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1 Apr 2025, Tue

Irmã de ex-refém do Hamas fala em “grande agonia” e apela por resgates

lea yanai


São Paulo — Na manhã de 7 de outubro de 2023, um sábado, Lea Yanai acordou ao som de alarmes e se deparou com seu pai aos gritos, dizendo que a vida de sua irmã caçula estava em perigo. Pálido e com a voz trêmula, o homem gritava que Moran Stella Yanai estava no meio de um tiroteio no sul do país.

Os dois haviam acabado de se falar. Foi a última ligação de Moran antes de seu celular ficar sem bateria. Ao telefone, ela contou que a festa onde estava trabalhando — o Festival Supernova — estava sendo invadida por integrantes do Hamas, que tentavam capturá-la.

Do lado de Israel, 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 sequestradas nos ataques de outubro. Depois disso, a Faixa de Gaza foi invadida pelo exército de Benjamin Netanyahu, que deixou cerca de 48 mil civis palestinos mortos — a maioria mulheres e crianças, vítimas de uma guerra que continua até hoje.

Ao ouvir a notícia de que sua irmã estaria na lista das vítimas de Hamas, naquele outubro de 2023, o mundo de Lea parou: “Tentamos ligar para todo mundo: a polícia, o exército, pessoas importantes que poderiam ajudar. Ligamos para Moran sem parar, mas, infelizmente, ela estava sem bateria e seu telefone havia desligado”.

A família só voltaria a se falar quase dois meses depois, quando Moran foi libertada, após 54 dias como refém em Gaza.

Em entrevista ao Metrópoles, Lea relembrou os primeiros dias do sequestro da irmã, a angústia da espera e a relação com as famílias de outros reféns.

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Moran se reencontrando com a família em novembro de 2023

Reprodução/Instagram

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Lea e Leon Yanai

Reprodução/Instagram

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Proteso de familiares de reféns em Israel ao lado do cartaz de desaparecimento de Moran

Reprodução/Instagram

“Era um completo caos”

Depois da ligação, Lea e a família entraram em uma busca incessante pelo paradeiro de Moran. A expectativa das primeiras horas era que ela tivesse conseguido fugir do ataque, já que outros dois amigos, que estavam no festival, haviam se safado.

Moran contaria mais tarde que, naquelas primeiras horas, lutou pela sua vida diversas vezes. Ela chegou a se safar de dois grupos de terroristas, ao se passar por árabe, mas, no terceiro deles, quando já estava com uma perna machucada e exausta de fugir, foi identificada como judia e levada de Israel. Enquanto isso acontecia, a família recorria às listas publicadas pelo governo para tentar localizá-la.

“Quando vi Mohan Stella Yani em uma lista, meu coração se partiu completamente. É algo que nem consigo explicar para alguém que nunca passou por isso. Ela ficava pulando de lista em lista: da dos desaparecidos em combate para a dos assassinados e depois para a dos sequestrados. E era um completo caos.”

Lea passou a noite do dia 17 para o dia 18 em canais do Telegram e de outras redes sociais, analisando imagens dos ataques na esperança de que pudesse encontrar a sua irmã.

A confirmação do sequestro foi feita por um vídeo do TikTok, na manhã de domingo. Na gravação, Moran aparece deitada no chão e com dois terroristas em cima dela, enquanto a chamam de “cadela judia”. Eles brincam e se perguntam o que vão fazer com a mulher. Após assisti-lo, Lea conta que caiu no chão e começou a bater o próprio corpo contra o piso.

“Eu só precisei me levantar e olhar para a esquerda. Minha mãe estava completamente em agonia. Sabe, os olhos dela estavam arregalados e não havia palavras para descrever o que eu sentia. Meu pai estava confuso e era um caos total. E eu fiquei parada, percebi que precisava ser forte por ela. Meus dentes batiam, cheia de ansiedade. Mas eu queria desaparecer naquele momento, porque vê-la [daquele jeito] estava doendo tanto. Não consigo explicar. Mas, ao mesmo tempo, eu fui lançada na missão da minha vida.”

54 dias de agonia

O tempo de sequestro foi marcado pela sensação de que cada hora importava e deveria ser usada para tentar encontrar Moran. O desespero atingiu seu ápice no dia em que Lea recebeu uma ligação do seu pai, gritando em agonia. Ao ligar a televisão, ela se deparou com a imagem da sua irmã e a informação de que ela havia sido assassinada.

“Eu disse: ‘Não, não, eu sinto que ela está viva. Isso não é nossa realidade. Eu sei que Deus terá misericórdia de nós’. Respirei, respirei fundo, e então liguei para o canal e eles disseram que sentiam muito, que haviam trocado as fotos. E foi um momento de salvação. Para mim, era como estar no cativeiro, mas do outro lado. Era sobreviver de uma maneira diferente; a cada minuto, a cada segundo, e a cada hora que conseguíamos vencer. Era tão caótico e cheio de adrenalina 24 horas por dia que eu não consigo explicar para um estranho.”

Ao lado do irmão Leon, e dos familiares de outras famílias, Lea acompanhou a primeira libertação de reféns. Moran, que era uma mulher solteira de 40 anos, foi escalada para a segunda e liberada em novembro.

“Eles ligaram às 3h da madrugada e eu tremia por completo, porque você tem tanto medo de que eles te digam algo diferente. Quando atendi o telefone, me disseram imediatamente: ‘Moran está voltando para casa’ e para mim, foi como se eu conseguisse voltar a respirar. Senti o oxigênio correndo nas minhas veias, a felicidade, a alegria, e Hakaratato, que é como chamamos ‘gratidão’. Eu estava grata pelo momento e renascendo, mas, claro, também estava muito nervosa porque tinha medo de que algo ruim ainda fosse acontecer.”

O medo de Lea era de que, durante o retorno, Moran fosse vítima de bombardeios ou outras violências, como relatado por outros reféns já libertos. Poucas depois da ligação, elas finalmente se reencontraram.

“Esperamos por cerca de 20 horas, sentados e nervosos, quando vimos a transmissão dela vindo de Rafah, na fronteira de Gaza, e começamos a gritar como loucos. Foi uma festa enorme.”

“Não é algo que você pode prolongar”

Assim que soube do sequestro da irmã, Lea ingressou no fórum de familiares dos reféns israelenses, onde convivia com as famílias dos 251 sequestrados do dia 7 de outubro. Segundo ela, um grupo que tem se mostrado uma importante rede de apoio às vítimas, assim como uma fonte de pressão ao governo de Benjamin Netanyahu por acordos de cessar-fogo.

No Fórum, Lea conta ter criado vínculos com outras famílias, com quem não conseguiu se desvencilhar, mesmo após o resgate de Moran.

“Depois de 54 dias, minha irmã chegou. Mas então, olhei para outra família. Olhei para uma outra irmã que não conseguiu ter sua irmã de volta e ela me disse: ‘Eu tenho inveja, eu estou com ciúmes.’ E eu disse a ela: ‘Não tenha ciúmes. Você é minha irmã e eu vou estar ao seu lado.’ Estamos juntas nisso até o último dos reféns voltar. Porque… Como posso explicar? É quase como se fôssemos carne e sangue. Essa é uma experiência tão traumática e histórica para a humanidade que nós somos os mensageiros. Mas no final, pertencemos uma à outra. Realmente, é quase como se fosse mais do que a própria família (…) as pessoas precisam entender que isso não é algo que você pode prolongar. Isso é vida e morte a cada segundo. Isso é agonia. Isso é crueldade. Isso é uma tristeza que o corpo e a alma humana não podem suportar, simplesmente não podem suportar.”

O resgate dos reféns depende diretamente dos acordos de cessar-fogo entre o Estado de Israel e o Hamas, que tem pedido a libertação de palestinos em contrapartida. O último acordo celebrado, datado do final de fevereiro desde ano, previa a libertação de seis reféns israelenses com a soltura de 620 prisioneiros palestinos.

O acordo de paz previa uma segunda etapa de libertação, que finalizaria a liberação de reféns israelenses a partir do fim de operações israelenses em Gaza. Após discordâncias entre os dois lados, contudo, as Forças de Defesa de Israel realizaram uma série de ataques contra a Faixa de Gaza em 17 de março, rompendo com o cessar-fogo.

São Paulo — Na manhã de 7 de outubro de 2023, um sábado, Lea Yanai acordou ao som de alarmes e se deparou com seu pai aos gritos, dizendo que a vida de sua irmã caçula estava em perigo. Pálido e com a voz trêmula, o homem gritava que Moran Stella Yanai estava no meio de um tiroteio no sul do país.

Os dois haviam acabado de se falar. Foi a última ligação de Moran antes de seu celular ficar sem bateria. Ao telefone, ela contou que a festa onde estava trabalhando — o Festival Supernova — estava sendo invadida por integrantes do Hamas, que tentavam capturá-la.

Do lado de Israel, 1.200 pessoas foram mortas e outras 251 sequestradas nos ataques de outubro. Depois disso, a Faixa de Gaza foi invadida pelo exército de Benjamin Netanyahu, que deixou cerca de 48 mil civis palestinos mortos — a maioria mulheres e crianças, vítimas de uma guerra que continua até hoje.

Ao ouvir a notícia de que sua irmã estaria na lista das vítimas de Hamas, naquele outubro de 2023, o mundo de Lea parou: “Tentamos ligar para todo mundo: a polícia, o exército, pessoas importantes que poderiam ajudar. Ligamos para Moran sem parar, mas, infelizmente, ela estava sem bateria e seu telefone havia desligado”.

A família só voltaria a se falar quase dois meses depois, quando Moran foi libertada, após 54 dias como refém em Gaza.

Em entrevista ao Metrópoles, Lea relembrou os primeiros dias do sequestro da irmã, a angústia da espera e a relação com as famílias de outros reféns.

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Moran se reencontrando com a família em novembro de 2023

Reprodução/Instagram

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Lea e Leon Yanai

Reprodução/Instagram

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Proteso de familiares de reféns em Israel ao lado do cartaz de desaparecimento de Moran

Reprodução/Instagram

“Era um completo caos”

Depois da ligação, Lea e a família entraram em uma busca incessante pelo paradeiro de Moran. A expectativa das primeiras horas era que ela tivesse conseguido fugir do ataque, já que outros dois amigos, que estavam no festival, haviam se safado.

Moran contaria mais tarde que, naquelas primeiras horas, lutou pela sua vida diversas vezes. Ela chegou a se safar de dois grupos de terroristas, ao se passar por árabe, mas, no terceiro deles, quando já estava com uma perna machucada e exausta de fugir, foi identificada como judia e levada de Israel. Enquanto isso acontecia, a família recorria às listas publicadas pelo governo para tentar localizá-la.

“Quando vi Mohan Stella Yani em uma lista, meu coração se partiu completamente. É algo que nem consigo explicar para alguém que nunca passou por isso. Ela ficava pulando de lista em lista: da dos desaparecidos em combate para a dos assassinados e depois para a dos sequestrados. E era um completo caos.”

Lea passou a noite do dia 17 para o dia 18 em canais do Telegram e de outras redes sociais, analisando imagens dos ataques na esperança de que pudesse encontrar a sua irmã.

A confirmação do sequestro foi feita por um vídeo do TikTok, na manhã de domingo. Na gravação, Moran aparece deitada no chão e com dois terroristas em cima dela, enquanto a chamam de “cadela judia”. Eles brincam e se perguntam o que vão fazer com a mulher. Após assisti-lo, Lea conta que caiu no chão e começou a bater o próprio corpo contra o piso.

“Eu só precisei me levantar e olhar para a esquerda. Minha mãe estava completamente em agonia. Sabe, os olhos dela estavam arregalados e não havia palavras para descrever o que eu sentia. Meu pai estava confuso e era um caos total. E eu fiquei parada, percebi que precisava ser forte por ela. Meus dentes batiam, cheia de ansiedade. Mas eu queria desaparecer naquele momento, porque vê-la [daquele jeito] estava doendo tanto. Não consigo explicar. Mas, ao mesmo tempo, eu fui lançada na missão da minha vida.”

54 dias de agonia

O tempo de sequestro foi marcado pela sensação de que cada hora importava e deveria ser usada para tentar encontrar Moran. O desespero atingiu seu ápice no dia em que Lea recebeu uma ligação do seu pai, gritando em agonia. Ao ligar a televisão, ela se deparou com a imagem da sua irmã e a informação de que ela havia sido assassinada.

“Eu disse: ‘Não, não, eu sinto que ela está viva. Isso não é nossa realidade. Eu sei que Deus terá misericórdia de nós’. Respirei, respirei fundo, e então liguei para o canal e eles disseram que sentiam muito, que haviam trocado as fotos. E foi um momento de salvação. Para mim, era como estar no cativeiro, mas do outro lado. Era sobreviver de uma maneira diferente; a cada minuto, a cada segundo, e a cada hora que conseguíamos vencer. Era tão caótico e cheio de adrenalina 24 horas por dia que eu não consigo explicar para um estranho.”

Ao lado do irmão Leon, e dos familiares de outras famílias, Lea acompanhou a primeira libertação de reféns. Moran, que era uma mulher solteira de 40 anos, foi escalada para a segunda e liberada em novembro.

“Eles ligaram às 3h da madrugada e eu tremia por completo, porque você tem tanto medo de que eles te digam algo diferente. Quando atendi o telefone, me disseram imediatamente: ‘Moran está voltando para casa’ e para mim, foi como se eu conseguisse voltar a respirar. Senti o oxigênio correndo nas minhas veias, a felicidade, a alegria, e Hakaratato, que é como chamamos ‘gratidão’. Eu estava grata pelo momento e renascendo, mas, claro, também estava muito nervosa porque tinha medo de que algo ruim ainda fosse acontecer.”

O medo de Lea era de que, durante o retorno, Moran fosse vítima de bombardeios ou outras violências, como relatado por outros reféns já libertos. Poucas depois da ligação, elas finalmente se reencontraram.

“Esperamos por cerca de 20 horas, sentados e nervosos, quando vimos a transmissão dela vindo de Rafah, na fronteira de Gaza, e começamos a gritar como loucos. Foi uma festa enorme.”

“Não é algo que você pode prolongar”

Assim que soube do sequestro da irmã, Lea ingressou no fórum de familiares dos reféns israelenses, onde convivia com as famílias dos 251 sequestrados do dia 7 de outubro. Segundo ela, um grupo que tem se mostrado uma importante rede de apoio às vítimas, assim como uma fonte de pressão ao governo de Benjamin Netanyahu por acordos de cessar-fogo.

No Fórum, Lea conta ter criado vínculos com outras famílias, com quem não conseguiu se desvencilhar, mesmo após o resgate de Moran.

“Depois de 54 dias, minha irmã chegou. Mas então, olhei para outra família. Olhei para uma outra irmã que não conseguiu ter sua irmã de volta e ela me disse: ‘Eu tenho inveja, eu estou com ciúmes.’ E eu disse a ela: ‘Não tenha ciúmes. Você é minha irmã e eu vou estar ao seu lado.’ Estamos juntas nisso até o último dos reféns voltar. Porque… Como posso explicar? É quase como se fôssemos carne e sangue. Essa é uma experiência tão traumática e histórica para a humanidade que nós somos os mensageiros. Mas no final, pertencemos uma à outra. Realmente, é quase como se fosse mais do que a própria família (…) as pessoas precisam entender que isso não é algo que você pode prolongar. Isso é vida e morte a cada segundo. Isso é agonia. Isso é crueldade. Isso é uma tristeza que o corpo e a alma humana não podem suportar, simplesmente não podem suportar.”

O resgate dos reféns depende diretamente dos acordos de cessar-fogo entre o Estado de Israel e o Hamas, que tem pedido a libertação de palestinos em contrapartida. O último acordo celebrado, datado do final de fevereiro desde ano, previa a libertação de seis reféns israelenses com a soltura de 620 prisioneiros palestinos.

O acordo de paz previa uma segunda etapa de libertação, que finalizaria a liberação de reféns israelenses a partir do fim de operações israelenses em Gaza. Após discordâncias entre os dois lados, contudo, as Forças de Defesa de Israel realizaram uma série de ataques contra a Faixa de Gaza em 17 de março, rompendo com o cessar-fogo.



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