A inflação no Brasil ganhou força em fevereiro, impulsionada principalmente por um salto nos preços da energia elétrica residencial. Dados divulgados nesta quarta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o termômetro oficial da inflação no país, subiu 1,31% no último mês. Trata-se do maior avanço para um fevereiro em 22 anos, desde 2003, quando o índice registrou 1,57%. A disparada dos custos de energia, que subiram 16,80%, foi o principal motor dessa aceleração, revertendo os efeitos de um desconto aplicado em janeiro pelo chamado Bônus de Itaipu. Com isso, o acumulado em 12 meses chegou a 5,06%, ultrapassando o teto da meta estipulada pelo Banco Central (BC), de 4,50%. Esse cenário reacende debates sobre os rumos da política monetária e os desafios para o bolso dos brasileiros em 2025.
Fevereiro marcou uma virada significativa na trajetória dos preços, após um janeiro de alívio com alta de apenas 0,16%, influenciada pelo desconto nas contas de luz. O fim do Bônus de Itaipu, que havia reduzido as tarifas em até R$ 49 para cerca de 78 milhões de consumidores, trouxe uma normalização que pesou no grupo Habitação. Esse segmento, com alta de 4,44%, respondeu por 0,65 ponto percentual do IPCA do mês. Outros fatores, como o aumento nas mensalidades escolares e a pressão persistente em serviços, também contribuíram para o resultado, que ficou alinhado às expectativas do mercado financeiro, projetadas em torno de 1,30%. No acumulado do ano, o IPCA já soma 1,47% nos dois primeiros meses.
Além da energia elétrica, a onda de calor extremo que atingiu o Brasil em fevereiro agravou a situação, levando o consumo de energia a níveis recordes pelo segundo dia consecutivo. A combinação de temperaturas elevadas e maior uso de aparelhos como ar-condicionado ampliou a demanda no setor elétrico, enquanto os reajustes em tarifas de água e esgoto em cidades como Campo Grande e Belo Horizonte adicionaram 0,14% ao índice. O panorama reflete um início de ano desafiador para a economia brasileira, com a inflação testando os limites da meta e pressionando o BC a manter uma postura firme na condução da taxa Selic.
Energia elétrica e serviços puxam a inflação para cima
O impacto da energia elétrica no orçamento das famílias foi o destaque do mês, mas outros setores também mostraram alta. O grupo Educação registrou o maior aumento percentual, com 4,70%, devido aos reajustes sazonais das mensalidades escolares no início do ano letivo. Ensino fundamental (7,51%), ensino médio (7,27%) e pré-escola (7,02%) lideraram as altas, contribuindo com 0,28 ponto percentual para o IPCA. José Fernando Pereira, gerente da pesquisa do IBGE, explica que esses aumentos são típicos do período, mas a intensidade reflete um mercado aquecido, com maior demanda por serviços educacionais.
Já o grupo Alimentação e bebidas subiu 0,70%, com impacto de 0,15 ponto percentual no índice geral, embora tenha desacelerado em relação a janeiro (0,96%). Produtos como ovo de galinha (15,39%) e café moído (10,77%) foram os vilões da cesta básica, pressionados por fatores como o aumento das exportações de ovos devido à gripe aviária nos Estados Unidos, o início das aulas e o calor excessivo, que afetou a produção. Por outro lado, itens como batata-inglesa (-4,10%), arroz (-1,61%) e leite longa vida (-1,04%) apresentaram quedas, aliviando parcialmente o custo alimentar das famílias.
Os combustíveis também entraram na lista de pressões inflacionárias, com alta média de 2,89% no grupo Transportes, que subiu 0,61% e impactou o IPCA em 0,13 ponto percentual. Óleo diesel (4,35%), etanol (3,62%) e gasolina (2,78%) lideraram os aumentos, enquanto o gás veicular caiu 0,52%. Ajustes em tarifas de transporte público em algumas regiões reforçaram a alta nesse segmento, evidenciando como os preços monitorados pelo governo continuam a desafiar o controle da inflação no curto prazo.
Pressão nos preços monitorados e o papel do Bônus de Itaipu
A disparada dos preços monitorados, que saltaram 3,16% em fevereiro após uma queda de 1,52% em janeiro, reflete a volatilidade de itens regulados pelo governo. Esses preços, que incluem energia elétrica, combustíveis e tarifas de transporte público, acumulam alta de 5,19% em 12 meses, acima do IPCA geral. O principal gatilho foi o fim do Bônus de Itaipu, um crédito de R$ 1,3 bilhão distribuído em janeiro aos consumidores residenciais e rurais com consumo inferior a 350 quilowatts-hora em pelo menos um mês de 2023. O desconto, que variou em média R$ 16,66 e chegou a R$ 49 em alguns casos, havia gerado uma deflação de 14,21% nas tarifas no início do ano.
O Bônus de Itaipu teve origem em um saldo positivo de R$ 399 milhões da hidrelétrica em 2023, complementado por R$ 842 milhões de saldos de 2020 e 2021 — valores usados para mitigar os efeitos da pandemia e da crise hídrica no setor elétrico — e R$ 65 milhões de rendimentos financeiros. A medida beneficiou milhões de brasileiros, mas sua ausência em fevereiro revelou o custo real da energia, agravado pela alta demanda durante a onda de calor. Sem o desconto, o grupo Habitação teria elevado o IPCA a 0,78%, ainda assim um patamar significativo, segundo Pereira.
A inflação de serviços, outro ponto de atenção, subiu de 0,78% em janeiro para 0,82% em fevereiro, acumulando 5,32% em 12 meses — acima do índice geral de 5,06%. Reajustes em mensalidades escolares, clubes, hospedagem, depilação, pet shop, aluguel residencial, manicure e serviços bancários foram os principais responsáveis. O mercado de trabalho aquecido, com baixa desocupação e aumento da renda, continua impulsionando a demanda por serviços, o que mantém os preços elevados e preocupa o Banco Central na condução da política monetária.
Como a alta da energia elétrica afeta a economia real
A escalada dos preços da energia elétrica não se limita às contas das residências: ela reverbera por toda a economia. Com o aumento de 16,80% nas tarifas, os custos de produção de bens e serviços também sobem, especialmente em setores intensivos em energia, como indústria e comércio. Esse efeito cascata pode pressionar ainda mais a inflação nos próximos meses, dificultando o controle dentro da meta de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Em 12 meses, o IPCA já está em 5,06%, acima do limite de 4,50%, o que sinaliza desafios para o Comitê de Política Monetária (Copom).
O calendário de divulgação do IPCA em 2025, já disponibilizado pelo IBGE, prevê os próximos resultados nas seguintes datas:
- Março: 10 de abril
- Abril: 9 de maio
- Maio: 10 de junho
- Junho: 9 de julho
- Julho: 8 de agosto
- Agosto: 10 de setembro Esses dados serão cruciais para monitorar a trajetória da inflação, especialmente após o impacto da energia elétrica em fevereiro. Economistas alertam que, sem medidas para conter os preços monitorados e com a demanda por serviços em alta, o BC pode manter ou até elevar a Selic, atualmente em 13,25% ao ano, para esfriar a economia.
A onda de calor, que elevou o consumo de energia a níveis recordes, também expôs a vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro diante de eventos climáticos extremos. A maior dependência de fontes térmicas, mais caras, para suprir a demanda pode manter as tarifas pressionadas, enquanto a normalização após o Bônus de Itaipu mostra como políticas temporárias de alívio têm efeito limitado frente a custos estruturais. Famílias de baixa renda, menos preparadas para absorver essas altas, sentem o impacto com mais intensidade, como reflete o avanço de 1,48% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) no mesmo mês.
Setores mais afetados pela inflação em fevereiro
Diferentes grupos de consumo enfrentaram pressões variadas em fevereiro, com destaque para Educação, Habitação e Alimentação e bebidas. O avanço de 4,70% nas mensalidades escolares reflete um padrão sazonal, mas a magnitude das altas surpreendeu. Escolas particulares ajustaram preços em meio a um cenário de maior demanda, impulsionada pela recuperação econômica e pelo retorno pleno às aulas presenciais. Esse movimento, somado à alta nos serviços, como aluguel residencial e pet shops, evidencia a força da inflação no setor terciário.
Já os itens da cesta básica mostraram comportamento misto. Enquanto ovos e café moído dispararam, influenciados por fatores externos e climáticos, produtos como arroz e leite registraram quedas, oferecendo algum alívio. Veja os principais destaques do grupo Alimentação e bebidas:
- Ovo de galinha: +15,39%
- Café moído: +10,77%
- Batata-inglesa: -4,10%
- Arroz: -1,61%
- Leite longa vida: -1,04% A alta nos combustíveis, com gasolina subindo 2,78%, também afetou o custo de transporte e logística, pressionando indiretamente outros preços. Esses movimentos refletem um cenário de inflação espalhada, mas concentrada em itens essenciais, o que reduz o poder de compra das famílias.
O grupo Habitação, por sua vez, foi o grande protagonista do mês, com a energia elétrica como principal vilão. A alta de 16,80% nas tarifas residenciais superou em muito a deflação de 14,21% registrada em janeiro com o Bônus de Itaipu, mostrando como medidas pontuais têm impacto temporário. A taxa de água e esgoto, com aumento de 0,14%, complementou a pressão, especialmente em regiões metropolitanas onde os reajustes foram aplicados.
Perspectivas para a inflação e os juros no Brasil
Com o IPCA acumulando 5,06% em 12 meses, o Banco Central enfrenta um dilema. A meta de inflação para 2025 é de 3%, com tolerância entre 1,50% e 4,50%, e o atual patamar exige atenção. A alta dos preços monitorados, como energia e combustíveis, escapa parcialmente do controle direto da política monetária, mas a inflação de serviços, em 5,32% no mesmo período, indica uma demanda aquecida que pode justificar novas elevações na Selic. Após quatro altas consecutivas, a taxa básica de juros está em 13,25% ao ano, e o Copom deve avaliar os dados de fevereiro em sua próxima reunião.
A pressão inflacionária também reflete um mercado de trabalho robusto, com baixa desocupação e renda em alta, o que estimula o consumo de serviços. Pereira, do IBGE, destaca que esse aquecimento mantém os preços elevados, dificultando uma desaceleração no curto prazo. Enquanto isso, a onda de calor e seus efeitos no consumo de energia sugerem que os custos elétricos podem continuar pesando, especialmente se eventos climáticos extremos se intensificarem ao longo do ano.
Para os consumidores, o cenário exige adaptações. A alta na energia elétrica eleva o custo de vida, enquanto os aumentos em mensalidades escolares e combustíveis encarecem despesas fixas e deslocamentos. Famílias de renda mais baixa, monitoradas pelo INPC, sentiram um impacto ainda maior, com o índice subindo 1,48% em fevereiro e acumulando 4,87% em 12 meses. O fim do Bônus de Itaipu e a volta dos preços reais das tarifas expõem a fragilidade de medidas temporárias diante de um sistema de custos estruturalmente elevado.

A inflação no Brasil ganhou força em fevereiro, impulsionada principalmente por um salto nos preços da energia elétrica residencial. Dados divulgados nesta quarta-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o termômetro oficial da inflação no país, subiu 1,31% no último mês. Trata-se do maior avanço para um fevereiro em 22 anos, desde 2003, quando o índice registrou 1,57%. A disparada dos custos de energia, que subiram 16,80%, foi o principal motor dessa aceleração, revertendo os efeitos de um desconto aplicado em janeiro pelo chamado Bônus de Itaipu. Com isso, o acumulado em 12 meses chegou a 5,06%, ultrapassando o teto da meta estipulada pelo Banco Central (BC), de 4,50%. Esse cenário reacende debates sobre os rumos da política monetária e os desafios para o bolso dos brasileiros em 2025.
Fevereiro marcou uma virada significativa na trajetória dos preços, após um janeiro de alívio com alta de apenas 0,16%, influenciada pelo desconto nas contas de luz. O fim do Bônus de Itaipu, que havia reduzido as tarifas em até R$ 49 para cerca de 78 milhões de consumidores, trouxe uma normalização que pesou no grupo Habitação. Esse segmento, com alta de 4,44%, respondeu por 0,65 ponto percentual do IPCA do mês. Outros fatores, como o aumento nas mensalidades escolares e a pressão persistente em serviços, também contribuíram para o resultado, que ficou alinhado às expectativas do mercado financeiro, projetadas em torno de 1,30%. No acumulado do ano, o IPCA já soma 1,47% nos dois primeiros meses.
Além da energia elétrica, a onda de calor extremo que atingiu o Brasil em fevereiro agravou a situação, levando o consumo de energia a níveis recordes pelo segundo dia consecutivo. A combinação de temperaturas elevadas e maior uso de aparelhos como ar-condicionado ampliou a demanda no setor elétrico, enquanto os reajustes em tarifas de água e esgoto em cidades como Campo Grande e Belo Horizonte adicionaram 0,14% ao índice. O panorama reflete um início de ano desafiador para a economia brasileira, com a inflação testando os limites da meta e pressionando o BC a manter uma postura firme na condução da taxa Selic.
Energia elétrica e serviços puxam a inflação para cima
O impacto da energia elétrica no orçamento das famílias foi o destaque do mês, mas outros setores também mostraram alta. O grupo Educação registrou o maior aumento percentual, com 4,70%, devido aos reajustes sazonais das mensalidades escolares no início do ano letivo. Ensino fundamental (7,51%), ensino médio (7,27%) e pré-escola (7,02%) lideraram as altas, contribuindo com 0,28 ponto percentual para o IPCA. José Fernando Pereira, gerente da pesquisa do IBGE, explica que esses aumentos são típicos do período, mas a intensidade reflete um mercado aquecido, com maior demanda por serviços educacionais.
Já o grupo Alimentação e bebidas subiu 0,70%, com impacto de 0,15 ponto percentual no índice geral, embora tenha desacelerado em relação a janeiro (0,96%). Produtos como ovo de galinha (15,39%) e café moído (10,77%) foram os vilões da cesta básica, pressionados por fatores como o aumento das exportações de ovos devido à gripe aviária nos Estados Unidos, o início das aulas e o calor excessivo, que afetou a produção. Por outro lado, itens como batata-inglesa (-4,10%), arroz (-1,61%) e leite longa vida (-1,04%) apresentaram quedas, aliviando parcialmente o custo alimentar das famílias.
Os combustíveis também entraram na lista de pressões inflacionárias, com alta média de 2,89% no grupo Transportes, que subiu 0,61% e impactou o IPCA em 0,13 ponto percentual. Óleo diesel (4,35%), etanol (3,62%) e gasolina (2,78%) lideraram os aumentos, enquanto o gás veicular caiu 0,52%. Ajustes em tarifas de transporte público em algumas regiões reforçaram a alta nesse segmento, evidenciando como os preços monitorados pelo governo continuam a desafiar o controle da inflação no curto prazo.
Pressão nos preços monitorados e o papel do Bônus de Itaipu
A disparada dos preços monitorados, que saltaram 3,16% em fevereiro após uma queda de 1,52% em janeiro, reflete a volatilidade de itens regulados pelo governo. Esses preços, que incluem energia elétrica, combustíveis e tarifas de transporte público, acumulam alta de 5,19% em 12 meses, acima do IPCA geral. O principal gatilho foi o fim do Bônus de Itaipu, um crédito de R$ 1,3 bilhão distribuído em janeiro aos consumidores residenciais e rurais com consumo inferior a 350 quilowatts-hora em pelo menos um mês de 2023. O desconto, que variou em média R$ 16,66 e chegou a R$ 49 em alguns casos, havia gerado uma deflação de 14,21% nas tarifas no início do ano.
O Bônus de Itaipu teve origem em um saldo positivo de R$ 399 milhões da hidrelétrica em 2023, complementado por R$ 842 milhões de saldos de 2020 e 2021 — valores usados para mitigar os efeitos da pandemia e da crise hídrica no setor elétrico — e R$ 65 milhões de rendimentos financeiros. A medida beneficiou milhões de brasileiros, mas sua ausência em fevereiro revelou o custo real da energia, agravado pela alta demanda durante a onda de calor. Sem o desconto, o grupo Habitação teria elevado o IPCA a 0,78%, ainda assim um patamar significativo, segundo Pereira.
A inflação de serviços, outro ponto de atenção, subiu de 0,78% em janeiro para 0,82% em fevereiro, acumulando 5,32% em 12 meses — acima do índice geral de 5,06%. Reajustes em mensalidades escolares, clubes, hospedagem, depilação, pet shop, aluguel residencial, manicure e serviços bancários foram os principais responsáveis. O mercado de trabalho aquecido, com baixa desocupação e aumento da renda, continua impulsionando a demanda por serviços, o que mantém os preços elevados e preocupa o Banco Central na condução da política monetária.
Como a alta da energia elétrica afeta a economia real
A escalada dos preços da energia elétrica não se limita às contas das residências: ela reverbera por toda a economia. Com o aumento de 16,80% nas tarifas, os custos de produção de bens e serviços também sobem, especialmente em setores intensivos em energia, como indústria e comércio. Esse efeito cascata pode pressionar ainda mais a inflação nos próximos meses, dificultando o controle dentro da meta de 3% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Em 12 meses, o IPCA já está em 5,06%, acima do limite de 4,50%, o que sinaliza desafios para o Comitê de Política Monetária (Copom).
O calendário de divulgação do IPCA em 2025, já disponibilizado pelo IBGE, prevê os próximos resultados nas seguintes datas:
- Março: 10 de abril
- Abril: 9 de maio
- Maio: 10 de junho
- Junho: 9 de julho
- Julho: 8 de agosto
- Agosto: 10 de setembro Esses dados serão cruciais para monitorar a trajetória da inflação, especialmente após o impacto da energia elétrica em fevereiro. Economistas alertam que, sem medidas para conter os preços monitorados e com a demanda por serviços em alta, o BC pode manter ou até elevar a Selic, atualmente em 13,25% ao ano, para esfriar a economia.
A onda de calor, que elevou o consumo de energia a níveis recordes, também expôs a vulnerabilidade do sistema elétrico brasileiro diante de eventos climáticos extremos. A maior dependência de fontes térmicas, mais caras, para suprir a demanda pode manter as tarifas pressionadas, enquanto a normalização após o Bônus de Itaipu mostra como políticas temporárias de alívio têm efeito limitado frente a custos estruturais. Famílias de baixa renda, menos preparadas para absorver essas altas, sentem o impacto com mais intensidade, como reflete o avanço de 1,48% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) no mesmo mês.
Setores mais afetados pela inflação em fevereiro
Diferentes grupos de consumo enfrentaram pressões variadas em fevereiro, com destaque para Educação, Habitação e Alimentação e bebidas. O avanço de 4,70% nas mensalidades escolares reflete um padrão sazonal, mas a magnitude das altas surpreendeu. Escolas particulares ajustaram preços em meio a um cenário de maior demanda, impulsionada pela recuperação econômica e pelo retorno pleno às aulas presenciais. Esse movimento, somado à alta nos serviços, como aluguel residencial e pet shops, evidencia a força da inflação no setor terciário.
Já os itens da cesta básica mostraram comportamento misto. Enquanto ovos e café moído dispararam, influenciados por fatores externos e climáticos, produtos como arroz e leite registraram quedas, oferecendo algum alívio. Veja os principais destaques do grupo Alimentação e bebidas:
- Ovo de galinha: +15,39%
- Café moído: +10,77%
- Batata-inglesa: -4,10%
- Arroz: -1,61%
- Leite longa vida: -1,04% A alta nos combustíveis, com gasolina subindo 2,78%, também afetou o custo de transporte e logística, pressionando indiretamente outros preços. Esses movimentos refletem um cenário de inflação espalhada, mas concentrada em itens essenciais, o que reduz o poder de compra das famílias.
O grupo Habitação, por sua vez, foi o grande protagonista do mês, com a energia elétrica como principal vilão. A alta de 16,80% nas tarifas residenciais superou em muito a deflação de 14,21% registrada em janeiro com o Bônus de Itaipu, mostrando como medidas pontuais têm impacto temporário. A taxa de água e esgoto, com aumento de 0,14%, complementou a pressão, especialmente em regiões metropolitanas onde os reajustes foram aplicados.
Perspectivas para a inflação e os juros no Brasil
Com o IPCA acumulando 5,06% em 12 meses, o Banco Central enfrenta um dilema. A meta de inflação para 2025 é de 3%, com tolerância entre 1,50% e 4,50%, e o atual patamar exige atenção. A alta dos preços monitorados, como energia e combustíveis, escapa parcialmente do controle direto da política monetária, mas a inflação de serviços, em 5,32% no mesmo período, indica uma demanda aquecida que pode justificar novas elevações na Selic. Após quatro altas consecutivas, a taxa básica de juros está em 13,25% ao ano, e o Copom deve avaliar os dados de fevereiro em sua próxima reunião.
A pressão inflacionária também reflete um mercado de trabalho robusto, com baixa desocupação e renda em alta, o que estimula o consumo de serviços. Pereira, do IBGE, destaca que esse aquecimento mantém os preços elevados, dificultando uma desaceleração no curto prazo. Enquanto isso, a onda de calor e seus efeitos no consumo de energia sugerem que os custos elétricos podem continuar pesando, especialmente se eventos climáticos extremos se intensificarem ao longo do ano.
Para os consumidores, o cenário exige adaptações. A alta na energia elétrica eleva o custo de vida, enquanto os aumentos em mensalidades escolares e combustíveis encarecem despesas fixas e deslocamentos. Famílias de renda mais baixa, monitoradas pelo INPC, sentiram um impacto ainda maior, com o índice subindo 1,48% em fevereiro e acumulando 4,87% em 12 meses. O fim do Bônus de Itaipu e a volta dos preços reais das tarifas expõem a fragilidade de medidas temporárias diante de um sistema de custos estruturalmente elevado.
