Lázaro Ramos, um dos nomes mais celebrados da dramaturgia brasileira, está prestes a lançar Na Nossa Pele, livro que chega às livrarias na próxima terça-feira, 18 de março, pela editora Objetiva, do grupo Companhia das Letras. Continuação do best-seller Na Minha Pele, a obra mergulha nas vivências pessoais do ator para discutir formas de enfrentar o racismo e outros preconceitos, trazendo relatos impactantes como a agressão sofrida por sua mãe, Célia Maria, durante o trabalho como empregada doméstica, e sua própria internação por burnout em 2024. Aos 45 anos, Lázaro usa a escrita como ferramenta de reflexão e cura, revisitando memórias dolorosas e expondo como o silêncio diante de abusos marcou sua vida e a de sua família. O lançamento, que já desperta grande expectativa, promete emocionar leitores com histórias de resistência e autodescoberta.
No livro, o ator relembra a infância em Salvador e um episódio que o assombrou por décadas: ainda criança, acompanhou a mãe em um dia de trabalho e presenciou uma agressão física cometida pela empregadora. Célia Maria, que faleceu quando Lázaro tinha 18 anos, não reagiu ao ataque, e o assunto jamais foi discutido entre eles. A memória, reprimida por anos, voltou à tona em 2019 após um pesadelo, levando-o a um choro profundo e a uma revolta tardia. Em 2022, durante um passeio com os filhos em Salvador, ele tomou uma atitude simbólica: comprou o apartamento onde o incidente ocorreu, transformando-o em um espaço de acolhimento para profissionais resgatadas de trabalho escravo, com um grafite em homenagem à mãe agora estampado no local.
A narrativa de Na Nossa Pele vai além da autobiografia, abordando questões coletivas como o impacto do racismo e a importância da convivência diversa na educação de seus filhos, João Vicente e Maria Antônia, frutos de seu casamento com Taís Araujo. Lázaro também detalha sua internação no início de 2024, diagnosticada como burnout, mas que ele próprio redefine como uma “crise de silêncio” — um esgotamento emocional ligado à repressão de sentimentos diante de abusos e humilhações acumuladas. A obra, que mistura relato pessoal e análise social, reflete a busca do ator por equilíbrio e por uma vida mais consciente após anos de trabalho intenso.
Memórias de uma infância marcada
A relação com Célia Maria é o ponto de partida de Na Nossa Pele. Lázaro abre o livro revisitando a história da mãe, algo que ele admite não ter conseguido explorar plenamente em Na Minha Pele, publicado em 2017 e que vendeu mais de 100 mil exemplares. Desta vez, ele enfrenta a memória da agressão que testemunhou na infância, um episódio que moldou sua percepção sobre injustiça e silêncio. Na ocasião, a mãe trabalhava como empregada doméstica em Salvador, e o pequeno Lázaro, então com menos de 10 anos, viu a empregadora bater em Célia sem que ela esboçasse reação. A cena ficou guardada na memória, mas nunca foi conversada, um reflexo da repressão que ele agora associa a ciclos de violência.
Anos depois, em 2019, um pesadelo trouxe o trauma de volta. “Chorei e me revoltei como se tudo tivesse acabado de acontecer”, escreveu Lázaro, descrevendo a dor de reviver o momento. A compra do apartamento em 2022, durante uma visita à capital baiana com os filhos, foi um ato de redenção. Ele transformou o espaço em sede de uma associação que apoia vítimas de trabalho escravo, e o grafite em homenagem à mãe simboliza uma tentativa de reescrever aquela história. “Quero construir uma história nova e me libertar daquilo que não me faz bem”, afirmou no livro, destacando o misto de vingança, justiça e insegurança que sentiu ao tomar essa decisão.
Esse relato pessoal é entrelaçado com reflexões sobre o racismo estrutural. Lázaro usa a experiência da mãe para discutir as condições de trabalho enfrentadas por mulheres negras no Brasil, um tema que ressoa com dados alarmantes: mais de 60% das empregadas domésticas no país são negras, muitas em situações precárias, segundo estatísticas recentes. A transformação do apartamento em um espaço de acolhimento reflete a vontade do ator de converter dor em ação, um fio condutor de Na Nossa Pele.
Burnout e a crise de silêncio
Em janeiro de 2024, Lázaro Ramos enfrentou um dos momentos mais difíceis de sua vida: uma internação por burnout, resultado de anos de trabalho intenso e da repressão de sentimentos. No livro, ele descreve o diagnóstico inicial como uma combinação de crise de ansiedade e esgotamento, mas propõe sua própria leitura: uma “crise de silêncio”. Para o ator, o problema não estava apenas na sobrecarga profissional, mas na aceitação de “pequenos abusos” e “grandes humilhações” que acumulou ao longo do tempo. “Estamos doentes e não temos tempo de olhar para dentro de nós”, escreveu, conectando sua experiência à da mãe e ao ciclo de silêncio que ambos viveram.
A rotina de Lázaro antes da internação era frenética. Nos últimos anos, ele deixou de ser apenas ator para assumir papéis como diretor de três longas-metragens — incluindo Medida Provisória (2022) —, além de ocupar um cargo executivo em uma empresa e selecionar projetos de outros artistas. “Queria desbravar o mundo”, contou ele em entrevista, admitindo que a ambição de ocupar novos espaços o levou a abrir mão de pausas. O burnout veio como um alerta, forçando-o a repensar prioridades e buscar ajuda na terapia, que intensificou após o episódio, e em práticas simples como retomar a leitura por prazer e conversar com amigos sem objetivo utilitário.
A crise de 2024 não foi apenas um ponto de virada pessoal, mas também um gatilho para o livro. Lázaro associa o esgotamento ao peso de viver com preconceitos e abusos que, por vezes, escolheu ignorar. “Recebemos o tapa e silenciamos. A vida não deveria ser assim”, reflete na obra, traçando um paralelo com a passividade da mãe diante da agressão. A experiência o levou a valorizar o autocuidado e a escuta, algo que ele agora tenta transmitir aos filhos e aos leitores.
Educação diversa para João e Maria
Lázaro Ramos e Taís Araujo, casados desde 2006, são pais de João Vicente, de 12 anos, e Maria Antônia, de 9. Em Na Nossa Pele, o ator dedica espaço à educação dos filhos, destacando como ele e a esposa abordam questões como racismo e desigualdade. Quando as crianças fazem perguntas sobre o tema, Lázaro responde de acordo com o que elas querem saber, mas enfatiza que a verdadeira lição vem da convivência. “A convivência dos nossos filhos é muito diversa”, explica, citando visitas a parentes com realidades distintas da deles como uma forma de aprendizado natural.
A casa dos Ramos é um ponto de encontro de diferentes culturas e experiências. João e Maria frequentam ambientes que vão de comunidades em Salvador a eventos artísticos no Rio de Janeiro, onde a família reside. Essa diversidade, segundo Lázaro, ensina mais do que discursos prontos. “Não é só na fala, é na convivência”, afirma, destacando que a presença de amigos e familiares de origens variadas ajuda as crianças a entenderem o mundo de forma mais ampla. Taís, que também enfrenta o racismo na carreira, é uma parceira essencial nesse processo, servindo como conselheira nos momentos de dúvida do ator.
A educação dos filhos reflete os valores que Lázaro busca transmitir em Na Nossa Pele. Ele escreve sobre a importância de ouvir e dialogar, algo que aplica tanto na criação das crianças quanto na forma como lida com preconceitos. “Tem um lado meu que quer chutar o pau da barraca, mas recorro às pessoas que estão do meu lado”, diz, mostrando como a família e os amigos são seu suporte para enfrentar situações de discriminação.
Caminhos para a cura após a crise
A internação por burnout em 2024 marcou um turning point na vida de Lázaro Ramos. Após o diagnóstico, ele intensificou a terapia, que já fazia há anos, e buscou outras formas de se reconectar consigo mesmo. Voltar a Salvador, onde nasceu, tornou-se uma espécie de ritual curativo. “Retomar relações com amigos, ligar para conversar sobre nada, tem me ajudado muito”, conta, descrevendo como abandonou uma rotina utilitarista para redescobrir prazeres simples, como ler livros que não fossem relacionados ao trabalho.
No livro, ele detalha como a crise o fez repensar sua relação com o trabalho e consigo mesmo. Antes, a ambição de conquistar novos espaços — como dirigir filmes e liderar projetos — o levou a ignorar sinais de esgotamento. “Queria que desse muito certo”, admite, reconhecendo que abriu mão de pausas em nome do sucesso. A terapia o ajudou a ouvir o corpo e a dar espaço para o descanso, algo que agora vê como essencial para sua saúde mental e criativa.
A escrita de Na Nossa Pele também foi parte desse processo de cura. Ao revisitar a agressão à mãe e sua própria “crise de silêncio”, Lázaro encontrou uma forma de externalizar sentimentos reprimidos. O livro, que chega às livrarias com uma tiragem inicial de 50 mil exemplares, é visto por ele como um convite para que os leitores também olhem para dentro e quebrem seus próprios silêncios.
Momentos marcantes da trajetória de Lázaro
A vida de Lázaro Ramos é marcada por episódios que misturam luta e conquistas. Confira uma linha do tempo dos principais eventos mencionados no livro:
Infância: Testemunha agressão à mãe em Salvador, memória que o acompanha por décadas.
2019: Pesadelo reacende trauma da agressão, levando-o a refletir sobre o passado.
2022: Compra apartamento onde o incidente ocorreu e o transforma em espaço de acolhimento.
2024: É internado por burnout, experiência que inspira Na Nossa Pele.
Essa cronologia reflete a jornada do ator de enfrentamento e transformação.
Impacto esperado de ‘Na Nossa Pele’
O lançamento de Na Nossa Pele é aguardado com entusiasmo por fãs e críticos. O sucesso de Na Minha Pele, que vendeu mais de 100 mil cópias e foi adotado em escolas e universidades, criou uma base sólida para a continuação. A nova obra, com 240 páginas, mantém o tom confessional do primeiro livro, mas amplia o escopo ao incluir histórias de família e reflexões sobre saúde mental, temas que ganharam destaque na sociedade pós-pandemia. A tiragem inicial de 50 mil exemplares reflete a confiança da Companhia das Letras no potencial de vendas.
Lázaro já adianta que o livro não é apenas sobre ele, mas sobre as experiências coletivas de quem enfrenta preconceitos. “Procuro a escuta, a conversa”, diz, descrevendo sua abordagem ao racismo, que varia entre reação impulsiva e diálogo. A menção aos filhos e à esposa reforça o tom íntimo da obra, enquanto a transformação do apartamento em Salvador simboliza uma mensagem de esperança. O grafite em homenagem a Célia Maria, hoje parte do espaço de acolhimento, é um dos pontos altos do relato, unindo passado e presente em um gesto de reparação.
A obra também chega em um momento em que Lázaro consolida sua versatilidade. Além de ator e escritor, ele é diretor premiado, com filmes como Medida Provisória exibidos em festivais internacionais. A internação de 2024, embora um revés, o levou a um período de introspecção que enriquece Na Nossa Pele, tornando-o um dos lançamentos mais aguardados do ano no mercado editorial brasileiro.
Lições de resistência e autocuidado
Lázaro Ramos transforma dores pessoais em lições universais em Na Nossa Pele. A agressão à mãe e a crise de burnout são narradas com honestidade, mostrando como o silêncio pode ser tão prejudicial quanto os abusos em si. “A vida não deveria ser assim”, escreve, criticando a naturalização de humilhações. Para o ator, quebrar esse ciclo exige apoio — seja da família, como Taís e os filhos, seja de amigos e terapeutas.
Aqui estão algumas práticas que Lázaro adotou após a crise:
Intensificar a terapia para processar sentimentos reprimidos.
Retornar a Salvador para reconectar-se com suas raízes.
Dedicar tempo a conversas leves com amigos e à leitura por prazer.
Essas ações refletem sua busca por equilíbrio, algo que ele espera inspirar nos leitores. A educação diversa dos filhos, com convivência em diferentes realidades, é outro exemplo prático de como ele aplica suas reflexões no dia a dia.
O lançamento do livro, marcado para o dia 18 de março em livrarias de todo o Brasil, será acompanhado de uma turnê de divulgação que inclui sessões de autógrafos no Rio, São Paulo e Salvador. A expectativa é que Na Nossa Pele repita o sucesso do antecessor, alcançando leitores de diferentes idades e contextos com sua mensagem de enfrentamento e cura.
Lázaro Ramos, um dos nomes mais celebrados da dramaturgia brasileira, está prestes a lançar Na Nossa Pele, livro que chega às livrarias na próxima terça-feira, 18 de março, pela editora Objetiva, do grupo Companhia das Letras. Continuação do best-seller Na Minha Pele, a obra mergulha nas vivências pessoais do ator para discutir formas de enfrentar o racismo e outros preconceitos, trazendo relatos impactantes como a agressão sofrida por sua mãe, Célia Maria, durante o trabalho como empregada doméstica, e sua própria internação por burnout em 2024. Aos 45 anos, Lázaro usa a escrita como ferramenta de reflexão e cura, revisitando memórias dolorosas e expondo como o silêncio diante de abusos marcou sua vida e a de sua família. O lançamento, que já desperta grande expectativa, promete emocionar leitores com histórias de resistência e autodescoberta.
No livro, o ator relembra a infância em Salvador e um episódio que o assombrou por décadas: ainda criança, acompanhou a mãe em um dia de trabalho e presenciou uma agressão física cometida pela empregadora. Célia Maria, que faleceu quando Lázaro tinha 18 anos, não reagiu ao ataque, e o assunto jamais foi discutido entre eles. A memória, reprimida por anos, voltou à tona em 2019 após um pesadelo, levando-o a um choro profundo e a uma revolta tardia. Em 2022, durante um passeio com os filhos em Salvador, ele tomou uma atitude simbólica: comprou o apartamento onde o incidente ocorreu, transformando-o em um espaço de acolhimento para profissionais resgatadas de trabalho escravo, com um grafite em homenagem à mãe agora estampado no local.
A narrativa de Na Nossa Pele vai além da autobiografia, abordando questões coletivas como o impacto do racismo e a importância da convivência diversa na educação de seus filhos, João Vicente e Maria Antônia, frutos de seu casamento com Taís Araujo. Lázaro também detalha sua internação no início de 2024, diagnosticada como burnout, mas que ele próprio redefine como uma “crise de silêncio” — um esgotamento emocional ligado à repressão de sentimentos diante de abusos e humilhações acumuladas. A obra, que mistura relato pessoal e análise social, reflete a busca do ator por equilíbrio e por uma vida mais consciente após anos de trabalho intenso.
Memórias de uma infância marcada
A relação com Célia Maria é o ponto de partida de Na Nossa Pele. Lázaro abre o livro revisitando a história da mãe, algo que ele admite não ter conseguido explorar plenamente em Na Minha Pele, publicado em 2017 e que vendeu mais de 100 mil exemplares. Desta vez, ele enfrenta a memória da agressão que testemunhou na infância, um episódio que moldou sua percepção sobre injustiça e silêncio. Na ocasião, a mãe trabalhava como empregada doméstica em Salvador, e o pequeno Lázaro, então com menos de 10 anos, viu a empregadora bater em Célia sem que ela esboçasse reação. A cena ficou guardada na memória, mas nunca foi conversada, um reflexo da repressão que ele agora associa a ciclos de violência.
Anos depois, em 2019, um pesadelo trouxe o trauma de volta. “Chorei e me revoltei como se tudo tivesse acabado de acontecer”, escreveu Lázaro, descrevendo a dor de reviver o momento. A compra do apartamento em 2022, durante uma visita à capital baiana com os filhos, foi um ato de redenção. Ele transformou o espaço em sede de uma associação que apoia vítimas de trabalho escravo, e o grafite em homenagem à mãe simboliza uma tentativa de reescrever aquela história. “Quero construir uma história nova e me libertar daquilo que não me faz bem”, afirmou no livro, destacando o misto de vingança, justiça e insegurança que sentiu ao tomar essa decisão.
Esse relato pessoal é entrelaçado com reflexões sobre o racismo estrutural. Lázaro usa a experiência da mãe para discutir as condições de trabalho enfrentadas por mulheres negras no Brasil, um tema que ressoa com dados alarmantes: mais de 60% das empregadas domésticas no país são negras, muitas em situações precárias, segundo estatísticas recentes. A transformação do apartamento em um espaço de acolhimento reflete a vontade do ator de converter dor em ação, um fio condutor de Na Nossa Pele.
Burnout e a crise de silêncio
Em janeiro de 2024, Lázaro Ramos enfrentou um dos momentos mais difíceis de sua vida: uma internação por burnout, resultado de anos de trabalho intenso e da repressão de sentimentos. No livro, ele descreve o diagnóstico inicial como uma combinação de crise de ansiedade e esgotamento, mas propõe sua própria leitura: uma “crise de silêncio”. Para o ator, o problema não estava apenas na sobrecarga profissional, mas na aceitação de “pequenos abusos” e “grandes humilhações” que acumulou ao longo do tempo. “Estamos doentes e não temos tempo de olhar para dentro de nós”, escreveu, conectando sua experiência à da mãe e ao ciclo de silêncio que ambos viveram.
A rotina de Lázaro antes da internação era frenética. Nos últimos anos, ele deixou de ser apenas ator para assumir papéis como diretor de três longas-metragens — incluindo Medida Provisória (2022) —, além de ocupar um cargo executivo em uma empresa e selecionar projetos de outros artistas. “Queria desbravar o mundo”, contou ele em entrevista, admitindo que a ambição de ocupar novos espaços o levou a abrir mão de pausas. O burnout veio como um alerta, forçando-o a repensar prioridades e buscar ajuda na terapia, que intensificou após o episódio, e em práticas simples como retomar a leitura por prazer e conversar com amigos sem objetivo utilitário.
A crise de 2024 não foi apenas um ponto de virada pessoal, mas também um gatilho para o livro. Lázaro associa o esgotamento ao peso de viver com preconceitos e abusos que, por vezes, escolheu ignorar. “Recebemos o tapa e silenciamos. A vida não deveria ser assim”, reflete na obra, traçando um paralelo com a passividade da mãe diante da agressão. A experiência o levou a valorizar o autocuidado e a escuta, algo que ele agora tenta transmitir aos filhos e aos leitores.
Educação diversa para João e Maria
Lázaro Ramos e Taís Araujo, casados desde 2006, são pais de João Vicente, de 12 anos, e Maria Antônia, de 9. Em Na Nossa Pele, o ator dedica espaço à educação dos filhos, destacando como ele e a esposa abordam questões como racismo e desigualdade. Quando as crianças fazem perguntas sobre o tema, Lázaro responde de acordo com o que elas querem saber, mas enfatiza que a verdadeira lição vem da convivência. “A convivência dos nossos filhos é muito diversa”, explica, citando visitas a parentes com realidades distintas da deles como uma forma de aprendizado natural.
A casa dos Ramos é um ponto de encontro de diferentes culturas e experiências. João e Maria frequentam ambientes que vão de comunidades em Salvador a eventos artísticos no Rio de Janeiro, onde a família reside. Essa diversidade, segundo Lázaro, ensina mais do que discursos prontos. “Não é só na fala, é na convivência”, afirma, destacando que a presença de amigos e familiares de origens variadas ajuda as crianças a entenderem o mundo de forma mais ampla. Taís, que também enfrenta o racismo na carreira, é uma parceira essencial nesse processo, servindo como conselheira nos momentos de dúvida do ator.
A educação dos filhos reflete os valores que Lázaro busca transmitir em Na Nossa Pele. Ele escreve sobre a importância de ouvir e dialogar, algo que aplica tanto na criação das crianças quanto na forma como lida com preconceitos. “Tem um lado meu que quer chutar o pau da barraca, mas recorro às pessoas que estão do meu lado”, diz, mostrando como a família e os amigos são seu suporte para enfrentar situações de discriminação.
Caminhos para a cura após a crise
A internação por burnout em 2024 marcou um turning point na vida de Lázaro Ramos. Após o diagnóstico, ele intensificou a terapia, que já fazia há anos, e buscou outras formas de se reconectar consigo mesmo. Voltar a Salvador, onde nasceu, tornou-se uma espécie de ritual curativo. “Retomar relações com amigos, ligar para conversar sobre nada, tem me ajudado muito”, conta, descrevendo como abandonou uma rotina utilitarista para redescobrir prazeres simples, como ler livros que não fossem relacionados ao trabalho.
No livro, ele detalha como a crise o fez repensar sua relação com o trabalho e consigo mesmo. Antes, a ambição de conquistar novos espaços — como dirigir filmes e liderar projetos — o levou a ignorar sinais de esgotamento. “Queria que desse muito certo”, admite, reconhecendo que abriu mão de pausas em nome do sucesso. A terapia o ajudou a ouvir o corpo e a dar espaço para o descanso, algo que agora vê como essencial para sua saúde mental e criativa.
A escrita de Na Nossa Pele também foi parte desse processo de cura. Ao revisitar a agressão à mãe e sua própria “crise de silêncio”, Lázaro encontrou uma forma de externalizar sentimentos reprimidos. O livro, que chega às livrarias com uma tiragem inicial de 50 mil exemplares, é visto por ele como um convite para que os leitores também olhem para dentro e quebrem seus próprios silêncios.
Momentos marcantes da trajetória de Lázaro
A vida de Lázaro Ramos é marcada por episódios que misturam luta e conquistas. Confira uma linha do tempo dos principais eventos mencionados no livro:
Infância: Testemunha agressão à mãe em Salvador, memória que o acompanha por décadas.
2019: Pesadelo reacende trauma da agressão, levando-o a refletir sobre o passado.
2022: Compra apartamento onde o incidente ocorreu e o transforma em espaço de acolhimento.
2024: É internado por burnout, experiência que inspira Na Nossa Pele.
Essa cronologia reflete a jornada do ator de enfrentamento e transformação.
Impacto esperado de ‘Na Nossa Pele’
O lançamento de Na Nossa Pele é aguardado com entusiasmo por fãs e críticos. O sucesso de Na Minha Pele, que vendeu mais de 100 mil cópias e foi adotado em escolas e universidades, criou uma base sólida para a continuação. A nova obra, com 240 páginas, mantém o tom confessional do primeiro livro, mas amplia o escopo ao incluir histórias de família e reflexões sobre saúde mental, temas que ganharam destaque na sociedade pós-pandemia. A tiragem inicial de 50 mil exemplares reflete a confiança da Companhia das Letras no potencial de vendas.
Lázaro já adianta que o livro não é apenas sobre ele, mas sobre as experiências coletivas de quem enfrenta preconceitos. “Procuro a escuta, a conversa”, diz, descrevendo sua abordagem ao racismo, que varia entre reação impulsiva e diálogo. A menção aos filhos e à esposa reforça o tom íntimo da obra, enquanto a transformação do apartamento em Salvador simboliza uma mensagem de esperança. O grafite em homenagem a Célia Maria, hoje parte do espaço de acolhimento, é um dos pontos altos do relato, unindo passado e presente em um gesto de reparação.
A obra também chega em um momento em que Lázaro consolida sua versatilidade. Além de ator e escritor, ele é diretor premiado, com filmes como Medida Provisória exibidos em festivais internacionais. A internação de 2024, embora um revés, o levou a um período de introspecção que enriquece Na Nossa Pele, tornando-o um dos lançamentos mais aguardados do ano no mercado editorial brasileiro.
Lições de resistência e autocuidado
Lázaro Ramos transforma dores pessoais em lições universais em Na Nossa Pele. A agressão à mãe e a crise de burnout são narradas com honestidade, mostrando como o silêncio pode ser tão prejudicial quanto os abusos em si. “A vida não deveria ser assim”, escreve, criticando a naturalização de humilhações. Para o ator, quebrar esse ciclo exige apoio — seja da família, como Taís e os filhos, seja de amigos e terapeutas.
Aqui estão algumas práticas que Lázaro adotou após a crise:
Intensificar a terapia para processar sentimentos reprimidos.
Retornar a Salvador para reconectar-se com suas raízes.
Dedicar tempo a conversas leves com amigos e à leitura por prazer.
Essas ações refletem sua busca por equilíbrio, algo que ele espera inspirar nos leitores. A educação diversa dos filhos, com convivência em diferentes realidades, é outro exemplo prático de como ele aplica suas reflexões no dia a dia.
O lançamento do livro, marcado para o dia 18 de março em livrarias de todo o Brasil, será acompanhado de uma turnê de divulgação que inclui sessões de autógrafos no Rio, São Paulo e Salvador. A expectativa é que Na Nossa Pele repita o sucesso do antecessor, alcançando leitores de diferentes idades e contextos com sua mensagem de enfrentamento e cura.