O Japão enfrenta uma ameaça iminente que pode alterar drasticamente sua realidade. Um relatório divulgado pelo governo na última segunda-feira estima que um megaterremoto na região do Nankai Trough, na costa do Pacífico, tem 80% de probabilidade de ocorrer nas próximas três décadas. Com magnitude entre 8 e 9, o evento poderia desencadear tsunamis devastadores, colapsos de construções e um impacto econômico avassalador de R$ 10,3 trilhões, equivalente a quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A projeção aponta ainda para a morte de cerca de 298 mil pessoas e a necessidade de evacuação de 1,23 milhão de residentes, destacando a urgência de medidas preventivas em uma nação já marcada por desastres sísmicos.
Esse cenário alarmante reflete uma atualização de estimativas anteriores, que previam prejuízos de R$ 8,2 trilhões. A revisão considerou fatores como pressões inflacionárias e novos dados sobre o terreno, que indicam uma expansão nas áreas suscetíveis a inundações. Localizado em uma zona de subducção tectônica, o Nankai Trough é conhecido por sua capacidade de gerar tremores catastróficos, e o relatório reforça a necessidade de preparação para um evento que pode superar em escala os desastres já vivenciados pelo país, como o terremoto de magnitude 9 de 2011, que deixou mais de 15 mil mortos.
🇯🇵 | Estudos no Japão preveem megaterremoto de magnitude entre 8 e 9 em breve com poder de matar mais de 10 mil pessoas e causar prejuízo de 2 trilhões ao país.
Estudos são feitos em área de choque de placas tectônicas que têm elevado grau de instabilidade.#ttsnews pic.twitter.com/gATPHgFDmB
— TTs Brasil: News 📰 (@TTsBrasilNews) April 1, 2025
A população japonesa, acostumada a conviver com a atividade sísmica, agora encara números que impressionam. Em um contexto de magnitude 9, cerca de 1% dos habitantes do país poderia ser diretamente afetado, especialmente em condições críticas, como durante a noite no inverno, quando a resposta a emergências se torna mais desafiadora. O governo alerta que os tsunamis, aliados ao colapso de centenas de edificações, seriam os principais responsáveis pelas vítimas, colocando em xeque a infraestrutura e a resiliência das comunidades costeiras.
Ameaça geológica no horizonte
Situado ao longo de 900 quilômetros na costa sudoeste do Pacífico, o Nankai Trough é uma zona de subducção onde a Placa do Mar das Filipinas mergulha sob a Placa Eurasiática. Esse movimento, que ocorre a uma velocidade de 3 a 5 centímetros por ano, acumula tensões que, historicamente, resultam em megaterremotos a cada 100 a 150 anos. O último evento significativo na região foi registrado em 1946, com magnitude 8, e causou 1,3 mil mortes. Antes disso, em 1944, outro tremor de magnitude 7,9 abalou a área, evidenciando a recorrência desses fenômenos.
A história sísmica do Japão revela um padrão preocupante. Em 1707, o terremoto Hoei, de magnitude 8,6, gerou um tsunami devastador e foi seguido pela erupção do Monte Fuji, marcando um dos episódios mais letais da região. Já em 1854, dois tremores de magnitude 8,4 ocorreram com apenas 32 horas de intervalo, demonstrando a possibilidade de eventos em sequência. Esses registros reforçam a percepção de que o Nankai Trough está próximo de um novo ciclo de ruptura, o que eleva a tensão entre especialistas e autoridades.
Com base nesses dados, a probabilidade de um megaterremoto nos próximos 30 anos foi ajustada para cerca de 80%, um leve aumento em relação à faixa de 70% a 80% estimada anteriormente. A atualização anual, realizada em janeiro, considera o tempo decorrido desde os últimos eventos e a atividade sísmica contínua no país, como os tremores de magnitude 6 registrados desde o início de 2024 na Península de Noto.
Impactos devastadores previstos
O relatório governamental detalha um cenário sombrio para o Japão. Um terremoto de magnitude 9 no Nankai Trough poderia gerar tsunamis com alturas superiores a 30 metros em algumas áreas costeiras, inundando uma área 30% maior do que nas projeções anteriores. Essa ampliação das zonas de risco reflete avanços na análise de topografia e condições do solo, que indicam maior vulnerabilidade a inundações em regiões antes consideradas seguras.
Além disso, o colapso de construções seria responsável por uma parcela significativa das 298 mil mortes estimadas. Em um contexto de inverno noturno, a combinação de temperaturas baixas, dificuldade de mobilidade e resposta lenta das equipes de resgate poderia agravar o número de vítimas. Cerca de 12,3 milhões de pessoas, equivalente a 10% da população japonesa, seriam forçadas a abandonar suas casas, gerando uma crise humanitária sem precedentes.
O impacto econômico também assusta. Os R$ 10,3 trilhões em danos diretos superam em muito os custos do terremoto de Tohoku, em 2011, que chegaram a R$ 2 trilhões. A diferença se explica pela densidade populacional e pela concentração de indústrias nas áreas afetadas pelo Nankai Trough, incluindo setores como automobilístico, siderúrgico e eletrônico, vitais para a economia global.
Medidas de preparação em foco
Diante da gravidade da ameaça, o Japão intensifica esforços para mitigar os danos. Desde o terremoto de 2011, que expôs fragilidades na infraestrutura e na resposta a desastres, o país revisou suas estratégias de prevenção. A construção de edifícios mais resistentes e a ampliação de instalações de evacuação para tsunamis reduziram a estimativa de mortes de 323 mil, projetada em 2012, para as atuais 298 mil.
Entre as ações recomendadas, está a preparação de suprimentos de emergência para pelo menos uma semana, incluindo 3 litros de água por pessoa por dia. O governo também incentiva a checagem regular de rotas de evacuação e a fixação de móveis para minimizar riscos em casa. Em áreas costeiras, a construção de barreiras contra tsunamis e a elevação de terrenos têm sido priorizadas, embora especialistas alertem que essas medidas podem não ser suficientes contra ondas de 30 metros.
- Reforço de edificações com padrões antiseísmicos mais rigorosos.
- Treinamentos regulares de evacuação em comunidades vulneráveis.
- Monitoramento constante da atividade tectônica no Nankai Trough.
- Campanhas educativas para conscientizar a população sobre riscos sísmicos.
Lições do passado e desafios futuros
Recordar os desastres anteriores é essencial para entender a magnitude do que está por vir. O terremoto de Tohoku, em 2011, foi um marco na história recente do Japão. Com magnitude 9,1, ele gerou ondas de até 38 metros, destruiu mais de 120 mil casas e causou o colapso de reatores na usina de Fukushima, resultando em uma crise nuclear que ainda impacta a região. Mais de 18 mil pessoas morreram ou desapareceram, e o custo econômico foi estimado em R$ 2 trilhões.
Outro evento significativo ocorreu em 1944, quando o terremoto Tonankai, de magnitude 7,9, atingiu a parte leste do Nankai Trough. Dois anos depois, em 1946, o terremoto Nankai, de magnitude 8, devastou a porção oeste, matando 1,3 mil pessoas com um tsunami de 6,9 metros. Esses episódios, frequentemente em pares, sugerem que um novo megaterremoto pode não vir sozinho, aumentando a complexidade da preparação.
A possibilidade de rupturas simultâneas ou sequenciais na falha preocupa os cientistas. Estudos indicam que a probabilidade de dois tremores de magnitude 8 ou superior ocorrerem em um intervalo de três anos varia entre 4,3% e 96%, dependendo dos modelos estatísticos utilizados. Essa incerteza dificulta previsões exatas, mas reforça a necessidade de vigilância constante.
Regiões em alerta máximo
As áreas mais vulneráveis ao megaterremoto estão concentradas na costa do Pacífico, de Shizuoka a Miyazaki. Municípios como Kuroshio e Tosashimizu, em Kochi, podem enfrentar tsunamis de até 34 metros, enquanto Shimoda, em Shizuoka, está na rota de ondas de 33 metros. Essas projeções indicam que cidades densamente povoadas e com alta atividade econômica seriam severamente atingidas.
A densidade populacional agrava o risco. Cerca de metade dos 120 milhões de habitantes do Japão vive em regiões que podem ser afetadas direta ou indiretamente pelo evento. Além disso, a presença de 12 reatores nucleares em Kyushu e Shikoku, que permanecem seguros segundo autoridades, reacende temores de um novo Fukushima em caso de falhas imprevisíveis.
O relatório também destaca que áreas previamente consideradas fora do alcance de tsunamis, como partes de Fukushima e Okinawa, agora entram na zona de inundação de 3 metros ou mais, ampliando o desafio logístico de evacuação e reconstrução.
Cronograma sísmico no Nankai Trough
Abaixo, um panorama dos principais eventos sísmicos registrados na região, que ilustra a periodicidade e a potência dos tremores:
- 684: Terremoto Hakuho (magnitude estimada em 8), início dos registros históricos.
- 1707: Terremoto Hoei (magnitude 8,6), tsunami e erupção do Monte Fuji.
- 1854: Terremotos Ansei Tokai e Nankai (magnitude 8,4 cada), em sequência.
- 1944: Terremoto Tonankai (magnitude 7,9), parte leste do Nankai Trough.
- 1946: Terremoto Nankai (magnitude 8), parte oeste, com 1,3 mil mortes.
- 2011: Terremoto Tohoku (magnitude 9,1), referência para projeções atuais.
Alerta reforçado após eventos recentes
Em agosto do ano passado, o Japão emitiu seu primeiro alerta de megaterremoto após um tremor de magnitude 7,1 na borda do Nankai Trough. O evento, ocorrido na costa de Miyazaki, gerou ondas de até 50 centímetros e feriu três pessoas, mas serviu como um lembrete da proximidade do risco. Especialistas analisaram que a possibilidade de um evento maior aumentou “múltiplas vezes” após o incidente, levando o governo a pedir vigilância por uma semana.
A resposta foi imediata: o primeiro-ministro cancelou uma viagem internacional para coordenar preparativos, e a população foi orientada a revisar planos de evacuação. Apesar de danos leves, como deslizamentos e falhas em semáforos, o episódio reacendeu o debate sobre a capacidade do país de prever e enfrentar um desastre de proporções históricas.
Desde então, a atividade sísmica não deu trégua. Em janeiro deste ano, tremores de magnitude 6 na Península de Noto intensificaram o monitoramento, embora não estejam diretamente ligados ao Nankai Trough. Esses eventos mantêm a nação em alerta, com especialistas observando que a frequência de abalos pode indicar um período de maior instabilidade tectônica.
Preparação contra o tempo
Mitigar os efeitos de um megaterremoto exige ações em várias frentes. O Japão já é referência em engenharia antiseísmica, mas o relatório aponta que apenas 79% dos edifícios atendem aos padrões mais recentes. A meta é alcançar 100% nos próximos anos, uma tarefa que exige investimentos bilionários e coordenação entre governo, empresas e cidadãos.
A educação da população também é crucial. Exercícios de evacuação, como os realizados em Wakayama com a West Japan Railway, simulam cenários de tsunamis e ajudam a reduzir o tempo de resposta. Em algumas áreas, o alerta pode chegar com apenas dois minutos de antecedência, tornando a preparação prévia uma questão de sobrevivência.
Os desafios logísticos são imensos. Estradas danificadas, como as que isolaram comunidades após o terremoto de Noto em 2024, podem dificultar resgates e distribuição de suprimentos. O envelhecimento da população japonesa, aliado ao declínio demográfico, agrava a situação, reduzindo a capacidade de resposta coletiva em um momento crítico.
Curiosidades sobre o Nankai Trough
Alguns fatos destacam a singularidade e a gravidade da ameaça sísmica na região:
- O Nankai Trough é dividido em cinco segmentos (A a E), que podem romper juntos ou separadamente.
- Tsunamis de até 10 metros são comuns em eventos de magnitude 8, mas um magnitude 9 pode triplicar essa altura.
- A falha já causou 12 grandes terremotos nos últimos 1,3 mil anos, segundo registros históricos.
- Em Hong Kong, a 600 km do Japão, tsunamis do Nankai Trough podem gerar anomalias de 20 centímetros no nível do mar.
Tecnologia e ciência em ação
Avanços científicos têm sido fundamentais para mapear o risco. Simulações de tsunamis, baseadas em modelos de ruptura tectônica, permitem prever a altura das ondas e o tempo de chegada às costas. Em um evento de magnitude 9,1, as ondas atingiriam o sudeste de Hong Kong em cerca de seis horas, com impactos menores, mas perceptíveis.
No Japão, sensores submarinos e sistemas de GPS monitoram o deslocamento das placas, enquanto a Agência Meteorológica Japonesa (JMA) analisa anomalias como deslizamentos lentos ou tremores menores. Esses dados ajudam a refinar as projeções, mas a imprevisibilidade dos terremotos segue como um obstáculo. Mesmo com tecnologia de ponta, a ciência ainda não pode determinar o dia exato de um megaterremoto.
A colaboração internacional também cresce. Após o alerta de agosto, especialistas de outros países sísmicos, como Chile e Estados Unidos, compartilharam experiências sobre zonas de subducção, como a Falha de Cascadia, que apresenta riscos semelhantes. Essas trocas fortalecem as estratégias japonesas, mas o tempo é um fator limitante.
Economia global em xeque
O impacto de um megaterremoto no Nankai Trough transcende as fronteiras do Japão. A região afetada abriga centros industriais que produzem carros, eletrônicos e aço, essenciais para cadeias de suprimentos globais. Uma paralisação prolongada poderia custar trilhões adicionais em perdas indiretas, afetando mercados na Ásia, Europa e Américas.
Empresas como Toyota e Sony, com fábricas próximas à costa do Pacífico, já investem em planos de contingência, mas a escala do desastre projetado desafia até as maiores corporações. O relatório estima que os danos econômicos totais, incluindo interrupções de longo prazo, podem chegar a R$ 13 trilhões em 20 anos, dez vezes mais que os custos do terremoto de 2011.
A reconstrução seria outro gargalo. Com uma área 30% maior inundada e milhões de desalojados, o Japão enfrentaria dificuldades para financiar a recuperação, especialmente com uma população envelhecida e uma dívida pública elevada. A solidariedade internacional seria essencial, mas a logística de ajuda em larga escala é complexa.
Um país à espera do inevitável
Viver sob a sombra de um megaterremoto é parte da realidade japonesa. A cultura de preparação, forjada por séculos de desastres, molda desde a arquitetura até o comportamento social. Escolas ensinam crianças a se protegerem, e sirenes de alerta são testadas regularmente. Ainda assim, o relatório de 298 mil mortes potenciais reacende o senso de urgência em um povo resiliente, mas ciente de sua vulnerabilidade.
A experiência de eventos menores, como o tremor de magnitude 6,6 em Miyazaki em janeiro, mantém as autoridades em alerta. Embora não tenha causado vítimas, ele danificou tubulações e reforçou a percepção de que o próximo grande evento pode estar mais perto do que se imagina. A cada abalo, o Japão testa sua capacidade de resposta, mas o verdadeiro teste virá com o Nankai Trough.
O governo agora planeja revisar o Plano Básico de 2014, que define metas de mitigação, até o meio deste ano. A inclusão de mortes indiretas, estimadas entre 26 mil e 52 mil, é uma novidade que reflete lições do passado, como as dificuldades enfrentadas por sobreviventes em Noto. A mobilização total de recursos, como sugere o relatório, será essencial para enfrentar o que muitos consideram o maior desafio natural da história moderna do Japão.

O Japão enfrenta uma ameaça iminente que pode alterar drasticamente sua realidade. Um relatório divulgado pelo governo na última segunda-feira estima que um megaterremoto na região do Nankai Trough, na costa do Pacífico, tem 80% de probabilidade de ocorrer nas próximas três décadas. Com magnitude entre 8 e 9, o evento poderia desencadear tsunamis devastadores, colapsos de construções e um impacto econômico avassalador de R$ 10,3 trilhões, equivalente a quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A projeção aponta ainda para a morte de cerca de 298 mil pessoas e a necessidade de evacuação de 1,23 milhão de residentes, destacando a urgência de medidas preventivas em uma nação já marcada por desastres sísmicos.
Esse cenário alarmante reflete uma atualização de estimativas anteriores, que previam prejuízos de R$ 8,2 trilhões. A revisão considerou fatores como pressões inflacionárias e novos dados sobre o terreno, que indicam uma expansão nas áreas suscetíveis a inundações. Localizado em uma zona de subducção tectônica, o Nankai Trough é conhecido por sua capacidade de gerar tremores catastróficos, e o relatório reforça a necessidade de preparação para um evento que pode superar em escala os desastres já vivenciados pelo país, como o terremoto de magnitude 9 de 2011, que deixou mais de 15 mil mortos.
🇯🇵 | Estudos no Japão preveem megaterremoto de magnitude entre 8 e 9 em breve com poder de matar mais de 10 mil pessoas e causar prejuízo de 2 trilhões ao país.
Estudos são feitos em área de choque de placas tectônicas que têm elevado grau de instabilidade.#ttsnews pic.twitter.com/gATPHgFDmB
— TTs Brasil: News 📰 (@TTsBrasilNews) April 1, 2025
A população japonesa, acostumada a conviver com a atividade sísmica, agora encara números que impressionam. Em um contexto de magnitude 9, cerca de 1% dos habitantes do país poderia ser diretamente afetado, especialmente em condições críticas, como durante a noite no inverno, quando a resposta a emergências se torna mais desafiadora. O governo alerta que os tsunamis, aliados ao colapso de centenas de edificações, seriam os principais responsáveis pelas vítimas, colocando em xeque a infraestrutura e a resiliência das comunidades costeiras.
Ameaça geológica no horizonte
Situado ao longo de 900 quilômetros na costa sudoeste do Pacífico, o Nankai Trough é uma zona de subducção onde a Placa do Mar das Filipinas mergulha sob a Placa Eurasiática. Esse movimento, que ocorre a uma velocidade de 3 a 5 centímetros por ano, acumula tensões que, historicamente, resultam em megaterremotos a cada 100 a 150 anos. O último evento significativo na região foi registrado em 1946, com magnitude 8, e causou 1,3 mil mortes. Antes disso, em 1944, outro tremor de magnitude 7,9 abalou a área, evidenciando a recorrência desses fenômenos.
A história sísmica do Japão revela um padrão preocupante. Em 1707, o terremoto Hoei, de magnitude 8,6, gerou um tsunami devastador e foi seguido pela erupção do Monte Fuji, marcando um dos episódios mais letais da região. Já em 1854, dois tremores de magnitude 8,4 ocorreram com apenas 32 horas de intervalo, demonstrando a possibilidade de eventos em sequência. Esses registros reforçam a percepção de que o Nankai Trough está próximo de um novo ciclo de ruptura, o que eleva a tensão entre especialistas e autoridades.
Com base nesses dados, a probabilidade de um megaterremoto nos próximos 30 anos foi ajustada para cerca de 80%, um leve aumento em relação à faixa de 70% a 80% estimada anteriormente. A atualização anual, realizada em janeiro, considera o tempo decorrido desde os últimos eventos e a atividade sísmica contínua no país, como os tremores de magnitude 6 registrados desde o início de 2024 na Península de Noto.
Impactos devastadores previstos
O relatório governamental detalha um cenário sombrio para o Japão. Um terremoto de magnitude 9 no Nankai Trough poderia gerar tsunamis com alturas superiores a 30 metros em algumas áreas costeiras, inundando uma área 30% maior do que nas projeções anteriores. Essa ampliação das zonas de risco reflete avanços na análise de topografia e condições do solo, que indicam maior vulnerabilidade a inundações em regiões antes consideradas seguras.
Além disso, o colapso de construções seria responsável por uma parcela significativa das 298 mil mortes estimadas. Em um contexto de inverno noturno, a combinação de temperaturas baixas, dificuldade de mobilidade e resposta lenta das equipes de resgate poderia agravar o número de vítimas. Cerca de 12,3 milhões de pessoas, equivalente a 10% da população japonesa, seriam forçadas a abandonar suas casas, gerando uma crise humanitária sem precedentes.
O impacto econômico também assusta. Os R$ 10,3 trilhões em danos diretos superam em muito os custos do terremoto de Tohoku, em 2011, que chegaram a R$ 2 trilhões. A diferença se explica pela densidade populacional e pela concentração de indústrias nas áreas afetadas pelo Nankai Trough, incluindo setores como automobilístico, siderúrgico e eletrônico, vitais para a economia global.
Medidas de preparação em foco
Diante da gravidade da ameaça, o Japão intensifica esforços para mitigar os danos. Desde o terremoto de 2011, que expôs fragilidades na infraestrutura e na resposta a desastres, o país revisou suas estratégias de prevenção. A construção de edifícios mais resistentes e a ampliação de instalações de evacuação para tsunamis reduziram a estimativa de mortes de 323 mil, projetada em 2012, para as atuais 298 mil.
Entre as ações recomendadas, está a preparação de suprimentos de emergência para pelo menos uma semana, incluindo 3 litros de água por pessoa por dia. O governo também incentiva a checagem regular de rotas de evacuação e a fixação de móveis para minimizar riscos em casa. Em áreas costeiras, a construção de barreiras contra tsunamis e a elevação de terrenos têm sido priorizadas, embora especialistas alertem que essas medidas podem não ser suficientes contra ondas de 30 metros.
- Reforço de edificações com padrões antiseísmicos mais rigorosos.
- Treinamentos regulares de evacuação em comunidades vulneráveis.
- Monitoramento constante da atividade tectônica no Nankai Trough.
- Campanhas educativas para conscientizar a população sobre riscos sísmicos.
Lições do passado e desafios futuros
Recordar os desastres anteriores é essencial para entender a magnitude do que está por vir. O terremoto de Tohoku, em 2011, foi um marco na história recente do Japão. Com magnitude 9,1, ele gerou ondas de até 38 metros, destruiu mais de 120 mil casas e causou o colapso de reatores na usina de Fukushima, resultando em uma crise nuclear que ainda impacta a região. Mais de 18 mil pessoas morreram ou desapareceram, e o custo econômico foi estimado em R$ 2 trilhões.
Outro evento significativo ocorreu em 1944, quando o terremoto Tonankai, de magnitude 7,9, atingiu a parte leste do Nankai Trough. Dois anos depois, em 1946, o terremoto Nankai, de magnitude 8, devastou a porção oeste, matando 1,3 mil pessoas com um tsunami de 6,9 metros. Esses episódios, frequentemente em pares, sugerem que um novo megaterremoto pode não vir sozinho, aumentando a complexidade da preparação.
A possibilidade de rupturas simultâneas ou sequenciais na falha preocupa os cientistas. Estudos indicam que a probabilidade de dois tremores de magnitude 8 ou superior ocorrerem em um intervalo de três anos varia entre 4,3% e 96%, dependendo dos modelos estatísticos utilizados. Essa incerteza dificulta previsões exatas, mas reforça a necessidade de vigilância constante.
Regiões em alerta máximo
As áreas mais vulneráveis ao megaterremoto estão concentradas na costa do Pacífico, de Shizuoka a Miyazaki. Municípios como Kuroshio e Tosashimizu, em Kochi, podem enfrentar tsunamis de até 34 metros, enquanto Shimoda, em Shizuoka, está na rota de ondas de 33 metros. Essas projeções indicam que cidades densamente povoadas e com alta atividade econômica seriam severamente atingidas.
A densidade populacional agrava o risco. Cerca de metade dos 120 milhões de habitantes do Japão vive em regiões que podem ser afetadas direta ou indiretamente pelo evento. Além disso, a presença de 12 reatores nucleares em Kyushu e Shikoku, que permanecem seguros segundo autoridades, reacende temores de um novo Fukushima em caso de falhas imprevisíveis.
O relatório também destaca que áreas previamente consideradas fora do alcance de tsunamis, como partes de Fukushima e Okinawa, agora entram na zona de inundação de 3 metros ou mais, ampliando o desafio logístico de evacuação e reconstrução.
Cronograma sísmico no Nankai Trough
Abaixo, um panorama dos principais eventos sísmicos registrados na região, que ilustra a periodicidade e a potência dos tremores:
- 684: Terremoto Hakuho (magnitude estimada em 8), início dos registros históricos.
- 1707: Terremoto Hoei (magnitude 8,6), tsunami e erupção do Monte Fuji.
- 1854: Terremotos Ansei Tokai e Nankai (magnitude 8,4 cada), em sequência.
- 1944: Terremoto Tonankai (magnitude 7,9), parte leste do Nankai Trough.
- 1946: Terremoto Nankai (magnitude 8), parte oeste, com 1,3 mil mortes.
- 2011: Terremoto Tohoku (magnitude 9,1), referência para projeções atuais.
Alerta reforçado após eventos recentes
Em agosto do ano passado, o Japão emitiu seu primeiro alerta de megaterremoto após um tremor de magnitude 7,1 na borda do Nankai Trough. O evento, ocorrido na costa de Miyazaki, gerou ondas de até 50 centímetros e feriu três pessoas, mas serviu como um lembrete da proximidade do risco. Especialistas analisaram que a possibilidade de um evento maior aumentou “múltiplas vezes” após o incidente, levando o governo a pedir vigilância por uma semana.
A resposta foi imediata: o primeiro-ministro cancelou uma viagem internacional para coordenar preparativos, e a população foi orientada a revisar planos de evacuação. Apesar de danos leves, como deslizamentos e falhas em semáforos, o episódio reacendeu o debate sobre a capacidade do país de prever e enfrentar um desastre de proporções históricas.
Desde então, a atividade sísmica não deu trégua. Em janeiro deste ano, tremores de magnitude 6 na Península de Noto intensificaram o monitoramento, embora não estejam diretamente ligados ao Nankai Trough. Esses eventos mantêm a nação em alerta, com especialistas observando que a frequência de abalos pode indicar um período de maior instabilidade tectônica.
Preparação contra o tempo
Mitigar os efeitos de um megaterremoto exige ações em várias frentes. O Japão já é referência em engenharia antiseísmica, mas o relatório aponta que apenas 79% dos edifícios atendem aos padrões mais recentes. A meta é alcançar 100% nos próximos anos, uma tarefa que exige investimentos bilionários e coordenação entre governo, empresas e cidadãos.
A educação da população também é crucial. Exercícios de evacuação, como os realizados em Wakayama com a West Japan Railway, simulam cenários de tsunamis e ajudam a reduzir o tempo de resposta. Em algumas áreas, o alerta pode chegar com apenas dois minutos de antecedência, tornando a preparação prévia uma questão de sobrevivência.
Os desafios logísticos são imensos. Estradas danificadas, como as que isolaram comunidades após o terremoto de Noto em 2024, podem dificultar resgates e distribuição de suprimentos. O envelhecimento da população japonesa, aliado ao declínio demográfico, agrava a situação, reduzindo a capacidade de resposta coletiva em um momento crítico.
Curiosidades sobre o Nankai Trough
Alguns fatos destacam a singularidade e a gravidade da ameaça sísmica na região:
- O Nankai Trough é dividido em cinco segmentos (A a E), que podem romper juntos ou separadamente.
- Tsunamis de até 10 metros são comuns em eventos de magnitude 8, mas um magnitude 9 pode triplicar essa altura.
- A falha já causou 12 grandes terremotos nos últimos 1,3 mil anos, segundo registros históricos.
- Em Hong Kong, a 600 km do Japão, tsunamis do Nankai Trough podem gerar anomalias de 20 centímetros no nível do mar.
Tecnologia e ciência em ação
Avanços científicos têm sido fundamentais para mapear o risco. Simulações de tsunamis, baseadas em modelos de ruptura tectônica, permitem prever a altura das ondas e o tempo de chegada às costas. Em um evento de magnitude 9,1, as ondas atingiriam o sudeste de Hong Kong em cerca de seis horas, com impactos menores, mas perceptíveis.
No Japão, sensores submarinos e sistemas de GPS monitoram o deslocamento das placas, enquanto a Agência Meteorológica Japonesa (JMA) analisa anomalias como deslizamentos lentos ou tremores menores. Esses dados ajudam a refinar as projeções, mas a imprevisibilidade dos terremotos segue como um obstáculo. Mesmo com tecnologia de ponta, a ciência ainda não pode determinar o dia exato de um megaterremoto.
A colaboração internacional também cresce. Após o alerta de agosto, especialistas de outros países sísmicos, como Chile e Estados Unidos, compartilharam experiências sobre zonas de subducção, como a Falha de Cascadia, que apresenta riscos semelhantes. Essas trocas fortalecem as estratégias japonesas, mas o tempo é um fator limitante.
Economia global em xeque
O impacto de um megaterremoto no Nankai Trough transcende as fronteiras do Japão. A região afetada abriga centros industriais que produzem carros, eletrônicos e aço, essenciais para cadeias de suprimentos globais. Uma paralisação prolongada poderia custar trilhões adicionais em perdas indiretas, afetando mercados na Ásia, Europa e Américas.
Empresas como Toyota e Sony, com fábricas próximas à costa do Pacífico, já investem em planos de contingência, mas a escala do desastre projetado desafia até as maiores corporações. O relatório estima que os danos econômicos totais, incluindo interrupções de longo prazo, podem chegar a R$ 13 trilhões em 20 anos, dez vezes mais que os custos do terremoto de 2011.
A reconstrução seria outro gargalo. Com uma área 30% maior inundada e milhões de desalojados, o Japão enfrentaria dificuldades para financiar a recuperação, especialmente com uma população envelhecida e uma dívida pública elevada. A solidariedade internacional seria essencial, mas a logística de ajuda em larga escala é complexa.
Um país à espera do inevitável
Viver sob a sombra de um megaterremoto é parte da realidade japonesa. A cultura de preparação, forjada por séculos de desastres, molda desde a arquitetura até o comportamento social. Escolas ensinam crianças a se protegerem, e sirenes de alerta são testadas regularmente. Ainda assim, o relatório de 298 mil mortes potenciais reacende o senso de urgência em um povo resiliente, mas ciente de sua vulnerabilidade.
A experiência de eventos menores, como o tremor de magnitude 6,6 em Miyazaki em janeiro, mantém as autoridades em alerta. Embora não tenha causado vítimas, ele danificou tubulações e reforçou a percepção de que o próximo grande evento pode estar mais perto do que se imagina. A cada abalo, o Japão testa sua capacidade de resposta, mas o verdadeiro teste virá com o Nankai Trough.
O governo agora planeja revisar o Plano Básico de 2014, que define metas de mitigação, até o meio deste ano. A inclusão de mortes indiretas, estimadas entre 26 mil e 52 mil, é uma novidade que reflete lições do passado, como as dificuldades enfrentadas por sobreviventes em Noto. A mobilização total de recursos, como sugere o relatório, será essencial para enfrentar o que muitos consideram o maior desafio natural da história moderna do Japão.
