Em um relato marcante, o zagueiro Lyanco, do Atlético-MG, abriu o coração sobre os desafios que enfrentou com a síndrome do pânico, um transtorno que o levou a acreditar que poderia morrer a qualquer momento. Durante sua passagem pelo Al-Gharafa, no Catar, em 2024, ele viveu momentos de desespero com sintomas como tontura, falta de ar e tremores, que transformaram sua rotina em uma batalha silenciosa. Hoje, aos 28 anos, o jogador se destaca em campo e usa sua experiência para incentivar a discussão sobre saúde mental, um tema ainda cercado de tabus no esporte.
A trajetória de Lyanco no futebol é marcada por conquistas e superações. Revelado pelo São Paulo, ele saiu cedo do Brasil para jogar na Europa, passando por clubes como Torino, Bologna e Southampton antes de chegar ao Catar. Foi nesse período que as crises começaram, trazendo um peso que nem a estabilidade financeira ou o sucesso profissional conseguiram aliviar. Em entrevista recente, ele detalhou como o problema o afetou e o longo caminho até o diagnóstico correto, um processo que envolveu médicos de várias especialidades e apoio fundamental da família.
No Atlético-MG desde julho de 2024, Lyanco encontrou no futebol brasileiro um ambiente que o ajuda a controlar os sintomas. Com dois gols na final do Campeonato Mineiro contra o América-MG, em março de 2025, ele vive um dos melhores momentos da carreira. Mais do que isso, o zagueiro quer transformar sua história em um exemplo para quem enfrenta transtornos semelhantes, mostrando que buscar ajuda é essencial. Seu depoimento reacende a importância de tratar a saúde mental com seriedade, especialmente em um esporte onde os atletas muitas vezes são vistos como imunes às fragilidades humanas.
- Tontura e falta de ar foram os primeiros sinais que alertaram Lyanco para um problema maior.
- Tremores no corpo o faziam acreditar que tinha uma doença física grave.
- Apoio da esposa e de profissionais foi crucial para entender e enfrentar o transtorno.
Mais uma manhã de treino visando a estreia do Brasileiro, no Sul, diante do Grêmio! ⏳🐔🇧🇷 pic.twitter.com/72YqxQP7nj
— Atlético (@Atletico) March 20, 2025
Da Europa ao Catar: os primeiros sinais de um transtorno silencioso
A carreira internacional de Lyanco começou cedo, aos 18 anos, quando deixou o São Paulo rumo ao Torino, na Itália, em 2017. Nos anos seguintes, passou por Bologna e Southampton, onde enfrentou altos e baixos, incluindo lesões e períodos de pouca utilização. Em 2023, já emprestado ao Al-Gharafa, no Catar, ele começou a perceber que algo estava errado. Atividades simples, como jantar com a família ou passear em um shopping, tornaram-se gatilhos para crises que o deixavam em pânico.
Durante as madrugadas, o zagueiro acordava com a sensação de que não veria o dia seguinte. Sentado na cama, pensava nos filhos, de cinco anos e um ano e meio, e no medo de não estar presente para eles. Os sintomas físicos eram intensos: o peito apertado, as mãos trêmulas e a respiração ofegante o levavam a acreditar que estava à beira de um colapso. Sem respostas claras, ele buscou ajuda médica, mas o caminho até o diagnóstico foi longo e cheio de incertezas.
Lyanco passou por cardiologistas, pneumologistas e neurologistas, fez exames de sangue e outros procedimentos, mas nada apontava uma causa física. A insistência em encontrar uma explicação o levou a duvidar dos médicos, até que a verdade veio à tona: era um transtorno mental. A síndrome do pânico, caracterizada por episódios súbitos de angústia extrema, havia tomado conta de sua vida, e o primeiro passo para enfrentá-la foi aceitar que o problema estava na mente, não no corpo.
O impacto das crises na vida de um atleta de elite
Viver como jogador profissional exige disciplina, força física e resistência mental. Para Lyanco, no entanto, o peso das crises de pânico ia além do gramado. Ele descreve como os sintomas o consumiam aos poucos, começando com uma sensação estranha que evoluía para um medo incontrolável. Em um ambiente onde atletas são frequentemente vistos como máquinas de desempenho, o zagueiro enfrentou a desconfiança de quem não entendia a gravidade do que ele sentia.
Familiares próximos chegaram a minimizar o problema, sugerindo que era apenas “coisa da cabeça”. Essa reação, comum em casos de saúde mental, dificultou ainda mais o processo de aceitação. Foi preciso o apoio da esposa, Yasmin, e de profissionais como psicólogos e psiquiatras para que ele começasse a enxergar uma saída. A presença de pessoas que compreenderam sua luta fez a diferença, evitando que a mente o levasse a lugares ainda mais sombrios.
No Catar, as crises se intensificaram a ponto de afetar sua rotina fora de campo. Dormir tornou-se um desafio, com o corpo tremendo mesmo durante o descanso. A sensação de que algo grave estava prestes a acontecer o acompanhava constantemente, transformando momentos de lazer em episódios de angústia. Foi nesse contexto que Lyanco decidiu retornar ao Brasil, buscando proximidade com a família e um ambiente que pudesse ajudá-lo a recuperar o equilíbrio.
Como o diagnóstico mudou a perspectiva de Lyanco
Chegar ao diagnóstico de síndrome do pânico não foi simples. Depois de descartar problemas físicos, Lyanco precisou enfrentar a realidade de que a origem estava em sua saúde mental. O processo envolveu uma reavaliação de suas crenças e a aceitação de que nem tudo podia ser resolvido sozinho. A ajuda profissional foi essencial, com acompanhamento psicológico e o uso de medicamentos receitados para controlar os sintomas.
O zagueiro lembra do alívio misturado com incredulidade ao perceber que os exames estavam normais. A ausência de uma doença física o levou a questionar os médicos, mas também abriu espaço para entender o que realmente estava acontecendo. A síndrome do pânico, segundo especialistas, pode atingir qualquer pessoa, independentemente de status social ou força física, e seus episódios costumam durar poucos minutos, mas deixam marcas profundas na rotina.
Com o tempo, Lyanco aprendeu a reconhecer os sinais das crises e a lidar com elas de forma mais tranquila. O tratamento contínuo o mantém estável, mas ele faz questão de enfatizar que o acompanhamento não termina. A experiência o tornou mais sensível às lutas alheias, e hoje ele se vê capaz de ouvir e apoiar quem passa pelo mesmo, algo que considera um aprendizado valioso tirado de um período tão difícil.
A volta ao Brasil e o renascimento no Atlético-MG
Em julho de 2024, Lyanco assinou com o Atlético-MG, deixando o Southampton e o Catar para trás. A decisão de voltar ao Brasil foi motivada não apenas pela carreira, mas também pela necessidade de estar mais perto da família, em Vitória, no Espírito Santo. O clube mineiro, conhecido pela torcida apaixonada e pelo ambiente acolhedor, tornou-se um ponto de virada para o zagueiro, que encontrou no futebol uma ferramenta para trabalhar sua saúde mental.
Desde a chegada, ele se firmou como peça importante na defesa do técnico Gabriel Milito. Sua estreia aconteceu em 21 de julho de 2024, contra o Vasco, e desde então ele acumulou atuações sólidas, culminando nos dois gols marcados na final do Campeonato Mineiro contra o América-MG, em 8 de março de 2025. A vitória por 4 a 0, que garantiu o hexacampeonato ao Galo, foi um marco pessoal e profissional, mostrando que Lyanco superou as barreiras impostas pelo transtorno.
O ambiente do Atlético-MG tem sido um aliado no controle das crises. Jogos importantes, como a classificação contra o Fluminense na Libertadores de 2024, trouxeram alívio emocional e reforçaram sua confiança. A torcida, que já o abraçou por sua raça em campo, também se tornou um suporte indireto, oferecendo o calor humano que ele não encontrava no exterior. Para Lyanco, cada partida é uma chance de provar que o pânico não o define.
- Momentos marcantes de Lyanco no Atlético-MG:
- Estreia em julho de 2024 contra o Vasco, com vitória por 2 a 0.
- Dois gols na final do Mineiro 2025, garantindo o título contra o América-MG.
- Atuação destacada na Libertadores 2024 contra o Fluminense.
Saúde mental no esporte: um tema que ganha força
A abertura de Lyanco sobre suas crises de pânico não é um caso isolado no futebol. Nos últimos anos, outros jogadores de Atlético-MG e Cruzeiro, como Everson, Hulk e Matheus Pereira, também falaram abertamente sobre questões psicológicas. Em 2024, o tema ganhou destaque no esporte brasileiro, com atletas revelando como a pressão por resultados e as críticas afetam seu bem-estar.
Estudos mostram que o Brasil lidera o ranking mundial de transtornos de ansiedade, com cerca de 9,3% da população afetada, segundo a Organização Mundial da Saúde. No esporte de alto rendimento, a exigência por desempenho constante amplifica esses números, tornando a saúde mental um desafio crescente. Especialistas apontam que crises de pânico, como as vividas por Lyanco, são episódios intensos que podem surgir sem aviso, acompanhados de sintomas como taquicardia, suor excessivo e medo de perder o controle.
No caso de Lyanco, o futebol se transformou em parte do tratamento. O zagueiro destaca que o ambiente de jogo, quando positivo, ajuda a relaxar a mente e a manter a calma. Sua história reforça a necessidade de suporte psicológico nos clubes, algo que vem sendo adotado com mais frequência no Brasil. A presença de profissionais qualificados no Atlético-MG foi um diferencial para ele, que continua o acompanhamento mesmo em seus melhores dias.
O papel da família e do apoio profissional na recuperação
Superar as crises de pânico exigiu mais do que força de vontade. Lyanco encontrou na esposa, Yasmin, um pilar fundamental durante os momentos mais difíceis. Ela acompanhou cada etapa, desde as idas ao hospital até a adaptação ao tratamento, e celebra a evolução do marido. Quando ele deu sua primeira entrevista sobre o tema, em setembro de 2024, Yasmin viu ali um sinal de que ele estava pronto para compartilhar sua jornada.
Psicólogos e psiquiatras também foram essenciais. O zagueiro começou a trabalhar com profissionais do Atlético-MG e mantém consultas regulares fora do clube. O uso de medicamentos, prescritos por especialistas, ajuda a estabilizar os sintomas, enquanto as sessões de terapia o ensinam a lidar com os gatilhos. Ele reconhece que tentar enfrentar o problema sozinho só piorava a situação, levando sua mente a lugares perigosos.
A família extendida, incluindo os filhos pequenos, deu a Lyanco um motivo extra para buscar ajuda. O medo de não estar presente para eles foi um dos pensamentos mais recorrentes durante as crises, mas também se tornou uma fonte de motivação.
Como Lyanco transformou o futebol em aliado contra o pânico
O retorno ao Brasil marcou um novo capítulo para Lyanco, tanto em termos profissionais quanto pessoais. No Atlético-MG, ele encontrou um ambiente que o ajudou a canalizar suas energias e reduzir os impactos do transtorno. Jogos decisivos, como a vitória por 2 a 0 sobre o Fluminense na Libertadores e os dois gols na final do Mineiro, mostram como o futebol se tornou uma válvula de escape para o zagueiro. Ele explica que o apoio da torcida e a adrenalina das partidas criam um contraste positivo com os momentos de angústia que viveu no Catar.
Fora de campo, Lyanco mantém uma rotina de cuidados que inclui acompanhamento psicológico contínuo e o uso de medicamentos. Ele enfatiza que o tratamento não tem prazo para acabar, mas os avanços são visíveis. A estabilidade emocional conquistada no clube mineiro reflete em suas atuações, como a exibição de gala contra o América-MG, onde foi eleito o melhor em campo. Para ele, cada gol e cada vitória são passos rumo à superação.
A experiência também mudou sua visão sobre o esporte. Lyanco passou a valorizar ainda mais o lado humano do futebol, entendendo que os atletas não são imunes às fragilidades. Ele destaca que o ambiente do Atlético-MG, com sua torcida apaixonada e estrutura de apoio, foi decisivo para que ele recuperasse a confiança. Hoje, o zagueiro vive um momento de equilíbrio, mas sabe que a batalha contra o pânico exige vigilância constante.
Cronograma da trajetória de Lyanco: do início ao destaque no Galo
A carreira de Lyanco é uma mistura de talento, determinação e resiliência. Sua jornada reflete os altos e baixos de um atleta que enfrentou desafios dentro e fora de campo. Confira os principais momentos:
- 2015: Estreia como profissional no São Paulo, aos 18 anos.
- 2017: Transferência para o Torino, na Itália, iniciando a carreira internacional.
- 2021: Assinatura com o Southampton, na Inglaterra, com passagem pela Premier League.
- 2023: Empréstimo ao Al-Gharafa, no Catar, onde as crises de pânico começaram.
- Julho de 2024: Contratação pelo Atlético-MG, marcando o retorno ao Brasil.
- Março de 2025: Dois gols na final do Mineiro, consolidando seu nome no clube.
Um exemplo para além do gramado
Lyanco não quer que sua história termine em si mesma. Aos 28 anos, ele vê na abertura sobre o pânico uma forma de ajudar outras pessoas, dentro e fora do esporte. Ele acredita que falar sobre o tema pode encorajar quem sofre em silêncio a buscar ajuda, algo que ele mesmo demorou a fazer. O zagueiro destaca que o acompanhamento psicológico deveria ser rotina, mesmo para quem se sente bem, como forma de prevenção.
No Atlético-MG, ele segue construindo sua legacy. Com contrato até 2028, Lyanco tem tempo para crescer ainda mais no clube, onde já é querido pela torcida por sua entrega e carisma. Seus gols contra o América-MG, em março de 2025, não foram apenas decisivos para o título, mas também simbólicos de uma vitória pessoal. O jogador, que já trocaria tudo para respirar em paz, agora inspira outros a enfrentarem seus próprios desafios.
O impacto de sua história vai além das quatro linhas. Em um país onde milhões lidam com ansiedade e outros transtornos, Lyanco mostra que pedir ajuda não é fraqueza, mas força. Seu relato, aliado ao sucesso em campo, reforça que a saúde mental merece tanta atenção quanto o físico, especialmente no mundo competitivo do futebol.

Em um relato marcante, o zagueiro Lyanco, do Atlético-MG, abriu o coração sobre os desafios que enfrentou com a síndrome do pânico, um transtorno que o levou a acreditar que poderia morrer a qualquer momento. Durante sua passagem pelo Al-Gharafa, no Catar, em 2024, ele viveu momentos de desespero com sintomas como tontura, falta de ar e tremores, que transformaram sua rotina em uma batalha silenciosa. Hoje, aos 28 anos, o jogador se destaca em campo e usa sua experiência para incentivar a discussão sobre saúde mental, um tema ainda cercado de tabus no esporte.
A trajetória de Lyanco no futebol é marcada por conquistas e superações. Revelado pelo São Paulo, ele saiu cedo do Brasil para jogar na Europa, passando por clubes como Torino, Bologna e Southampton antes de chegar ao Catar. Foi nesse período que as crises começaram, trazendo um peso que nem a estabilidade financeira ou o sucesso profissional conseguiram aliviar. Em entrevista recente, ele detalhou como o problema o afetou e o longo caminho até o diagnóstico correto, um processo que envolveu médicos de várias especialidades e apoio fundamental da família.
No Atlético-MG desde julho de 2024, Lyanco encontrou no futebol brasileiro um ambiente que o ajuda a controlar os sintomas. Com dois gols na final do Campeonato Mineiro contra o América-MG, em março de 2025, ele vive um dos melhores momentos da carreira. Mais do que isso, o zagueiro quer transformar sua história em um exemplo para quem enfrenta transtornos semelhantes, mostrando que buscar ajuda é essencial. Seu depoimento reacende a importância de tratar a saúde mental com seriedade, especialmente em um esporte onde os atletas muitas vezes são vistos como imunes às fragilidades humanas.
- Tontura e falta de ar foram os primeiros sinais que alertaram Lyanco para um problema maior.
- Tremores no corpo o faziam acreditar que tinha uma doença física grave.
- Apoio da esposa e de profissionais foi crucial para entender e enfrentar o transtorno.
Mais uma manhã de treino visando a estreia do Brasileiro, no Sul, diante do Grêmio! ⏳🐔🇧🇷 pic.twitter.com/72YqxQP7nj
— Atlético (@Atletico) March 20, 2025
Da Europa ao Catar: os primeiros sinais de um transtorno silencioso
A carreira internacional de Lyanco começou cedo, aos 18 anos, quando deixou o São Paulo rumo ao Torino, na Itália, em 2017. Nos anos seguintes, passou por Bologna e Southampton, onde enfrentou altos e baixos, incluindo lesões e períodos de pouca utilização. Em 2023, já emprestado ao Al-Gharafa, no Catar, ele começou a perceber que algo estava errado. Atividades simples, como jantar com a família ou passear em um shopping, tornaram-se gatilhos para crises que o deixavam em pânico.
Durante as madrugadas, o zagueiro acordava com a sensação de que não veria o dia seguinte. Sentado na cama, pensava nos filhos, de cinco anos e um ano e meio, e no medo de não estar presente para eles. Os sintomas físicos eram intensos: o peito apertado, as mãos trêmulas e a respiração ofegante o levavam a acreditar que estava à beira de um colapso. Sem respostas claras, ele buscou ajuda médica, mas o caminho até o diagnóstico foi longo e cheio de incertezas.
Lyanco passou por cardiologistas, pneumologistas e neurologistas, fez exames de sangue e outros procedimentos, mas nada apontava uma causa física. A insistência em encontrar uma explicação o levou a duvidar dos médicos, até que a verdade veio à tona: era um transtorno mental. A síndrome do pânico, caracterizada por episódios súbitos de angústia extrema, havia tomado conta de sua vida, e o primeiro passo para enfrentá-la foi aceitar que o problema estava na mente, não no corpo.
O impacto das crises na vida de um atleta de elite
Viver como jogador profissional exige disciplina, força física e resistência mental. Para Lyanco, no entanto, o peso das crises de pânico ia além do gramado. Ele descreve como os sintomas o consumiam aos poucos, começando com uma sensação estranha que evoluía para um medo incontrolável. Em um ambiente onde atletas são frequentemente vistos como máquinas de desempenho, o zagueiro enfrentou a desconfiança de quem não entendia a gravidade do que ele sentia.
Familiares próximos chegaram a minimizar o problema, sugerindo que era apenas “coisa da cabeça”. Essa reação, comum em casos de saúde mental, dificultou ainda mais o processo de aceitação. Foi preciso o apoio da esposa, Yasmin, e de profissionais como psicólogos e psiquiatras para que ele começasse a enxergar uma saída. A presença de pessoas que compreenderam sua luta fez a diferença, evitando que a mente o levasse a lugares ainda mais sombrios.
No Catar, as crises se intensificaram a ponto de afetar sua rotina fora de campo. Dormir tornou-se um desafio, com o corpo tremendo mesmo durante o descanso. A sensação de que algo grave estava prestes a acontecer o acompanhava constantemente, transformando momentos de lazer em episódios de angústia. Foi nesse contexto que Lyanco decidiu retornar ao Brasil, buscando proximidade com a família e um ambiente que pudesse ajudá-lo a recuperar o equilíbrio.
Como o diagnóstico mudou a perspectiva de Lyanco
Chegar ao diagnóstico de síndrome do pânico não foi simples. Depois de descartar problemas físicos, Lyanco precisou enfrentar a realidade de que a origem estava em sua saúde mental. O processo envolveu uma reavaliação de suas crenças e a aceitação de que nem tudo podia ser resolvido sozinho. A ajuda profissional foi essencial, com acompanhamento psicológico e o uso de medicamentos receitados para controlar os sintomas.
O zagueiro lembra do alívio misturado com incredulidade ao perceber que os exames estavam normais. A ausência de uma doença física o levou a questionar os médicos, mas também abriu espaço para entender o que realmente estava acontecendo. A síndrome do pânico, segundo especialistas, pode atingir qualquer pessoa, independentemente de status social ou força física, e seus episódios costumam durar poucos minutos, mas deixam marcas profundas na rotina.
Com o tempo, Lyanco aprendeu a reconhecer os sinais das crises e a lidar com elas de forma mais tranquila. O tratamento contínuo o mantém estável, mas ele faz questão de enfatizar que o acompanhamento não termina. A experiência o tornou mais sensível às lutas alheias, e hoje ele se vê capaz de ouvir e apoiar quem passa pelo mesmo, algo que considera um aprendizado valioso tirado de um período tão difícil.
A volta ao Brasil e o renascimento no Atlético-MG
Em julho de 2024, Lyanco assinou com o Atlético-MG, deixando o Southampton e o Catar para trás. A decisão de voltar ao Brasil foi motivada não apenas pela carreira, mas também pela necessidade de estar mais perto da família, em Vitória, no Espírito Santo. O clube mineiro, conhecido pela torcida apaixonada e pelo ambiente acolhedor, tornou-se um ponto de virada para o zagueiro, que encontrou no futebol uma ferramenta para trabalhar sua saúde mental.
Desde a chegada, ele se firmou como peça importante na defesa do técnico Gabriel Milito. Sua estreia aconteceu em 21 de julho de 2024, contra o Vasco, e desde então ele acumulou atuações sólidas, culminando nos dois gols marcados na final do Campeonato Mineiro contra o América-MG, em 8 de março de 2025. A vitória por 4 a 0, que garantiu o hexacampeonato ao Galo, foi um marco pessoal e profissional, mostrando que Lyanco superou as barreiras impostas pelo transtorno.
O ambiente do Atlético-MG tem sido um aliado no controle das crises. Jogos importantes, como a classificação contra o Fluminense na Libertadores de 2024, trouxeram alívio emocional e reforçaram sua confiança. A torcida, que já o abraçou por sua raça em campo, também se tornou um suporte indireto, oferecendo o calor humano que ele não encontrava no exterior. Para Lyanco, cada partida é uma chance de provar que o pânico não o define.
- Momentos marcantes de Lyanco no Atlético-MG:
- Estreia em julho de 2024 contra o Vasco, com vitória por 2 a 0.
- Dois gols na final do Mineiro 2025, garantindo o título contra o América-MG.
- Atuação destacada na Libertadores 2024 contra o Fluminense.
Saúde mental no esporte: um tema que ganha força
A abertura de Lyanco sobre suas crises de pânico não é um caso isolado no futebol. Nos últimos anos, outros jogadores de Atlético-MG e Cruzeiro, como Everson, Hulk e Matheus Pereira, também falaram abertamente sobre questões psicológicas. Em 2024, o tema ganhou destaque no esporte brasileiro, com atletas revelando como a pressão por resultados e as críticas afetam seu bem-estar.
Estudos mostram que o Brasil lidera o ranking mundial de transtornos de ansiedade, com cerca de 9,3% da população afetada, segundo a Organização Mundial da Saúde. No esporte de alto rendimento, a exigência por desempenho constante amplifica esses números, tornando a saúde mental um desafio crescente. Especialistas apontam que crises de pânico, como as vividas por Lyanco, são episódios intensos que podem surgir sem aviso, acompanhados de sintomas como taquicardia, suor excessivo e medo de perder o controle.
No caso de Lyanco, o futebol se transformou em parte do tratamento. O zagueiro destaca que o ambiente de jogo, quando positivo, ajuda a relaxar a mente e a manter a calma. Sua história reforça a necessidade de suporte psicológico nos clubes, algo que vem sendo adotado com mais frequência no Brasil. A presença de profissionais qualificados no Atlético-MG foi um diferencial para ele, que continua o acompanhamento mesmo em seus melhores dias.
O papel da família e do apoio profissional na recuperação
Superar as crises de pânico exigiu mais do que força de vontade. Lyanco encontrou na esposa, Yasmin, um pilar fundamental durante os momentos mais difíceis. Ela acompanhou cada etapa, desde as idas ao hospital até a adaptação ao tratamento, e celebra a evolução do marido. Quando ele deu sua primeira entrevista sobre o tema, em setembro de 2024, Yasmin viu ali um sinal de que ele estava pronto para compartilhar sua jornada.
Psicólogos e psiquiatras também foram essenciais. O zagueiro começou a trabalhar com profissionais do Atlético-MG e mantém consultas regulares fora do clube. O uso de medicamentos, prescritos por especialistas, ajuda a estabilizar os sintomas, enquanto as sessões de terapia o ensinam a lidar com os gatilhos. Ele reconhece que tentar enfrentar o problema sozinho só piorava a situação, levando sua mente a lugares perigosos.
A família extendida, incluindo os filhos pequenos, deu a Lyanco um motivo extra para buscar ajuda. O medo de não estar presente para eles foi um dos pensamentos mais recorrentes durante as crises, mas também se tornou uma fonte de motivação.
Como Lyanco transformou o futebol em aliado contra o pânico
O retorno ao Brasil marcou um novo capítulo para Lyanco, tanto em termos profissionais quanto pessoais. No Atlético-MG, ele encontrou um ambiente que o ajudou a canalizar suas energias e reduzir os impactos do transtorno. Jogos decisivos, como a vitória por 2 a 0 sobre o Fluminense na Libertadores e os dois gols na final do Mineiro, mostram como o futebol se tornou uma válvula de escape para o zagueiro. Ele explica que o apoio da torcida e a adrenalina das partidas criam um contraste positivo com os momentos de angústia que viveu no Catar.
Fora de campo, Lyanco mantém uma rotina de cuidados que inclui acompanhamento psicológico contínuo e o uso de medicamentos. Ele enfatiza que o tratamento não tem prazo para acabar, mas os avanços são visíveis. A estabilidade emocional conquistada no clube mineiro reflete em suas atuações, como a exibição de gala contra o América-MG, onde foi eleito o melhor em campo. Para ele, cada gol e cada vitória são passos rumo à superação.
A experiência também mudou sua visão sobre o esporte. Lyanco passou a valorizar ainda mais o lado humano do futebol, entendendo que os atletas não são imunes às fragilidades. Ele destaca que o ambiente do Atlético-MG, com sua torcida apaixonada e estrutura de apoio, foi decisivo para que ele recuperasse a confiança. Hoje, o zagueiro vive um momento de equilíbrio, mas sabe que a batalha contra o pânico exige vigilância constante.
Cronograma da trajetória de Lyanco: do início ao destaque no Galo
A carreira de Lyanco é uma mistura de talento, determinação e resiliência. Sua jornada reflete os altos e baixos de um atleta que enfrentou desafios dentro e fora de campo. Confira os principais momentos:
- 2015: Estreia como profissional no São Paulo, aos 18 anos.
- 2017: Transferência para o Torino, na Itália, iniciando a carreira internacional.
- 2021: Assinatura com o Southampton, na Inglaterra, com passagem pela Premier League.
- 2023: Empréstimo ao Al-Gharafa, no Catar, onde as crises de pânico começaram.
- Julho de 2024: Contratação pelo Atlético-MG, marcando o retorno ao Brasil.
- Março de 2025: Dois gols na final do Mineiro, consolidando seu nome no clube.
Um exemplo para além do gramado
Lyanco não quer que sua história termine em si mesma. Aos 28 anos, ele vê na abertura sobre o pânico uma forma de ajudar outras pessoas, dentro e fora do esporte. Ele acredita que falar sobre o tema pode encorajar quem sofre em silêncio a buscar ajuda, algo que ele mesmo demorou a fazer. O zagueiro destaca que o acompanhamento psicológico deveria ser rotina, mesmo para quem se sente bem, como forma de prevenção.
No Atlético-MG, ele segue construindo sua legacy. Com contrato até 2028, Lyanco tem tempo para crescer ainda mais no clube, onde já é querido pela torcida por sua entrega e carisma. Seus gols contra o América-MG, em março de 2025, não foram apenas decisivos para o título, mas também simbólicos de uma vitória pessoal. O jogador, que já trocaria tudo para respirar em paz, agora inspira outros a enfrentarem seus próprios desafios.
O impacto de sua história vai além das quatro linhas. Em um país onde milhões lidam com ansiedade e outros transtornos, Lyanco mostra que pedir ajuda não é fraqueza, mas força. Seu relato, aliado ao sucesso em campo, reforça que a saúde mental merece tanta atenção quanto o físico, especialmente no mundo competitivo do futebol.
