O príncipe Harry, conhecido por seu trabalho humanitário e por sua saída da monarquia britânica em 2020, está no centro de uma nova controvérsia que abala a Sentebale, organização que ele cofundou em 2006 para ajudar jovens afetados pelo HIV em Lesoto e Botsuana. A crise explodiu após Sophia Chandauka, presidente da ONG desde julho de 2023, acusá-lo de “assédio e intimidação em grande escala” em uma entrevista à Sky News, exibida no último domingo, dia 30 de março. A advogada zimbabuana, que assumiu a liderança da instituição com a promessa de modernizar sua gestão, alega que o duque de Sussex agiu de forma prejudicial à organização, impactando diretamente seus 540 membros e suas famílias. O caso, que já chegou à Justiça britânica e à Comissão de Caridade do Reino Unido, expõe uma batalha interna que ameaça o legado de uma das poucas iniciativas privadas mantidas por Harry após seu afastamento da realeza.
A Sentebale, criada em homenagem à princesa Diana, mãe de Harry, tem uma história de duas décadas dedicada a causas como saúde, combate à AIDS e apoio a comunidades vulneráveis na África. Contudo, a renúncia de Harry e do cofundador, príncipe Seeiso de Lesoto, ao cargo de patronos, anunciada na semana passada, marcou o início de um colapso público na estrutura da organização. A decisão veio em solidariedade a cinco membros do conselho de administração que deixaram seus postos após pedirem a saída de Chandauka, apontando perda de confiança em sua liderança. Em resposta, a presidente acionou a Alta Corte de Londres para tentar impedir sua destituição, intensificando o conflito que agora ganha destaque na mídia internacional.
Chandauka não mediu palavras ao descrever o que considera uma campanha orquestrada contra ela. Em suas declarações, ela afirmou que Harry autorizou a divulgação de informações danosas à Sentebale sem consultá-la ou outros diretores, uma atitude que, segundo ela, reflete um padrão de abuso de poder dentro da organização. “Você consegue imaginar o impacto desse ataque sobre mim e sobre os 540 membros da Sentebale e suas famílias?”, questionou na entrevista, reforçando que o episódio é apenas a ponta de um iceberg de problemas estruturais, incluindo misoginia e discriminação contra mulheres negras.
Origem do embate na Sentebale
A tensão entre Harry e Chandauka começou a se desenhar há cerca de um ano, quando a advogada assumiu a presidência do conselho da Sentebale. Com um currículo impressionante, que inclui passagens por empresas como Meta, Morgan Stanley e Virgin Group, ela trouxe uma visão ambiciosa de transformar a ONG, deslocando o foco da arrecadação de fundos de Londres para o sul da África e a costa oeste dos Estados Unidos. A mudança, no entanto, não foi bem recebida por todos. Fontes próximas ao conselho indicam que a decisão de contratar a empresa de estratégia Lebec, liderada por mulheres, por um custo significativo, gerou descontentamento entre os curadores, que viam a operação como arriscada e mal planejada.
Esse movimento estratégico acabou afastando doadores importantes, que tradicionalmente sustentavam a Sentebale por meio de eventos como a Taça de Polo anual. A perda de apoio financeiro foi um dos primeiros sinais de crise, mas o conflito escalou quando Chandauka denunciou o que chamou de “gestão executiva fraca” e “encobrimento” de práticas como bullying e assédio dentro da organização. Em um comunicado ao Daily Mail, ela destacou que sua luta não é apenas pessoal, mas uma defesa de princípios maiores. “Sou uma africana que teve o privilégio de uma educação e carreira de classe mundial. Não serei intimidada”, declarou, posicionando-se como uma voz para mulheres que não têm os mesmos recursos.
Enquanto isso, Harry e Seeiso emitiram uma nota conjunta descrevendo a situação como “devastadora” e afirmando que a relação com Chandauka havia se “rompido irreparavelmente”. Eles reforçaram que os curadores agiram no melhor interesse da ONG ao solicitar a saída da presidente, mas a resposta dela foi levar o caso à Justiça, o que aprofundou a crise e levou à debandada coletiva do conselho.
Acusações de assédio ganham força
Sophia Chandauka elevou o tom das denúncias ao acusar diretamente o príncipe Harry de tentar “forçar um fracasso” da Sentebale para, em seguida, “surgir como salvador”. Em sua entrevista à Sky News, ela afirmou que o duque de Sussex tomou decisões unilaterais que prejudicaram a imagem e a operação da organização, como a divulgação de informações sem consulta prévia. “Isso durou meses, com intimidação e assédio. Tenho provas disso”, declarou, sugerindo que o comportamento de Harry reflete uma tentativa de minar sua liderança.
A presidente também criticou o que chamou de “toxicidade” associada à figura pública de Harry. Segundo ela, as polêmicas que cercam o príncipe desde sua mudança para a Califórnia, em 2020, dificultaram a captação de recursos e a contratação de profissionais qualificados. “A imagem dele se tornou um risco número um para a própria organização que ele fundou”, disse Chandauka, apontando que a saída de doadores começou a se intensificar após o afastamento de Harry da monarquia britânica e as subsequentes controvérsias, como o lançamento do livro “Spare” e a série documental com Meghan Markle na Netflix.
Entre os episódios citados por Chandauka está um evento de arrecadação de fundos no ano passado, durante uma partida de polo. Harry levou uma equipe de filmagem da Netflix, com quem mantém um contrato lucrativo, para registrar o momento. As imagens, que incluíram uma interação pública com Meghan segurando um troféu, foram amplamente divulgadas, mas a presidente alega que o foco midiático desviou a atenção da missão da Sentebale, gerando mais críticas do que apoio financeiro.
- Principais denúncias de Chandauka contra Harry:
- Divulgação de informações prejudiciais sem consulta.
- Tentativa de forçar o fracasso da ONG para se promover.
- Cultura de assédio e intimidação em larga escala.
- Impacto negativo de sua imagem pública na captação de recursos.
Contexto histórico da Sentebale
Fundada em 2006 por Harry e Seeiso, a Sentebale nasceu de uma experiência pessoal do duque de Sussex. Aos 19 anos, ele passou dois meses no Lesoto, onde testemunhou os efeitos devastadores da epidemia de HIV/AIDS nas comunidades locais. Inspirado pelo legado de sua mãe, a princesa Diana, que foi uma defensora ativa da causa, Harry decidiu criar uma organização que significa “não me esqueça” em sesoto, a língua local do Lesoto. Desde então, a ONG expandiu suas operações para Botsuana e passou a abordar temas como abuso de substâncias, violência de gênero e mudanças climáticas.
Nos seus quase 20 anos de existência, a Sentebale se consolidou como uma referência no apoio a jovens em situações de vulnerabilidade na África. Antes da crise atual, a organização dependia fortemente de eventos de alto perfil e de uma rede restrita de doadores, muitos deles ligados à realeza britânica. A chegada de Chandauka, em 2023, marcou uma tentativa de romper com essa estrutura tradicional, mas os resultados foram controversos, levando ao confronto que agora domina as manchetes.
A saída de Harry do papel de patrono é particularmente significativa porque a Sentebale era uma das poucas iniciativas privadas que ele manteve após abandonar seus deveres reais. Mesmo vivendo na Califórnia com Meghan e os dois filhos, o príncipe continuou a apoiar a ONG, viajando ao Lesoto no ano passado a pedido de Chandauka para reforçar sua visibilidade. No entanto, esse esforço parece ter sido insuficiente para evitar o colapso interno.
Repercussão e disputa judicial
A crise na Sentebale não se limita aos embates públicos entre Harry e Chandauka. O caso foi levado à Comissão de Caridade do Reino Unido, que regula organizações beneficentes na Inglaterra e no País de Gales, e está sob avaliação para determinar se houve falhas de governança. Paralelamente, a Alta Corte de Londres analisa a ação movida por Chandauka para impedir sua destituição, um processo que já resultou na renúncia coletiva de cinco curadores: Timothy Boucher, Mark Dyer, Audrey Kgosidintsi, Kelello Lerotholi e Damian West.
Kelello Lerotholi, ex-membro do conselho, rejeitou as acusações de Chandauka em entrevista à Sky News, classificando-as como infundadas. Já Lynda Chalker, que dirigiu a Sentebale por quase duas décadas antes de deixar o cargo, descreveu o estilo de liderança da presidente como “quase ditatorial”, sugerindo que o conflito reflete divergências irreconciliáveis sobre a direção da organização. Apesar das críticas, Chandauka mantém sua posição, afirmando que sua luta é pela “integridade da missão” e pelos jovens atendidos pela ONG.
Enquanto isso, Harry e Meghan permanecem em silêncio sobre as acusações mais recentes. Um porta-voz do casal recusou-se a comentar as declarações feitas no programa “Sunday Morning with Trevor Phillips”, e fontes próximas ao duque descreveram as alegações de Chandauka como “completamente infundadas”. A ausência de uma resposta oficial só aumenta a especulação sobre os próximos passos do príncipe em relação à Sentebale.
Cronologia da crise na Sentebale
A seguir, um resumo dos eventos que marcaram o conflito na organização:
- Julho de 2023: Sophia Chandauka assume a presidência do conselho da Sentebale.
- Início de 2024: Tensões surgem com a mudança na estratégia de arrecadação de fundos.
- Março de 2025: Cinco curadores pedem a renúncia de Chandauka e deixam o conselho.
- 26 de março: Harry e Seeiso anunciam sua saída como patronos da ONG.
- 29 de março: Chandauka acusa Harry de assédio em entrevista à Sky News.
- 31 de março: Caso segue sob análise da Justiça britânica e da Comissão de Caridade.
Impacto nas operações da ONG
Apesar da crise de liderança, Chandauka insiste que a Sentebale continuará funcionando. “A organização existe graças às pessoas que trabalham na África todos os dias”, afirmou, destacando que o trabalho de campo segue ativo em Lesoto e Botsuana. No entanto, a perda de doadores e a saída de figuras-chave como Harry levantam dúvidas sobre a sustentabilidade financeira da ONG no curto prazo. A dependência histórica de eventos como a Taça de Polo, que atraía beneméritos de alto perfil, foi abalada pelas mudanças propostas pela presidente, e a reputação da organização agora enfrenta um teste crucial.
A expansão das atividades para temas como violência de gênero e mudanças climáticas, iniciada sob a gestão de Chandauka, também está em xeque. Embora a diversificação tenha sido vista como um passo positivo por alguns apoiadores, a falta de consenso interno e os custos associados às novas estratégias alimentaram as críticas dos curadores dissidentes. Para muitos observadores, o futuro da Sentebale dependerá de como a Justiça e a Comissão de Caridade resolverão o impasse.
Para os beneficiários da ONG, o impacto da crise já é sentido. Com 540 indivíduos diretamente ligados às operações, além de suas famílias, a instabilidade ameaça projetos que oferecem suporte essencial em comunidades marcadas pela pobreza e pela epidemia de HIV. Chandauka enfatizou que sua prioridade é proteger esses jovens, mas a guerra de narrativas com Harry e os ex-curadores dificulta a manutenção da confiança pública.
A imagem pública de Harry em jogo
Desde que deixou a monarquia britânica, Harry tem enfrentado um escrutínio constante sobre suas ações e escolhas. O lançamento de “Spare”, em 2023, onde expôs detalhes de sua vida na realeza, e a série documental com Meghan na Netflix já haviam polarizado opiniões sobre o casal. Agora, as acusações de Chandauka adicionam uma nova camada de complexidade à sua reputação, especialmente por envolver uma causa tão ligada ao legado de sua mãe.
A presidente da Sentebale foi além ao revelar que a equipe de Harry a pressionou para defender Meghan contra críticas da mídia, um pedido que ela recusou para preservar a independência da ONG. Esse detalhe, mencionado em entrevista ao Financial Times, sugere que as polêmicas pessoais do casal podem ter influenciado a dinâmica interna da organização, algo que Chandauka considera incompatível com os valores de um mundo “pós-Black Lives Matter”.
Enquanto o silêncio de Harry persiste, a percepção pública sobre seu papel na crise varia. Alguns o veem como uma vítima de uma liderança problemática na Sentebale, enquanto outros questionam se sua saída abrupta foi uma tentativa de evitar responsabilidades. O que é certo é que o escândalo coloca em xeque sua imagem como defensor de causas humanitárias, um pilar central de sua identidade pública desde que deixou o Reino Unido.
O que está em disputa na Justiça
O litígio na Alta Corte de Londres e a investigação da Comissão de Caridade representam o próximo capítulo da crise. Chandauka busca garantir sua permanência na presidência, alegando que sua destituição seria injusta e motivada por discriminação. Já os curadores e Harry argumentam que a saída dela é essencial para restaurar a estabilidade da Sentebale, apontando falhas em sua gestão como a causa raiz do problema.
A Comissão de Caridade, por sua vez, confirmou estar “avaliando as questões” para determinar se houve violações nas normas de governança. O processo pode levar semanas ou meses, dependendo da complexidade das evidências apresentadas por ambas as partes. Até lá, a Sentebale permanece em um limbo administrativo, com sua reputação e operações sob pressão crescente.
Para Chandauka, o embate vai além de uma disputa de poder. “Tudo o que faço é em prol da integridade da organização e dos jovens que servimos”, afirmou, reforçando seu compromisso com a missão original da ONG. A advogada, que cresceu no Zimbábue e construiu uma carreira global, vê sua luta como um símbolo de resistência contra o que descreve como um sistema que protege privilégios em detrimento da justiça.
Reações na África e no Reino Unido
Na África, onde a Sentebale opera, a crise tem gerado preocupação entre as comunidades atendidas. Líderes locais em Lesoto e Botsuana expressaram apoio ao trabalho da ONG, mas evitaram tomar partido no conflito, focando na continuidade dos projetos. A expansão para Botsuana, iniciada nos últimos anos, foi bem recebida, mas a incerteza atual pode atrasar novas iniciativas planejadas para 2025.
No Reino Unido, o caso reacendeu debates sobre o papel de Harry após sua saída da realeza. A imprensa britânica, frequentemente crítica ao duque, tem explorado as acusações de Chandauka como mais um capítulo nas tensões entre ele e as instituições tradicionais. A conexão com o legado de Diana, no entanto, mantém a Sentebale como um ponto sensível, com muitos pedindo uma resolução que preserve sua missão humanitária.
Entre os apoiadores da ONG, há uma mistura de frustração e esperança. Alguns defendem Chandauka por sua coragem em enfrentar o que considera injustiças, enquanto outros lamentam a saída de Harry, visto como uma figura essencial para atrair visibilidade global. A polarização reflete os desafios de equilibrar liderança, carisma e governança em uma organização beneficente de alto perfil.
- Possíveis desdobramentos da crise:
- Decisão judicial favorável a Chandauka, mantendo-a na presidência.
- Saída definitiva da presidente e reestruturação do conselho.
- Impacto financeiro duradouro com a perda de mais doadores.
- Retorno de Harry em um papel consultivo para salvar a ONG.

O príncipe Harry, conhecido por seu trabalho humanitário e por sua saída da monarquia britânica em 2020, está no centro de uma nova controvérsia que abala a Sentebale, organização que ele cofundou em 2006 para ajudar jovens afetados pelo HIV em Lesoto e Botsuana. A crise explodiu após Sophia Chandauka, presidente da ONG desde julho de 2023, acusá-lo de “assédio e intimidação em grande escala” em uma entrevista à Sky News, exibida no último domingo, dia 30 de março. A advogada zimbabuana, que assumiu a liderança da instituição com a promessa de modernizar sua gestão, alega que o duque de Sussex agiu de forma prejudicial à organização, impactando diretamente seus 540 membros e suas famílias. O caso, que já chegou à Justiça britânica e à Comissão de Caridade do Reino Unido, expõe uma batalha interna que ameaça o legado de uma das poucas iniciativas privadas mantidas por Harry após seu afastamento da realeza.
A Sentebale, criada em homenagem à princesa Diana, mãe de Harry, tem uma história de duas décadas dedicada a causas como saúde, combate à AIDS e apoio a comunidades vulneráveis na África. Contudo, a renúncia de Harry e do cofundador, príncipe Seeiso de Lesoto, ao cargo de patronos, anunciada na semana passada, marcou o início de um colapso público na estrutura da organização. A decisão veio em solidariedade a cinco membros do conselho de administração que deixaram seus postos após pedirem a saída de Chandauka, apontando perda de confiança em sua liderança. Em resposta, a presidente acionou a Alta Corte de Londres para tentar impedir sua destituição, intensificando o conflito que agora ganha destaque na mídia internacional.
Chandauka não mediu palavras ao descrever o que considera uma campanha orquestrada contra ela. Em suas declarações, ela afirmou que Harry autorizou a divulgação de informações danosas à Sentebale sem consultá-la ou outros diretores, uma atitude que, segundo ela, reflete um padrão de abuso de poder dentro da organização. “Você consegue imaginar o impacto desse ataque sobre mim e sobre os 540 membros da Sentebale e suas famílias?”, questionou na entrevista, reforçando que o episódio é apenas a ponta de um iceberg de problemas estruturais, incluindo misoginia e discriminação contra mulheres negras.
Origem do embate na Sentebale
A tensão entre Harry e Chandauka começou a se desenhar há cerca de um ano, quando a advogada assumiu a presidência do conselho da Sentebale. Com um currículo impressionante, que inclui passagens por empresas como Meta, Morgan Stanley e Virgin Group, ela trouxe uma visão ambiciosa de transformar a ONG, deslocando o foco da arrecadação de fundos de Londres para o sul da África e a costa oeste dos Estados Unidos. A mudança, no entanto, não foi bem recebida por todos. Fontes próximas ao conselho indicam que a decisão de contratar a empresa de estratégia Lebec, liderada por mulheres, por um custo significativo, gerou descontentamento entre os curadores, que viam a operação como arriscada e mal planejada.
Esse movimento estratégico acabou afastando doadores importantes, que tradicionalmente sustentavam a Sentebale por meio de eventos como a Taça de Polo anual. A perda de apoio financeiro foi um dos primeiros sinais de crise, mas o conflito escalou quando Chandauka denunciou o que chamou de “gestão executiva fraca” e “encobrimento” de práticas como bullying e assédio dentro da organização. Em um comunicado ao Daily Mail, ela destacou que sua luta não é apenas pessoal, mas uma defesa de princípios maiores. “Sou uma africana que teve o privilégio de uma educação e carreira de classe mundial. Não serei intimidada”, declarou, posicionando-se como uma voz para mulheres que não têm os mesmos recursos.
Enquanto isso, Harry e Seeiso emitiram uma nota conjunta descrevendo a situação como “devastadora” e afirmando que a relação com Chandauka havia se “rompido irreparavelmente”. Eles reforçaram que os curadores agiram no melhor interesse da ONG ao solicitar a saída da presidente, mas a resposta dela foi levar o caso à Justiça, o que aprofundou a crise e levou à debandada coletiva do conselho.
Acusações de assédio ganham força
Sophia Chandauka elevou o tom das denúncias ao acusar diretamente o príncipe Harry de tentar “forçar um fracasso” da Sentebale para, em seguida, “surgir como salvador”. Em sua entrevista à Sky News, ela afirmou que o duque de Sussex tomou decisões unilaterais que prejudicaram a imagem e a operação da organização, como a divulgação de informações sem consulta prévia. “Isso durou meses, com intimidação e assédio. Tenho provas disso”, declarou, sugerindo que o comportamento de Harry reflete uma tentativa de minar sua liderança.
A presidente também criticou o que chamou de “toxicidade” associada à figura pública de Harry. Segundo ela, as polêmicas que cercam o príncipe desde sua mudança para a Califórnia, em 2020, dificultaram a captação de recursos e a contratação de profissionais qualificados. “A imagem dele se tornou um risco número um para a própria organização que ele fundou”, disse Chandauka, apontando que a saída de doadores começou a se intensificar após o afastamento de Harry da monarquia britânica e as subsequentes controvérsias, como o lançamento do livro “Spare” e a série documental com Meghan Markle na Netflix.
Entre os episódios citados por Chandauka está um evento de arrecadação de fundos no ano passado, durante uma partida de polo. Harry levou uma equipe de filmagem da Netflix, com quem mantém um contrato lucrativo, para registrar o momento. As imagens, que incluíram uma interação pública com Meghan segurando um troféu, foram amplamente divulgadas, mas a presidente alega que o foco midiático desviou a atenção da missão da Sentebale, gerando mais críticas do que apoio financeiro.
- Principais denúncias de Chandauka contra Harry:
- Divulgação de informações prejudiciais sem consulta.
- Tentativa de forçar o fracasso da ONG para se promover.
- Cultura de assédio e intimidação em larga escala.
- Impacto negativo de sua imagem pública na captação de recursos.
Contexto histórico da Sentebale
Fundada em 2006 por Harry e Seeiso, a Sentebale nasceu de uma experiência pessoal do duque de Sussex. Aos 19 anos, ele passou dois meses no Lesoto, onde testemunhou os efeitos devastadores da epidemia de HIV/AIDS nas comunidades locais. Inspirado pelo legado de sua mãe, a princesa Diana, que foi uma defensora ativa da causa, Harry decidiu criar uma organização que significa “não me esqueça” em sesoto, a língua local do Lesoto. Desde então, a ONG expandiu suas operações para Botsuana e passou a abordar temas como abuso de substâncias, violência de gênero e mudanças climáticas.
Nos seus quase 20 anos de existência, a Sentebale se consolidou como uma referência no apoio a jovens em situações de vulnerabilidade na África. Antes da crise atual, a organização dependia fortemente de eventos de alto perfil e de uma rede restrita de doadores, muitos deles ligados à realeza britânica. A chegada de Chandauka, em 2023, marcou uma tentativa de romper com essa estrutura tradicional, mas os resultados foram controversos, levando ao confronto que agora domina as manchetes.
A saída de Harry do papel de patrono é particularmente significativa porque a Sentebale era uma das poucas iniciativas privadas que ele manteve após abandonar seus deveres reais. Mesmo vivendo na Califórnia com Meghan e os dois filhos, o príncipe continuou a apoiar a ONG, viajando ao Lesoto no ano passado a pedido de Chandauka para reforçar sua visibilidade. No entanto, esse esforço parece ter sido insuficiente para evitar o colapso interno.
Repercussão e disputa judicial
A crise na Sentebale não se limita aos embates públicos entre Harry e Chandauka. O caso foi levado à Comissão de Caridade do Reino Unido, que regula organizações beneficentes na Inglaterra e no País de Gales, e está sob avaliação para determinar se houve falhas de governança. Paralelamente, a Alta Corte de Londres analisa a ação movida por Chandauka para impedir sua destituição, um processo que já resultou na renúncia coletiva de cinco curadores: Timothy Boucher, Mark Dyer, Audrey Kgosidintsi, Kelello Lerotholi e Damian West.
Kelello Lerotholi, ex-membro do conselho, rejeitou as acusações de Chandauka em entrevista à Sky News, classificando-as como infundadas. Já Lynda Chalker, que dirigiu a Sentebale por quase duas décadas antes de deixar o cargo, descreveu o estilo de liderança da presidente como “quase ditatorial”, sugerindo que o conflito reflete divergências irreconciliáveis sobre a direção da organização. Apesar das críticas, Chandauka mantém sua posição, afirmando que sua luta é pela “integridade da missão” e pelos jovens atendidos pela ONG.
Enquanto isso, Harry e Meghan permanecem em silêncio sobre as acusações mais recentes. Um porta-voz do casal recusou-se a comentar as declarações feitas no programa “Sunday Morning with Trevor Phillips”, e fontes próximas ao duque descreveram as alegações de Chandauka como “completamente infundadas”. A ausência de uma resposta oficial só aumenta a especulação sobre os próximos passos do príncipe em relação à Sentebale.
Cronologia da crise na Sentebale
A seguir, um resumo dos eventos que marcaram o conflito na organização:
- Julho de 2023: Sophia Chandauka assume a presidência do conselho da Sentebale.
- Início de 2024: Tensões surgem com a mudança na estratégia de arrecadação de fundos.
- Março de 2025: Cinco curadores pedem a renúncia de Chandauka e deixam o conselho.
- 26 de março: Harry e Seeiso anunciam sua saída como patronos da ONG.
- 29 de março: Chandauka acusa Harry de assédio em entrevista à Sky News.
- 31 de março: Caso segue sob análise da Justiça britânica e da Comissão de Caridade.
Impacto nas operações da ONG
Apesar da crise de liderança, Chandauka insiste que a Sentebale continuará funcionando. “A organização existe graças às pessoas que trabalham na África todos os dias”, afirmou, destacando que o trabalho de campo segue ativo em Lesoto e Botsuana. No entanto, a perda de doadores e a saída de figuras-chave como Harry levantam dúvidas sobre a sustentabilidade financeira da ONG no curto prazo. A dependência histórica de eventos como a Taça de Polo, que atraía beneméritos de alto perfil, foi abalada pelas mudanças propostas pela presidente, e a reputação da organização agora enfrenta um teste crucial.
A expansão das atividades para temas como violência de gênero e mudanças climáticas, iniciada sob a gestão de Chandauka, também está em xeque. Embora a diversificação tenha sido vista como um passo positivo por alguns apoiadores, a falta de consenso interno e os custos associados às novas estratégias alimentaram as críticas dos curadores dissidentes. Para muitos observadores, o futuro da Sentebale dependerá de como a Justiça e a Comissão de Caridade resolverão o impasse.
Para os beneficiários da ONG, o impacto da crise já é sentido. Com 540 indivíduos diretamente ligados às operações, além de suas famílias, a instabilidade ameaça projetos que oferecem suporte essencial em comunidades marcadas pela pobreza e pela epidemia de HIV. Chandauka enfatizou que sua prioridade é proteger esses jovens, mas a guerra de narrativas com Harry e os ex-curadores dificulta a manutenção da confiança pública.
A imagem pública de Harry em jogo
Desde que deixou a monarquia britânica, Harry tem enfrentado um escrutínio constante sobre suas ações e escolhas. O lançamento de “Spare”, em 2023, onde expôs detalhes de sua vida na realeza, e a série documental com Meghan na Netflix já haviam polarizado opiniões sobre o casal. Agora, as acusações de Chandauka adicionam uma nova camada de complexidade à sua reputação, especialmente por envolver uma causa tão ligada ao legado de sua mãe.
A presidente da Sentebale foi além ao revelar que a equipe de Harry a pressionou para defender Meghan contra críticas da mídia, um pedido que ela recusou para preservar a independência da ONG. Esse detalhe, mencionado em entrevista ao Financial Times, sugere que as polêmicas pessoais do casal podem ter influenciado a dinâmica interna da organização, algo que Chandauka considera incompatível com os valores de um mundo “pós-Black Lives Matter”.
Enquanto o silêncio de Harry persiste, a percepção pública sobre seu papel na crise varia. Alguns o veem como uma vítima de uma liderança problemática na Sentebale, enquanto outros questionam se sua saída abrupta foi uma tentativa de evitar responsabilidades. O que é certo é que o escândalo coloca em xeque sua imagem como defensor de causas humanitárias, um pilar central de sua identidade pública desde que deixou o Reino Unido.
O que está em disputa na Justiça
O litígio na Alta Corte de Londres e a investigação da Comissão de Caridade representam o próximo capítulo da crise. Chandauka busca garantir sua permanência na presidência, alegando que sua destituição seria injusta e motivada por discriminação. Já os curadores e Harry argumentam que a saída dela é essencial para restaurar a estabilidade da Sentebale, apontando falhas em sua gestão como a causa raiz do problema.
A Comissão de Caridade, por sua vez, confirmou estar “avaliando as questões” para determinar se houve violações nas normas de governança. O processo pode levar semanas ou meses, dependendo da complexidade das evidências apresentadas por ambas as partes. Até lá, a Sentebale permanece em um limbo administrativo, com sua reputação e operações sob pressão crescente.
Para Chandauka, o embate vai além de uma disputa de poder. “Tudo o que faço é em prol da integridade da organização e dos jovens que servimos”, afirmou, reforçando seu compromisso com a missão original da ONG. A advogada, que cresceu no Zimbábue e construiu uma carreira global, vê sua luta como um símbolo de resistência contra o que descreve como um sistema que protege privilégios em detrimento da justiça.
Reações na África e no Reino Unido
Na África, onde a Sentebale opera, a crise tem gerado preocupação entre as comunidades atendidas. Líderes locais em Lesoto e Botsuana expressaram apoio ao trabalho da ONG, mas evitaram tomar partido no conflito, focando na continuidade dos projetos. A expansão para Botsuana, iniciada nos últimos anos, foi bem recebida, mas a incerteza atual pode atrasar novas iniciativas planejadas para 2025.
No Reino Unido, o caso reacendeu debates sobre o papel de Harry após sua saída da realeza. A imprensa britânica, frequentemente crítica ao duque, tem explorado as acusações de Chandauka como mais um capítulo nas tensões entre ele e as instituições tradicionais. A conexão com o legado de Diana, no entanto, mantém a Sentebale como um ponto sensível, com muitos pedindo uma resolução que preserve sua missão humanitária.
Entre os apoiadores da ONG, há uma mistura de frustração e esperança. Alguns defendem Chandauka por sua coragem em enfrentar o que considera injustiças, enquanto outros lamentam a saída de Harry, visto como uma figura essencial para atrair visibilidade global. A polarização reflete os desafios de equilibrar liderança, carisma e governança em uma organização beneficente de alto perfil.
- Possíveis desdobramentos da crise:
- Decisão judicial favorável a Chandauka, mantendo-a na presidência.
- Saída definitiva da presidente e reestruturação do conselho.
- Impacto financeiro duradouro com a perda de mais doadores.
- Retorno de Harry em um papel consultivo para salvar a ONG.
