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26 Mar 2025, Wed


Há quem relembre das estradas esvaziadas, da invasão torrencial às unidades de saúde, da clausura social forçosa e do pânico que pairava em milhares de brasileiros durante os três anos que se arrastava a pandemia da Covid-19. Em meio aos estarrecedores minutos em meio ao anos pandêmicos, sobraram aqueles que vivenciaram na pele todo o caos causado pela doença.

A história reforça a necessidade de manter acesas as marcas que a tragédia deixou no Brasil: 714 mil mortes, segundo dados do Ministério da Saúde, sequelas em mais de 65% de brasileiros, de acordo com estudo da Vital Strategies e Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e diversos negócios, antes iniciados por meio de um sonho, de repente, com portas fechadas.

Leia Também:

Durante a pandemia, mais de 2,8 milhões de companhias do setor de serviços vislumbraram o fechamento de portas, antes iniciadas por meio de um sonho. Levantamento da plataforma Neoway, empresa da B3 de Big Data Analytics e Inteligência Artificial para negócios, aponta que dessas, mais de 3,2 milhões encerraram suas atividades no mesmo período.

Um dos primeiros setores a parar as atividades em meio ao lockdown (restrição obrigatória que impede a circulação em lugares públicos), e um dos últimos a retomar o funcionamento, o ramo de eventos, responsável por pouco mais de 4% do PIB brasileiro, sente até hoje os efeitos negativos da pandemia. Somente em 2020 e 2021 – anos picos da difusão do vírus – o setor deixou de faturar ao menos R$ 230 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape).

É o caso de João Luiz, que não somente foi forçado a postergar o seu sonho, mas o de milhares de pessoas. Promotor de eventos, decorador e cenógrafo de grandes eventos na Bahia, João alimentou desde criança o desejo de atuar no ramo e fugir do fadário pedagógico prevalente em sua família: decidiu que não estava destinado às salas de aula.

Uma simplista recordação, que ficaria permanente na memória do decorador, pressagiaria o seu destino: “Não me lembro qual, mas era um camarote que eu ficava babando, comprava a revista Caras, Quem e Contigo! para poder ver o Carnaval daqui de Salvador promovido por Lícia Fábio [empresária do ramo de eventos, referência em Salvador]”, inicia ele.

João Luiz é promotor de eventos na Bahia

Ele recorda especificamente de uma chuva torrencial que destruiu o teto deste camarote. “Lícia Fábio montou um camarote da noite para o dia. Foi então que eu me apaixonei, e quando eu disse: “Eu não quero mais fazer nada de escola. Eu quero trabalhar com eventos”, brinca o promotor.

Ele aferrou-se a esse sonho e o alimentou até que pudesse abrir a sua própria empresa de promoção de eventos em Salvador, a SIS Eventos, que há mais de seis anos, assina a decoração de casamentos, aniversários, festivais, camarotes e entre outros. Durante a pandemia, a empresa, que iniciou com sete colaboradores, presenciou a diminuição de recurso humano, para dois funcionários. Essa foi, entretanto, um dos inúmeros efeitos negativos causados pela reclusão.

Assista a entrevista de João Luiz

João viu todos aqueles sonhos serem desfeitos, e mais que isso, estragados. Durante o lockdown, todos os materiais que seriam utilizados nos eventos esvaíram-se diante do arrastar-se da pandemia.

“Os nossos planos, os projetos que já estavam no forninho para sair, tiveram que ser deletados. Foram para o lixo e perdemos material. Tínhamos um depósito, onde uma equipe cuidava, quando ficamos sem dinheiro para mantê-los, precisamos devolver o espaço após mais de 2 anos com os materiais parados. Quando desfizemos dos materiais, perdemos muita coisa porque começou a dar mofo”, disse João Luiz.

Imagem ilustrativa da imagem Reinventar negócios: histórias de pessoas que ‘se viraram’ na pandemia

Os eventos não aconteciam, não entrava dinheiro, só fazia sair. Precisávamos comer, que era a única necessidade que a gente tinha. O único luxo era comprar máscara e álcool em gel

João Luiz

O retorno

“Quando retornamos às atividades, não foi uma volta de muito sucesso, foi um retorno de prejuízo. Tivemos que arcar com eventos, com casamentos, com sonhos que já estavam agendados pagos. Nós tivemos que honrar”, iniciou João Luiz ao desabafar sobre o retorno das atividades da empresa.

O retorno dos eventos foi um grande impecilho para o promotor

A questão estava em como investir nos eventos, tendo os valores, frutos de parcelas pagas pelos clientes, sendo direcionadas ao pagamento de pessoal e à devolução integral do valor para parte dos consumidores?

“Mas a gente honrou, sabia que não era uma coisa que eles estavam cancelando por achar outro fornecedor, era uma coisa que estava acontecendo no mundo inteiro. Com toda a dificuldade, a gente devolveu o valor integral e quando a gente retornou da pandemia, foi um pouco também difícil porque a gente já tinha algumas parcelas pagas. Os fornecedores também nos ajudaram diante da situação, abaixando o preço dos produtos”, disse ele.

Reinventar

Sufocado pela pequenez de Quixabeira, no Centro Norte da Bahia, Edy Ribeiro ansiava mais do que cortar cabelos que seu pai o ensinara aos 13 anos de idade. Na década de 90, já com o seu salão, o jovem já “desembolava” com cortes e escovas de cabelo. Mas foi na descoberta da sua orientação sexual, que ele tomou impulso para ir a Salvador alcançar novos voos.

Há 22 anos na capital baiana, Edy conseguiu se reestruturar com a construção do seu próprio salão de beleza

Depois de um investimento alto de reformas, me vi com a mão na cabeça, eu não usava a internet para vender, foi quando veio a ideia de vender serviço e produto na internet

Edy Ribeiro

Há 22 anos na capital baiana, Edy conseguiu se reestruturar com a construção do seu próprio salão de beleza, que posteriormente viria a torná-lo ‘Rei dos Cachos’. Com a primeira determinação de lockdown, em 2020, o hairstylist não sabia o que fazer, já que havia usado as suas economias para investir em seu novo salão de beleza. A inauguração do espaço havia sido no dia 2 de março, e 16 dias depois, em 18 de março, ele foi obrigado a fechar as portas.

O primeiro impacto da pandemia ao hairstylist se deu em 2020. Surpreendentemente, ele conseguiu se desviar desse prejuízo financeiro através das vendas de serviços e produtos online.

“Nós vendíamos um corte, por exemplo, de forma online. O serviço tinha validade de um ano. Se a pandemia permanecesse, prorrogávamos por mais um ano. Nós também reduzimos o preço dos serviços: o que antes era R$ 250, vendíamos antecipadamente por R$ 120, por exemplo, isso fez com que fizéssemos dinheiro para nos manter.

Confira a entrevista de Edy Rios

Os produtos eram vendidos para os clientes que conseguiam fazer em suas próprias casas, os serviços. “Muita gente aproveitou a pandemia para fazer transição capilar. Eu estava pagando as contas sem estar funcionando fisicamente, mas a gente conseguiu sobreviver”, disse ele.

O ócio obrigatório mediante à clausura em casa foi o gancho primoroso para que Edy ampliasse as suas habilidades na cozinha, e descobrisse pouco tempo depois, o seu talento como criador de conteúdo nas redes sociais. Tudo começou em 2020 quando, em um vídeo que fez, seus seguidores queriam descobrir o que ele estava preparando na cozinha.

E foi assim que nasceu o ‘Sabores do Edy’ (@saboresdoedy). Com receitas de bolos, comidas baianas e diversos outros pratos típicos, o criador de conteúdo conseguiu aproximar diversos curiosos até que chegasse aos seus 416 mil seguidores no Instagram.

Em 2023, o seu reconhecimento o levou a participar do Jogo de Panelas, reality culinário com Ana Maria Braga. Com o tema “Memória Afetiva”, Edy saiu vencedor do programa, com nota máxima do júri técnico (41,5 pontos).

Com o tema “Memória Afetiva”, Edy saiu vencedor do programa Jogo de Panelas

Reviravolta

Tantas conquistas tiveram de ser postergadas para um outro momento. Em 2021, o pandemia deu o seu segundo impacto em Edy, e desta vez, com perdas mais significativas. O cabeleireiro foi infectado pelo vírus após um encontro com amigos para comemorar o seu aniversário. Ele havia alugado uma casa, e convidou algumas pessoas para uma feijoada. “Era um momento que tudo estava fechado. Eu ainda ainda passei por um processo de retaliação na internet, porque eu estava fazendo o encontro nesse período”, iniciou ele.

“Eu tenho rinite alérgica e em um momento em que eu estava atendendo a um cliente, comecei a passar mal. Com um tempo, os sintomas gripais persistiram e eu passei a me automedicar, mas não resolvia. Comecei a sentir dificuldades para respirar. Tive febre alta, passava o tempo inteiro no sofá porque eu estava sozinho. Uma amiga minha foi lá em casa e me acompanhou até o hospital”, explica ele.

Como era um período em que o número de pacientes aumentou drasticamente nos hospitais devido ao crescimento de casos de Covid-19, Edy sentiu dificuldades em encontrar vagas em unidades de saúde. Quando finalmente foi encaminhado a um hospital, com a saturação baixíssima, perdeu todos os controles do corpo e passou a receber oxigênio.

Ele foi encaminhado para um hospital que tinha terapia intensiva em Alagoinhas. “Foi horrível”: essa foi a descrição do hairstyle com a notícia de que estavam sem oxigênio para recebê-lo.

“Foi desesperador. Eu entrei no hospital, fizeram todos os testes, me colocaram lá no lugar que eu podia respirar para tentar não entubar. Muitos profissionais me deram atenção. Quando chegou o dia 10 de março, eles disseram que conseguiriam me entubar, mas eu disse que eu só aceitaria que fizessem algo em mim depois que eu pagasse duas contas importantíssimas: olha qual era a minha preocupação”, disse ele.

Quando pagou as suas pendências, Edy disse que “apagou”. Ficou até o dia 20 entubado. Com o tempo em que ficou afastado, os seguidores começaram a perguntar pelo cabeleireiro até que descobriram o que havia acontecido.

“Recebi muitas mensagens boas, mas também muitas piadinhas, muita gente ruim na internet que havia relembrado da festa que eu havia feito em casa. Bloqueamos os comentários para evitar uma situação mais delicada. Passei 11 dias entubado, e no dia do meu aniversário, no dia 20 de março, foi criado uma corrente de oração”, desabafou o influencer.

Amputação

Durante a intubação de Edy, a hemodinâmica, que ele fazia para tratar alterações cardiológicas, neurológicas e endovasculares, havia terminado. O criador de conteúdo conta que se manteve vivo graças às quatro doses de noradrenalina (hormônio e neurotransmissor que atua no corpo em situações de estresse) após a queda de pressão que sofreu.

“Eu tive trombose, o que fez com que as pontas dos meus dedos dos pés necrosarem. O médico disse que ia amputar o meu pé e o meu pai não deixou porque disse que eu gostava de pular no Carnaval. Ele disse que o médico só poderia fazer isso em último caso. A partir disso, o meu organismo começou a reagir”, disse ele.

Após passar por todo o período de internação, 28 dias no total, Edy conta que viu a sua morte três vezes, e que agora tem motivos de sobra para agradecer. “Sou uma pessoa que faço aniversário duas vezes no mesmo dia porque eu estava morto. Eu me vi morrendo três vezes e ressuscitando”, inicia ele.

“Eu estava sem andar, porque perdi os movimentos. Tive que aprender tudo, como se fosse o primeiro beijo. Quando eu fiquei intubado eu descobri que as pessoas da minha cidade natal decidiram abrir as igrejas e fazer vigília. Fizeram muitas promessas para a minha vida para diversos santos e eu consegui pagar todas elas. Eu fui em todas as igrejas, inclusive em Portugal, em Fátima, porque intercederam por Nossa Senhora de Fátima”, disse ele.

“Assim que eu recebi alta, eu já queria pintar o cabelo e mostrar ao mundo que eu estava bem. Continuou vivendo, firme e forte”, finaliza ele.



Há quem relembre das estradas esvaziadas, da invasão torrencial às unidades de saúde, da clausura social forçosa e do pânico que pairava em milhares de brasileiros durante os três anos que se arrastava a pandemia da Covid-19. Em meio aos estarrecedores minutos em meio ao anos pandêmicos, sobraram aqueles que vivenciaram na pele todo o caos causado pela doença.

A história reforça a necessidade de manter acesas as marcas que a tragédia deixou no Brasil: 714 mil mortes, segundo dados do Ministério da Saúde, sequelas em mais de 65% de brasileiros, de acordo com estudo da Vital Strategies e Universidade Federal de Pelotas (UFPel), e diversos negócios, antes iniciados por meio de um sonho, de repente, com portas fechadas.

Leia Também:

Durante a pandemia, mais de 2,8 milhões de companhias do setor de serviços vislumbraram o fechamento de portas, antes iniciadas por meio de um sonho. Levantamento da plataforma Neoway, empresa da B3 de Big Data Analytics e Inteligência Artificial para negócios, aponta que dessas, mais de 3,2 milhões encerraram suas atividades no mesmo período.

Um dos primeiros setores a parar as atividades em meio ao lockdown (restrição obrigatória que impede a circulação em lugares públicos), e um dos últimos a retomar o funcionamento, o ramo de eventos, responsável por pouco mais de 4% do PIB brasileiro, sente até hoje os efeitos negativos da pandemia. Somente em 2020 e 2021 – anos picos da difusão do vírus – o setor deixou de faturar ao menos R$ 230 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape).

É o caso de João Luiz, que não somente foi forçado a postergar o seu sonho, mas o de milhares de pessoas. Promotor de eventos, decorador e cenógrafo de grandes eventos na Bahia, João alimentou desde criança o desejo de atuar no ramo e fugir do fadário pedagógico prevalente em sua família: decidiu que não estava destinado às salas de aula.

Uma simplista recordação, que ficaria permanente na memória do decorador, pressagiaria o seu destino: “Não me lembro qual, mas era um camarote que eu ficava babando, comprava a revista Caras, Quem e Contigo! para poder ver o Carnaval daqui de Salvador promovido por Lícia Fábio [empresária do ramo de eventos, referência em Salvador]”, inicia ele.

João Luiz é promotor de eventos na Bahia

Ele recorda especificamente de uma chuva torrencial que destruiu o teto deste camarote. “Lícia Fábio montou um camarote da noite para o dia. Foi então que eu me apaixonei, e quando eu disse: “Eu não quero mais fazer nada de escola. Eu quero trabalhar com eventos”, brinca o promotor.

Ele aferrou-se a esse sonho e o alimentou até que pudesse abrir a sua própria empresa de promoção de eventos em Salvador, a SIS Eventos, que há mais de seis anos, assina a decoração de casamentos, aniversários, festivais, camarotes e entre outros. Durante a pandemia, a empresa, que iniciou com sete colaboradores, presenciou a diminuição de recurso humano, para dois funcionários. Essa foi, entretanto, um dos inúmeros efeitos negativos causados pela reclusão.

Assista a entrevista de João Luiz

João viu todos aqueles sonhos serem desfeitos, e mais que isso, estragados. Durante o lockdown, todos os materiais que seriam utilizados nos eventos esvaíram-se diante do arrastar-se da pandemia.

“Os nossos planos, os projetos que já estavam no forninho para sair, tiveram que ser deletados. Foram para o lixo e perdemos material. Tínhamos um depósito, onde uma equipe cuidava, quando ficamos sem dinheiro para mantê-los, precisamos devolver o espaço após mais de 2 anos com os materiais parados. Quando desfizemos dos materiais, perdemos muita coisa porque começou a dar mofo”, disse João Luiz.

Imagem ilustrativa da imagem Reinventar negócios: histórias de pessoas que ‘se viraram’ na pandemia

Os eventos não aconteciam, não entrava dinheiro, só fazia sair. Precisávamos comer, que era a única necessidade que a gente tinha. O único luxo era comprar máscara e álcool em gel

João Luiz

O retorno

“Quando retornamos às atividades, não foi uma volta de muito sucesso, foi um retorno de prejuízo. Tivemos que arcar com eventos, com casamentos, com sonhos que já estavam agendados pagos. Nós tivemos que honrar”, iniciou João Luiz ao desabafar sobre o retorno das atividades da empresa.

O retorno dos eventos foi um grande impecilho para o promotor

A questão estava em como investir nos eventos, tendo os valores, frutos de parcelas pagas pelos clientes, sendo direcionadas ao pagamento de pessoal e à devolução integral do valor para parte dos consumidores?

“Mas a gente honrou, sabia que não era uma coisa que eles estavam cancelando por achar outro fornecedor, era uma coisa que estava acontecendo no mundo inteiro. Com toda a dificuldade, a gente devolveu o valor integral e quando a gente retornou da pandemia, foi um pouco também difícil porque a gente já tinha algumas parcelas pagas. Os fornecedores também nos ajudaram diante da situação, abaixando o preço dos produtos”, disse ele.

Reinventar

Sufocado pela pequenez de Quixabeira, no Centro Norte da Bahia, Edy Ribeiro ansiava mais do que cortar cabelos que seu pai o ensinara aos 13 anos de idade. Na década de 90, já com o seu salão, o jovem já “desembolava” com cortes e escovas de cabelo. Mas foi na descoberta da sua orientação sexual, que ele tomou impulso para ir a Salvador alcançar novos voos.

Há 22 anos na capital baiana, Edy conseguiu se reestruturar com a construção do seu próprio salão de beleza

Depois de um investimento alto de reformas, me vi com a mão na cabeça, eu não usava a internet para vender, foi quando veio a ideia de vender serviço e produto na internet

Edy Ribeiro

Há 22 anos na capital baiana, Edy conseguiu se reestruturar com a construção do seu próprio salão de beleza, que posteriormente viria a torná-lo ‘Rei dos Cachos’. Com a primeira determinação de lockdown, em 2020, o hairstylist não sabia o que fazer, já que havia usado as suas economias para investir em seu novo salão de beleza. A inauguração do espaço havia sido no dia 2 de março, e 16 dias depois, em 18 de março, ele foi obrigado a fechar as portas.

O primeiro impacto da pandemia ao hairstylist se deu em 2020. Surpreendentemente, ele conseguiu se desviar desse prejuízo financeiro através das vendas de serviços e produtos online.

“Nós vendíamos um corte, por exemplo, de forma online. O serviço tinha validade de um ano. Se a pandemia permanecesse, prorrogávamos por mais um ano. Nós também reduzimos o preço dos serviços: o que antes era R$ 250, vendíamos antecipadamente por R$ 120, por exemplo, isso fez com que fizéssemos dinheiro para nos manter.

Confira a entrevista de Edy Rios

Os produtos eram vendidos para os clientes que conseguiam fazer em suas próprias casas, os serviços. “Muita gente aproveitou a pandemia para fazer transição capilar. Eu estava pagando as contas sem estar funcionando fisicamente, mas a gente conseguiu sobreviver”, disse ele.

O ócio obrigatório mediante à clausura em casa foi o gancho primoroso para que Edy ampliasse as suas habilidades na cozinha, e descobrisse pouco tempo depois, o seu talento como criador de conteúdo nas redes sociais. Tudo começou em 2020 quando, em um vídeo que fez, seus seguidores queriam descobrir o que ele estava preparando na cozinha.

E foi assim que nasceu o ‘Sabores do Edy’ (@saboresdoedy). Com receitas de bolos, comidas baianas e diversos outros pratos típicos, o criador de conteúdo conseguiu aproximar diversos curiosos até que chegasse aos seus 416 mil seguidores no Instagram.

Em 2023, o seu reconhecimento o levou a participar do Jogo de Panelas, reality culinário com Ana Maria Braga. Com o tema “Memória Afetiva”, Edy saiu vencedor do programa, com nota máxima do júri técnico (41,5 pontos).

Com o tema “Memória Afetiva”, Edy saiu vencedor do programa Jogo de Panelas

Reviravolta

Tantas conquistas tiveram de ser postergadas para um outro momento. Em 2021, o pandemia deu o seu segundo impacto em Edy, e desta vez, com perdas mais significativas. O cabeleireiro foi infectado pelo vírus após um encontro com amigos para comemorar o seu aniversário. Ele havia alugado uma casa, e convidou algumas pessoas para uma feijoada. “Era um momento que tudo estava fechado. Eu ainda ainda passei por um processo de retaliação na internet, porque eu estava fazendo o encontro nesse período”, iniciou ele.

“Eu tenho rinite alérgica e em um momento em que eu estava atendendo a um cliente, comecei a passar mal. Com um tempo, os sintomas gripais persistiram e eu passei a me automedicar, mas não resolvia. Comecei a sentir dificuldades para respirar. Tive febre alta, passava o tempo inteiro no sofá porque eu estava sozinho. Uma amiga minha foi lá em casa e me acompanhou até o hospital”, explica ele.

Como era um período em que o número de pacientes aumentou drasticamente nos hospitais devido ao crescimento de casos de Covid-19, Edy sentiu dificuldades em encontrar vagas em unidades de saúde. Quando finalmente foi encaminhado a um hospital, com a saturação baixíssima, perdeu todos os controles do corpo e passou a receber oxigênio.

Ele foi encaminhado para um hospital que tinha terapia intensiva em Alagoinhas. “Foi horrível”: essa foi a descrição do hairstyle com a notícia de que estavam sem oxigênio para recebê-lo.

“Foi desesperador. Eu entrei no hospital, fizeram todos os testes, me colocaram lá no lugar que eu podia respirar para tentar não entubar. Muitos profissionais me deram atenção. Quando chegou o dia 10 de março, eles disseram que conseguiriam me entubar, mas eu disse que eu só aceitaria que fizessem algo em mim depois que eu pagasse duas contas importantíssimas: olha qual era a minha preocupação”, disse ele.

Quando pagou as suas pendências, Edy disse que “apagou”. Ficou até o dia 20 entubado. Com o tempo em que ficou afastado, os seguidores começaram a perguntar pelo cabeleireiro até que descobriram o que havia acontecido.

“Recebi muitas mensagens boas, mas também muitas piadinhas, muita gente ruim na internet que havia relembrado da festa que eu havia feito em casa. Bloqueamos os comentários para evitar uma situação mais delicada. Passei 11 dias entubado, e no dia do meu aniversário, no dia 20 de março, foi criado uma corrente de oração”, desabafou o influencer.

Amputação

Durante a intubação de Edy, a hemodinâmica, que ele fazia para tratar alterações cardiológicas, neurológicas e endovasculares, havia terminado. O criador de conteúdo conta que se manteve vivo graças às quatro doses de noradrenalina (hormônio e neurotransmissor que atua no corpo em situações de estresse) após a queda de pressão que sofreu.

“Eu tive trombose, o que fez com que as pontas dos meus dedos dos pés necrosarem. O médico disse que ia amputar o meu pé e o meu pai não deixou porque disse que eu gostava de pular no Carnaval. Ele disse que o médico só poderia fazer isso em último caso. A partir disso, o meu organismo começou a reagir”, disse ele.

Após passar por todo o período de internação, 28 dias no total, Edy conta que viu a sua morte três vezes, e que agora tem motivos de sobra para agradecer. “Sou uma pessoa que faço aniversário duas vezes no mesmo dia porque eu estava morto. Eu me vi morrendo três vezes e ressuscitando”, inicia ele.

“Eu estava sem andar, porque perdi os movimentos. Tive que aprender tudo, como se fosse o primeiro beijo. Quando eu fiquei intubado eu descobri que as pessoas da minha cidade natal decidiram abrir as igrejas e fazer vigília. Fizeram muitas promessas para a minha vida para diversos santos e eu consegui pagar todas elas. Eu fui em todas as igrejas, inclusive em Portugal, em Fátima, porque intercederam por Nossa Senhora de Fátima”, disse ele.

“Assim que eu recebi alta, eu já queria pintar o cabelo e mostrar ao mundo que eu estava bem. Continuou vivendo, firme e forte”, finaliza ele.



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