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16 Mar 2025, Sun

'Copa do Mundo das polícias': escrivã que integrou time feminino inédito em competição internacional fala sobre troca cultural em país asiático




G.R.T São Paulo Feminine foi a primeira equipe brasileira composta apenas por mulheres a integrar a competição do UAE SWAT Challenge. Victorya Lopes Anjo, de São Roque (SP), se orgulha da profissão e dos desafios enfrentados no dia a dia e nos Emirados Árabes. Victorya Anjo é escrivã da Polícia Civil em São Roque (SP)
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Partindo do interior de São Paulo e voando até o maior continente do mundo, a Ásia, uma escrivã da Polícia Civil de São Roque, junto de outras seis mulheres, participou da UAE SWAT Challenge, competição internacional considerada a “Copa do Mundo das polícias”, realizada em Dubai.
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Victorya Lopes Anjo tem 30 anos e é formada em direito. Antes de mostrar as suas habilidades táticas para o mundo, a policial explicou ao g1 que fazer parte da corporação nem sempre foi seu sonho de carreira, no entanto, de forma inesperada, ela acabou sendo “escolhida” pela polícia.
“Me formei em direito em 2017, tirei a OAB e iniciei meus estudos para concursos públicos. Até este momento, eu só tinha a certeza de que gostava da área criminal, era minha aptidão na faculdade. Aí fui muito bem nas fases do concurso de escrivã e fui aprovada, entrei para a academia de polícia, e foi lá que eu comecei a entender e me aprofundar no conhecimento policial”, explica.
Victorya Anjo, de São Roque (SP), também é formada em direito
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
“Eu sinto que não escolhi a polícia, mas a polícia me escolheu. A gente [policiais] costuma dizer que o concurso é para todos, mas o concurso policial é só para alguns, e isso fica muito visível na prática, em tudo que a gente acaba enfrentando no dia a dia. Tem que gostar muito, ter aptidão, tem que ter isso correndo no nosso sangue, porque não é para qualquer um”, acrescenta.
A escrivã, que é natural de São José do Rio Preto (SP), foi aprovada em todas as etapas necessárias para ingressar na Polícia Civil e começou a procurar o melhor local para trabalhar. Foi então que se interessou pela base de São Roque, que fica na região metropolitana de Sorocaba. Além disso, trabalhar no local a ajudaria a ficar mais perto de parentes.
‘Mulheres têm que fazer o dobro’
Dentre os desafios e batalhas contra o machismo e sexismo, Victorya destaca o fato de trabalhar em uma área com um grande número de homens. Ela atua no policiamento há cinco anos e conta que, para serem respeitadas, as mulheres precisam conquistar o seus espaços.
“Percebo que sempre que olham para uma mulher que é policial é com um olhar de dúvida, querendo saber se realmente ela consegue realizar as funções do cargo, e comigo não foi diferente. As pessoas veem que é polícia e pensam ‘não parece’, e não é só no começo. Durante toda a nossa trajetória, as mulheres têm que fazer o dobro para serem reconhecidas sequer pela metade, mas, claro, cada experiência é individual”, destaca.
Escrivã da Polícia Civil de São Roque (SP) relatou caso de machismo durante a carreira
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Lidar com este tipo de preconceito nunca foi um problema para Victorya, que sempre buscou se aperfeiçoar em sua funções e nas demais exigências de um policial civil para que tivesse aptidão para realizar qualquer tarefa tão bem quanto outra pessoa.
“Enquanto a gente não prova que a gente é capaz, a gente não adquire esse respeito, principalmente pelo ambiente policial ser mais duro devido às funções que a gente tem que exercer. Mas sempre procurei lidar com isso trabalhando, me esforçando, estudando e aprendendo a fazer um pouco de tudo. E eu adquiri respeito pelos meus colegas, meu chefes, e foi desta maneira, sem me esquivar de funções”, conta.
Policial de São Roque (SP) viajou para os Emirados Árabes para competir na ‘Copa do Mundo das polícias’
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Uma situação que marcou a carreira da escrivã foi quando precisou ouvir o depoimento de um homem acusado de violência doméstica. O investigado se recusou a falar com Victorya, apenas pelo fato de ela ser uma mulher.
“Eu teria que ouvir a versão dele, passar para a autoridade policial deliberar o procedimento, mas, quando me viu ali, como escrivã de polícia, uma mulher, ele sequer quis dar a versão para mim, não iria falar comigo por eu ser mulher e só iria falar com o delegado se ele fosse homem”, lembrou.
“É uma situação que a gente ouve e tem mais certeza que existe este cenário machista e sexista. No meu caso, graças a Deus foi com um preso e, não, com os meus colegas. Trabalho de igual para igual, e sou respeitada onde trabalho”, acrescenta Victorya.
Carreira e vida pessoal
Ao g1, Victorya ainda conta que é imprescindível saber lidar com a vida pessoal, além da vida na corporação. Ela está noiva e ainda não tem filhos, mas destaca que exercer a profissão é uma dualidade que exige estar com a saúde mental em dia.
“É uma profissão de risco. Nós não sabemos o que a gente vai encontrar no dia a dia, é uma profissão sem rotina, né? Muito dinâmica, temos que nos manter em treinamento constante, tanto físico, o técnico, quanto a saúde mental. Nós temos que ter tempo para a nossa vida pessoal, para a nossa família, para os nossos hobbies e saber que, além do trabalho, também existe nossa vida, né?”, conta.
Segundo Victorya, as ocorrências da rotina, sendo algumas de emergência e outras que exigem investigações longas, acabam afetando os profissionais emocionalmente e é preciso ter cuidado para não levar essa energia negativa para casa.
“Tem que saber separar um pouco os dois mundos, mas isso é muito difícil, a gente só consegue com o passar do tempo. Mas é necessário. Até falo que o ambiente da delegacia é um ambiente que ninguém quer estar, todo mundo entra aqui não para trazer algo bom, uma notícia boa, todo mundo entra aqui com um problema a ser resolvido. São inúmeros os casos de policiais com depressão, em difíceis estados mentais diante do desgaste da carreira”, destaca.
Oportunidade nos Emirados Árabes
Mesmo depois de alguns anos na profissão, a escrivã nunca deixou de treinar e praticar esportes, que são alguns de seus hobbies fora da delegacia. Em 2024, Victorya descobriu que uma vaga estava aberta para integrar a equipe feminina que iria competir no UAE SWAT Challenge, em Dubai.
De acordo com a policial, esta competição sempre foi realizada com equipes masculinas e, todo ano, um grupo da região do ABC paulista viaja até os Emirados Árabes para participar do evento. Com esta frequência, os agentes fizeram amizades com os organizadores do evento, que sugeriram a participação de uma equipe feminina brasileira em fevereiro de 2025.
Equipe feminina participou de ‘Copa das polícias’ nos Emirados Árabes
Pablo Jacob/Governo de São Paulo
A partir disso, o grupo G.R.T masculino criou a equipe G.R.T feminina, que, em sua maioria, era composta por policiais da região metropolitana do estado, como do Grupo de Operações Especiais (GOE) de São Bernardo do Campo e Carapicuíba, do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
“As meninas já estavam treinando quando eu entrei. Teve uma seletiva e eu passei. Os treinos eram feitos em clubes parceiros e também na base do GOE em São Bernardo do Campo. Exigiu muito treino, musculação, ciclismo, crossfit, funcional. Quando juntou o grupo, aliou o treinamento individualizado e com as reuniões para treinamento específico, como levantamento de peso, subir em corda, bater com aríete na porta, armamento, tiro e rapel”, conta.
Além da chegada de Victorya, a equipe completa foi composta por: Carla Regina Nastri, Denise Lessa, Elaine Rufino, Luciana Saens, Marcelle Rahal e Tainã Castanharo.
“Durante o tempo de treinamento e do campeonato, a gente [integrantes] se aproximou muito, se uniu muito como equipe. São amizades daqui para a vida toda. Foram momentos muito intensos e a gente dividiu tanta coisa em tão pouco tempo que a gente acabou criando um vínculo muito grande com carinho e suporte”, acrescenta.
A profissional ainda fez uma menção honrosa à família, aos amigos e à equipe de São Roque, que apoiou e deu suporte para que ela pudesse aproveitar esta oportunidade, que era única na vida dela.
“Fui muito apoiada, muito incentivada e tenho muita gratidão pela minha unidade. Sem esse suporte, eu não teria conseguido fazer a competição, não teria nem conseguido treinar para ir. Sou muito grata aos delegados Doutora Bruna Racca de Madureira, Doutor Marcelo Apolinário da Silva e Doutor Enzo Santoro”, agradece.
Competindo com equipes masculinas
As policiais que representaram o Brasil na Copa do Mundo das tropas de elite
O UAE SWAT Challenge é um evento realizado todo ano pela polícia de Dubai, com o intuito de exibir as habilidades táticas das forças internacionais, com mais de 120 equipes de 46 países.
A proposta também é proporcionar uma troca de experiências, estratégias e culturas por meio do trabalho em equipe. As provas do circuito incluem tiro, rapel e situações de resgate.
Equipe feminina de policiais civis competiram junto a equipes masculinas em campeonato de performance da profissão em Dubai
UAE SWAT CHALLENGE/Reprodução
“Foi uma experiência única, mas também foi um desafio. Lá, são quatro dias de treinamento e cinco dias de campeonato, com mais um dia extra de prova nova que começaram a testar. Não entrou na pontuação, mas foi uma novidade. Exigiu muito do físico, do mental, do psicológico, e a gente queria suprir as expectativas também”, contou a policial.
O G.R.T São Paulo Feminine terminou as provas na posição 98, com 40 minutos e 32 segundos, acumulando um total de 37 pontos. Elas ficaram na frente de pelo menos cinco equipes masculinas que apareceram no ranking. O restante nem foi classificado.
Grupo feminino ficou à frente de pelo menos cinco equipes compostas por homens em competição mundial de polícias em Dubai
Reprodução/UAE SWAT CHALLENGE
A equipe feminina estreou no torneio neste ano como o primeiro grupo brasileiro somente com mulheres a participar do SWAT Challange.
“Demos nosso melhor, a gente mergulhou de cabeça nos desafios, nos entregamos 100%, todas nós. Completamos as provas, tivemos resultados muito legais, todas acertaram os alvos e, mesmo com obstáculos feitos para homens, de força, a gente conseguiu completar. Isso é muito significativo, a gente mostra que as mulheres são capazes, que a gente pode não só trabalhar, mas participar de competições ao lado dos homens e como os homens”, destaca.
Troca cultural
Segundo a policial, até mesmo o Xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum, político da realeza dos Emirados, esteve presente no evento, que mobilizou diversas figuras importantes da segurança pública mundial.
“Trataram a gente com muita hospitalidade, a gente viveu duas semanas muito intensas e incríveis. Lá, os policiais até treinam jiu-jítsu brasileiro. A gente era muito bem tratada, queriam levar a gente para jantares, para formaturas, mostrar o país deles e queriam que a gente divisse as nossas experiências para saber da rotina, do trabalho, licenças”, explicou Victorya.
Com cenários criminais bem diferentes do Brasil, as forças de segurança pública dos Emirados Árabes puderam compartilhar diversas histórias e sanar diversas dúvidas com as equipes brasileiras, desde estratégias de ocorrências até como funciona a licença maternidade para policiais.
“Me senti muito realizada no evento e me sinto muito realizada em ser policial civil. Estou há cinco anos fazendo o que eu acho que nasci para fazer. Nosso trabalho consegue fazer a diferença na vida das pessoas e no combate à criminalidade. A gente sente empatia, né? Para que a gente consiga confortar e buscar forças para trazer as respostas que as pessoas precisam, elas merecem e é um dever, não só a nossa função, mas é um dever”, finaliza a policial.
Veja fotos da equipe competindo em Dubai:
Equipe feminina do SWAT Challenge de 2025
SSP/Divulgação
Equipe feminina de policiais durante competição nos Emirados Árabes
Divulgação/SSP
Equipe feminina brasileira da escrivã Victorya, de São Roque (SP), participou de provas com obstáculos e de tiro ao alvo em Dubai
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Grupo de policiais mulheres fica na classificação 98 em competição mundial de polícias em Dubai
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Policiais brasileiras e equipes internacionais no evento considerado ‘Copa do Mundo das polícias’, em Dubai
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Veja o vídeo divulgado pelo governo sobre a equipe:
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G.R.T São Paulo Feminine foi a primeira equipe brasileira composta apenas por mulheres a integrar a competição do UAE SWAT Challenge. Victorya Lopes Anjo, de São Roque (SP), se orgulha da profissão e dos desafios enfrentados no dia a dia e nos Emirados Árabes. Victorya Anjo é escrivã da Polícia Civil em São Roque (SP)
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Partindo do interior de São Paulo e voando até o maior continente do mundo, a Ásia, uma escrivã da Polícia Civil de São Roque, junto de outras seis mulheres, participou da UAE SWAT Challenge, competição internacional considerada a “Copa do Mundo das polícias”, realizada em Dubai.
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Victorya Lopes Anjo tem 30 anos e é formada em direito. Antes de mostrar as suas habilidades táticas para o mundo, a policial explicou ao g1 que fazer parte da corporação nem sempre foi seu sonho de carreira, no entanto, de forma inesperada, ela acabou sendo “escolhida” pela polícia.
“Me formei em direito em 2017, tirei a OAB e iniciei meus estudos para concursos públicos. Até este momento, eu só tinha a certeza de que gostava da área criminal, era minha aptidão na faculdade. Aí fui muito bem nas fases do concurso de escrivã e fui aprovada, entrei para a academia de polícia, e foi lá que eu comecei a entender e me aprofundar no conhecimento policial”, explica.
Victorya Anjo, de São Roque (SP), também é formada em direito
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
“Eu sinto que não escolhi a polícia, mas a polícia me escolheu. A gente [policiais] costuma dizer que o concurso é para todos, mas o concurso policial é só para alguns, e isso fica muito visível na prática, em tudo que a gente acaba enfrentando no dia a dia. Tem que gostar muito, ter aptidão, tem que ter isso correndo no nosso sangue, porque não é para qualquer um”, acrescenta.
A escrivã, que é natural de São José do Rio Preto (SP), foi aprovada em todas as etapas necessárias para ingressar na Polícia Civil e começou a procurar o melhor local para trabalhar. Foi então que se interessou pela base de São Roque, que fica na região metropolitana de Sorocaba. Além disso, trabalhar no local a ajudaria a ficar mais perto de parentes.
‘Mulheres têm que fazer o dobro’
Dentre os desafios e batalhas contra o machismo e sexismo, Victorya destaca o fato de trabalhar em uma área com um grande número de homens. Ela atua no policiamento há cinco anos e conta que, para serem respeitadas, as mulheres precisam conquistar o seus espaços.
“Percebo que sempre que olham para uma mulher que é policial é com um olhar de dúvida, querendo saber se realmente ela consegue realizar as funções do cargo, e comigo não foi diferente. As pessoas veem que é polícia e pensam ‘não parece’, e não é só no começo. Durante toda a nossa trajetória, as mulheres têm que fazer o dobro para serem reconhecidas sequer pela metade, mas, claro, cada experiência é individual”, destaca.
Escrivã da Polícia Civil de São Roque (SP) relatou caso de machismo durante a carreira
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Lidar com este tipo de preconceito nunca foi um problema para Victorya, que sempre buscou se aperfeiçoar em sua funções e nas demais exigências de um policial civil para que tivesse aptidão para realizar qualquer tarefa tão bem quanto outra pessoa.
“Enquanto a gente não prova que a gente é capaz, a gente não adquire esse respeito, principalmente pelo ambiente policial ser mais duro devido às funções que a gente tem que exercer. Mas sempre procurei lidar com isso trabalhando, me esforçando, estudando e aprendendo a fazer um pouco de tudo. E eu adquiri respeito pelos meus colegas, meu chefes, e foi desta maneira, sem me esquivar de funções”, conta.
Policial de São Roque (SP) viajou para os Emirados Árabes para competir na ‘Copa do Mundo das polícias’
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Uma situação que marcou a carreira da escrivã foi quando precisou ouvir o depoimento de um homem acusado de violência doméstica. O investigado se recusou a falar com Victorya, apenas pelo fato de ela ser uma mulher.
“Eu teria que ouvir a versão dele, passar para a autoridade policial deliberar o procedimento, mas, quando me viu ali, como escrivã de polícia, uma mulher, ele sequer quis dar a versão para mim, não iria falar comigo por eu ser mulher e só iria falar com o delegado se ele fosse homem”, lembrou.
“É uma situação que a gente ouve e tem mais certeza que existe este cenário machista e sexista. No meu caso, graças a Deus foi com um preso e, não, com os meus colegas. Trabalho de igual para igual, e sou respeitada onde trabalho”, acrescenta Victorya.
Carreira e vida pessoal
Ao g1, Victorya ainda conta que é imprescindível saber lidar com a vida pessoal, além da vida na corporação. Ela está noiva e ainda não tem filhos, mas destaca que exercer a profissão é uma dualidade que exige estar com a saúde mental em dia.
“É uma profissão de risco. Nós não sabemos o que a gente vai encontrar no dia a dia, é uma profissão sem rotina, né? Muito dinâmica, temos que nos manter em treinamento constante, tanto físico, o técnico, quanto a saúde mental. Nós temos que ter tempo para a nossa vida pessoal, para a nossa família, para os nossos hobbies e saber que, além do trabalho, também existe nossa vida, né?”, conta.
Segundo Victorya, as ocorrências da rotina, sendo algumas de emergência e outras que exigem investigações longas, acabam afetando os profissionais emocionalmente e é preciso ter cuidado para não levar essa energia negativa para casa.
“Tem que saber separar um pouco os dois mundos, mas isso é muito difícil, a gente só consegue com o passar do tempo. Mas é necessário. Até falo que o ambiente da delegacia é um ambiente que ninguém quer estar, todo mundo entra aqui não para trazer algo bom, uma notícia boa, todo mundo entra aqui com um problema a ser resolvido. São inúmeros os casos de policiais com depressão, em difíceis estados mentais diante do desgaste da carreira”, destaca.
Oportunidade nos Emirados Árabes
Mesmo depois de alguns anos na profissão, a escrivã nunca deixou de treinar e praticar esportes, que são alguns de seus hobbies fora da delegacia. Em 2024, Victorya descobriu que uma vaga estava aberta para integrar a equipe feminina que iria competir no UAE SWAT Challenge, em Dubai.
De acordo com a policial, esta competição sempre foi realizada com equipes masculinas e, todo ano, um grupo da região do ABC paulista viaja até os Emirados Árabes para participar do evento. Com esta frequência, os agentes fizeram amizades com os organizadores do evento, que sugeriram a participação de uma equipe feminina brasileira em fevereiro de 2025.
Equipe feminina participou de ‘Copa das polícias’ nos Emirados Árabes
Pablo Jacob/Governo de São Paulo
A partir disso, o grupo G.R.T masculino criou a equipe G.R.T feminina, que, em sua maioria, era composta por policiais da região metropolitana do estado, como do Grupo de Operações Especiais (GOE) de São Bernardo do Campo e Carapicuíba, do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
“As meninas já estavam treinando quando eu entrei. Teve uma seletiva e eu passei. Os treinos eram feitos em clubes parceiros e também na base do GOE em São Bernardo do Campo. Exigiu muito treino, musculação, ciclismo, crossfit, funcional. Quando juntou o grupo, aliou o treinamento individualizado e com as reuniões para treinamento específico, como levantamento de peso, subir em corda, bater com aríete na porta, armamento, tiro e rapel”, conta.
Além da chegada de Victorya, a equipe completa foi composta por: Carla Regina Nastri, Denise Lessa, Elaine Rufino, Luciana Saens, Marcelle Rahal e Tainã Castanharo.
“Durante o tempo de treinamento e do campeonato, a gente [integrantes] se aproximou muito, se uniu muito como equipe. São amizades daqui para a vida toda. Foram momentos muito intensos e a gente dividiu tanta coisa em tão pouco tempo que a gente acabou criando um vínculo muito grande com carinho e suporte”, acrescenta.
A profissional ainda fez uma menção honrosa à família, aos amigos e à equipe de São Roque, que apoiou e deu suporte para que ela pudesse aproveitar esta oportunidade, que era única na vida dela.
“Fui muito apoiada, muito incentivada e tenho muita gratidão pela minha unidade. Sem esse suporte, eu não teria conseguido fazer a competição, não teria nem conseguido treinar para ir. Sou muito grata aos delegados Doutora Bruna Racca de Madureira, Doutor Marcelo Apolinário da Silva e Doutor Enzo Santoro”, agradece.
Competindo com equipes masculinas
As policiais que representaram o Brasil na Copa do Mundo das tropas de elite
O UAE SWAT Challenge é um evento realizado todo ano pela polícia de Dubai, com o intuito de exibir as habilidades táticas das forças internacionais, com mais de 120 equipes de 46 países.
A proposta também é proporcionar uma troca de experiências, estratégias e culturas por meio do trabalho em equipe. As provas do circuito incluem tiro, rapel e situações de resgate.
Equipe feminina de policiais civis competiram junto a equipes masculinas em campeonato de performance da profissão em Dubai
UAE SWAT CHALLENGE/Reprodução
“Foi uma experiência única, mas também foi um desafio. Lá, são quatro dias de treinamento e cinco dias de campeonato, com mais um dia extra de prova nova que começaram a testar. Não entrou na pontuação, mas foi uma novidade. Exigiu muito do físico, do mental, do psicológico, e a gente queria suprir as expectativas também”, contou a policial.
O G.R.T São Paulo Feminine terminou as provas na posição 98, com 40 minutos e 32 segundos, acumulando um total de 37 pontos. Elas ficaram na frente de pelo menos cinco equipes masculinas que apareceram no ranking. O restante nem foi classificado.
Grupo feminino ficou à frente de pelo menos cinco equipes compostas por homens em competição mundial de polícias em Dubai
Reprodução/UAE SWAT CHALLENGE
A equipe feminina estreou no torneio neste ano como o primeiro grupo brasileiro somente com mulheres a participar do SWAT Challange.
“Demos nosso melhor, a gente mergulhou de cabeça nos desafios, nos entregamos 100%, todas nós. Completamos as provas, tivemos resultados muito legais, todas acertaram os alvos e, mesmo com obstáculos feitos para homens, de força, a gente conseguiu completar. Isso é muito significativo, a gente mostra que as mulheres são capazes, que a gente pode não só trabalhar, mas participar de competições ao lado dos homens e como os homens”, destaca.
Troca cultural
Segundo a policial, até mesmo o Xeique Mohammed bin Rashid Al Maktoum, político da realeza dos Emirados, esteve presente no evento, que mobilizou diversas figuras importantes da segurança pública mundial.
“Trataram a gente com muita hospitalidade, a gente viveu duas semanas muito intensas e incríveis. Lá, os policiais até treinam jiu-jítsu brasileiro. A gente era muito bem tratada, queriam levar a gente para jantares, para formaturas, mostrar o país deles e queriam que a gente divisse as nossas experiências para saber da rotina, do trabalho, licenças”, explicou Victorya.
Com cenários criminais bem diferentes do Brasil, as forças de segurança pública dos Emirados Árabes puderam compartilhar diversas histórias e sanar diversas dúvidas com as equipes brasileiras, desde estratégias de ocorrências até como funciona a licença maternidade para policiais.
“Me senti muito realizada no evento e me sinto muito realizada em ser policial civil. Estou há cinco anos fazendo o que eu acho que nasci para fazer. Nosso trabalho consegue fazer a diferença na vida das pessoas e no combate à criminalidade. A gente sente empatia, né? Para que a gente consiga confortar e buscar forças para trazer as respostas que as pessoas precisam, elas merecem e é um dever, não só a nossa função, mas é um dever”, finaliza a policial.
Veja fotos da equipe competindo em Dubai:
Equipe feminina do SWAT Challenge de 2025
SSP/Divulgação
Equipe feminina de policiais durante competição nos Emirados Árabes
Divulgação/SSP
Equipe feminina brasileira da escrivã Victorya, de São Roque (SP), participou de provas com obstáculos e de tiro ao alvo em Dubai
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Grupo de policiais mulheres fica na classificação 98 em competição mundial de polícias em Dubai
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
Policiais brasileiras e equipes internacionais no evento considerado ‘Copa do Mundo das polícias’, em Dubai
Victorya Anjo/Arquivo pessoal
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