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15 Mar 2025, Sat

Setor do vinho na França teme bilhões em perdas com taxa de Trump

Imagem colorida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump


Na quinta-feira (13/3), os profissionais franceses do setor de vinhos e destilados expressaram “espanto” e “consternação” depois que Donald Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre estes produtos para 200% caso a União Europeia não retirasse o imposto proposto sobre o whisky americano. Produtores europeus pedem que Bruxelas tribute outro setor dos EUA, como o de novas tecnologias, porque temem que o mercado se paralise completamente dentro do bloco.

“Com 200%” de tarifas alfandegárias, “os negócios param”, alertou Nicolas Ozanam, diretor da Federação Francesa de Exportadores de Vinhos e Bebidas Alcoólicas (FEVS). Isso significaria triplicar o preço por garrafa vendida. Inimaginável para o setor, que na quinta-feira (13/3) estava dividido entre “surpresa, consternação e um senso de urgência para encontrar uma solução”, disse Ozanam.

À rádio Franceinfo, o proprietário da marca de champanhe Veuve Fourny, que fez da exportação sua especialidade, comercializando a bebida para cerca de 30 países e os Estados Unidos, que respondem por 20% de suas vendas, disse achar “difícil de acreditar. É uma ameaça. Eu diria que é um pouco como dizer que não se pode vender champanhe nos Estados Unidos”, concluiu Charles Fourny.

Um erro tático?

Se o presidente dos EUA confirmar as sobretaxas, isso significará o fechamento do principal mercado de exportação do vinho francês. “Para ser bem claro, isso representa € 4 bilhões em faturamento. Isso é muito. São cerca de 600.000 empregos diretos e indiretos, portanto, é um golpe colossal”, explica Gabriel Picard, presidente da Federação Francesa de Exportadores de Vinhos e Bebidas Alcoólicas.

Ele culpa Donald Trump, é claro, mas também a Comissão Europeia, que optou por taxar as bebidas alcoólicas norte-americanas. “Os produtores de vinho nos Estados Unidos são os estados democratas, especialmente a Califórnia. O estado produtor de whisky nos Estados Unidos é Kentucky, com o senador McConnell, adversário de Trump entre os republicanos. Portanto, atacar o whisky ou os vinhos norte-americanos hoje é um grande erro tático”, afirma. Picard sugere que Bruxelas reverta sua decisão e tribute outro setor, como o de novas tecnologias.

A notícia é “particularmente preocupante” para a França, observou Sylvain Bersinger, economista-chefe da Asterès, já que o país “é responsável por cerca de metade das exportações europeias de bebidas alcoólicas para os Estados Unidos”.

70.000 empregos ameaçados na França

Em 2024, as regiões de Champagne, Cognac e Bordeaux exportaram € 3,9 bilhões em bebidas alcoólicas para os Estados Unidos, o que representa 1/4 das exportações do setor. “Vinhos e destilados não devem ser reféns de uma escalada comercial”, reagiu David Chatillon, presidente do Comitê de Champanhe, convidando “ambas as partes a encontrar uma solução negociada”.

“Nosso setor gera 70.000 empregos na França (…) e não aceitará ser sacrificado como resultado de decisões políticas europeias que não têm nada a ver com ele”, disse o Escritório Nacional Interprofissional do Conhaque (BNIC), para quem “o mercado norte-americano é (o) principal”.

O país também é o principal mercado para os vinhos de Bordeaux, de acordo com o Bordeaux Wine Trade Council, que não quis reagir imediatamente às ameaças norte-americanas.

Retaliação

Donald Trump ameaçou na quinta-feira impor taxas de importação de 200% sobre vinhos e bebidas alcoólicas da UE se o bloco não retirasse os impostos de 50% anunciados sobre o whisky e o burbom americanos. Bruxelas anunciou esses impostos na quarta-feira (12) em retaliação às sobretaxas norte-americanas de 25% sobre o aço e o alumínio. “Não entendemos o que a Comissão Europeia está fazendo (…) não faz sentido”, disse Ozanam.

Mas “não podemos nos deixar vencer por ameaças desse tipo”, disse o primeiro-ministro francês, François Bayrou, durante uma visita a Lyon. “É importante que nós, europeus, mostremos (…) que não cederemos a ameaças desse tipo”, acrescentou, descartando a ideia de abandonar o imposto sobre o burbom.

“Nunca quisemos ver um aumento nas taxas alfandegárias”, enfatizou Laurent Saint-Martin, Ministro do Comércio Exterior da França, na BFMTV. “Não queremos uma guerra comercial, mas a Europa não vai ceder se os Estados Unidos continuarem a ameaçar as exportações europeias”, acrescentou, pedindo um diálogo contínuo para convencer os americanos a recuar.

As taxas norte-americanas sobre o vinho francês são atualmente muito baixas, em torno de 10 centavos de euro por litro, de acordo com o FEVS. As bebidas destiladas estão isentas de impostos desde a assinatura de um acordo transatlântico, em 1997.

De acordo com o lobby de bebidas alcoólicas Spirits Europe, esse acordo levou a um boom no comércio até 2018, quando o governo anterior de Trump lançou sua primeira guerra comercial contra o aço e o alumínio.

Um setor fragilizado

Desde o outono, a Spirits já vem sofrendo com uma sobretaxa de Pequim, seu outro grande mercado em disputa com a UE, o que levou a uma queda de 25% nas exportações de conhaque e armagnac para a área China/Hong Kong/Cingapura.

“Sabíamos que isso iria nos afetar, mas 200%! Os Estados Unidos são nosso segundo maior mercado de exportação em termos de valor e volume”, disse Olivier Goujon, diretor do sindicato de produtores do destilado francês armagnac na quinta-feira, pedindo ao governo que “enfrente a questão”.

Vitalie Taittinger, presidente da casa de champanhe de mesmo nome, ressalta que, com 200% de imposto, uma garrafa de champanhe vendida por cerca de sessenta dólares subiria para mais de 180: “o preço pode se tornar inacessível para o consumidor”, apesar de os Estados Unidos serem o segundo maior mercado de exportação, depois do Reino Unido.

Desde seu retorno à Casa Branca, o presidente dos EUA anunciou uma série de tarifas como forma de exercer pressão sobre países, proteger determinados setores industriais e gerar receita para o governo federal.

Confira mais informações no RFI Brasil, parceiro do Metrópoles.

 

Na quinta-feira (13/3), os profissionais franceses do setor de vinhos e destilados expressaram “espanto” e “consternação” depois que Donald Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre estes produtos para 200% caso a União Europeia não retirasse o imposto proposto sobre o whisky americano. Produtores europeus pedem que Bruxelas tribute outro setor dos EUA, como o de novas tecnologias, porque temem que o mercado se paralise completamente dentro do bloco.

“Com 200%” de tarifas alfandegárias, “os negócios param”, alertou Nicolas Ozanam, diretor da Federação Francesa de Exportadores de Vinhos e Bebidas Alcoólicas (FEVS). Isso significaria triplicar o preço por garrafa vendida. Inimaginável para o setor, que na quinta-feira (13/3) estava dividido entre “surpresa, consternação e um senso de urgência para encontrar uma solução”, disse Ozanam.

À rádio Franceinfo, o proprietário da marca de champanhe Veuve Fourny, que fez da exportação sua especialidade, comercializando a bebida para cerca de 30 países e os Estados Unidos, que respondem por 20% de suas vendas, disse achar “difícil de acreditar. É uma ameaça. Eu diria que é um pouco como dizer que não se pode vender champanhe nos Estados Unidos”, concluiu Charles Fourny.

Um erro tático?

Se o presidente dos EUA confirmar as sobretaxas, isso significará o fechamento do principal mercado de exportação do vinho francês. “Para ser bem claro, isso representa € 4 bilhões em faturamento. Isso é muito. São cerca de 600.000 empregos diretos e indiretos, portanto, é um golpe colossal”, explica Gabriel Picard, presidente da Federação Francesa de Exportadores de Vinhos e Bebidas Alcoólicas.

Ele culpa Donald Trump, é claro, mas também a Comissão Europeia, que optou por taxar as bebidas alcoólicas norte-americanas. “Os produtores de vinho nos Estados Unidos são os estados democratas, especialmente a Califórnia. O estado produtor de whisky nos Estados Unidos é Kentucky, com o senador McConnell, adversário de Trump entre os republicanos. Portanto, atacar o whisky ou os vinhos norte-americanos hoje é um grande erro tático”, afirma. Picard sugere que Bruxelas reverta sua decisão e tribute outro setor, como o de novas tecnologias.

A notícia é “particularmente preocupante” para a França, observou Sylvain Bersinger, economista-chefe da Asterès, já que o país “é responsável por cerca de metade das exportações europeias de bebidas alcoólicas para os Estados Unidos”.

70.000 empregos ameaçados na França

Em 2024, as regiões de Champagne, Cognac e Bordeaux exportaram € 3,9 bilhões em bebidas alcoólicas para os Estados Unidos, o que representa 1/4 das exportações do setor. “Vinhos e destilados não devem ser reféns de uma escalada comercial”, reagiu David Chatillon, presidente do Comitê de Champanhe, convidando “ambas as partes a encontrar uma solução negociada”.

“Nosso setor gera 70.000 empregos na França (…) e não aceitará ser sacrificado como resultado de decisões políticas europeias que não têm nada a ver com ele”, disse o Escritório Nacional Interprofissional do Conhaque (BNIC), para quem “o mercado norte-americano é (o) principal”.

O país também é o principal mercado para os vinhos de Bordeaux, de acordo com o Bordeaux Wine Trade Council, que não quis reagir imediatamente às ameaças norte-americanas.

Retaliação

Donald Trump ameaçou na quinta-feira impor taxas de importação de 200% sobre vinhos e bebidas alcoólicas da UE se o bloco não retirasse os impostos de 50% anunciados sobre o whisky e o burbom americanos. Bruxelas anunciou esses impostos na quarta-feira (12) em retaliação às sobretaxas norte-americanas de 25% sobre o aço e o alumínio. “Não entendemos o que a Comissão Europeia está fazendo (…) não faz sentido”, disse Ozanam.

Mas “não podemos nos deixar vencer por ameaças desse tipo”, disse o primeiro-ministro francês, François Bayrou, durante uma visita a Lyon. “É importante que nós, europeus, mostremos (…) que não cederemos a ameaças desse tipo”, acrescentou, descartando a ideia de abandonar o imposto sobre o burbom.

“Nunca quisemos ver um aumento nas taxas alfandegárias”, enfatizou Laurent Saint-Martin, Ministro do Comércio Exterior da França, na BFMTV. “Não queremos uma guerra comercial, mas a Europa não vai ceder se os Estados Unidos continuarem a ameaçar as exportações europeias”, acrescentou, pedindo um diálogo contínuo para convencer os americanos a recuar.

As taxas norte-americanas sobre o vinho francês são atualmente muito baixas, em torno de 10 centavos de euro por litro, de acordo com o FEVS. As bebidas destiladas estão isentas de impostos desde a assinatura de um acordo transatlântico, em 1997.

De acordo com o lobby de bebidas alcoólicas Spirits Europe, esse acordo levou a um boom no comércio até 2018, quando o governo anterior de Trump lançou sua primeira guerra comercial contra o aço e o alumínio.

Um setor fragilizado

Desde o outono, a Spirits já vem sofrendo com uma sobretaxa de Pequim, seu outro grande mercado em disputa com a UE, o que levou a uma queda de 25% nas exportações de conhaque e armagnac para a área China/Hong Kong/Cingapura.

“Sabíamos que isso iria nos afetar, mas 200%! Os Estados Unidos são nosso segundo maior mercado de exportação em termos de valor e volume”, disse Olivier Goujon, diretor do sindicato de produtores do destilado francês armagnac na quinta-feira, pedindo ao governo que “enfrente a questão”.

Vitalie Taittinger, presidente da casa de champanhe de mesmo nome, ressalta que, com 200% de imposto, uma garrafa de champanhe vendida por cerca de sessenta dólares subiria para mais de 180: “o preço pode se tornar inacessível para o consumidor”, apesar de os Estados Unidos serem o segundo maior mercado de exportação, depois do Reino Unido.

Desde seu retorno à Casa Branca, o presidente dos EUA anunciou uma série de tarifas como forma de exercer pressão sobre países, proteger determinados setores industriais e gerar receita para o governo federal.

Confira mais informações no RFI Brasil, parceiro do Metrópoles.

 



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