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29 Apr 2025, Tue

Igreja do Convento de Santo Antônio enfrenta interdição por risco iminente de desabamento em Recife

Beto Barbosa


A Igreja do Convento de Santo Antônio, marco histórico de 418 anos no coração do Recife, foi interditada pela Defesa Civil devido a sérios problemas estruturais que ameaçam sua integridade. Construída em 1606, a edificação, localizada na Rua do Imperador, é considerada a mais antiga da capital pernambucana e um dos principais expoentes do barroco brasileiro. A decisão veio após uma vistoria técnica revelar danos graves no teto de madeira, comprometido pela ação de cupins, além de rachaduras extensas nas paredes e deterioração de elementos como azulejos e alvenarias. A interdição, decretada em março de 2025, reflete uma preocupação crescente com a preservação de patrimônios históricos no Brasil, especialmente após incidentes como o desabamento da Igreja de São Francisco, em Salvador, que deixou uma vítima fatal.

Situado no bairro de Santo Antônio, o convento integra o circuito cultural Recife Sagrado e atrai cerca de 300 visitantes mensais, fascinados por seu acervo único. O espaço abriga o maior conjunto de azulejos holandeses fora da Europa, com quase 900 peças, e uma cúpula de azulejos árabes no presbitério, além de detalhes arquitetônicos que remontam ao século XVII. A interdição da nave principal, onde os fiéis se reúnem durante as celebrações, foi recomendada para evitar acidentes, enquanto o altar, embora ainda acessível, também exige reparos urgentes.

Frei Edilson dos Santos, guardião do convento, foi quem acionou as autoridades após o incidente em Salvador reacender o alerta sobre a segurança de construções históricas. Ele destaca que a comunidade local segue ativa, com missas transferidas para a capela interna do convento, realizadas às terças, sábados e domingos. A situação expõe não apenas os desafios de conservação do patrimônio, mas também a importância cultural e social do espaço, que mantém ações de apoio à população em situação de rua no centro da cidade.

Estrutura em colapso ameaça patrimônio histórico

A deterioração da Igreja do Convento de Santo Antônio não é um problema recente. Um estudo realizado em 2018, em parceria com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), já apontava a fragilidade do telhado, mas nenhuma obra significativa foi executada desde então. A vistoria mais recente, conduzida em fevereiro de 2025 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pela Defesa Civil, confirmou o agravamento da situação. O laudo técnico identificou danos nas tesouras que sustentam o teto da nave central, rachaduras superiores a 1,5 metro nas paredes e infiltrações que comprometem a estrutura como um todo.

Entre os problemas detectados, estão a ação prolongada de cupins, que corroeram a madeira do telhado, e a falta de manutenção nas alvenarias externas e internas. Fissuras, perda de material, manchas de umidade e até vegetação crescendo em partes da edificação foram constatadas, evidenciando anos de descuido. A Defesa Civil recomendou a interdição imediata do trecho afetado e a execução de reparos urgentes por profissionais habilitados, enquanto o Iphan enfatizou a responsabilidade da Província Franciscana, proprietária do imóvel, na conservação do bem tombado desde 1938.

O caso do Convento de Santo Antônio não é isolado. Um relatório do Iphan revela que Pernambuco abriga pelo menos 16 igrejas tombadas em estado ruim ou péssimo, parte de um cenário nacional que contabiliza cerca de 100 edificações religiosas históricas em condições precárias. A ausência de intervenções regulares e os custos elevados de restauração são desafios comuns, agravados pela burocracia e pela dependência de recursos públicos ou parcerias privadas.

Ação emergencial e busca por soluções

Frei Edilson dos Santos relata que a decisão de interditar a igreja foi tomada para proteger tanto os fiéis quanto o próprio patrimônio. Após a tragédia em Salvador, onde o teto da Igreja de São Francisco desabou em fevereiro de 2025, matando uma turista de 26 anos e ferindo outras seis pessoas, a urgência de medidas preventivas tornou-se inquestionável. A vistoria no Recife, solicitada em fevereiro, foi realizada no dia 11 daquele mês, com a participação do Iphan, da Defesa Civil e da Fundarpe, resultando na interdição formalizada dias depois.

A Província Franciscana agora busca parcerias para viabilizar a restauração. Contatos com o Iphan estão em andamento para definir os próximos passos, mas o processo depende de aprovação de recursos que, segundo o frei, passam por análise em Brasília. O Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) destinou R$ 770 milhões para 249 obras de preservação do patrimônio cultural no país, mas ainda não há confirmação de que o Convento de Santo Antônio será contemplado.

Impactos culturais e sociais da interdição

A Igreja do Convento de Santo Antônio vai além de sua relevância histórica e arquitetônica. Localizada em uma área de grande importância cívica e cultural, próxima à Praça da República e ao Gabinete Português de Leitura, ela é um ponto de referência no centro do Recife. Seu fechamento temporário afeta não apenas os visitantes, mas também as ações sociais promovidas pelos frades, como o atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade. A transferência das missas para a capela interna mantém a comunidade religiosa ativa, mas o espaço reduzido limita a participação.

O templo é parte de um conjunto franciscano que inclui a Capela Dourada, outro ícone do barroco brasileiro, e reflete a influência da Ordem Franciscana no Brasil desde o século XVII. Durante a ocupação holandesa, o convento foi transformado em fortaleza, recebendo o nome de Forte Ernestus, enquanto a igreja serviu como paiol e cemitério para indigentes, escravos e mártires da Revolução Pernambucana de 1817, como o herói Henrique Dias. Esses elementos históricos reforçam a urgência de preservar a estrutura.

Cronologia dos eventos recentes

O agravamento da situação da Igreja do Convento de Santo Antônio segue uma linha do tempo marcada por alertas e medidas emergenciais. Confira os principais marcos:

  • 2018: Estudo conjunto entre Iphan e Fundarpe identifica deterioração no telhado do convento, mas nenhuma obra é iniciada.
  • Fevereiro de 2025: Desabamento da Igreja de São Francisco em Salvador acende alerta nacional sobre igrejas históricas.
  • 11 de fevereiro de 2025: Vistoria técnica no Convento de Santo Antônio, com Iphan e Defesa Civil, confirma risco iminente.
  • Março de 2025: Defesa Civil oficializa a interdição da nave principal, recomendando reparos urgentes.

Essa sequência destaca a lentidão nas ações preventivas e a necessidade de agilidade para evitar perdas irreparáveis.

Desafios para a restauração do patrimônio

Preservar uma construção com mais de quatro séculos exige investimentos altos e expertise técnica. O Convento de Santo Antônio, tombado pelo Iphan desde 1938, demanda intervenções que respeitem suas características originais, como as talhas de cedro cobertas por ouro e os azulejos holandeses e árabes. A madeira do teto, infestada por cupins, precisa ser substituída ou reforçada, enquanto as colunas em processo de desintegração e as paredes danificadas requerem reparos estruturais complexos. Uma pintura geral também está nos planos dos frades para revitalizar o espaço.

A responsabilidade compartilhada entre a Província Franciscana e o Iphan é um ponto de debate. Enquanto o instituto monitora e fiscaliza, a manutenção cotidiana cabe aos proprietários, que muitas vezes enfrentam dificuldades financeiras. O caso reflete uma realidade nacional: igrejas históricas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia também sofrem com a falta de conservação, como a Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, que passou 14 anos fechada antes de uma restauração concluída em 2023.

Medidas práticas para salvar o convento

Diante da gravidade, algumas ações emergenciais foram sugeridas para proteger o Convento de Santo Antônio. Veja as principais recomendações:

  • Escoramento imediato do teto para evitar colapsos parciais.
  • Contratação de profissionais especializados em restauro de bens tombados.
  • Tratamento contra cupins e reforço das estruturas de madeira.
  • Reparos nas alvenarias e colunas afetadas por infiltrações e fissuras.

Essas intervenções, porém, dependem de recursos que ainda não foram liberados, mantendo o futuro do convento incerto.

Esperança em meio à crise

Apesar da interdição, a comunidade do Convento de Santo Antônio mantém viva sua missão. As missas na capela interna, com capacidade reduzida, continuam atraindo fiéis às terças, sábados e domingos, preservando a tradição das “Trezenas de Santo Antônio”, celebrações realizadas nos 13 primeiros dias de junho em homenagem ao santo padroeiro. A presença dos frades no dia a dia do centro do Recife reforça o papel social da igreja, que segue como ponto de apoio para os mais vulneráveis.

A luta pela restauração agora depende de articulações entre a Província Franciscana, o Iphan e possíveis parceiros. O interesse público pelo caso, amplificado após a tragédia em Salvador, pode pressionar por soluções mais rápidas, garantindo que o legado de 418 anos não se perca.



A Igreja do Convento de Santo Antônio, marco histórico de 418 anos no coração do Recife, foi interditada pela Defesa Civil devido a sérios problemas estruturais que ameaçam sua integridade. Construída em 1606, a edificação, localizada na Rua do Imperador, é considerada a mais antiga da capital pernambucana e um dos principais expoentes do barroco brasileiro. A decisão veio após uma vistoria técnica revelar danos graves no teto de madeira, comprometido pela ação de cupins, além de rachaduras extensas nas paredes e deterioração de elementos como azulejos e alvenarias. A interdição, decretada em março de 2025, reflete uma preocupação crescente com a preservação de patrimônios históricos no Brasil, especialmente após incidentes como o desabamento da Igreja de São Francisco, em Salvador, que deixou uma vítima fatal.

Situado no bairro de Santo Antônio, o convento integra o circuito cultural Recife Sagrado e atrai cerca de 300 visitantes mensais, fascinados por seu acervo único. O espaço abriga o maior conjunto de azulejos holandeses fora da Europa, com quase 900 peças, e uma cúpula de azulejos árabes no presbitério, além de detalhes arquitetônicos que remontam ao século XVII. A interdição da nave principal, onde os fiéis se reúnem durante as celebrações, foi recomendada para evitar acidentes, enquanto o altar, embora ainda acessível, também exige reparos urgentes.

Frei Edilson dos Santos, guardião do convento, foi quem acionou as autoridades após o incidente em Salvador reacender o alerta sobre a segurança de construções históricas. Ele destaca que a comunidade local segue ativa, com missas transferidas para a capela interna do convento, realizadas às terças, sábados e domingos. A situação expõe não apenas os desafios de conservação do patrimônio, mas também a importância cultural e social do espaço, que mantém ações de apoio à população em situação de rua no centro da cidade.

Estrutura em colapso ameaça patrimônio histórico

A deterioração da Igreja do Convento de Santo Antônio não é um problema recente. Um estudo realizado em 2018, em parceria com a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), já apontava a fragilidade do telhado, mas nenhuma obra significativa foi executada desde então. A vistoria mais recente, conduzida em fevereiro de 2025 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pela Defesa Civil, confirmou o agravamento da situação. O laudo técnico identificou danos nas tesouras que sustentam o teto da nave central, rachaduras superiores a 1,5 metro nas paredes e infiltrações que comprometem a estrutura como um todo.

Entre os problemas detectados, estão a ação prolongada de cupins, que corroeram a madeira do telhado, e a falta de manutenção nas alvenarias externas e internas. Fissuras, perda de material, manchas de umidade e até vegetação crescendo em partes da edificação foram constatadas, evidenciando anos de descuido. A Defesa Civil recomendou a interdição imediata do trecho afetado e a execução de reparos urgentes por profissionais habilitados, enquanto o Iphan enfatizou a responsabilidade da Província Franciscana, proprietária do imóvel, na conservação do bem tombado desde 1938.

O caso do Convento de Santo Antônio não é isolado. Um relatório do Iphan revela que Pernambuco abriga pelo menos 16 igrejas tombadas em estado ruim ou péssimo, parte de um cenário nacional que contabiliza cerca de 100 edificações religiosas históricas em condições precárias. A ausência de intervenções regulares e os custos elevados de restauração são desafios comuns, agravados pela burocracia e pela dependência de recursos públicos ou parcerias privadas.

Ação emergencial e busca por soluções

Frei Edilson dos Santos relata que a decisão de interditar a igreja foi tomada para proteger tanto os fiéis quanto o próprio patrimônio. Após a tragédia em Salvador, onde o teto da Igreja de São Francisco desabou em fevereiro de 2025, matando uma turista de 26 anos e ferindo outras seis pessoas, a urgência de medidas preventivas tornou-se inquestionável. A vistoria no Recife, solicitada em fevereiro, foi realizada no dia 11 daquele mês, com a participação do Iphan, da Defesa Civil e da Fundarpe, resultando na interdição formalizada dias depois.

A Província Franciscana agora busca parcerias para viabilizar a restauração. Contatos com o Iphan estão em andamento para definir os próximos passos, mas o processo depende de aprovação de recursos que, segundo o frei, passam por análise em Brasília. O Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) destinou R$ 770 milhões para 249 obras de preservação do patrimônio cultural no país, mas ainda não há confirmação de que o Convento de Santo Antônio será contemplado.

Impactos culturais e sociais da interdição

A Igreja do Convento de Santo Antônio vai além de sua relevância histórica e arquitetônica. Localizada em uma área de grande importância cívica e cultural, próxima à Praça da República e ao Gabinete Português de Leitura, ela é um ponto de referência no centro do Recife. Seu fechamento temporário afeta não apenas os visitantes, mas também as ações sociais promovidas pelos frades, como o atendimento a pessoas em situação de vulnerabilidade. A transferência das missas para a capela interna mantém a comunidade religiosa ativa, mas o espaço reduzido limita a participação.

O templo é parte de um conjunto franciscano que inclui a Capela Dourada, outro ícone do barroco brasileiro, e reflete a influência da Ordem Franciscana no Brasil desde o século XVII. Durante a ocupação holandesa, o convento foi transformado em fortaleza, recebendo o nome de Forte Ernestus, enquanto a igreja serviu como paiol e cemitério para indigentes, escravos e mártires da Revolução Pernambucana de 1817, como o herói Henrique Dias. Esses elementos históricos reforçam a urgência de preservar a estrutura.

Cronologia dos eventos recentes

O agravamento da situação da Igreja do Convento de Santo Antônio segue uma linha do tempo marcada por alertas e medidas emergenciais. Confira os principais marcos:

  • 2018: Estudo conjunto entre Iphan e Fundarpe identifica deterioração no telhado do convento, mas nenhuma obra é iniciada.
  • Fevereiro de 2025: Desabamento da Igreja de São Francisco em Salvador acende alerta nacional sobre igrejas históricas.
  • 11 de fevereiro de 2025: Vistoria técnica no Convento de Santo Antônio, com Iphan e Defesa Civil, confirma risco iminente.
  • Março de 2025: Defesa Civil oficializa a interdição da nave principal, recomendando reparos urgentes.

Essa sequência destaca a lentidão nas ações preventivas e a necessidade de agilidade para evitar perdas irreparáveis.

Desafios para a restauração do patrimônio

Preservar uma construção com mais de quatro séculos exige investimentos altos e expertise técnica. O Convento de Santo Antônio, tombado pelo Iphan desde 1938, demanda intervenções que respeitem suas características originais, como as talhas de cedro cobertas por ouro e os azulejos holandeses e árabes. A madeira do teto, infestada por cupins, precisa ser substituída ou reforçada, enquanto as colunas em processo de desintegração e as paredes danificadas requerem reparos estruturais complexos. Uma pintura geral também está nos planos dos frades para revitalizar o espaço.

A responsabilidade compartilhada entre a Província Franciscana e o Iphan é um ponto de debate. Enquanto o instituto monitora e fiscaliza, a manutenção cotidiana cabe aos proprietários, que muitas vezes enfrentam dificuldades financeiras. O caso reflete uma realidade nacional: igrejas históricas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia também sofrem com a falta de conservação, como a Igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, que passou 14 anos fechada antes de uma restauração concluída em 2023.

Medidas práticas para salvar o convento

Diante da gravidade, algumas ações emergenciais foram sugeridas para proteger o Convento de Santo Antônio. Veja as principais recomendações:

  • Escoramento imediato do teto para evitar colapsos parciais.
  • Contratação de profissionais especializados em restauro de bens tombados.
  • Tratamento contra cupins e reforço das estruturas de madeira.
  • Reparos nas alvenarias e colunas afetadas por infiltrações e fissuras.

Essas intervenções, porém, dependem de recursos que ainda não foram liberados, mantendo o futuro do convento incerto.

Esperança em meio à crise

Apesar da interdição, a comunidade do Convento de Santo Antônio mantém viva sua missão. As missas na capela interna, com capacidade reduzida, continuam atraindo fiéis às terças, sábados e domingos, preservando a tradição das “Trezenas de Santo Antônio”, celebrações realizadas nos 13 primeiros dias de junho em homenagem ao santo padroeiro. A presença dos frades no dia a dia do centro do Recife reforça o papel social da igreja, que segue como ponto de apoio para os mais vulneráveis.

A luta pela restauração agora depende de articulações entre a Província Franciscana, o Iphan e possíveis parceiros. O interesse público pelo caso, amplificado após a tragédia em Salvador, pode pressionar por soluções mais rápidas, garantindo que o legado de 418 anos não se perca.



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