em Sumaré, a mulher de 52 anos que sofreu um AVC é um exemplo emblemático. Sem mobilidade, ela depende do benefício por incapacidade para custear tratamentos e despesas básicas. A família investiu em uma ambulância para levá-la à agência, mas a ausência de um perito no dia agendado transformou o esforço em frustração. Relatos semelhantes ecoam pelo país, com segurados enfrentando cancelamentos inesperados e dificuldades para remarcar atendimentos pelo telefone 135 ou pelo aplicativo Meu INSS.
A falta de comunicação agrava o problema. Muitos não recebem avisos sobre desmarcações, chegando às agências apenas para descobrir que o atendimento foi suspenso. Para os mais vulneráveis, como idosos e pessoas com deficiências graves, a espera prolongada significa meses sem renda, agravando situações de pobreza e desespero. A promessa de um sistema mais eficiente, com uso de tecnologia e novas contratações, ainda não se traduziu em alívio imediato para esses segurados.
Dados que revelam a dimensão do problema
Os números do INSS são um alerta sobre a gravidade da crise. Com 1,8 milhão de pedidos na fila, o órgão enfrenta um déficit operacional que não fecha as contas. Veja os principais indicadores:
- 900 mil perícias médicas pendentes.
- 250 mil avaliações realizadas por mês.
- 3.100 peritos ativos no total.
- 650 peritos afastados por políticas internas.
- 450 peritos em licenças ou férias.
A capacidade limitada de atendimento contrasta com a crescente demanda por benefícios, especialmente após a pandemia. A automação, que deveria acelerar os processos, resultou em um aumento de indeferimentos, com 65% dos pedidos negados em 2022, gerando mais recursos e atrasos. A paralisação na divulgação do Boletim Estatístico da Previdência Social, interrompida desde novembro de 2024, também dificulta o monitoramento da situação.
Cronologia da crise: os marcos do colapso
A trajetória da crise no INSS é marcada por eventos que agravaram o cenário atual. Confira os principais momentos:
- 2020: Pandemia fecha agências e introduz o Atestmed como medida emergencial.
- Março de 2022: Greve dos peritos começa, durando meses.
- Fim de 2022: Acordo reduz metas de produtividade em 40%.
- 2023: Atestmed é retomado como política fixa.
- Novembro de 2024: Publicação do Boletim Estatístico é suspensa.
Esses episódios mostram como decisões emergenciais e disputas institucionais contribuíram para o caos. A falta de médicos em agências, como no caso de Sumaré, é apenas a ponta de um iceberg que envolve falhas de gestão e planejamento.
Medidas em andamento: o que está sendo feito
O governo aposta em duas frentes para enfrentar a crise: o Atestmed e a realização de um concurso público para 500 novos peritos. A primeira medida visa reduzir a dependência de perícias presenciais, mas é criticada por sua fragilidade técnica e ética. Já o concurso, embora promissor, ainda não tem data definida, o que mantém os segurados sem perspectiva de solução a curto prazo. Enquanto isso, a ANMP e o Ministério da Previdência seguem em um cabo de guerra, com trocas de acusações que dificultam avanços concretos.
A pressão judicial também cresce. Decisões como a do STJ, que exige a manutenção de 70% das agendas durante greves, buscam minimizar os danos, mas a implementação é inconsistente. Para os segurados, resta esperar – ou recorrer à Justiça, uma alternativa que sobrecarrega ainda mais o sistema.
Futuro incerto: desafios à frente
A resolução da crise no INSS depende de ações coordenadas que ainda não se materializaram. A contratação de novos peritos é essencial, mas insuficiente sem uma reestruturação do atendimento e maior transparência nos dados. A suspensão do Boletim Estatístico desde novembro de 2024 reflete a falta de clareza que permeia o sistema, dificultando o planejamento de soluções eficazes. Enquanto o impasse persiste, milhões de brasileiros seguem à mercê de um serviço essencial que não consegue cumprir sua função.
Casos como o de Sumaré evidenciam a urgência de mudanças. A fila de 1,8 milhão de pedidos não é apenas um número, mas um reflexo de vidas paralisadas pela ineficiência. Até que o INSS supere suas limitações, a promessa de segurança previdenciária continuará distante para quem mais precisa.

A espera por benefícios no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) atingiu níveis críticos, com 1,8 milhão de pedidos acumulados na fila, dos quais cerca de 900 mil dependem de perícias médicas para serem liberados. O problema, que afeta milhões de brasileiros em busca de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e outros benefícios, reflete uma combinação de falta de médicos peritos, greves prolongadas e falhas estruturais no sistema previdenciário. Em cidades como Sumaré, no interior de São Paulo, a situação chegou ao extremo: uma mulher de 52 anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), precisou ser transportada de ambulância para uma agência do INSS, mas não havia perito disponível para atendê-la. Esse é apenas um dos muitos relatos que ilustram o drama enfrentado por segurados em todo o país.
Por trás dos números, há um embate entre o governo e a Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP). A entidade denuncia a existência de “perícias fake”, uma prática que consistiria em desmarcar agendamentos automaticamente para maquiar as estatísticas, sem oferecer solução real aos segurados. O Ministério da Previdência Social rebate, afirmando que os peritos estão boicotando o atendimento em um movimento que classificam como “lockout”. Enquanto as acusações voam de ambos os lados, a fila cresce, e a capacidade mensal de realizar 250 mil perícias não acompanha a demanda, que ultrapassa 900 mil avaliações pendentes. O déficit é agravado pela ausência de 650 peritos, afastados por políticas internas, e outros 450 em licenças ou férias.
A crise atual tem raízes em anos de instabilidade. Desde a pandemia, o INSS enfrenta desafios como o fechamento temporário de agências e a adoção de medidas emergenciais, como o Atestmed, que permite análise documental sem perícia presencial. Apesar de ter sido uma alternativa na época, a ferramenta voltou em 2023 como política permanente, gerando críticas por supostamente aumentar o risco de fraudes e expor dados médicos. O governo aposta em soluções como um novo concurso para 500 vagas de peritos, mas a demora na implementação mantém os segurados em um limbo de incertezas.
Origem do caos: greve e falta de pessoal
A paralisação dos médicos peritos em 2022 foi um divisor de águas na crise do INSS. Iniciada em março daquele ano, a greve se estendeu por meses e resultou em um acordo que, paradoxalmente, reduziu a produtividade em 40%, com metas diárias menores para os profissionais. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que os peritos cumprem menos de 50% da jornada de trabalho prevista em lei, contribuindo para o ritmo lento de atendimento. Hoje, com apenas 3.100 peritos ativos, o órgão não consegue zerar o estoque de pedidos, que inclui benefícios essenciais para a sobrevivência de muitos brasileiros.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tentou intervir, determinando que 70% das agendas fossem mantidas durante a greve, mas a ANMP acusa o governo de descumprir a decisão ao cancelar 100% dos agendamentos em algumas ocasiões. Esses cancelamentos, muitas vezes sem aviso prévio por SMS ou ligação, deixam segurados desorientados. Em resposta, o Ministério da Previdência pressiona os peritos com ameaças de suspensão de salários, enquanto a associação alega que as desmarcações são uma tática para forçar o fim da paralisação. O resultado é um impasse que paralisa o sistema e penaliza quem mais precisa.
Atestmed: solução ou problema?
Introduzido em 2020 como medida emergencial durante a pandemia, o Atestmed permite a concessão de benefícios com base em documentos médicos, sem a necessidade de perícia presencial. Retomado em 2023, o sistema é defendido pelo governo como uma forma de agilizar processos, mas enfrenta forte oposição dos peritos. A ANMP argumenta que a análise documental por servidores administrativos, sem formação médica, compromete a qualidade das avaliações e abre brechas para fraudes. Além disso, a exposição de dados sensíveis a funcionários não vinculados a conselhos de medicina é outro ponto de crítica.
O impacto do Atestmed é visível nos números. Em 2022, 65% dos pedidos analisados automaticamente foram indeferidos, o maior índice desde 2006, segundo dados extraoficiais. Esse alto volume de negativas gera retrabalho, com segurados recorrendo a recursos administrativos ou ações judiciais para reverter as decisões. Apesar das controvérsias, o governo insiste na ferramenta, enquanto planeja um novo concurso público para reforçar o quadro de peritos, uma medida que, por enquanto, permanece no campo das promessas.
Histórias reais: o custo humano da espera
Por trás das estatísticas, há vidas afetadas pela lentidão do INSS. Em Sumaré, a mulher de 52 anos que sofreu um AVC é um exemplo emblemático. Sem mobilidade, ela depende do benefício por incapacidade para custear tratamentos e despesas básicas. A família investiu em uma ambulância para levá-la à agência, mas a ausência de um perito no dia agendado transformou o esforço em frustração. Relatos semelhantes ecoam pelo país, com segurados enfrentando cancelamentos inesperados e dificuldades para remarcar atendimentos pelo telefone 135 ou pelo aplicativo Meu INSS.
A falta de comunicação agrava o problema. Muitos não recebem avisos sobre desmarcações, chegando às agências apenas para descobrir que o atendimento foi suspenso. Para os mais vulneráveis, como idosos e pessoas com deficiências graves, a espera prolongada significa meses sem renda, agravando situações de pobreza e desespero. A promessa de um sistema mais eficiente, com uso de tecnologia e novas contratações, ainda não se traduziu em alívio imediato para esses segurados.
Dados que revelam a dimensão do problema
Os números do INSS são um alerta sobre a gravidade da crise. Com 1,8 milhão de pedidos na fila, o órgão enfrenta um déficit operacional que não fecha as contas. Veja os principais indicadores:
- 900 mil perícias médicas pendentes.
- 250 mil avaliações realizadas por mês.
- 3.100 peritos ativos no total.
- 650 peritos afastados por políticas internas.
- 450 peritos em licenças ou férias.
A capacidade limitada de atendimento contrasta com a crescente demanda por benefícios, especialmente após a pandemia. A automação, que deveria acelerar os processos, resultou em um aumento de indeferimentos, com 65% dos pedidos negados em 2022, gerando mais recursos e atrasos. A paralisação na divulgação do Boletim Estatístico da Previdência Social, interrompida desde novembro de 2024, também dificulta o monitoramento da situação.
Cronologia da crise: os marcos do colapso
A trajetória da crise no INSS é marcada por eventos que agravaram o cenário atual. Confira os principais momentos:
- 2020: Pandemia fecha agências e introduz o Atestmed como medida emergencial.
- Março de 2022: Greve dos peritos começa, durando meses.
- Fim de 2022: Acordo reduz metas de produtividade em 40%.
- 2023: Atestmed é retomado como política fixa.
- Novembro de 2024: Publicação do Boletim Estatístico é suspensa.
Esses episódios mostram como decisões emergenciais e disputas institucionais contribuíram para o caos. A falta de médicos em agências, como no caso de Sumaré, é apenas a ponta de um iceberg que envolve falhas de gestão e planejamento.
Medidas em andamento: o que está sendo feito
O governo aposta em duas frentes para enfrentar a crise: o Atestmed e a realização de um concurso público para 500 novos peritos. A primeira medida visa reduzir a dependência de perícias presenciais, mas é criticada por sua fragilidade técnica e ética. Já o concurso, embora promissor, ainda não tem data definida, o que mantém os segurados sem perspectiva de solução a curto prazo. Enquanto isso, a ANMP e o Ministério da Previdência seguem em um cabo de guerra, com trocas de acusações que dificultam avanços concretos.
A pressão judicial também cresce. Decisões como a do STJ, que exige a manutenção de 70% das agendas durante greves, buscam minimizar os danos, mas a implementação é inconsistente. Para os segurados, resta esperar – ou recorrer à Justiça, uma alternativa que sobrecarrega ainda mais o sistema.
Futuro incerto: desafios à frente
A resolução da crise no INSS depende de ações coordenadas que ainda não se materializaram. A contratação de novos peritos é essencial, mas insuficiente sem uma reestruturação do atendimento e maior transparência nos dados. A suspensão do Boletim Estatístico desde novembro de 2024 reflete a falta de clareza que permeia o sistema, dificultando o planejamento de soluções eficazes. Enquanto o impasse persiste, milhões de brasileiros seguem à mercê de um serviço essencial que não consegue cumprir sua função.
Casos como o de Sumaré evidenciam a urgência de mudanças. A fila de 1,8 milhão de pedidos não é apenas um número, mas um reflexo de vidas paralisadas pela ineficiência. Até que o INSS supere suas limitações, a promessa de segurança previdenciária continuará distante para quem mais precisa.
