O planeta viveu em 2024 o ano mais quente já registrado, com temperaturas médias globais alcançando 1,55 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, um marco que intensifica os alertas sobre os impactos das mudanças climáticas. Esse recorde, divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), órgão ligado à ONU, revela um cenário preocupante: o aquecimento dos oceanos, o derretimento acelerado de geleiras e a elevação do nível do mar estão se tornando processos com consequências que podem durar séculos ou até milênios. A escalada térmica, impulsionada por níveis recordes de gases de efeito estufa, coloca o mundo mais próximo do limite de 1,5°C estipulado pelo Acordo de Paris, enquanto eventos climáticos extremos afetam milhões de pessoas ao redor do globo.
A OMM destaca que o calor excepcional de 2024 superou em 0,1°C o recorde anterior, estabelecido em 2023, evidenciando uma tendência de agravamento rápido. Além disso, fatores como a erupção vulcânica de Tonga em 2022, alterações no ciclo solar e a redução de aerossóis que ajudam a resfriar a atmosfera contribuíram para o aumento das temperaturas. Apesar de algumas regiões terem registrado quedas pontuais, o saldo global foi de devastação, com secas, inundações e incêndios florestais que deslocaram 800 mil pessoas – o maior número desde o início dos registros em 2008.
Os oceanos, que absorvem grande parte do calor gerado pelo aquecimento global, estão no centro das preocupações. A acidificação das águas, resultado do aumento de dióxido de carbono (CO2), e a elevação do nível do mar, impulsionada pelo derretimento de geleiras e gelo marinho, são fenômenos que cientistas consideram praticamente irreversíveis em escalas de tempo humanas. Esses dados reforçam a urgência de ações globais para conter as emissões e mitigar os danos que já estão em curso.
Impactos nos oceanos: uma transformação de longo prazo
Os oceanos atingiram em 2024 os maiores níveis de calor já registrados, com uma taxa de aquecimento que só aumenta. Esse fenômeno, segundo a OMM, não é passageiro: mesmo em cenários otimistas de redução de emissões, o aquecimento das águas marinhas deve persistir ao longo de todo o século XXI. A profundidade desse impacto é ainda mais alarmante nas camadas mais profundas dos oceanos, onde as mudanças no pH, decorrentes da acidificação, podem se estender por séculos ou milênios, afetando ecossistemas marinhos essenciais à vida no planeta.
A elevação do nível do mar é outro reflexo direto desse processo. Entre 2015 e 2024, a média anual de aumento foi de 4,7 milímetros, mais que o dobro dos 2,1 milímetros registrados entre 1993 e 2002. O derretimento acelerado de geleiras nas regiões polares, como o Ártico e a Antártida, contribui para essa escalada, ameaçando comunidades costeiras e ilhas de baixa altitude. Nos últimos anos, o gelo marinho do Ártico atingiu extensões mínimas históricas, enquanto na Antártida o ritmo de perda de massa das geleiras também disparou, agravando o cenário global.
Além disso, a acidificação dos oceanos compromete a vida marinha de forma significativa. Espécies como corais, moluscos e plânctons, que dependem de um equilíbrio químico específico nas águas, enfrentam dificuldades crescentes para sobreviver. Esse desequilíbrio pode desencadear uma reação em cadeia, afetando cadeias alimentares que sustentam pescarias e a segurança alimentar de milhões de pessoas ao redor do mundo.
Geleiras e nível do mar sob pressão
O derretimento de geleiras e do gelo marinho atingiu níveis críticos em 2024, com perdas recordes que reforçam os temores de cientistas sobre o futuro do clima global. No Ártico, a cobertura de gelo no verão caiu para patamares nunca antes vistos, enquanto na Antártida as plataformas de gelo mostram sinais de instabilidade crescente. Esses eventos não apenas contribuem para a elevação do nível do mar, mas também alteram padrões climáticos, como as correntes oceânicas que regulam o clima em diversas regiões do planeta.
A taxa de aumento do nível do mar, que dobrou em duas décadas, já causa impactos visíveis. Países insulares, como as Maldivas e Tuvalu, enfrentam a ameaça de desaparecerem nas próximas décadas, enquanto cidades costeiras, como Miami e Bangcoc, lidam com inundações mais frequentes. Nos últimos dez anos, o ritmo acelerado desse processo elevou o risco para infraestruturas e populações que vivem próximas ao litoral, forçando governos a planejar adaptações custosas.
Cenário climático em 2024: o que os números revelam
Os dados de 2024 mostram um planeta sob pressão extrema. A temperatura média global de 1,55°C acima dos níveis pré-industriais marca o primeiro ano em que o aquecimento ultrapassou consistentemente o limite de 1,5°C ao longo de 12 meses. Apesar disso, especialistas da OMM esclarecem que esse valor isolado não significa que o Acordo de Paris foi formalmente violado, já que o tratado considera médias de longo prazo. Estimativas preliminares apontam que o aumento médio atual varia entre 1,34°C e 1,41°C, mas as margens de incerteza deixam aberta a possibilidade de que o limite já esteja mais próximo do que se imagina.
Outros indicadores reforçam a gravidade da situação:
- Concentração de CO2: atingiu níveis recordes em 2024, acelerando o aquecimento global e a acidificação dos oceanos.
- Eventos extremos: secas severas afetaram a produção agrícola em regiões como o Chifre da África, enquanto chuvas intensas causaram inundações históricas na Europa e na Ásia.
- Deslocamentos humanos: cerca de 800 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas devido a desastres climáticos, um recorde desde 2008.
Esses números evidenciam que os impactos do aquecimento global já não são apenas previsões, mas realidades que afetam diretamente a vida no planeta.
Cronologia do aquecimento: como chegamos até aqui
O aquecimento global é um processo que se intensificou ao longo das últimas décadas, com marcos claros que mostram sua evolução. Para entender o cenário atual, vale observar alguns pontos-chave:
- 1993-2002: o nível do mar subia a uma média de 2,1 mm por ano, um ritmo já preocupante na época.
- 2015-2024: a taxa saltou para 4,7 mm anuais, refletindo o agravamento do derretimento de geleiras.
- 2023: o ano mais quente até então, com 1,45°C acima dos níveis pré-industriais, foi superado por 2024.
- 2024: temperaturas médias globais atingiram 1,55°C acima do baseline, consolidando a tendência de escalada térmica.
Essa linha do tempo revela um padrão de aceleração que desafia as projeções mais otimistas e pressiona os países a revisar suas metas de redução de emissões.
Efeitos globais: do Ártico às zonas tropicais
Os impactos do aquecimento global em 2024 foram sentidos em todas as regiões do planeta, com variações que destacam a complexidade do problema. No Ártico, o derretimento do gelo marinho atingiu mínimas históricas, afetando comunidades indígenas e a fauna local, como ursos polares e focas. Na Antártida, a perda de geleiras ameaça desestabilizar plataformas de gelo, o que pode acelerar ainda mais a elevação do nível do mar nos próximos anos.
Nas zonas tropicais, o calor intenso e as chuvas irregulares agravaram a escassez de água e alimentos. Países como a Índia enfrentaram ondas de calor extremas, enquanto na América do Sul, a Amazônia viu um aumento nos incêndios florestais, reduzindo sua capacidade de absorver CO2. Já em áreas temperadas, como a Europa, inundações devastadoras deixaram um rastro de destruição, com prejuízos econômicos que chegam a bilhões de dólares.
Futuro dos oceanos: o que está em jogo
O aquecimento dos oceanos não é apenas uma questão de temperatura, mas um fator que redefine ecossistemas inteiros. A OMM projeta que, mesmo com cortes drásticos nas emissões, as águas marinhas continuarão a esquentar até o final do século XXI. Isso significa que os impactos atuais – como a morte de recifes de corais e a migração de espécies marinhas – são apenas o começo de uma transformação mais profunda.
A acidificação, que já atinge níveis preocupantes, compromete a formação de conchas e esqueletos de organismos marinhos, afetando desde os menores plânctons até peixes de grande porte. Esse processo, irreversível em escalas de tempo milenares, pode levar ao colapso de ecossistemas que sustentam a pesca global, um setor que emprega milhões de pessoas e garante a alimentação de bilhões.
Por fim, o aumento do nível do mar ameaça redesenhar os mapas costeiros do mundo. Regiões densamente povoadas, como o Sudeste Asiático e o litoral dos Estados Unidos, já planejam barreiras e realocações, mas os custos e os desafios logísticos são imensos, especialmente para nações menos desenvolvidas.
