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31 Mar 2025, Mon

Star Trek, seriado comunista? — Diário Carioca


Por Yanis Varoufakis | Tradução: Antonio Martins

Em 9 de fevereiro de 1967, horas depois que a Força Aérea dos EUA arrasou o Porto de Haiphong e várias bases aéreas vietnamitas, a NBC exibiu um episódio de Star Trek com um conceito que colidia brutalmente com o que acabara de acontecer no Vietnã: a Diretriz Primeira – uma proibição geral a seus capitães de nave estelar de usar tecnologia superior (militar ou não) para interferir em qualquer comunidade, povo ou espécie senciente, mesmo que a não-interferência custasse suas próprias vidas.

Ao transformar uma ideologia tão radicalmente anti-imperialista na regra cardinal da fictícia Federação Unida de Planetas – que o público americano via como uma extensão lógica dos EUA –, não seria surpresa se o presidente Lyndon B. Johnson ou o Pentágono tivessem exigido o cancelamento imediato de Star Trek. Felizmente, não o fizeram. E assim, ao longo dos 939 episódios (em 12 séries diferentes) que se seguiram, a Diretriz Primeira permitiu que roteiristas e diretores explorassem suas repercussões políticas e filosóficas, incluindo conflitos éticos que levaram a suas frequentes violações, mas nunca a sua revogação.

Também permitiu outra inferência: essa Federação futurista jamais teria amadurecido o suficiente para adotar a Diretriz Primeira anti-imperialista antes que uma versão humanista do comunismo fosse estabelecida na Terra!

O comunismo libertário de Star Trekcontra o coletivismo autoritário

É cristalino que Star Trek retrata uma sociedade comunista, sem jamais nomeá-la como tal. Num episódio de 1988, a USS Enterprise encontra uma nave terrestre enferrujada com câmaras criogênicas contendo plutocratas humanos que pagaram fortunas para serem congelados e lançados ao espaço, na esperança de que alienígenas os curassem de suas doenças mortais em 1988.

Após a tripulação da Enterprise descongelá-los e curá-los, um deles, Ralph Offenhouse, um empresário, exige contatar seus banqueiros e escritório de advocacia na Terra. O capitão Jean-Luc Picard não tem escolha a não ser revelar que, nos trezentos anos que se passaram, muita coisa mudou.

— Picard: As pessoas não são mais obcecadas por acumular coisas. Eliminamos a fome, a carência e a necessidade de posses. Saímos da nossa infância.

— Offenhouse: Você não entendeu. Nunca foi sobre posses. É sobre poder.

— Picard: Poder para quê?

— Offenhouse: Para controlar sua vida, seu destino.

— Picard: Esse tipo de controle é uma ilusão.

— Offenhouse: Sério? Então por que estou aqui?

A alusão de Offenhouse ao pendor pela acumulação que sustenta a vontade de poder aponta o motivo pelo qual a Diretriz Primeira é incompatível com o espírito do capitalismo: enquanto a acumulação, alimentando a expansão dos mercados, for a força motriz e ideologia de nossa sociedade, o imperialismo será inevitável.

Para escapar disso, a humanidade deve primeiro eliminar a escassez de bens materiais – eliminação que, na Federação Unida de Planetas, foi alcançada graças à invenção e disseminação dos replicadores: máquinas que convertem energia verde abundante em qualquer forma de matéria desejada, de comida a gadgets a naves espaciais.

Esta não é exatamente uma ideia nova. Em 350 a.C., Aristóteles já previra que “…se cada instrumento pudesse realizar seu trabalho por si, obedecendo ou antecipando a vontade alheia, como as estátuas de Dédalo ou os trípodes de Hefesto que, diz o poeta, ‘por vontade própria entraram na assembleia dos Deuses’; se, da mesma forma, a lançadeira tecesse e o plectro tocasse a lira sem mãos que os guiassem, os mestres não precisariam de servos, nem os senhores de escravos.”

Ele mesmo um ávido aristotélico, Karl Marx baseou sua visão de uma sociedade comunista libertadora – onde tanto o Estado quanto o mercado definham – em máquinas como os replicadores de Star Trek, que nos libertam do trabalho não-criativo e esmagador da alma.

Em um de seus escritos iniciais, ele imagina o que seguiria à invenção de tais máquinas:
“Na sociedade comunista, onde ninguém está confinado a uma única esfera de atividade, mas pode se dedicar ao campo que desejar, a sociedade regula a produção total, e assim posso caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite e criticar teatro após o jantar – sem precisar ser caçador, pescador, pastor ou crítico.” [A Ideologia Alemã, 1845]

As palavras de Marx ecoam quando conhecemos o pai do capitão Benjamin Sisko que, no século XXIV, administra um restaurante crioulo em Nova Orleans apenas por amar a expressão de gratidão nos rostos dos vizinhos que adoram sua comida – de graça, é claro, pois o dinheiro agora é obsoleto.

Também ecoam na resposta de Picard a Offenhouse que, ao saber que seria enviado de volta a uma Terra essencialmente comunista, pergunta sombrio: “O que será de mim? Não há vestígio do meu dinheiro. Meu escritório se foi. O que farei? Como viverei? Qual é o desafio?” “O desafio, Sr. Offenhouse”, responde Picard encorajadoramente, “é melhorar a si mesmo, enriquecer a si mesmo. Aproveite!” Marx, sem dúvida, teria aplaudido com vigor.

“Alegria” não é uma palavra que rime naturalmente com comunismo, pelo menos não do tipo soviético. Mas o prazer é central na versão comunista de Star Trek, que rejeita a noção de que escapar da lógica da acumulação exija que indivíduos se submetam a um coletivo.

Os roteiristas de Star Trek ilustram isso brilhantemente ao contrastar a Federação – composta por indivíduos criativos que escolhem seus projetos e parceiros livremente – com os Borg, um coletivo distópico de ciborgues interligados numa ordem social similar a uma colmeia, que se expande assimilando todas as espécies que encontra.

Evitando críticas simplistas ao coletivismo, Star Trek o rejeita sem ignorar seu apelo. Quando a capitã Kathryn Janeway resgata um drone Borg (Sete de Nove) do Coletivo, testemunhamos seu traumático retorno à humanidade. Ao ser desvinculada do Coletivo, ela sofre sintomas debilitantes de abstinência, sentindo falta desesperadora da voz coletiva em sua mente – um lembrete de como o autoritarismo pode ser perigosamente sedutor para os solitários.

Mas também de como é crucial pagar o preço da individualidade, mesmo com o risco da solidão – que só a amizade e o trabalho criativo podem combater.

A Teoria Materialista Histórica da Mudança em Star Trek

Para ter utilidade prática, qualquer manifesto deve oferecer uma teoria da mudança, não apenas uma visão de futuro esplêndido. Star Trek não se esquiva dessa responsabilidade.

Mesmo respeitando a Diretriz Primeira, a Federação observa atentamente a evolução de espécies primitivas pela galáxia em busca de pistas sobre a própria história humana. Além disso, oferece uma teoria coerente de evolução social baseada em sólidos princípios materialistas históricos.

Considere, por exemplo, o episódio em que a USS Voyager fica presa no campo gravitacional de um planeta estranho onde o tempo na superfície passa muito mais rápido que na nave em órbita. Logo a capitã Janeway e seus oficiais percebem que a cada minuto deles, os humanóides primitivos no planeta vivenciam 58 nasceres do sol.

Assim, a tripulação testemunha em câmera acelerada a evolução daquela sociedade. O que veem é uma reprodução da história humana – como inovações tecnológicas colidem com superstições e relações sociais exploratórias ultrapassadas, gerando revoluções, progresso, mas também guerras e desastres ambientais.

Em momentos, parece que a espécie observada, como a humanidade, poderá se autodestruir. Mas, num final feliz, eles também conseguem superar seus imperialismos e ânsias acumulativas, colocando novas tecnologias a serviço do bem comum – inclusive libertando a Voyager e permitindo sua jornada de volta para casa.

Outra estratégia narrativa para mostrar como um comunismo luxuoso e libertador surgiu no século XXIV foi usar viagens no tempo para voltar ao nosso futuro próximo. E o século XXI mostrou-se bastante brutal.

Em episódios exibidos em 1995, descobrimos sobre os Motins de Bell em setembro de 2024, que acabaram com um sistema de apartheid em São Francisco, onde os pobres, doentes e marginalizados da cidade estavam confinados num gueto. Essa rebelião, junto com uma devastadora Terceira Guerra Mundial, colocou a humanidade no caminho para eliminar o nacionalismo, o capitalismo e, por fim, o expansionismo.

Talvez as percepções mais interessantes surjam quando os roteiristas nos levam às fronteiras da Federação, onde seus exploradores encontram – e frequentemente guerreiam contra – civilizações em estágios primitivos de desenvolvimento ou que criaram tirania tecnologicamente avançadas.

Lá, na fronteira, espécies alienígenas nos oferecem oportunidades de introspecção, como os bajoranos, que acabavam de sair da ocupação brutal dos cardassianos – uma espécie supremacista que governou Bajor como uma colônia penal, com campos de concentração e impulsos genocidas.

Num episódio que poderia facilmente ser adaptado ao teatro como peça em um ato, um lutador pela liberdade bajorano identifica um antigo monstro de campo de concentração cardassiano e trabalha incansavelmente para levá-lo a um tribunal de crimes de guerra da Federação-Bajor. Com uma reviravolta emocionalmente devastadora, o roteiro oferece uma catarse inesperada – lembrando que boa ficção científica não trata tanto do futuro, mas é ferramenta extraordinária para revisitar nosso passado.

De fato, não consigo pensar em outro programa de TV que, em quarenta minutos, possa educar tão bem os jovens sobre os horrores do Holocausto.
Em órbita de Bajor, há uma estação espacial administrada pela Federação (DS9) onde espécies diferentes se misturam para negociar; um ponto de encontro entre a Federação comunista, pós-dinheiro e pós-trabalho assalariado, e outras civilizações para quem acumulação e lucro ainda são centrais.

Nessa estação espacial há um bar duvidoso administrado por Quark, um ferengi, que trata seus trabalhadores como gado sem valor de mercado. Até que seu irmão, que também trabalha para ele, cansa-se da situação: ele convoca os colegas a formar um sindicato e greve por direitos básicos.

Quando seu patrão-irmão tenta suborná-lo, ele pega um tablet e lê lentamente da tela algo que baixou: “Trabalhadores do mundo, uni-vos! Nada tendes a perder, a não ser vossos grilhões!”

Para Quark, como para todos os ferengis, o neoliberalismo é mais que uma ideologia ou mesmo uma religião secular – é uma cultura, um modo de ser.

Fazendo sua crítica ao neoliberalismo com máximo humor, os roteiristas de Star Trek retratam os ferengis como humanoides incapazes de se diferenciar do Homo Economicus.

A julgar pelo trabalho dos roteiristas em compilar todas as 285 Regras de Aquisição ferengi – seu livro sagrado –, eles devem ter se divertido muito. Eis uma amostra:

  • “O lucro é sua própria recompensa” (41)
  • “Alimente sua ganância, mas não até sufocá-la” (43)
  • “Expanda ou morra” (45)
  • “Exploração dividida por tempo é igual a lucro” (54)
  • “Trate os devedores como família… e os explore” (111)
  • “Um homem rico pode comprar tudo, exceto uma consciência” (261)
  • “Guerra é boa para os negócios” (34)
  • “Paz também é boa para os negócios” (35)

Para equilibrar o brutalismo neoliberal ferengi com vislumbres de outra forma de tirania – a versão burocrático-centralista –, Star Trek nos transporta a um planeta não federativo junto com o médico da USS Voyager, sequestrado e forçado a trabalhar num hospital onde, para seu horror, descobre que os cuidados médicos são distribuídos estritamente conforme o “índice de valor social” do paciente – número calculado por um computador controlado centralmente, cuja programação reflete a valoração burocrática do “mérito” de cada cidadão.

Externalidades ambientais negativas também aparecem nas fronteiras onde a jurisdição da Federação termina. Dois cientistas alienígenas, antes ridicularizados como excêntricos, comprovam que naves federais e não-federais em velocidade de dobra (isto é, acima da velocidade da luz) danificam gravemente o tecido do continuum espaço-tempo.

Quando o capitão Picard confirma a validade de suas descobertas, tenta convencer a Frota Estelar a reduzir danos diminuindo ou até imobilizando as naves. Ecoando argumentos atuais contra legislações de emissão zero (“Se o Sul Global continua queimando carvão, por que o Ocidente arcaria com custos massivos?”), o governo da Federação reluta em agir unilateralmente sem medidas equivalentes de outras civilizações.

IA e o significado de ser humano

À maneira hegeliana, Star Trek questiona nossa humanidade ao colocar oficiais alienígenas em naves federais, forçando humanos a se enxergarem através de seres com filosofias radicalmente diferentes (como vulcanos – Spock, Tuvok e T’Pol –, cuja capacidade de reprimir emoções é refinada).

Porém, o confronto mais relevante para nossa era ocorre quando o tenente-comandante Data é apresentado na ponte da USS Enterprise. Data é um androide superinteligente incapaz de sentir, mas movido por um desejo intenso de compreender humanos.

Em sua busca por humanidade, Data estuda não apenas nosso comportamento, mas também arte, música, teatro e literatura. Torna-se não só um membro valorizado da tripulação, mas também – na era de modelos de linguagem e chatbots como GPT – uma figura dramática que alimenta nosso debate sobre IA.

Logo surge a questão: Data tem direitos? Quando um laboratório federal solicita que ele se submeta a desmontagem para replicá-lo (e equipar todas as naves com “Datas”), ele se recusa.

Ao ouvir que suas memórias seriam preservadas em upload, Data rebate com um argumento que lembra a rejeição de Noam Chomsky ao materialismo vulgar: “Há uma qualidade inefável nas memórias que não sobreviverá ao seu procedimento”, diz ao chefe do laboratório.

Quando o cientista insinua que Data deve obedecer, Picard exige que um tribunal decida se o androide tem direito de recusar – oferecendo-se como seu advogado.

No julgamento, a juíza define o cerne da questão: Data é propriedade ou tem autonomia (ou “alma”, como ela diz dramaticamente). O advogado do laboratório argumenta que Data é apenas uma máquina com software sofisticado que simula senciência.

Sobre a recusa de “isto” em cooperar, ele pergunta à juíza: “Você permitiria que o computador de sua nave recusasse um reset?” Picard percebe que está enfrentando um muro.

Num intervalo, Picard tem um insight após conversar com a bartender da nave (interpretada por Whoopi Goldberg). Ele decide focar no plano da Frota Estelar de replicar Data para criar um “exército de Datas”.

“Quando criarmos milhares de Datas”, pergunta ao tribunal, “haverá um ponto em que se tornarão uma raça? E não seremos julgados por como tratamos essa raça? Agora me digam: o que é Data?
O que ele é?”

“Uma máquina”, responde o adversário. Picard então faz seu apelo final:

“Meritíssima, este tribunal é um cadinho onde queimamos irrelevâncias para extrair a verdade pura. Cedo ou tarde, este ou outro laboratório replicará o tenente-comandante Data. A decisão de hoje determinará como enxergamos nossa própria criação. Revelará quem somos. Redefinirá os limites da liberdade – ampliando-a para alguns, restringindo-a brutalmente para outros. A senhora está preparada para condená-lo, e todos os que vierem depois, à servidão?”

Por fim, fixa um olhar penetrante na juíza e conclui: “A Frota Estelar foi fundada para descobrir novas formas de vida.” Apontando para Data: “Pois ali está uma. Esperando.”

O julgamento termina com o veredito de que não há dúvida razoável sobre a não-senciência do Comandante Data – garantindo-lhe o direito de recusar a desmontagem. Mas Star Trek não adere ao panpsiquismo: reconhece que IA capaz de passar no teste de Turing (como o ChatGPT) não equivale a ser senciente.

A Federação Unida de Planetas não é uma utopia. O inimigo interno – a xenofobia – permanece latente, pronto para macular o humanismo da Federação e até revogar a Diretriz Primeira. Quando a tripulação da USS Enterprise retorna de uma missão contra os letais Xindi, uma turba humana ataca o médico denobulano da nave em um claro crime de ódio contra um alienígena. Pouco depois, uma célula terrorista supremacista humana na Lua ameaça manter a humanidade refém até que todos os alienígenas deixem a Terra. E não são apenas extremistas populistas e especistas que ameaçam a Federação: seus próprios serviços secretos, como a Seção 31, representam riscos sérios ao comunismo libertário da Federação. Ainda assim, como um desafio esperançoso, os valores comunistas humanistas da Federação persistem.

A questão é: além do entretenimento, o que os quase mil episódios de Star Trek oferecem à esquerda moribunda de hoje, em sua luta para se manter relevante diante de IA, xenofobia em massa, a Nova Guerra Fria e a emergência climática? A resposta é sim. O principal ensinamento para a esquerda atual é evitar tanto a tecnofobia conservadora quanto o erro dos tecno-otimistas liberais de focar na tecnologia sem entender que tudo se resume a direitos de propriedade e às lutas políticas em torno deles.

Em 1930, em meio à Grande Depressão, John Maynard Keynes ousou sonhar que, no fim do século XX, o progresso tecnológico teria erradicado escassez, pobreza e exploração. Em Possibilidades Econômicas para Nossos Netos, ele imagina um mundo onde o “problema econômico” da humanidade estaria resolvido:

“Pela primeira vez desde sua criação, o homem enfrentará seu problema real e permanente: como usar sua liberdade das urgências econômicas, como preencher o lazer que a ciência e o juro composto lhe conquistaram, para viver com sabedoria, harmonia e bem-estar.”

Keynes falhou não por falta de tecnologia, mas porque os direitos de propriedade sobre as máquinas concentraram-se nas mãos de uma minúscula minoria. Surpreende que nem ciência nem juros compostos nos livrassem da escassez, pobreza ou guerras? Ou que, em vez do “bem-estar comum” keynesiano, a humanidade aproximou-se do episódio Os Senhores das Nuvens, onde elites vivem num paraíso suspenso nas nuvens enquanto outros trabalham como trogloditas em minas subterrâneas? (N.R.: Esse episódio me inspirou a chamar a elite do Vale do Silício de nubalistas em Tecnofeudalismo.)

Star Trek não repete os erros de Keynes nem dos tecno-fetichistas. O capital em nuvem e a IA são condições necessárias, mas insuficientes, para nossa libertação. Para torná-las suficientes, será necessária uma revolução política que transfira a propriedade das redes tecnológicas da oligarquia para os comuns. E, como Star Trek mostra de forma contundente, nossa libertação também depende de não cairmos na armadilha do coletivismo autoritário.

A esquerda moribunda de hoje faria bem em se inspirar no abraço corajoso de Star Trek a um comunismo humanista e antiautoritário.

Publicado em Outras Palavras

Yanis Varoufakis

Yánis Varoufákis é economista, blogger e político grego membro do partido SYRIZA. Foi o ministro das Finanças do Governo Tsipras no primeiro semestre de 2015. Varoufákis é um assíduo opositor da austeridade. Desde a crise global e do euro começou em 2008, Varoufákis tem sido um participante ativo nos debates ocasionados por esses eventos.

Por Yanis Varoufakis | Tradução: Antonio Martins

Em 9 de fevereiro de 1967, horas depois que a Força Aérea dos EUA arrasou o Porto de Haiphong e várias bases aéreas vietnamitas, a NBC exibiu um episódio de Star Trek com um conceito que colidia brutalmente com o que acabara de acontecer no Vietnã: a Diretriz Primeira – uma proibição geral a seus capitães de nave estelar de usar tecnologia superior (militar ou não) para interferir em qualquer comunidade, povo ou espécie senciente, mesmo que a não-interferência custasse suas próprias vidas.

Ao transformar uma ideologia tão radicalmente anti-imperialista na regra cardinal da fictícia Federação Unida de Planetas – que o público americano via como uma extensão lógica dos EUA –, não seria surpresa se o presidente Lyndon B. Johnson ou o Pentágono tivessem exigido o cancelamento imediato de Star Trek. Felizmente, não o fizeram. E assim, ao longo dos 939 episódios (em 12 séries diferentes) que se seguiram, a Diretriz Primeira permitiu que roteiristas e diretores explorassem suas repercussões políticas e filosóficas, incluindo conflitos éticos que levaram a suas frequentes violações, mas nunca a sua revogação.

Também permitiu outra inferência: essa Federação futurista jamais teria amadurecido o suficiente para adotar a Diretriz Primeira anti-imperialista antes que uma versão humanista do comunismo fosse estabelecida na Terra!

O comunismo libertário de Star Trekcontra o coletivismo autoritário

É cristalino que Star Trek retrata uma sociedade comunista, sem jamais nomeá-la como tal. Num episódio de 1988, a USS Enterprise encontra uma nave terrestre enferrujada com câmaras criogênicas contendo plutocratas humanos que pagaram fortunas para serem congelados e lançados ao espaço, na esperança de que alienígenas os curassem de suas doenças mortais em 1988.

Após a tripulação da Enterprise descongelá-los e curá-los, um deles, Ralph Offenhouse, um empresário, exige contatar seus banqueiros e escritório de advocacia na Terra. O capitão Jean-Luc Picard não tem escolha a não ser revelar que, nos trezentos anos que se passaram, muita coisa mudou.

— Picard: As pessoas não são mais obcecadas por acumular coisas. Eliminamos a fome, a carência e a necessidade de posses. Saímos da nossa infância.

— Offenhouse: Você não entendeu. Nunca foi sobre posses. É sobre poder.

— Picard: Poder para quê?

— Offenhouse: Para controlar sua vida, seu destino.

— Picard: Esse tipo de controle é uma ilusão.

— Offenhouse: Sério? Então por que estou aqui?

A alusão de Offenhouse ao pendor pela acumulação que sustenta a vontade de poder aponta o motivo pelo qual a Diretriz Primeira é incompatível com o espírito do capitalismo: enquanto a acumulação, alimentando a expansão dos mercados, for a força motriz e ideologia de nossa sociedade, o imperialismo será inevitável.

Para escapar disso, a humanidade deve primeiro eliminar a escassez de bens materiais – eliminação que, na Federação Unida de Planetas, foi alcançada graças à invenção e disseminação dos replicadores: máquinas que convertem energia verde abundante em qualquer forma de matéria desejada, de comida a gadgets a naves espaciais.

Esta não é exatamente uma ideia nova. Em 350 a.C., Aristóteles já previra que “…se cada instrumento pudesse realizar seu trabalho por si, obedecendo ou antecipando a vontade alheia, como as estátuas de Dédalo ou os trípodes de Hefesto que, diz o poeta, ‘por vontade própria entraram na assembleia dos Deuses’; se, da mesma forma, a lançadeira tecesse e o plectro tocasse a lira sem mãos que os guiassem, os mestres não precisariam de servos, nem os senhores de escravos.”

Ele mesmo um ávido aristotélico, Karl Marx baseou sua visão de uma sociedade comunista libertadora – onde tanto o Estado quanto o mercado definham – em máquinas como os replicadores de Star Trek, que nos libertam do trabalho não-criativo e esmagador da alma.

Em um de seus escritos iniciais, ele imagina o que seguiria à invenção de tais máquinas:
“Na sociedade comunista, onde ninguém está confinado a uma única esfera de atividade, mas pode se dedicar ao campo que desejar, a sociedade regula a produção total, e assim posso caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite e criticar teatro após o jantar – sem precisar ser caçador, pescador, pastor ou crítico.” [A Ideologia Alemã, 1845]

As palavras de Marx ecoam quando conhecemos o pai do capitão Benjamin Sisko que, no século XXIV, administra um restaurante crioulo em Nova Orleans apenas por amar a expressão de gratidão nos rostos dos vizinhos que adoram sua comida – de graça, é claro, pois o dinheiro agora é obsoleto.

Também ecoam na resposta de Picard a Offenhouse que, ao saber que seria enviado de volta a uma Terra essencialmente comunista, pergunta sombrio: “O que será de mim? Não há vestígio do meu dinheiro. Meu escritório se foi. O que farei? Como viverei? Qual é o desafio?” “O desafio, Sr. Offenhouse”, responde Picard encorajadoramente, “é melhorar a si mesmo, enriquecer a si mesmo. Aproveite!” Marx, sem dúvida, teria aplaudido com vigor.

“Alegria” não é uma palavra que rime naturalmente com comunismo, pelo menos não do tipo soviético. Mas o prazer é central na versão comunista de Star Trek, que rejeita a noção de que escapar da lógica da acumulação exija que indivíduos se submetam a um coletivo.

Os roteiristas de Star Trek ilustram isso brilhantemente ao contrastar a Federação – composta por indivíduos criativos que escolhem seus projetos e parceiros livremente – com os Borg, um coletivo distópico de ciborgues interligados numa ordem social similar a uma colmeia, que se expande assimilando todas as espécies que encontra.

Evitando críticas simplistas ao coletivismo, Star Trek o rejeita sem ignorar seu apelo. Quando a capitã Kathryn Janeway resgata um drone Borg (Sete de Nove) do Coletivo, testemunhamos seu traumático retorno à humanidade. Ao ser desvinculada do Coletivo, ela sofre sintomas debilitantes de abstinência, sentindo falta desesperadora da voz coletiva em sua mente – um lembrete de como o autoritarismo pode ser perigosamente sedutor para os solitários.

Mas também de como é crucial pagar o preço da individualidade, mesmo com o risco da solidão – que só a amizade e o trabalho criativo podem combater.

A Teoria Materialista Histórica da Mudança em Star Trek

Para ter utilidade prática, qualquer manifesto deve oferecer uma teoria da mudança, não apenas uma visão de futuro esplêndido. Star Trek não se esquiva dessa responsabilidade.

Mesmo respeitando a Diretriz Primeira, a Federação observa atentamente a evolução de espécies primitivas pela galáxia em busca de pistas sobre a própria história humana. Além disso, oferece uma teoria coerente de evolução social baseada em sólidos princípios materialistas históricos.

Considere, por exemplo, o episódio em que a USS Voyager fica presa no campo gravitacional de um planeta estranho onde o tempo na superfície passa muito mais rápido que na nave em órbita. Logo a capitã Janeway e seus oficiais percebem que a cada minuto deles, os humanóides primitivos no planeta vivenciam 58 nasceres do sol.

Assim, a tripulação testemunha em câmera acelerada a evolução daquela sociedade. O que veem é uma reprodução da história humana – como inovações tecnológicas colidem com superstições e relações sociais exploratórias ultrapassadas, gerando revoluções, progresso, mas também guerras e desastres ambientais.

Em momentos, parece que a espécie observada, como a humanidade, poderá se autodestruir. Mas, num final feliz, eles também conseguem superar seus imperialismos e ânsias acumulativas, colocando novas tecnologias a serviço do bem comum – inclusive libertando a Voyager e permitindo sua jornada de volta para casa.

Outra estratégia narrativa para mostrar como um comunismo luxuoso e libertador surgiu no século XXIV foi usar viagens no tempo para voltar ao nosso futuro próximo. E o século XXI mostrou-se bastante brutal.

Em episódios exibidos em 1995, descobrimos sobre os Motins de Bell em setembro de 2024, que acabaram com um sistema de apartheid em São Francisco, onde os pobres, doentes e marginalizados da cidade estavam confinados num gueto. Essa rebelião, junto com uma devastadora Terceira Guerra Mundial, colocou a humanidade no caminho para eliminar o nacionalismo, o capitalismo e, por fim, o expansionismo.

Talvez as percepções mais interessantes surjam quando os roteiristas nos levam às fronteiras da Federação, onde seus exploradores encontram – e frequentemente guerreiam contra – civilizações em estágios primitivos de desenvolvimento ou que criaram tirania tecnologicamente avançadas.

Lá, na fronteira, espécies alienígenas nos oferecem oportunidades de introspecção, como os bajoranos, que acabavam de sair da ocupação brutal dos cardassianos – uma espécie supremacista que governou Bajor como uma colônia penal, com campos de concentração e impulsos genocidas.

Num episódio que poderia facilmente ser adaptado ao teatro como peça em um ato, um lutador pela liberdade bajorano identifica um antigo monstro de campo de concentração cardassiano e trabalha incansavelmente para levá-lo a um tribunal de crimes de guerra da Federação-Bajor. Com uma reviravolta emocionalmente devastadora, o roteiro oferece uma catarse inesperada – lembrando que boa ficção científica não trata tanto do futuro, mas é ferramenta extraordinária para revisitar nosso passado.

De fato, não consigo pensar em outro programa de TV que, em quarenta minutos, possa educar tão bem os jovens sobre os horrores do Holocausto.
Em órbita de Bajor, há uma estação espacial administrada pela Federação (DS9) onde espécies diferentes se misturam para negociar; um ponto de encontro entre a Federação comunista, pós-dinheiro e pós-trabalho assalariado, e outras civilizações para quem acumulação e lucro ainda são centrais.

Nessa estação espacial há um bar duvidoso administrado por Quark, um ferengi, que trata seus trabalhadores como gado sem valor de mercado. Até que seu irmão, que também trabalha para ele, cansa-se da situação: ele convoca os colegas a formar um sindicato e greve por direitos básicos.

Quando seu patrão-irmão tenta suborná-lo, ele pega um tablet e lê lentamente da tela algo que baixou: “Trabalhadores do mundo, uni-vos! Nada tendes a perder, a não ser vossos grilhões!”

Para Quark, como para todos os ferengis, o neoliberalismo é mais que uma ideologia ou mesmo uma religião secular – é uma cultura, um modo de ser.

Fazendo sua crítica ao neoliberalismo com máximo humor, os roteiristas de Star Trek retratam os ferengis como humanoides incapazes de se diferenciar do Homo Economicus.

A julgar pelo trabalho dos roteiristas em compilar todas as 285 Regras de Aquisição ferengi – seu livro sagrado –, eles devem ter se divertido muito. Eis uma amostra:

  • “O lucro é sua própria recompensa” (41)
  • “Alimente sua ganância, mas não até sufocá-la” (43)
  • “Expanda ou morra” (45)
  • “Exploração dividida por tempo é igual a lucro” (54)
  • “Trate os devedores como família… e os explore” (111)
  • “Um homem rico pode comprar tudo, exceto uma consciência” (261)
  • “Guerra é boa para os negócios” (34)
  • “Paz também é boa para os negócios” (35)

Para equilibrar o brutalismo neoliberal ferengi com vislumbres de outra forma de tirania – a versão burocrático-centralista –, Star Trek nos transporta a um planeta não federativo junto com o médico da USS Voyager, sequestrado e forçado a trabalhar num hospital onde, para seu horror, descobre que os cuidados médicos são distribuídos estritamente conforme o “índice de valor social” do paciente – número calculado por um computador controlado centralmente, cuja programação reflete a valoração burocrática do “mérito” de cada cidadão.

Externalidades ambientais negativas também aparecem nas fronteiras onde a jurisdição da Federação termina. Dois cientistas alienígenas, antes ridicularizados como excêntricos, comprovam que naves federais e não-federais em velocidade de dobra (isto é, acima da velocidade da luz) danificam gravemente o tecido do continuum espaço-tempo.

Quando o capitão Picard confirma a validade de suas descobertas, tenta convencer a Frota Estelar a reduzir danos diminuindo ou até imobilizando as naves. Ecoando argumentos atuais contra legislações de emissão zero (“Se o Sul Global continua queimando carvão, por que o Ocidente arcaria com custos massivos?”), o governo da Federação reluta em agir unilateralmente sem medidas equivalentes de outras civilizações.

IA e o significado de ser humano

À maneira hegeliana, Star Trek questiona nossa humanidade ao colocar oficiais alienígenas em naves federais, forçando humanos a se enxergarem através de seres com filosofias radicalmente diferentes (como vulcanos – Spock, Tuvok e T’Pol –, cuja capacidade de reprimir emoções é refinada).

Porém, o confronto mais relevante para nossa era ocorre quando o tenente-comandante Data é apresentado na ponte da USS Enterprise. Data é um androide superinteligente incapaz de sentir, mas movido por um desejo intenso de compreender humanos.

Em sua busca por humanidade, Data estuda não apenas nosso comportamento, mas também arte, música, teatro e literatura. Torna-se não só um membro valorizado da tripulação, mas também – na era de modelos de linguagem e chatbots como GPT – uma figura dramática que alimenta nosso debate sobre IA.

Logo surge a questão: Data tem direitos? Quando um laboratório federal solicita que ele se submeta a desmontagem para replicá-lo (e equipar todas as naves com “Datas”), ele se recusa.

Ao ouvir que suas memórias seriam preservadas em upload, Data rebate com um argumento que lembra a rejeição de Noam Chomsky ao materialismo vulgar: “Há uma qualidade inefável nas memórias que não sobreviverá ao seu procedimento”, diz ao chefe do laboratório.

Quando o cientista insinua que Data deve obedecer, Picard exige que um tribunal decida se o androide tem direito de recusar – oferecendo-se como seu advogado.

No julgamento, a juíza define o cerne da questão: Data é propriedade ou tem autonomia (ou “alma”, como ela diz dramaticamente). O advogado do laboratório argumenta que Data é apenas uma máquina com software sofisticado que simula senciência.

Sobre a recusa de “isto” em cooperar, ele pergunta à juíza: “Você permitiria que o computador de sua nave recusasse um reset?” Picard percebe que está enfrentando um muro.

Num intervalo, Picard tem um insight após conversar com a bartender da nave (interpretada por Whoopi Goldberg). Ele decide focar no plano da Frota Estelar de replicar Data para criar um “exército de Datas”.

“Quando criarmos milhares de Datas”, pergunta ao tribunal, “haverá um ponto em que se tornarão uma raça? E não seremos julgados por como tratamos essa raça? Agora me digam: o que é Data?
O que ele é?”

“Uma máquina”, responde o adversário. Picard então faz seu apelo final:

“Meritíssima, este tribunal é um cadinho onde queimamos irrelevâncias para extrair a verdade pura. Cedo ou tarde, este ou outro laboratório replicará o tenente-comandante Data. A decisão de hoje determinará como enxergamos nossa própria criação. Revelará quem somos. Redefinirá os limites da liberdade – ampliando-a para alguns, restringindo-a brutalmente para outros. A senhora está preparada para condená-lo, e todos os que vierem depois, à servidão?”

Por fim, fixa um olhar penetrante na juíza e conclui: “A Frota Estelar foi fundada para descobrir novas formas de vida.” Apontando para Data: “Pois ali está uma. Esperando.”

O julgamento termina com o veredito de que não há dúvida razoável sobre a não-senciência do Comandante Data – garantindo-lhe o direito de recusar a desmontagem. Mas Star Trek não adere ao panpsiquismo: reconhece que IA capaz de passar no teste de Turing (como o ChatGPT) não equivale a ser senciente.

A Federação Unida de Planetas não é uma utopia. O inimigo interno – a xenofobia – permanece latente, pronto para macular o humanismo da Federação e até revogar a Diretriz Primeira. Quando a tripulação da USS Enterprise retorna de uma missão contra os letais Xindi, uma turba humana ataca o médico denobulano da nave em um claro crime de ódio contra um alienígena. Pouco depois, uma célula terrorista supremacista humana na Lua ameaça manter a humanidade refém até que todos os alienígenas deixem a Terra. E não são apenas extremistas populistas e especistas que ameaçam a Federação: seus próprios serviços secretos, como a Seção 31, representam riscos sérios ao comunismo libertário da Federação. Ainda assim, como um desafio esperançoso, os valores comunistas humanistas da Federação persistem.

A questão é: além do entretenimento, o que os quase mil episódios de Star Trek oferecem à esquerda moribunda de hoje, em sua luta para se manter relevante diante de IA, xenofobia em massa, a Nova Guerra Fria e a emergência climática? A resposta é sim. O principal ensinamento para a esquerda atual é evitar tanto a tecnofobia conservadora quanto o erro dos tecno-otimistas liberais de focar na tecnologia sem entender que tudo se resume a direitos de propriedade e às lutas políticas em torno deles.

Em 1930, em meio à Grande Depressão, John Maynard Keynes ousou sonhar que, no fim do século XX, o progresso tecnológico teria erradicado escassez, pobreza e exploração. Em Possibilidades Econômicas para Nossos Netos, ele imagina um mundo onde o “problema econômico” da humanidade estaria resolvido:

“Pela primeira vez desde sua criação, o homem enfrentará seu problema real e permanente: como usar sua liberdade das urgências econômicas, como preencher o lazer que a ciência e o juro composto lhe conquistaram, para viver com sabedoria, harmonia e bem-estar.”

Keynes falhou não por falta de tecnologia, mas porque os direitos de propriedade sobre as máquinas concentraram-se nas mãos de uma minúscula minoria. Surpreende que nem ciência nem juros compostos nos livrassem da escassez, pobreza ou guerras? Ou que, em vez do “bem-estar comum” keynesiano, a humanidade aproximou-se do episódio Os Senhores das Nuvens, onde elites vivem num paraíso suspenso nas nuvens enquanto outros trabalham como trogloditas em minas subterrâneas? (N.R.: Esse episódio me inspirou a chamar a elite do Vale do Silício de nubalistas em Tecnofeudalismo.)

Star Trek não repete os erros de Keynes nem dos tecno-fetichistas. O capital em nuvem e a IA são condições necessárias, mas insuficientes, para nossa libertação. Para torná-las suficientes, será necessária uma revolução política que transfira a propriedade das redes tecnológicas da oligarquia para os comuns. E, como Star Trek mostra de forma contundente, nossa libertação também depende de não cairmos na armadilha do coletivismo autoritário.

A esquerda moribunda de hoje faria bem em se inspirar no abraço corajoso de Star Trek a um comunismo humanista e antiautoritário.

Publicado em Outras Palavras

Yanis Varoufakis

Yánis Varoufákis é economista, blogger e político grego membro do partido SYRIZA. Foi o ministro das Finanças do Governo Tsipras no primeiro semestre de 2015. Varoufákis é um assíduo opositor da austeridade. Desde a crise global e do euro começou em 2008, Varoufákis tem sido um participante ativo nos debates ocasionados por esses eventos.



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