Flor Gil esteve em contato com a música desde muito cedo e, só pelo peso de seu sobrenome, já sabemos que ela carrega um legado musical que a conecta profundamente com as raízes brasileiras. Porém, ela também tem buscado trilhar seu próprio caminho artístico.
Neta de Gilberto Gil, grande lenda da música brasileira, Flor, que hoje tem 16 anos, cresceu imersa no universo musical. Nos últimos anos acompanhou seu avô, ao lado de outros membros da família, em turnês mundiais que lhe proporcionaram uma experiência única, principalmente para uma jovem que está iniciando seu trabalho solo na música.
Em entrevista ao TMDQA!, Flor, que atualmente mora em Nova York e confessou não estar lembrando com facilidade de todas as palavras em português, compartilhou um pouco sobre o processo de criação do seu disco de estreia solo, que está previsto para ser lançado este ano.
Conversamos sobre os singles “CHORO ROSA” e “HELL NO”, que apresentam dois lados do que a artista pretende mostrar em seu disco, com ela se dedicando tanto aos elementos mais voltados à MPB como também ao Pop, e apresentando letras em português e inglês.
Ela ainda revelou algumas de suas principais referências nesses últimos tempos e confessou que espera que as pessoas não se assustem muito com as músicas que ela irá apresentar no disco:
“Eu espero muito que as pessoas recebam bem e gostem, porque eu sei que a música norte-americana é muito escutada e acho que pode ser do gosto de muita gente. E eu quero atrair pessoas daqui que possam me entender bem com a música e com o Brasil. […] É uma mistura de tudo que eu aprendi e que eu coletei ao longo da vida. Eu espero que as pessoas consigam entender que essa é a fusão musical que eu tenho na minha vida pessoal. O que eu ouço, o que eu gosto e o que eu tenho de conhecimento está presente no disco.”
Confira o papo na íntegra e os dois singles lançados por Flor Gil logo abaixo!
TMDQA! Entrevista Flor Gil
TMDQA!: Eu sei que você já pega a estrada acompanhando seu avô há alguns anos. A turnê mais recente foi a “Nós A Gente”, né? Como foi essa experiência pra você?
Flor: Eu gosto muito. É uma coisa que eu carrego comigo e que eu sinto falta toda vez, é uma despedida, é um drama, porque tá acabando. E eu tenho muita sorte de ter estado na estrada com o meu avô por sete anos e isso me trouxe muita, muita experiência. Muito conhecimento. Um conhecimento muito rico sobre o mundo, sobre a música. E também com a minha relação com os meus familiares e com o meu avô, já que geralmente é uma turnê em família.
E quando não é, também é uma experiência muito boa, porque eu acabo me conectando com músicos que trabalharam com o meu avô há anos, 20, 30 anos atrás. ou gente também mais nova e é sempre uma conexão diferente, e é muito bom porque me traz mais conhecimento. E eu sou muito grata a fazer essas turnês por isso, por me ajudar a crescer como pessoa num ambiente muito musical e também já crescer com um ambiente profissional, apesar de estar com meus familiares no palco.
TMDQA: Você acredita que ter feito esse projeto musical ao lado de vários membros da sua família influenciou na sua formação como artista?
Flor: Com certeza. E eu acho que se não fosse por isso, eu não teria a sagacidade, diria assim, de como me comportar em ambientes assim. E ter esse conhecimento é bom porque aí eu já consigo interagir mais com pessoas que eu não conheço e com outros artistas que têm um legado grande. Artistas que estão começando também ou os artistas novos de uma geração acima da minha e crescer num ambiente musical num lugar profissional e também fora. Como indo em muitos shows do meu avô, participando dos shows dele e também indo em festivais, shows de todos os tipos. Conhecendo as pessoas e cumprimentando, acho que tudo foi muito importante.
E é algo que eu vejo refletindo muito em mim hoje em dia morando fora. Eu vou numa escola de música e é a primeira vez que eu faço aula de coral. Que é uma realidade muito longe da minha. Porque eu cresci num ambiente onde a teoria tradicional não era muito exposta pra gente. Então estar num ambiente onde a teoria é muito importante, onde a gente é mais exposta à música clássica, aí eu consigo entender e valorizar muito mais o ambiente onde eu nasci. Pra mim, pessoalmente, é muito mais legal.
TMDQA!: Flor, você lançou no ano passado os singles “CHORO ROSA” e “HELL NO”, e eu queria saber por que você escolheu essas duas faixas para começar a apresentar seu primeiro trabalho solo?
Flor: No processo do álbum, “Choro Rosa” foi uma música composta com a MARO que junto com a Bárbara, produtora do disco, e meu primo, Bento, a gente estava ali em contato e a origem do violão da MARO é muito mais do clássico. Não do clássico, vem do tradicional, ela cresceu nesse ambiente porque a mãe dela é professora. Então misturar esses dois ambientes foi uma experiência muito boa.
E no processo do álbum, onde eu estava compondo coisas mais do estilo “Hell No”, essa música foi interessante também porque ela cabe muito ao ouvido brasileiro e também mais internacional pelo fato da MARO também ter uma conexão mais internacional. Então “Choro Rosa” foi porque se aproximava mais da expectativa das pessoas como um som que eu iria lançar como neta do Gilberto Gil e como brasileira, e MPB, e violão tradicional, bem violão e voz.
As pessoas estavam acostumadas com essa sonoridade, então lançar isso de primeira foi um bom jeito de introduzir o começo do meu trabalho para as pessoas. E “Hell No”, como segundo, foi um contraste bem forte, e eu até percebi isso que pras pessoas foi um contraste muito forte, foi uma faixa que muita gente reagiu, não de uma maneira ruim, mas surpresa e que fez total sentido. E foi meio que de propósito pra dar esse contraste e as pessoas também entenderem que eu posso fazer outra coisa.
TMDQA!: Eu li que seu disco vai ser majoritariamente em inglês. O que te motivou a fazer essa escolha e isso te deixa de traz algum receio de como as pessoas vão recebê-lo?
Flor: Esse disco passou por umas três transformações. Ele começou bem voltado para a nova MPB, que as minhas referências eram muito fortes em artistas brasileiros da nova geração que estão carregando a MPB, e a bossa nova, e a origem brasileira. E isso foi uns três anos atrás e eu acabei não entrando em estúdio, não foi a hora certa, não tive como colocar no papel e eu sinto que ela não foi para o papel mesmo porque não era o meu conteúdo mais forte e apesar de eu ter proximidade eu estava indo mais por influência. Então com o passar do tempo, aquela compilação de músicas, composições, acabaram envolvendo e eu dividi com a Bárbara e a gente foi tentando colocar aquelas coisas em gravações, só que não estava rolando muito.
Depois de um tempo eu deixei de lado, eu estava muito focada em turnê com meu avô, estava morando no Brasil e depois que eu dei um tempo nessa música e só saiu composições em inglês. Mas saiu muita coisa interessante, com uma certa mistura de português e inglês. Eu fui de algum jeito introduzindo mais coisas. Foi uma escolha que eu tive, que eu achei que seria legal.
Eu espero que não seja um susto pra muita gente, eu espero muito que as pessoas recebam bem e gostem, porque eu sei que a música norte-americana é muito escutada e acho que pode ser do gosto de muita gente. E eu quero atrair pessoas daqui que possam me entender bem com a música e com o Brasil. No álbum tem músicas em português e que não é, tipo, uma exclusão de nenhum dos dois, assim. A maioria da língua no álbum. É uma mistura de tudo que eu aprendi e que eu coletei ao longo da vida. Eu espero que as pessoas consigam entender que essa é a fusão musical que eu tenho na minha vida pessoal. O que eu ouço, o que eu gosto e o que eu tenho de conhecimento está presente no disco.
E a língua mesmo, e as palavras saíram mais em inglês porque ao longo desse período eu estava interessada em buscar mais essa minha parte do inglês. Porque teve um tempo que eu não falava em inglês, porque eu não tinha ninguém que eu pudesse falar em inglês. E na fase que eu estava mais imersa no inglês o disco veio e eu acho que se eu tivesse me restringido para algo que as pessoas queriam escutar ou para agradar pessoas, e me sentir pressionada naquela coisa de continuar o legado, continuar o gênero, eu estou continuando de alguma forma… Então eu acho que se eu tivesse me restringido pra isso, eu não teria feito um trabalho tão bom como o que está no disco.
TMDQA!: Quais são algumas das suas referências para o seu primeiro disco?
Flor: Foram muitas fases. Eu acho que eu nunca cheguei a fazer uma referência direta, porque eu não tinha muitas opções do que eu vi pra criar. Eu acho que foi mais um processo de criação independente, de sentimentos, de pensamentos e emoções, que eu coloquei em letras e também com a Bárbara a gente conseguiu pôr coisas nossas juntas e ali que foi mais a minha referência. Minha referência foi o fazer, o criar. E de referências mais diretas, eu ainda escuto muito… Sempre me perguntam isso e eu sempre fico meio, não sei o que dizer. Porque é uma mistura de muita coisa mesmo e detalhes que não representam esses artistas mesmo. São detalhes pequenos, que não representam exatamente eles.
TMDQA!: Entendi. Mas quais são os artistas que você gosta de ouvir ou que você ouviu nesses últimos tempos?
Flor: Uma referência, obviamente, muito grande sempre foi o meu avô. No jeito de admiração, porque chegar direto é bem difícil. E que também não era o meu desejo no começo. Mas eu tive muita inspiração da Billie Eilish, só que de um jeito bem longe, eu diria. Porque muita gente me compara com ela. Como tipo, “ah, a Billie Eilish brasileira”. Só que musicalmente não é a mesma coisa. Sinto que a Billie Eilish tem uma coisa mais triste e um pouco mais forte do que eu. Eu acho que as nossas vozes tem uma compatibilidade, tem algo parecido. Só que musicalmente, em relação a produção é bem diferente. E produção era uma coisa que eu recusava a referenciar. Porque eu achava muito pra baixo, mesmo as coisas dela mais felizes eram um pouquinho mais pra baixo. Mas eu me referenciei muito a Carol Biazin, que é uma artista que eu admiro muito. Um pouco da Lana Del Rey também, como se fosse a relação da Billie Eilish com ela, que é a minha com a Billie. Tipo, a Lana para Billie é muito triste e para mim a Billie é muito triste. Então é tipo uma escadinha. Mas eu também me referenciei a ela em certas partes, mais para o instrumento, em que tom usar. Então eu acho que essas foram as minhas referências. Foram referências sutis que eu usei no disco. Porque as pessoas me perguntam isso e eu fico com um receio de acharem que foi uma referência muito direta. Sentei, copiei, criei alguma coisa, mas foi ao contrário disso. Foi mais de escutar e o que eu sentia quando escutava essas músicas. Então eu queria reproduzir o que eu sentia quando eu escutava certas músicas. E cada faixa tem uma.
TMDQA!: Flor, eu li em uma matéria do ano passado você falando sobre a persona que você assume ao usar a peruca rosa. Você disse que quando está usando o acessório você sente que sua “vulnerabilidade fica mais forte” e você consegue colocar para fora uma essência que guarda dentro de você. Você já sentiu algum receio em expor essa vulnerabilidade em suas músicas ou até mesmo em suas redes sociais?
Flor: Eu tomo bastante cuidado com isso. Do jeito que as pessoas vão interpretar tal coisa e o que eu tenho capacidade de expor e receber o que for. Porque eu não posso controlar o que fulano vai falar. Então, eu só posso controlar o que eu vou dar aquela abertura. Eu acho que com a música é um meio de expor coisas mais pessoais de um jeito mais protegido, forte e com confiança. Do que postar algo no Instagram com uma opinião que eu tenho, ou um sentimento ou alguma coisa assim. Então, eu acho que a música vai ser um meio que muita gente vai me entender mais e me conhecer de um jeito mais pessoal. E eu espero que muita gente se identifique com os sentimentos e com as músicas.
Porque eu sei que não é uma história singular, as coisas que eu falo. É uma coisa que todo mundo tem e que é identificável. Então, eu acho que eu estou muito animada para ver a reação das pessoas porque eu vou me sentir mais protegida e também com mais empatia do mundo virtual. E com a peruca, eu também sinto que no mundo virtual eu tenho mais proteção. Do mesmo jeito que com a música no mundo musical.
TMDQA!: Falando sobre a sonoridade que você comentou sobre as músicas do disco, você apresenta algo um pouco mais pop e se distancia um pouco da MPB. Eu queria saber se é um estilo que você curte e que você quer explorar na sua carreira nesse momento?
Flor: Sim. Com esse disco, eu acho que muita gente vai entender que do mesmo jeito que eu entendi no processo do álbum, que eu também tenho a capacidade de fazer outras coisas e explorar mais gêneros. Eu amo um voz e violão, uma coisa mais melancólica, uma coisa mais para escutar pelo prazer da música, mas eu pessoalmente também gosto de uma música mais dançante e algo que vá me empurrar na vida. E, ao longo do tempo, eu acho que vou conseguir mostrar isso na música mesmo e com os lançamentos. Como a maioria dos meus Spotify, os ouvintes são mães, de 30, 40 anos, ou crianças de 4 anos, eu também consigo explorar aquele lugar.
E eu acho que agora, por exemplo, “Choro Rosa”, também foi um outro gênero que eu consegui mostrar ao pessoal que eu também consigo explorar com “Hell No” e com o disco vai ser algo um pouquinho mais impactante. Mas também, futuramente, se eu quiser, eu posso fazer algo diferente, algo mais conectado com as minhas próprias raízes de legado. Ou não, também. Com uma coisa mais conectada aos meus primos, por exemplo, dos Gilson. Porque também é uma coisa diferente. O que eu fiz é parecido, só que vem com outras raízes. Eles realmente se fundaram na raiz brasileira, na raiz afro-brasileira e para mim, foi tipo aquilo, só que diferente. E é isso que é bom da nossa individualidade fazendo parte dessa família. E também para as pessoas. E por isso que eu espero poder, ao longo do tempo de carreira, poder mostrar para as pessoas essa variedade de estilos. E que dá para achar, pelo menos, alguma coisa que vá agradar, pelo menos, todo mundo, pelo menos uma música.
TMDQA!: Para a gente finalizar, queria que você me falasse de três a cinco discos que você considera seus melhores amigos.
Flor: Meu melhor amigo, no momento mesmo, que o disco está finalizado, é o meu próprio disco, que eu estou escutando muito hoje em dia, por aprovações e essas coisas. Mas eu também gosto muito do disco do meu avô, “Refavela 40”. Às vezes eu não consigo escutar alguma coisa. Tipo, eu coloco o fone para escutar uma música, não consigo, nada me agrada. Aquele é um disco que, se eu colocar em qualquer momento, vai me agradar.
Também tenho escutado muito recentemente o disco da Carol Biazin, o último dia, “No Escuro”. Também gosto muito de Tono, que é a ex-banda do meu tio, Bem. Também é um disco que, se eu precisar, qualquer coisa vai me agradar. O último disco da Billie Eilish foi o meu disco top, não foi o mais escutado mas estava na minha retrospectiva. Mais minhas playlists de músicas ou R&B brasileiro, tipo Baco, Ludmilla. Uma coisa mais pop brasileira, que eu gosto muito, e também do pop americano. Só que pop mesmo, eu curto mais o R&B brasileiro. Prefiro mais do que o R&B americano, porque tem mais groove eu acho, qualquer R&B brasileiro tem muito mais do que o daqui. E também uma playlist com João Gilberto, Gal Costa, Caetano, tropicalismo.
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Flor Gil esteve em contato com a música desde muito cedo e, só pelo peso de seu sobrenome, já sabemos que ela carrega um legado musical que a conecta profundamente com as raízes brasileiras. Porém, ela também tem buscado trilhar seu próprio caminho artístico.
Neta de Gilberto Gil, grande lenda da música brasileira, Flor, que hoje tem 16 anos, cresceu imersa no universo musical. Nos últimos anos acompanhou seu avô, ao lado de outros membros da família, em turnês mundiais que lhe proporcionaram uma experiência única, principalmente para uma jovem que está iniciando seu trabalho solo na música.
Em entrevista ao TMDQA!, Flor, que atualmente mora em Nova York e confessou não estar lembrando com facilidade de todas as palavras em português, compartilhou um pouco sobre o processo de criação do seu disco de estreia solo, que está previsto para ser lançado este ano.
Conversamos sobre os singles “CHORO ROSA” e “HELL NO”, que apresentam dois lados do que a artista pretende mostrar em seu disco, com ela se dedicando tanto aos elementos mais voltados à MPB como também ao Pop, e apresentando letras em português e inglês.
Ela ainda revelou algumas de suas principais referências nesses últimos tempos e confessou que espera que as pessoas não se assustem muito com as músicas que ela irá apresentar no disco:
“Eu espero muito que as pessoas recebam bem e gostem, porque eu sei que a música norte-americana é muito escutada e acho que pode ser do gosto de muita gente. E eu quero atrair pessoas daqui que possam me entender bem com a música e com o Brasil. […] É uma mistura de tudo que eu aprendi e que eu coletei ao longo da vida. Eu espero que as pessoas consigam entender que essa é a fusão musical que eu tenho na minha vida pessoal. O que eu ouço, o que eu gosto e o que eu tenho de conhecimento está presente no disco.”
Confira o papo na íntegra e os dois singles lançados por Flor Gil logo abaixo!
TMDQA! Entrevista Flor Gil
TMDQA!: Eu sei que você já pega a estrada acompanhando seu avô há alguns anos. A turnê mais recente foi a “Nós A Gente”, né? Como foi essa experiência pra você?
Flor: Eu gosto muito. É uma coisa que eu carrego comigo e que eu sinto falta toda vez, é uma despedida, é um drama, porque tá acabando. E eu tenho muita sorte de ter estado na estrada com o meu avô por sete anos e isso me trouxe muita, muita experiência. Muito conhecimento. Um conhecimento muito rico sobre o mundo, sobre a música. E também com a minha relação com os meus familiares e com o meu avô, já que geralmente é uma turnê em família.
E quando não é, também é uma experiência muito boa, porque eu acabo me conectando com músicos que trabalharam com o meu avô há anos, 20, 30 anos atrás. ou gente também mais nova e é sempre uma conexão diferente, e é muito bom porque me traz mais conhecimento. E eu sou muito grata a fazer essas turnês por isso, por me ajudar a crescer como pessoa num ambiente muito musical e também já crescer com um ambiente profissional, apesar de estar com meus familiares no palco.
TMDQA: Você acredita que ter feito esse projeto musical ao lado de vários membros da sua família influenciou na sua formação como artista?
Flor: Com certeza. E eu acho que se não fosse por isso, eu não teria a sagacidade, diria assim, de como me comportar em ambientes assim. E ter esse conhecimento é bom porque aí eu já consigo interagir mais com pessoas que eu não conheço e com outros artistas que têm um legado grande. Artistas que estão começando também ou os artistas novos de uma geração acima da minha e crescer num ambiente musical num lugar profissional e também fora. Como indo em muitos shows do meu avô, participando dos shows dele e também indo em festivais, shows de todos os tipos. Conhecendo as pessoas e cumprimentando, acho que tudo foi muito importante.
E é algo que eu vejo refletindo muito em mim hoje em dia morando fora. Eu vou numa escola de música e é a primeira vez que eu faço aula de coral. Que é uma realidade muito longe da minha. Porque eu cresci num ambiente onde a teoria tradicional não era muito exposta pra gente. Então estar num ambiente onde a teoria é muito importante, onde a gente é mais exposta à música clássica, aí eu consigo entender e valorizar muito mais o ambiente onde eu nasci. Pra mim, pessoalmente, é muito mais legal.
TMDQA!: Flor, você lançou no ano passado os singles “CHORO ROSA” e “HELL NO”, e eu queria saber por que você escolheu essas duas faixas para começar a apresentar seu primeiro trabalho solo?
Flor: No processo do álbum, “Choro Rosa” foi uma música composta com a MARO que junto com a Bárbara, produtora do disco, e meu primo, Bento, a gente estava ali em contato e a origem do violão da MARO é muito mais do clássico. Não do clássico, vem do tradicional, ela cresceu nesse ambiente porque a mãe dela é professora. Então misturar esses dois ambientes foi uma experiência muito boa.
E no processo do álbum, onde eu estava compondo coisas mais do estilo “Hell No”, essa música foi interessante também porque ela cabe muito ao ouvido brasileiro e também mais internacional pelo fato da MARO também ter uma conexão mais internacional. Então “Choro Rosa” foi porque se aproximava mais da expectativa das pessoas como um som que eu iria lançar como neta do Gilberto Gil e como brasileira, e MPB, e violão tradicional, bem violão e voz.
As pessoas estavam acostumadas com essa sonoridade, então lançar isso de primeira foi um bom jeito de introduzir o começo do meu trabalho para as pessoas. E “Hell No”, como segundo, foi um contraste bem forte, e eu até percebi isso que pras pessoas foi um contraste muito forte, foi uma faixa que muita gente reagiu, não de uma maneira ruim, mas surpresa e que fez total sentido. E foi meio que de propósito pra dar esse contraste e as pessoas também entenderem que eu posso fazer outra coisa.
TMDQA!: Eu li que seu disco vai ser majoritariamente em inglês. O que te motivou a fazer essa escolha e isso te deixa de traz algum receio de como as pessoas vão recebê-lo?
Flor: Esse disco passou por umas três transformações. Ele começou bem voltado para a nova MPB, que as minhas referências eram muito fortes em artistas brasileiros da nova geração que estão carregando a MPB, e a bossa nova, e a origem brasileira. E isso foi uns três anos atrás e eu acabei não entrando em estúdio, não foi a hora certa, não tive como colocar no papel e eu sinto que ela não foi para o papel mesmo porque não era o meu conteúdo mais forte e apesar de eu ter proximidade eu estava indo mais por influência. Então com o passar do tempo, aquela compilação de músicas, composições, acabaram envolvendo e eu dividi com a Bárbara e a gente foi tentando colocar aquelas coisas em gravações, só que não estava rolando muito.
Depois de um tempo eu deixei de lado, eu estava muito focada em turnê com meu avô, estava morando no Brasil e depois que eu dei um tempo nessa música e só saiu composições em inglês. Mas saiu muita coisa interessante, com uma certa mistura de português e inglês. Eu fui de algum jeito introduzindo mais coisas. Foi uma escolha que eu tive, que eu achei que seria legal.
Eu espero que não seja um susto pra muita gente, eu espero muito que as pessoas recebam bem e gostem, porque eu sei que a música norte-americana é muito escutada e acho que pode ser do gosto de muita gente. E eu quero atrair pessoas daqui que possam me entender bem com a música e com o Brasil. No álbum tem músicas em português e que não é, tipo, uma exclusão de nenhum dos dois, assim. A maioria da língua no álbum. É uma mistura de tudo que eu aprendi e que eu coletei ao longo da vida. Eu espero que as pessoas consigam entender que essa é a fusão musical que eu tenho na minha vida pessoal. O que eu ouço, o que eu gosto e o que eu tenho de conhecimento está presente no disco.
E a língua mesmo, e as palavras saíram mais em inglês porque ao longo desse período eu estava interessada em buscar mais essa minha parte do inglês. Porque teve um tempo que eu não falava em inglês, porque eu não tinha ninguém que eu pudesse falar em inglês. E na fase que eu estava mais imersa no inglês o disco veio e eu acho que se eu tivesse me restringido para algo que as pessoas queriam escutar ou para agradar pessoas, e me sentir pressionada naquela coisa de continuar o legado, continuar o gênero, eu estou continuando de alguma forma… Então eu acho que se eu tivesse me restringido pra isso, eu não teria feito um trabalho tão bom como o que está no disco.
TMDQA!: Quais são algumas das suas referências para o seu primeiro disco?
Flor: Foram muitas fases. Eu acho que eu nunca cheguei a fazer uma referência direta, porque eu não tinha muitas opções do que eu vi pra criar. Eu acho que foi mais um processo de criação independente, de sentimentos, de pensamentos e emoções, que eu coloquei em letras e também com a Bárbara a gente conseguiu pôr coisas nossas juntas e ali que foi mais a minha referência. Minha referência foi o fazer, o criar. E de referências mais diretas, eu ainda escuto muito… Sempre me perguntam isso e eu sempre fico meio, não sei o que dizer. Porque é uma mistura de muita coisa mesmo e detalhes que não representam esses artistas mesmo. São detalhes pequenos, que não representam exatamente eles.
TMDQA!: Entendi. Mas quais são os artistas que você gosta de ouvir ou que você ouviu nesses últimos tempos?
Flor: Uma referência, obviamente, muito grande sempre foi o meu avô. No jeito de admiração, porque chegar direto é bem difícil. E que também não era o meu desejo no começo. Mas eu tive muita inspiração da Billie Eilish, só que de um jeito bem longe, eu diria. Porque muita gente me compara com ela. Como tipo, “ah, a Billie Eilish brasileira”. Só que musicalmente não é a mesma coisa. Sinto que a Billie Eilish tem uma coisa mais triste e um pouco mais forte do que eu. Eu acho que as nossas vozes tem uma compatibilidade, tem algo parecido. Só que musicalmente, em relação a produção é bem diferente. E produção era uma coisa que eu recusava a referenciar. Porque eu achava muito pra baixo, mesmo as coisas dela mais felizes eram um pouquinho mais pra baixo. Mas eu me referenciei muito a Carol Biazin, que é uma artista que eu admiro muito. Um pouco da Lana Del Rey também, como se fosse a relação da Billie Eilish com ela, que é a minha com a Billie. Tipo, a Lana para Billie é muito triste e para mim a Billie é muito triste. Então é tipo uma escadinha. Mas eu também me referenciei a ela em certas partes, mais para o instrumento, em que tom usar. Então eu acho que essas foram as minhas referências. Foram referências sutis que eu usei no disco. Porque as pessoas me perguntam isso e eu fico com um receio de acharem que foi uma referência muito direta. Sentei, copiei, criei alguma coisa, mas foi ao contrário disso. Foi mais de escutar e o que eu sentia quando escutava essas músicas. Então eu queria reproduzir o que eu sentia quando eu escutava certas músicas. E cada faixa tem uma.
TMDQA!: Flor, eu li em uma matéria do ano passado você falando sobre a persona que você assume ao usar a peruca rosa. Você disse que quando está usando o acessório você sente que sua “vulnerabilidade fica mais forte” e você consegue colocar para fora uma essência que guarda dentro de você. Você já sentiu algum receio em expor essa vulnerabilidade em suas músicas ou até mesmo em suas redes sociais?
Flor: Eu tomo bastante cuidado com isso. Do jeito que as pessoas vão interpretar tal coisa e o que eu tenho capacidade de expor e receber o que for. Porque eu não posso controlar o que fulano vai falar. Então, eu só posso controlar o que eu vou dar aquela abertura. Eu acho que com a música é um meio de expor coisas mais pessoais de um jeito mais protegido, forte e com confiança. Do que postar algo no Instagram com uma opinião que eu tenho, ou um sentimento ou alguma coisa assim. Então, eu acho que a música vai ser um meio que muita gente vai me entender mais e me conhecer de um jeito mais pessoal. E eu espero que muita gente se identifique com os sentimentos e com as músicas.
Porque eu sei que não é uma história singular, as coisas que eu falo. É uma coisa que todo mundo tem e que é identificável. Então, eu acho que eu estou muito animada para ver a reação das pessoas porque eu vou me sentir mais protegida e também com mais empatia do mundo virtual. E com a peruca, eu também sinto que no mundo virtual eu tenho mais proteção. Do mesmo jeito que com a música no mundo musical.
TMDQA!: Falando sobre a sonoridade que você comentou sobre as músicas do disco, você apresenta algo um pouco mais pop e se distancia um pouco da MPB. Eu queria saber se é um estilo que você curte e que você quer explorar na sua carreira nesse momento?
Flor: Sim. Com esse disco, eu acho que muita gente vai entender que do mesmo jeito que eu entendi no processo do álbum, que eu também tenho a capacidade de fazer outras coisas e explorar mais gêneros. Eu amo um voz e violão, uma coisa mais melancólica, uma coisa mais para escutar pelo prazer da música, mas eu pessoalmente também gosto de uma música mais dançante e algo que vá me empurrar na vida. E, ao longo do tempo, eu acho que vou conseguir mostrar isso na música mesmo e com os lançamentos. Como a maioria dos meus Spotify, os ouvintes são mães, de 30, 40 anos, ou crianças de 4 anos, eu também consigo explorar aquele lugar.
E eu acho que agora, por exemplo, “Choro Rosa”, também foi um outro gênero que eu consegui mostrar ao pessoal que eu também consigo explorar com “Hell No” e com o disco vai ser algo um pouquinho mais impactante. Mas também, futuramente, se eu quiser, eu posso fazer algo diferente, algo mais conectado com as minhas próprias raízes de legado. Ou não, também. Com uma coisa mais conectada aos meus primos, por exemplo, dos Gilson. Porque também é uma coisa diferente. O que eu fiz é parecido, só que vem com outras raízes. Eles realmente se fundaram na raiz brasileira, na raiz afro-brasileira e para mim, foi tipo aquilo, só que diferente. E é isso que é bom da nossa individualidade fazendo parte dessa família. E também para as pessoas. E por isso que eu espero poder, ao longo do tempo de carreira, poder mostrar para as pessoas essa variedade de estilos. E que dá para achar, pelo menos, alguma coisa que vá agradar, pelo menos, todo mundo, pelo menos uma música.
TMDQA!: Para a gente finalizar, queria que você me falasse de três a cinco discos que você considera seus melhores amigos.
Flor: Meu melhor amigo, no momento mesmo, que o disco está finalizado, é o meu próprio disco, que eu estou escutando muito hoje em dia, por aprovações e essas coisas. Mas eu também gosto muito do disco do meu avô, “Refavela 40”. Às vezes eu não consigo escutar alguma coisa. Tipo, eu coloco o fone para escutar uma música, não consigo, nada me agrada. Aquele é um disco que, se eu colocar em qualquer momento, vai me agradar.
Também tenho escutado muito recentemente o disco da Carol Biazin, o último dia, “No Escuro”. Também gosto muito de Tono, que é a ex-banda do meu tio, Bem. Também é um disco que, se eu precisar, qualquer coisa vai me agradar. O último disco da Billie Eilish foi o meu disco top, não foi o mais escutado mas estava na minha retrospectiva. Mais minhas playlists de músicas ou R&B brasileiro, tipo Baco, Ludmilla. Uma coisa mais pop brasileira, que eu gosto muito, e também do pop americano. Só que pop mesmo, eu curto mais o R&B brasileiro. Prefiro mais do que o R&B americano, porque tem mais groove eu acho, qualquer R&B brasileiro tem muito mais do que o daqui. E também uma playlist com João Gilberto, Gal Costa, Caetano, tropicalismo.
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Música brasileira de primeira: MPB, Indie, Rock Nacional, Rap e mais: o melhor das bandas e artistas brasileiros na Playlist TMDQA! Brasil para você ouvir e conhecer agora mesmo. Siga o TMDQA! no Spotify!