Os ferroviários de São Paulo estão mobilizados para uma greve que promete paralisar as linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), afetando cerca de 830 mil passageiros diários. A paralisação, marcada para começar à meia-noite desta quarta-feira (26/3), surge como resposta direta ao plano do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de privatizar essas linhas, com um leilão agendado para sexta-feira (28/3) na Bolsa de Valores (B3). A assembleia que definiu a greve ocorreu na última quinta-feira (20/3), organizada pelo Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil, e um ato público está programado para a manhã de terça-feira (25/3) em frente à B3, a partir das 9h. O embate evidencia a resistência dos sindicatos e da esquerda ao projeto, que prevê investimentos de R$ 14,3 bilhões ao longo de 25 anos.
A privatização é uma das principais bandeiras da gestão Tarcísio, que busca modernizar o transporte ferroviário paulista e aproximar a qualidade da CPTM à do metrô. O plano inclui promessas ambiciosas, como a redução dos intervalos entre trens para a partir de três minutos, a construção de oito novas estações e a reforma de outras 24. No entanto, a proposta enfrenta críticas severas, especialmente após experiências anteriores com as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, hoje operadas pela ViaMobilidade. Os ferroviários temem que o modelo se repita, trazendo aumento de tarifas e queda na qualidade do serviço, enquanto o governo aposta no investimento privado para resolver problemas crônicos de infraestrutura e operação.
Greve na CPTM galerinha, se preparar! pic.twitter.com/fRKvq001Kp
— Lucas 🌈 (@Luccasbasso1) March 21, 2025
Na noite desta terça-feira (25/3), os trabalhadores se reúnem novamente na sede do sindicato, no Brás, região central de São Paulo, para organizar os detalhes da paralisação. As linhas afetadas conectam a capital a cidades como Guarulhos, Mogi das Cruzes e Suzano, atendendo 30 estações e transportando, em média, 540 mil passageiros por dia na linha 11, 260 mil na linha 12 e 30 mil na linha 13, segundo dados de 2024 da CPTM. A greve, de duração indeterminada, pode gerar transtornos significativos na mobilidade da região metropolitana, intensificando o confronto entre o governo e os sindicatos.
- Linhas afetadas pela greve: 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade.
- Total de estações impactadas: 30.
- Passageiros diários prejudicados: cerca de 830 mil.
- Investimento previsto na privatização: R$ 14,3 bilhões em 25 anos.
Mobilização sindical ganha força antes do leilão
A decisão de cruzar os braços reflete a insatisfação dos ferroviários com o avanço do programa de privatizações. Na assembleia da semana passada, além de aprovar a greve, foi formada uma comissão de negociação para tentar dialogar com o governo. O ato na B3, no coração financeiro de São Paulo, busca chamar a atenção para os impactos da concessão, que os sindicatos classificam como uma entrega do patrimônio público a interesses privados. A escolha do local não é coincidência: é lá que, em dois dias, o martelo deve ser batido para definir a empresa que assumirá as linhas por 25 anos.
Os trabalhadores argumentam que a privatização ameaça empregos e precariza as condições de trabalho, além de comprometer o acesso ao transporte público. A experiência das linhas 8 e 9, concedidas à ViaMobilidade em 2022, é frequentemente citada como exemplo negativo. Desde o início da operação, a concessionária enfrentou problemas como panes frequentes, atrasos e superlotação, culminando em um acordo com o Ministério Público de São Paulo (MPSP) no fim de 2023, no qual se comprometeu a pagar R$ 786 milhões por falhas no serviço.
Enquanto isso, o governo estadual segue firme na defesa do projeto. A gestão Tarcísio destaca que os R$ 14,3 bilhões previstos trarão melhorias significativas, como trens mais modernos e maior eficiência operacional. A promessa de intervalos de três minutos, semelhante ao padrão do metrô, é um dos principais atrativos para justificar a transferência ao setor privado. O leilão, se concretizado, marcará mais um passo no plano de desestatização que já inclui outras concessões na CPTM e em setores como rodovias e saneamento.
Histórico de privatizações na CPTM alimenta o debate
A privatização das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, iniciada em 2021, serve como pano de fundo para a atual controvérsia. O processo começou com o leilão em abril daquele ano, vencido pelo consórcio ViaMobilidade, formado pela CCR (80%) e pela Ruas Invest (20%), com uma oferta de R$ 980 milhões — um ágio de 205,56% sobre o valor mínimo de R$ 323,9 milhões estipulado pelo governo João Doria. A concessão, válida por 30 anos, foi homologada em maio de 2021, e a operação começou em janeiro de 2022. O objetivo era modernizar as linhas, que juntas atendem cerca de 600 mil passageiros por dia, mas os resultados iniciais geraram mais críticas do que elogios.
Nos primeiros anos sob gestão privada, as linhas enfrentaram desafios operacionais graves. Relatos de usuários apontam trens quebrados, atrasos constantes e falta de manutenção adequada. O acordo com o MPSP, firmado após investigações sobre as falhas, obrigou a ViaMobilidade a investir na correção dos problemas, mas a percepção de que o serviço piorou persiste entre passageiros e sindicatos. A linha 9-Esmeralda, que liga o extremo sul da capital a Osasco, e a linha 8-Diamante, que corta a zona oeste, tornaram-se símbolos das dificuldades de adaptar o modelo privatista à realidade do transporte público paulista.
Esse histórico pesa na resistência às novas concessões. Os ferroviários alertam que as linhas 11, 12 e 13 podem seguir o mesmo caminho, com promessas de melhorias que não se concretizam na prática. Já o governo argumenta que os problemas das linhas 8 e 9 são ajustes iniciais e que o modelo privado é a única solução viável para financiar os investimentos necessários, diante das limitações orçamentárias do estado.
O que está em jogo com as linhas 11, 12 e 13
As linhas envolvidas na greve e no leilão têm papel crucial na mobilidade da Grande São Paulo. A linha 11-Coral, uma das mais movimentadas da CPTM, conecta a estação Luz, no centro, a Mogi das Cruzes, passando por bairros populosos da zona leste como Tatuapé e Corinthians-Itaquera. Com 540 mil passageiros diários, é essencial para trabalhadores e estudantes. A linha 12-Safira, com 260 mil usuários por dia, liga o Brás a Itaquaquecetuba, atendendo cidades como Poá e Suzano. Já a linha 13-Jade, mais recente, transporta 30 mil pessoas diariamente entre o Brás e o Aeroporto de Guarulhos, sendo estratégica para o turismo e a economia.
A paralisação ameaça deixar essa rede sem operação, impactando diretamente a rotina de cidades da região metropolitana. Estações como Guaianases, São Miguel Paulista e Aeroporto-Guarulhos estarão entre as afetadas, com reflexos no trânsito e na produtividade local. O governo ainda não detalhou um plano emergencial para mitigar os efeitos da greve, mas a pressão para evitar o colapso do sistema deve aumentar nas próximas horas.
O plano de privatização prevê mudanças ambiciosas para essas linhas. Além dos intervalos reduzidos e das novas estações, estão previstas reformas em infraestrutura, modernização de trens e ampliação da capacidade. O investimento de R$ 14,3 bilhões seria bancado pela iniciativa privada, com o estado aportando R$ 10 bilhões para preparar as linhas antes da concessão — uma estratégia que críticos apontam como um benefício excessivo às empresas que assumirem o controle.
- Principais promessas da privatização:
- Intervalos a partir de três minutos.
- Construção de oito novas estações.
- Reforma de 24 estações existentes.
- Modernização da frota de trens.
Cronograma da crise: os próximos passos
A semana é decisiva para o futuro das linhas 11, 12 e 13. O embate entre governo e ferroviários segue um calendário apertado, com eventos que podem definir os rumos da privatização e da mobilidade em São Paulo. Na terça-feira (25/3), o ato na B3 e a assembleia no Brás abrem o dia de mobilização. Na quarta (26/3), a greve começa, testando a capacidade de resposta do estado. Por fim, na sexta (28/3), o leilão na Bolsa de Valores pode selar a transferência das linhas ao setor privado, caso não haja interrupções.
A pressão dos sindicatos coincide com o prazo final para a apresentação de propostas pelas empresas interessadas. Até agora, o governo não divulgou os potenciais concorrentes, mas o modelo segue o das concessões anteriores, com grandes grupos como a CCR entre os cotados. A expectativa é de que o certame atraia lances altos, repetindo o ágio visto no leilão das linhas 8 e 9.
Enquanto isso, os passageiros acompanham o desenrolar dos fatos com preocupação. A possibilidade de ficar sem transporte em uma das redes mais importantes da CPTM aumenta a tensão em uma cidade já marcada por desafios de mobilidade. O desfecho dependerá das negociações nas próximas horas e da habilidade do governo em lidar com a resistência dos trabalhadores.
Impactos imediatos da paralisação
Com a greve confirmada para quarta-feira, os efeitos na vida dos 830 mil usuários das linhas 11, 12 e 13 serão sentidos rapidamente. Trabalhadores que dependem do transporte para chegar a seus empregos na capital e em cidades vizinhas terão de buscar alternativas, como ônibus lotados ou aplicativos de transporte, que devem registrar alta na demanda e nos preços. Estudantes e turistas que usam a linha 13 para acessar o Aeroporto de Guarulhos também enfrentarão dificuldades.
A paralisação expõe a fragilidade do sistema diante de disputas políticas e trabalhistas. Embora o governo prometa melhorias de longo prazo com a privatização, o curto prazo traz incertezas. A ausência de um plano claro para substituir os trens durante a greve pode ampliar o desgaste da imagem de Tarcísio, que enfrenta seu maior teste desde o início da gestão na área de transportes.
Os sindicatos, por sua vez, ganham visibilidade com a mobilização, mas também correm o risco de perder apoio popular se a paralisação se estender por muito tempo. A experiência das greves passadas na CPTM mostra que a paciência dos passageiros tem limite, especialmente em uma metrópole onde o tempo é um recurso escasso.
Lições das linhas 8 e 9 reverberam no conflito
A sombra das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda paira sobre o debate atual. Quando a ViaMobilidade assumiu as operações, em 2022, as expectativas eram altas: trens novos, manutenção eficiente e um serviço próximo ao padrão do metrô. No entanto, os primeiros meses foram marcados por falhas que irritaram os usuários. Em 2023, o acordo com o MPSP reconheceu os problemas, forçando a concessionária a desembolsar R$ 786 milhões para compensar os prejuízos e investir em melhorias.
Passageiros relatam que, mesmo após os ajustes, as linhas ainda sofrem com atrasos e superlotação em horários de pico. A linha 8, que passa por cidades como Barueri e Itapevi, e a linha 9, essencial para o acesso à zona sul, não conseguiram cumprir plenamente as promessas iniciais. Esses casos alimentam o ceticismo em relação ao novo plano de Tarcísio, com os sindicatos apontando que o modelo privilegia o lucro das empresas em detrimento da qualidade para os usuários.
O governo, por outro lado, insiste que as dificuldades iniciais são normais em processos de transição e que as linhas 8 e 9 já mostram sinais de evolução. A gestão destaca os investimentos feitos pela ViaMobilidade, como a renovação de trens e a ampliação da capacidade, como prova de que o modelo pode funcionar com o tempo.
Pressão política e o futuro da CPTM
O confronto entre Tarcísio e os ferroviários vai além da questão operacional. A privatização da CPTM é uma vitrine política para o governador, que busca consolidar sua imagem como gestor eficiente e alinhado ao mercado. O sucesso do leilão pode fortalecer sua posição para projetos futuros, incluindo uma possível candidatura em 2026. Por outro lado, uma greve prolongada ou um leilão fracassado pode abalar seus planos, dando munição a opositores da esquerda e dos sindicatos.
A oposição critica o aporte de R$ 10 bilhões do estado nas linhas antes da concessão, argumentando que o dinheiro público está sendo usado para “embelezar” o sistema para os privados, enquanto investimentos diretos na CPTM pública são negligenciados. O valor, somado aos R$ 14,3 bilhões previstos pela concessionária, representa um montante expressivo, mas os críticos questionam se os benefícios chegarão de fato aos passageiros ou se ficarão concentrados nos lucros das empresas.
Para os usuários, o embate é uma fonte de incerteza. A promessa de um transporte mais eficiente é atraente, mas a memória das dificuldades nas linhas 8 e 9 e os transtornos da greve iminente mantêm a confiança abalada. A semana que se inicia definirá não apenas o destino das linhas 11, 12 e 13, mas também o rumo de uma das maiores apostas da gestão Tarcísio.
- Dados das linhas em 2024:
- Linha 11-Coral: 540 mil passageiros por dia.
- Linha 12-Safira: 260 mil passageiros por dia.
- Linha 13-Jade: 30 mil passageiros por dia.
- Total de estações: 30.

Os ferroviários de São Paulo estão mobilizados para uma greve que promete paralisar as linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), afetando cerca de 830 mil passageiros diários. A paralisação, marcada para começar à meia-noite desta quarta-feira (26/3), surge como resposta direta ao plano do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de privatizar essas linhas, com um leilão agendado para sexta-feira (28/3) na Bolsa de Valores (B3). A assembleia que definiu a greve ocorreu na última quinta-feira (20/3), organizada pelo Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil, e um ato público está programado para a manhã de terça-feira (25/3) em frente à B3, a partir das 9h. O embate evidencia a resistência dos sindicatos e da esquerda ao projeto, que prevê investimentos de R$ 14,3 bilhões ao longo de 25 anos.
A privatização é uma das principais bandeiras da gestão Tarcísio, que busca modernizar o transporte ferroviário paulista e aproximar a qualidade da CPTM à do metrô. O plano inclui promessas ambiciosas, como a redução dos intervalos entre trens para a partir de três minutos, a construção de oito novas estações e a reforma de outras 24. No entanto, a proposta enfrenta críticas severas, especialmente após experiências anteriores com as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, hoje operadas pela ViaMobilidade. Os ferroviários temem que o modelo se repita, trazendo aumento de tarifas e queda na qualidade do serviço, enquanto o governo aposta no investimento privado para resolver problemas crônicos de infraestrutura e operação.
Greve na CPTM galerinha, se preparar! pic.twitter.com/fRKvq001Kp
— Lucas 🌈 (@Luccasbasso1) March 21, 2025
Na noite desta terça-feira (25/3), os trabalhadores se reúnem novamente na sede do sindicato, no Brás, região central de São Paulo, para organizar os detalhes da paralisação. As linhas afetadas conectam a capital a cidades como Guarulhos, Mogi das Cruzes e Suzano, atendendo 30 estações e transportando, em média, 540 mil passageiros por dia na linha 11, 260 mil na linha 12 e 30 mil na linha 13, segundo dados de 2024 da CPTM. A greve, de duração indeterminada, pode gerar transtornos significativos na mobilidade da região metropolitana, intensificando o confronto entre o governo e os sindicatos.
- Linhas afetadas pela greve: 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade.
- Total de estações impactadas: 30.
- Passageiros diários prejudicados: cerca de 830 mil.
- Investimento previsto na privatização: R$ 14,3 bilhões em 25 anos.
Mobilização sindical ganha força antes do leilão
A decisão de cruzar os braços reflete a insatisfação dos ferroviários com o avanço do programa de privatizações. Na assembleia da semana passada, além de aprovar a greve, foi formada uma comissão de negociação para tentar dialogar com o governo. O ato na B3, no coração financeiro de São Paulo, busca chamar a atenção para os impactos da concessão, que os sindicatos classificam como uma entrega do patrimônio público a interesses privados. A escolha do local não é coincidência: é lá que, em dois dias, o martelo deve ser batido para definir a empresa que assumirá as linhas por 25 anos.
Os trabalhadores argumentam que a privatização ameaça empregos e precariza as condições de trabalho, além de comprometer o acesso ao transporte público. A experiência das linhas 8 e 9, concedidas à ViaMobilidade em 2022, é frequentemente citada como exemplo negativo. Desde o início da operação, a concessionária enfrentou problemas como panes frequentes, atrasos e superlotação, culminando em um acordo com o Ministério Público de São Paulo (MPSP) no fim de 2023, no qual se comprometeu a pagar R$ 786 milhões por falhas no serviço.
Enquanto isso, o governo estadual segue firme na defesa do projeto. A gestão Tarcísio destaca que os R$ 14,3 bilhões previstos trarão melhorias significativas, como trens mais modernos e maior eficiência operacional. A promessa de intervalos de três minutos, semelhante ao padrão do metrô, é um dos principais atrativos para justificar a transferência ao setor privado. O leilão, se concretizado, marcará mais um passo no plano de desestatização que já inclui outras concessões na CPTM e em setores como rodovias e saneamento.
Histórico de privatizações na CPTM alimenta o debate
A privatização das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, iniciada em 2021, serve como pano de fundo para a atual controvérsia. O processo começou com o leilão em abril daquele ano, vencido pelo consórcio ViaMobilidade, formado pela CCR (80%) e pela Ruas Invest (20%), com uma oferta de R$ 980 milhões — um ágio de 205,56% sobre o valor mínimo de R$ 323,9 milhões estipulado pelo governo João Doria. A concessão, válida por 30 anos, foi homologada em maio de 2021, e a operação começou em janeiro de 2022. O objetivo era modernizar as linhas, que juntas atendem cerca de 600 mil passageiros por dia, mas os resultados iniciais geraram mais críticas do que elogios.
Nos primeiros anos sob gestão privada, as linhas enfrentaram desafios operacionais graves. Relatos de usuários apontam trens quebrados, atrasos constantes e falta de manutenção adequada. O acordo com o MPSP, firmado após investigações sobre as falhas, obrigou a ViaMobilidade a investir na correção dos problemas, mas a percepção de que o serviço piorou persiste entre passageiros e sindicatos. A linha 9-Esmeralda, que liga o extremo sul da capital a Osasco, e a linha 8-Diamante, que corta a zona oeste, tornaram-se símbolos das dificuldades de adaptar o modelo privatista à realidade do transporte público paulista.
Esse histórico pesa na resistência às novas concessões. Os ferroviários alertam que as linhas 11, 12 e 13 podem seguir o mesmo caminho, com promessas de melhorias que não se concretizam na prática. Já o governo argumenta que os problemas das linhas 8 e 9 são ajustes iniciais e que o modelo privado é a única solução viável para financiar os investimentos necessários, diante das limitações orçamentárias do estado.
O que está em jogo com as linhas 11, 12 e 13
As linhas envolvidas na greve e no leilão têm papel crucial na mobilidade da Grande São Paulo. A linha 11-Coral, uma das mais movimentadas da CPTM, conecta a estação Luz, no centro, a Mogi das Cruzes, passando por bairros populosos da zona leste como Tatuapé e Corinthians-Itaquera. Com 540 mil passageiros diários, é essencial para trabalhadores e estudantes. A linha 12-Safira, com 260 mil usuários por dia, liga o Brás a Itaquaquecetuba, atendendo cidades como Poá e Suzano. Já a linha 13-Jade, mais recente, transporta 30 mil pessoas diariamente entre o Brás e o Aeroporto de Guarulhos, sendo estratégica para o turismo e a economia.
A paralisação ameaça deixar essa rede sem operação, impactando diretamente a rotina de cidades da região metropolitana. Estações como Guaianases, São Miguel Paulista e Aeroporto-Guarulhos estarão entre as afetadas, com reflexos no trânsito e na produtividade local. O governo ainda não detalhou um plano emergencial para mitigar os efeitos da greve, mas a pressão para evitar o colapso do sistema deve aumentar nas próximas horas.
O plano de privatização prevê mudanças ambiciosas para essas linhas. Além dos intervalos reduzidos e das novas estações, estão previstas reformas em infraestrutura, modernização de trens e ampliação da capacidade. O investimento de R$ 14,3 bilhões seria bancado pela iniciativa privada, com o estado aportando R$ 10 bilhões para preparar as linhas antes da concessão — uma estratégia que críticos apontam como um benefício excessivo às empresas que assumirem o controle.
- Principais promessas da privatização:
- Intervalos a partir de três minutos.
- Construção de oito novas estações.
- Reforma de 24 estações existentes.
- Modernização da frota de trens.
Cronograma da crise: os próximos passos
A semana é decisiva para o futuro das linhas 11, 12 e 13. O embate entre governo e ferroviários segue um calendário apertado, com eventos que podem definir os rumos da privatização e da mobilidade em São Paulo. Na terça-feira (25/3), o ato na B3 e a assembleia no Brás abrem o dia de mobilização. Na quarta (26/3), a greve começa, testando a capacidade de resposta do estado. Por fim, na sexta (28/3), o leilão na Bolsa de Valores pode selar a transferência das linhas ao setor privado, caso não haja interrupções.
A pressão dos sindicatos coincide com o prazo final para a apresentação de propostas pelas empresas interessadas. Até agora, o governo não divulgou os potenciais concorrentes, mas o modelo segue o das concessões anteriores, com grandes grupos como a CCR entre os cotados. A expectativa é de que o certame atraia lances altos, repetindo o ágio visto no leilão das linhas 8 e 9.
Enquanto isso, os passageiros acompanham o desenrolar dos fatos com preocupação. A possibilidade de ficar sem transporte em uma das redes mais importantes da CPTM aumenta a tensão em uma cidade já marcada por desafios de mobilidade. O desfecho dependerá das negociações nas próximas horas e da habilidade do governo em lidar com a resistência dos trabalhadores.
Impactos imediatos da paralisação
Com a greve confirmada para quarta-feira, os efeitos na vida dos 830 mil usuários das linhas 11, 12 e 13 serão sentidos rapidamente. Trabalhadores que dependem do transporte para chegar a seus empregos na capital e em cidades vizinhas terão de buscar alternativas, como ônibus lotados ou aplicativos de transporte, que devem registrar alta na demanda e nos preços. Estudantes e turistas que usam a linha 13 para acessar o Aeroporto de Guarulhos também enfrentarão dificuldades.
A paralisação expõe a fragilidade do sistema diante de disputas políticas e trabalhistas. Embora o governo prometa melhorias de longo prazo com a privatização, o curto prazo traz incertezas. A ausência de um plano claro para substituir os trens durante a greve pode ampliar o desgaste da imagem de Tarcísio, que enfrenta seu maior teste desde o início da gestão na área de transportes.
Os sindicatos, por sua vez, ganham visibilidade com a mobilização, mas também correm o risco de perder apoio popular se a paralisação se estender por muito tempo. A experiência das greves passadas na CPTM mostra que a paciência dos passageiros tem limite, especialmente em uma metrópole onde o tempo é um recurso escasso.
Lições das linhas 8 e 9 reverberam no conflito
A sombra das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda paira sobre o debate atual. Quando a ViaMobilidade assumiu as operações, em 2022, as expectativas eram altas: trens novos, manutenção eficiente e um serviço próximo ao padrão do metrô. No entanto, os primeiros meses foram marcados por falhas que irritaram os usuários. Em 2023, o acordo com o MPSP reconheceu os problemas, forçando a concessionária a desembolsar R$ 786 milhões para compensar os prejuízos e investir em melhorias.
Passageiros relatam que, mesmo após os ajustes, as linhas ainda sofrem com atrasos e superlotação em horários de pico. A linha 8, que passa por cidades como Barueri e Itapevi, e a linha 9, essencial para o acesso à zona sul, não conseguiram cumprir plenamente as promessas iniciais. Esses casos alimentam o ceticismo em relação ao novo plano de Tarcísio, com os sindicatos apontando que o modelo privilegia o lucro das empresas em detrimento da qualidade para os usuários.
O governo, por outro lado, insiste que as dificuldades iniciais são normais em processos de transição e que as linhas 8 e 9 já mostram sinais de evolução. A gestão destaca os investimentos feitos pela ViaMobilidade, como a renovação de trens e a ampliação da capacidade, como prova de que o modelo pode funcionar com o tempo.
Pressão política e o futuro da CPTM
O confronto entre Tarcísio e os ferroviários vai além da questão operacional. A privatização da CPTM é uma vitrine política para o governador, que busca consolidar sua imagem como gestor eficiente e alinhado ao mercado. O sucesso do leilão pode fortalecer sua posição para projetos futuros, incluindo uma possível candidatura em 2026. Por outro lado, uma greve prolongada ou um leilão fracassado pode abalar seus planos, dando munição a opositores da esquerda e dos sindicatos.
A oposição critica o aporte de R$ 10 bilhões do estado nas linhas antes da concessão, argumentando que o dinheiro público está sendo usado para “embelezar” o sistema para os privados, enquanto investimentos diretos na CPTM pública são negligenciados. O valor, somado aos R$ 14,3 bilhões previstos pela concessionária, representa um montante expressivo, mas os críticos questionam se os benefícios chegarão de fato aos passageiros ou se ficarão concentrados nos lucros das empresas.
Para os usuários, o embate é uma fonte de incerteza. A promessa de um transporte mais eficiente é atraente, mas a memória das dificuldades nas linhas 8 e 9 e os transtornos da greve iminente mantêm a confiança abalada. A semana que se inicia definirá não apenas o destino das linhas 11, 12 e 13, mas também o rumo de uma das maiores apostas da gestão Tarcísio.
- Dados das linhas em 2024:
- Linha 11-Coral: 540 mil passageiros por dia.
- Linha 12-Safira: 260 mil passageiros por dia.
- Linha 13-Jade: 30 mil passageiros por dia.
- Total de estações: 30.
