Marco Pigossi, um dos nomes mais reconhecidos do audiovisual brasileiro, deu um passo ousado em sua carreira ao estrear como protagonista e produtor em “Maré Alta”, um longa-metragem norte-americano lançado em 2024. Dirigido por Marco Calvani, seu marido, o filme mergulha em temas profundos como imigração, sexualidade e a busca por pertencimento, trazendo à tona a experiência de Lourenço, um brasileiro que enfrenta desafios em Provincetown, nos Estados Unidos. A produção, que já circula por festivais internacionais, reflete não apenas a maturidade artística do ator, mas também sua jornada pessoal como homem gay em um mercado global. Com um elenco estelar que inclui Marisa Tomei e James Bland, o drama tem conquistado elogios pela sensibilidade com que trata questões universais e específicas da comunidade LGBTQIA+.
A trajetória de Pigossi até “Maré Alta” é marcada por escolhas corajosas. Após anos consolidado como galã em novelas da Globo, como “A Força do Querer” e “Boogie Oogie”, ele decidiu deixar o Brasil em 2018 para buscar novos horizontes em Los Angeles. A mudança, que coincidiu com o início de seu relacionamento com Calvani, abriu portas para projetos internacionais, como as séries “Tidelands” e “Cidade Invisível”, da Netflix, e “Gen V”, da Amazon. Contudo, é em “Maré Alta” que o ator encontra um espaço único para unir arte e vida, transformando experiências pessoais em um trabalho cinematográfico de impacto.
Filmado em apenas 17 dias em 2022, o longa apresenta uma narrativa intimista que ressoa com a realidade de muitos imigrantes. Lourenço, o personagem de Pigossi, chega aos EUA com um namorado, mas é abandonado e precisa sobreviver com trabalhos informais enquanto seu visto de turista está prestes a expirar. Em Provincetown, cidade conhecida como refúgio queer, ele conhece Maurice, interpretado por James Bland, e inicia um romance que o leva a confrontar medos e redescobrir sua identidade. A química entre os dois atores tem sido um dos pontos altos destacados pela crítica internacional.
Caminho de um galã ao cinema independente
Marco Pigossi começou sua carreira ainda jovem, com papéis que o colocaram rapidamente no radar do público brasileiro. Nascido em São Paulo em 1º de fevereiro de 1989, ele estreou na televisão em 2004 e, ao longo de 12 anos na Globo, participou de 13 novelas, construindo uma imagem de mocinho carismático. Personagens como Cássio, de “Caras & Bocas”, marcaram sua trajetória, mas também evidenciaram os limites da representação LGBTQIA+ na TV da época. Pigossi já comentou que, naquele período, personagens gays eram aceitos apenas como alívio cômico, sem espaço para profundidade emocional ou social.
Em 2017, após o sucesso de “A Força do Querer”, ele tomou uma decisão radical: não renovou seu contrato com a emissora. A mudança para Los Angeles veio acompanhada de um desejo de liberdade artística e pessoal. Longe das amarras do formato novelístico, Pigossi começou a explorar papéis mais diversos e a assumir publicamente sua homossexualidade, algo que revelou em 2022 em um depoimento à revista Piauí. Esse processo de autodescoberta se reflete diretamente em “Maré Alta”, um projeto que ele ajudou a moldar desde o início ao lado de Calvani.
A parceria com o diretor italiano começou em 2020, durante a pandemia, quando os dois se conheceram em Los Angeles. Naquele momento, Calvani já trabalhava em um roteiro sobre um imigrante latino nos EUA. Inspirado por Pigossi, o personagem ganhou contornos brasileiros, e o casal passou a construir juntos a história de Lourenço. O resultado é um filme que combina a experiência de ambos: Pigossi como imigrante e homem gay, e Calvani como um cineasta sensível às nuances da intimidade e da identidade.
Bastidores de um projeto íntimo
Produzir “Maré Alta” foi, para Pigossi e Calvani, como criar um filho. O ator descreve o processo como uma experiência de confiança mútua, em que o diretor o ajudou a se livrar de vícios acumulados em anos de televisão, trazendo uma nova perspectiva à sua atuação. As filmagens, realizadas em Provincetown, duraram pouco mais de duas semanas, mas o impacto do trabalho reverberou por meses. Após a última cena, na praia que serviu de cenário para o filme, Calvani pediu Pigossi em casamento, selando a conexão entre a vida real e a ficção.
O elenco de apoio também elevou a qualidade da produção. Marisa Tomei, vencedora do Oscar por “Meu Primo Vinny”, trouxe uma presença marcante ao set, impressionando Pigossi com sua versatilidade. “Ela não repete um take jamais”, elogia o ator, destacando a energia colaborativa que permeou as gravações. Outros nomes, como Bill Irwin, de “Interestelar”, e James Bland, completam o time, trazendo camadas adicionais à narrativa.
A trilha sonora, composta por Sebastian Plano, e a fotografia de Oscar Ignacio Jiménez reforçam a atmosfera intimista do filme. As paisagens de Provincetown, com suas praias e dunas, servem como pano de fundo para a jornada emocional de Lourenço, enquanto o mar, presente em várias cenas, simboliza tanto a instabilidade quanto a possibilidade de renovação.
Temas sensíveis em destaque
“Maré Alta” não foge de assuntos complexos. Além da imigração e da sexualidade, o filme aborda racismo, homofobia e violência sexual, temas que ressoam com a realidade de muitos imigrantes queer. Em uma das cenas mais impactantes, Lourenço sofre assédio de um advogado, um momento que reflete as vulnerabilidades de quem vive em situação irregular. Pigossi já afirmou que, embora nunca tenha passado por algo semelhante na carreira, entende a importância de dar voz a essas experiências.
O longa também explora a dificuldade de criar conexões genuínas em um mundo dominado por relacionamentos superficiais. A relação entre Lourenço e Maurice é construída aos poucos, com momentos de ternura e tensão que fogem dos clichês típicos de romances queer no cinema. Para Pigossi, essa abordagem celebra a intimidade, algo que ele considera raro na era das redes sociais e da hiperconexão.
Outro ponto forte é a representatividade. Pigossi destaca que o filme coloca o Brasil no mapa do cinema latino-americano nos EUA, desafiando a visão limitada que o mercado americano muitas vezes tem do país. “O Brasil é um quase continente por si só, mas ainda somos parte da América Latina”, observa o ator, apontando a necessidade de mais produções que reflitam essa diversidade.
- Principais temas abordados em “Maré Alta”:
- Imigração e os desafios de viver sem documentos.
- Sexualidade e aceitação em um contexto queer.
- Racismo e preconceito enfrentados por imigrantes latinos.
- Busca por pertencimento em um país estrangeiro.
Recepção internacional e festivais
Desde sua première mundial no festival South by Southwest (SXSW), em Austin, “Maré Alta” tem trilhado um caminho de sucesso. A crítica internacional não poupou elogios à atuação de Pigossi, descrita como “vívida” e “assombrosa” por veículos como Variety e Indiewire. O filme alcançou 100% de aprovação no Rotten Tomatoes após exibições nos EUA, um feito raro para produções independentes.
No Brasil, a estreia aconteceu no Festival do Rio, em outubro de 2024, com uma sessão emocionante que lotou a sala de exibição. Em seguida, o longa passou pelo MixBrasil, onde venceu o prêmio do público de melhor filme, consolidando sua relevância no circuito nacional. Na Europa, a primeira exibição ocorreu em 22 de março de 2025, no Festival de Cinema LGBTQIA+ de Londres, no British Film Institute.
O reconhecimento continuou com a indicação ao GLAAD Awards, conhecido como o “Oscar queer”, na categoria de melhor filme. A premiação, realizada em 27 de março de 2025, em Los Angeles, contou com a presença de Pigossi e Calvani, reforçando a visibilidade do projeto em escala global.
Impacto na carreira de Pigossi
Para Marco Pigossi, “Maré Alta” representa mais do que um papel de destaque. É um marco de autonomia artística, algo que ele buscava desde os tempos de Globo. Inspirado por Fernanda Montenegro, que o aconselhou a produzir seus próprios trabalhos, o ator assumiu o papel de produtor executivo, garantindo que a história fosse contada com autenticidade.
A transição do Brasil para Hollywood não foi simples. Apesar de sua experiência em novelas, Pigossi precisou recomeçar em um mercado onde seu currículo não tinha o mesmo peso. “Fazer 13 novelas não significa nada para um produtor nos EUA”, admite ele, comparando sua jornada à de outros profissionais que migram e enfrentam barreiras para validar suas conquistas.
Hoje, com 36 anos, Pigossi vive um momento de plenitude. Além de “Maré Alta”, ele tem projetos em andamento que mostram sua versatilidade: o remake brasileiro de “Quarto do Pânico”, dirigido por Gabriela Amaral, e o terror americano “Bone Lake”, de Mercedes Bryce-Morgan. Há ainda “You’re Dating a Narcissist!”, uma comédia romântica com Marisa Tomei, e a dublagem da série animada “Astronauta”, da HBO Max.
Uma história de amor dentro e fora da tela
O relacionamento entre Pigossi e Calvani é um dos pilares de “Maré Alta”. O casal, que oficializou a união em 31 de agosto de 2024, transformou o filme em um reflexo de sua própria história. Durante o desenvolvimento do roteiro, eles trocaram ideias sobre temas como identidade e aceitação, moldando Lourenço a partir de vivências compartilhadas.
Calvani, que faz sua estreia como diretor de longas, já tinha em mente um personagem latino quando conheceu Pigossi. “Percebi que estava escrevendo para ele”, conta o cineasta, que adaptou a narrativa para incluir elementos brasileiros, como um poema citado no início do filme. A colaboração entre os dois foi marcada por respeito mútuo, com Pigossi destacando a habilidade do marido em direcionar atores.
A proposta de casamento na praia de Provincetown, logo após o fim das filmagens, adicionou um toque especial à jornada do casal. “Foi onde decidimos fazer nossas vidas juntos”, lembra Calvani, enquanto Pigossi descreve o momento como a concretização de um sonho que começou com o filme.
Provincetown como cenário e símbolo
A escolha de Provincetown como cenário não foi aleatória. Conhecida como uma “meca queer” nos EUA, a cidade costeira de Massachusetts tem uma longa história de acolhimento à comunidade LGBTQIA+. Desde os anos 1920, ela atrai artistas, escritores e turistas em busca de liberdade, especialmente durante o verão, quando a população local triplica.
No filme, Provincetown é mais do que um pano de fundo. As dunas, os pântanos e o mar refletem o estado emocional de Lourenço, que oscila entre a solidão e a esperança. Calvani se inspirou em uma visita à praia de nudismo gay da região, em 2019, para criar o título “Maré Alta”. “Vi as dunas cheias de água em um dia e secas no outro. Pensei que era uma metáfora perfeita”, explica o diretor.
Para Pigossi, o local trouxe uma conexão pessoal. “É um lugar onde você pode ser quem é”, diz ele, comparando a experiência de Lourenço à sua própria adaptação como imigrante nos EUA.
Cronograma de exibições e prêmios
“Maré Alta” tem uma agenda cheia em 2025, com exibições e premiações que destacam seu alcance global. Confira as datas principais:
- 20 de março: Estreia nos cinemas brasileiros.
- 22 de março: Primeira exibição na Europa, no Festival de Cinema LGBTQIA+ de Londres.
- 27 de março: Participação no GLAAD Awards, em Los Angeles, na disputa por melhor filme.
- 5 de outubro de 2024: Première nacional no Festival do Rio (data retrospectiva).
O filme também passou por eventos como o SXSW e o MixBrasil, acumulando prêmios e críticas positivas que reforçam seu impacto no circuito independente.
Curiosidades sobre “Maré Alta”
A produção de “Maré Alta” é cheia de detalhes que enriquecem sua história. Aqui estão alguns fatos interessantes:
- O filme foi gravado em apenas 17 dias, um desafio logístico superado pela equipe reduzida.
- Pigossi e Calvani reescreveram o roteiro juntos, adicionando elementos da cultura brasileira, como um poema favorito do ator.
- Marisa Tomei foi indicada ao projeto por Pigossi, que a conheceu em outro trabalho.
- As cenas na praia de Provincetown foram filmadas em condições reais, com mudanças de maré afetando o cronograma.
- O longa é o primeiro de uma série de colaborações planejadas entre o casal, que já trabalha em novos roteiros.
Representatividade e legado
“Maré Alta” chega em um momento especial para o cinema brasileiro. Após anos de dificuldades no setor audiovisual, com redução de incentivos durante o governo anterior, 2024 e 2025 marcaram uma retomada impressionante. Filmes como “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, e “O Último Azul”, premiado em Berlim, colocaram o Brasil novamente no mapa global.
Pigossi vê o longa como parte desse movimento. “É um momento lindo para o cinema brasileiro”, afirma, celebrando a reconexão entre o público e os artistas nacionais. Para ele, o filme não é apenas uma história pessoal, mas uma contribuição para a representatividade latina e queer no cinema mundial.
A atuação de Pigossi tem sido o fio condutor que mantém a narrativa coesa, mesmo em momentos em que o roteiro apresenta falhas. Sua entrega, marcada por uma naturalidade que oscila entre tensão e espontaneidade, conquistou tanto o público quanto a crítica, solidificando seu nome como um talento versátil em Hollywood.
Novos projetos no horizonte
Além de “Maré Alta”, Marco Pigossi está envolvido em uma série de produções que prometem manter seu nome em alta. O remake de “Quarto do Pânico”, com Isis Valverde e Caco Ciocler, traz uma releitura brasileira do clássico de David Fincher, adaptada à realidade da violência urbana. Já “Bone Lake” marca sua entrada no gênero de terror, enquanto “You’re Dating a Narcissist!” reúne novamente o ator com Marisa Tomei em um tom mais leve.
Na animação, Pigossi estreia como dublador em “Astronauta”, série da HBO Max baseada no personagem de Mauricio de Sousa. Lançada em 18 de outubro de 2024, a produção adulta explora novas facetas de sua voz artística. Outro projeto recente é “Maníaco do Parque”, disponível no Prime Video, onde ele interpreta o editor de um jornal sensacionalista.
Com esses trabalhos, Pigossi demonstra que sua transição para o mercado internacional não foi apenas uma mudança de endereço, mas uma reinvenção completa de sua carreira.
Um marco pessoal e profissional
“Maré Alta” é, acima de tudo, um testemunho da coragem de Marco Pigossi. Deixar para trás a segurança de uma carreira consolidada no Brasil para se arriscar em Hollywood exigiu determinação. Assumir publicamente sua sexualidade e transformá-la em arte foi ainda mais desafiador, mas o resultado é um filme que ressoa com autenticidade.
O longa também reflete a força de sua parceria com Marco Calvani. Juntos, eles criaram uma obra que vai além do entretenimento, oferecendo um olhar sensível sobre a experiência humana. Para Pigossi, o processo foi uma forma de exorcizar a homofobia internalizada que carregou por anos, algo que ele trabalhou ao dar vida a Lourenço.
Com mais de uma década de carreira, o ator prova que está no auge de sua maturidade profissional. “Quero fazer arte que me transforme”, diz ele, sinalizando que “Maré Alta” é apenas o começo de uma nova fase.

Marco Pigossi, um dos nomes mais reconhecidos do audiovisual brasileiro, deu um passo ousado em sua carreira ao estrear como protagonista e produtor em “Maré Alta”, um longa-metragem norte-americano lançado em 2024. Dirigido por Marco Calvani, seu marido, o filme mergulha em temas profundos como imigração, sexualidade e a busca por pertencimento, trazendo à tona a experiência de Lourenço, um brasileiro que enfrenta desafios em Provincetown, nos Estados Unidos. A produção, que já circula por festivais internacionais, reflete não apenas a maturidade artística do ator, mas também sua jornada pessoal como homem gay em um mercado global. Com um elenco estelar que inclui Marisa Tomei e James Bland, o drama tem conquistado elogios pela sensibilidade com que trata questões universais e específicas da comunidade LGBTQIA+.
A trajetória de Pigossi até “Maré Alta” é marcada por escolhas corajosas. Após anos consolidado como galã em novelas da Globo, como “A Força do Querer” e “Boogie Oogie”, ele decidiu deixar o Brasil em 2018 para buscar novos horizontes em Los Angeles. A mudança, que coincidiu com o início de seu relacionamento com Calvani, abriu portas para projetos internacionais, como as séries “Tidelands” e “Cidade Invisível”, da Netflix, e “Gen V”, da Amazon. Contudo, é em “Maré Alta” que o ator encontra um espaço único para unir arte e vida, transformando experiências pessoais em um trabalho cinematográfico de impacto.
Filmado em apenas 17 dias em 2022, o longa apresenta uma narrativa intimista que ressoa com a realidade de muitos imigrantes. Lourenço, o personagem de Pigossi, chega aos EUA com um namorado, mas é abandonado e precisa sobreviver com trabalhos informais enquanto seu visto de turista está prestes a expirar. Em Provincetown, cidade conhecida como refúgio queer, ele conhece Maurice, interpretado por James Bland, e inicia um romance que o leva a confrontar medos e redescobrir sua identidade. A química entre os dois atores tem sido um dos pontos altos destacados pela crítica internacional.
Caminho de um galã ao cinema independente
Marco Pigossi começou sua carreira ainda jovem, com papéis que o colocaram rapidamente no radar do público brasileiro. Nascido em São Paulo em 1º de fevereiro de 1989, ele estreou na televisão em 2004 e, ao longo de 12 anos na Globo, participou de 13 novelas, construindo uma imagem de mocinho carismático. Personagens como Cássio, de “Caras & Bocas”, marcaram sua trajetória, mas também evidenciaram os limites da representação LGBTQIA+ na TV da época. Pigossi já comentou que, naquele período, personagens gays eram aceitos apenas como alívio cômico, sem espaço para profundidade emocional ou social.
Em 2017, após o sucesso de “A Força do Querer”, ele tomou uma decisão radical: não renovou seu contrato com a emissora. A mudança para Los Angeles veio acompanhada de um desejo de liberdade artística e pessoal. Longe das amarras do formato novelístico, Pigossi começou a explorar papéis mais diversos e a assumir publicamente sua homossexualidade, algo que revelou em 2022 em um depoimento à revista Piauí. Esse processo de autodescoberta se reflete diretamente em “Maré Alta”, um projeto que ele ajudou a moldar desde o início ao lado de Calvani.
A parceria com o diretor italiano começou em 2020, durante a pandemia, quando os dois se conheceram em Los Angeles. Naquele momento, Calvani já trabalhava em um roteiro sobre um imigrante latino nos EUA. Inspirado por Pigossi, o personagem ganhou contornos brasileiros, e o casal passou a construir juntos a história de Lourenço. O resultado é um filme que combina a experiência de ambos: Pigossi como imigrante e homem gay, e Calvani como um cineasta sensível às nuances da intimidade e da identidade.
Bastidores de um projeto íntimo
Produzir “Maré Alta” foi, para Pigossi e Calvani, como criar um filho. O ator descreve o processo como uma experiência de confiança mútua, em que o diretor o ajudou a se livrar de vícios acumulados em anos de televisão, trazendo uma nova perspectiva à sua atuação. As filmagens, realizadas em Provincetown, duraram pouco mais de duas semanas, mas o impacto do trabalho reverberou por meses. Após a última cena, na praia que serviu de cenário para o filme, Calvani pediu Pigossi em casamento, selando a conexão entre a vida real e a ficção.
O elenco de apoio também elevou a qualidade da produção. Marisa Tomei, vencedora do Oscar por “Meu Primo Vinny”, trouxe uma presença marcante ao set, impressionando Pigossi com sua versatilidade. “Ela não repete um take jamais”, elogia o ator, destacando a energia colaborativa que permeou as gravações. Outros nomes, como Bill Irwin, de “Interestelar”, e James Bland, completam o time, trazendo camadas adicionais à narrativa.
A trilha sonora, composta por Sebastian Plano, e a fotografia de Oscar Ignacio Jiménez reforçam a atmosfera intimista do filme. As paisagens de Provincetown, com suas praias e dunas, servem como pano de fundo para a jornada emocional de Lourenço, enquanto o mar, presente em várias cenas, simboliza tanto a instabilidade quanto a possibilidade de renovação.
Temas sensíveis em destaque
“Maré Alta” não foge de assuntos complexos. Além da imigração e da sexualidade, o filme aborda racismo, homofobia e violência sexual, temas que ressoam com a realidade de muitos imigrantes queer. Em uma das cenas mais impactantes, Lourenço sofre assédio de um advogado, um momento que reflete as vulnerabilidades de quem vive em situação irregular. Pigossi já afirmou que, embora nunca tenha passado por algo semelhante na carreira, entende a importância de dar voz a essas experiências.
O longa também explora a dificuldade de criar conexões genuínas em um mundo dominado por relacionamentos superficiais. A relação entre Lourenço e Maurice é construída aos poucos, com momentos de ternura e tensão que fogem dos clichês típicos de romances queer no cinema. Para Pigossi, essa abordagem celebra a intimidade, algo que ele considera raro na era das redes sociais e da hiperconexão.
Outro ponto forte é a representatividade. Pigossi destaca que o filme coloca o Brasil no mapa do cinema latino-americano nos EUA, desafiando a visão limitada que o mercado americano muitas vezes tem do país. “O Brasil é um quase continente por si só, mas ainda somos parte da América Latina”, observa o ator, apontando a necessidade de mais produções que reflitam essa diversidade.
- Principais temas abordados em “Maré Alta”:
- Imigração e os desafios de viver sem documentos.
- Sexualidade e aceitação em um contexto queer.
- Racismo e preconceito enfrentados por imigrantes latinos.
- Busca por pertencimento em um país estrangeiro.
Recepção internacional e festivais
Desde sua première mundial no festival South by Southwest (SXSW), em Austin, “Maré Alta” tem trilhado um caminho de sucesso. A crítica internacional não poupou elogios à atuação de Pigossi, descrita como “vívida” e “assombrosa” por veículos como Variety e Indiewire. O filme alcançou 100% de aprovação no Rotten Tomatoes após exibições nos EUA, um feito raro para produções independentes.
No Brasil, a estreia aconteceu no Festival do Rio, em outubro de 2024, com uma sessão emocionante que lotou a sala de exibição. Em seguida, o longa passou pelo MixBrasil, onde venceu o prêmio do público de melhor filme, consolidando sua relevância no circuito nacional. Na Europa, a primeira exibição ocorreu em 22 de março de 2025, no Festival de Cinema LGBTQIA+ de Londres, no British Film Institute.
O reconhecimento continuou com a indicação ao GLAAD Awards, conhecido como o “Oscar queer”, na categoria de melhor filme. A premiação, realizada em 27 de março de 2025, em Los Angeles, contou com a presença de Pigossi e Calvani, reforçando a visibilidade do projeto em escala global.
Impacto na carreira de Pigossi
Para Marco Pigossi, “Maré Alta” representa mais do que um papel de destaque. É um marco de autonomia artística, algo que ele buscava desde os tempos de Globo. Inspirado por Fernanda Montenegro, que o aconselhou a produzir seus próprios trabalhos, o ator assumiu o papel de produtor executivo, garantindo que a história fosse contada com autenticidade.
A transição do Brasil para Hollywood não foi simples. Apesar de sua experiência em novelas, Pigossi precisou recomeçar em um mercado onde seu currículo não tinha o mesmo peso. “Fazer 13 novelas não significa nada para um produtor nos EUA”, admite ele, comparando sua jornada à de outros profissionais que migram e enfrentam barreiras para validar suas conquistas.
Hoje, com 36 anos, Pigossi vive um momento de plenitude. Além de “Maré Alta”, ele tem projetos em andamento que mostram sua versatilidade: o remake brasileiro de “Quarto do Pânico”, dirigido por Gabriela Amaral, e o terror americano “Bone Lake”, de Mercedes Bryce-Morgan. Há ainda “You’re Dating a Narcissist!”, uma comédia romântica com Marisa Tomei, e a dublagem da série animada “Astronauta”, da HBO Max.
Uma história de amor dentro e fora da tela
O relacionamento entre Pigossi e Calvani é um dos pilares de “Maré Alta”. O casal, que oficializou a união em 31 de agosto de 2024, transformou o filme em um reflexo de sua própria história. Durante o desenvolvimento do roteiro, eles trocaram ideias sobre temas como identidade e aceitação, moldando Lourenço a partir de vivências compartilhadas.
Calvani, que faz sua estreia como diretor de longas, já tinha em mente um personagem latino quando conheceu Pigossi. “Percebi que estava escrevendo para ele”, conta o cineasta, que adaptou a narrativa para incluir elementos brasileiros, como um poema citado no início do filme. A colaboração entre os dois foi marcada por respeito mútuo, com Pigossi destacando a habilidade do marido em direcionar atores.
A proposta de casamento na praia de Provincetown, logo após o fim das filmagens, adicionou um toque especial à jornada do casal. “Foi onde decidimos fazer nossas vidas juntos”, lembra Calvani, enquanto Pigossi descreve o momento como a concretização de um sonho que começou com o filme.
Provincetown como cenário e símbolo
A escolha de Provincetown como cenário não foi aleatória. Conhecida como uma “meca queer” nos EUA, a cidade costeira de Massachusetts tem uma longa história de acolhimento à comunidade LGBTQIA+. Desde os anos 1920, ela atrai artistas, escritores e turistas em busca de liberdade, especialmente durante o verão, quando a população local triplica.
No filme, Provincetown é mais do que um pano de fundo. As dunas, os pântanos e o mar refletem o estado emocional de Lourenço, que oscila entre a solidão e a esperança. Calvani se inspirou em uma visita à praia de nudismo gay da região, em 2019, para criar o título “Maré Alta”. “Vi as dunas cheias de água em um dia e secas no outro. Pensei que era uma metáfora perfeita”, explica o diretor.
Para Pigossi, o local trouxe uma conexão pessoal. “É um lugar onde você pode ser quem é”, diz ele, comparando a experiência de Lourenço à sua própria adaptação como imigrante nos EUA.
Cronograma de exibições e prêmios
“Maré Alta” tem uma agenda cheia em 2025, com exibições e premiações que destacam seu alcance global. Confira as datas principais:
- 20 de março: Estreia nos cinemas brasileiros.
- 22 de março: Primeira exibição na Europa, no Festival de Cinema LGBTQIA+ de Londres.
- 27 de março: Participação no GLAAD Awards, em Los Angeles, na disputa por melhor filme.
- 5 de outubro de 2024: Première nacional no Festival do Rio (data retrospectiva).
O filme também passou por eventos como o SXSW e o MixBrasil, acumulando prêmios e críticas positivas que reforçam seu impacto no circuito independente.
Curiosidades sobre “Maré Alta”
A produção de “Maré Alta” é cheia de detalhes que enriquecem sua história. Aqui estão alguns fatos interessantes:
- O filme foi gravado em apenas 17 dias, um desafio logístico superado pela equipe reduzida.
- Pigossi e Calvani reescreveram o roteiro juntos, adicionando elementos da cultura brasileira, como um poema favorito do ator.
- Marisa Tomei foi indicada ao projeto por Pigossi, que a conheceu em outro trabalho.
- As cenas na praia de Provincetown foram filmadas em condições reais, com mudanças de maré afetando o cronograma.
- O longa é o primeiro de uma série de colaborações planejadas entre o casal, que já trabalha em novos roteiros.
Representatividade e legado
“Maré Alta” chega em um momento especial para o cinema brasileiro. Após anos de dificuldades no setor audiovisual, com redução de incentivos durante o governo anterior, 2024 e 2025 marcaram uma retomada impressionante. Filmes como “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, e “O Último Azul”, premiado em Berlim, colocaram o Brasil novamente no mapa global.
Pigossi vê o longa como parte desse movimento. “É um momento lindo para o cinema brasileiro”, afirma, celebrando a reconexão entre o público e os artistas nacionais. Para ele, o filme não é apenas uma história pessoal, mas uma contribuição para a representatividade latina e queer no cinema mundial.
A atuação de Pigossi tem sido o fio condutor que mantém a narrativa coesa, mesmo em momentos em que o roteiro apresenta falhas. Sua entrega, marcada por uma naturalidade que oscila entre tensão e espontaneidade, conquistou tanto o público quanto a crítica, solidificando seu nome como um talento versátil em Hollywood.
Novos projetos no horizonte
Além de “Maré Alta”, Marco Pigossi está envolvido em uma série de produções que prometem manter seu nome em alta. O remake de “Quarto do Pânico”, com Isis Valverde e Caco Ciocler, traz uma releitura brasileira do clássico de David Fincher, adaptada à realidade da violência urbana. Já “Bone Lake” marca sua entrada no gênero de terror, enquanto “You’re Dating a Narcissist!” reúne novamente o ator com Marisa Tomei em um tom mais leve.
Na animação, Pigossi estreia como dublador em “Astronauta”, série da HBO Max baseada no personagem de Mauricio de Sousa. Lançada em 18 de outubro de 2024, a produção adulta explora novas facetas de sua voz artística. Outro projeto recente é “Maníaco do Parque”, disponível no Prime Video, onde ele interpreta o editor de um jornal sensacionalista.
Com esses trabalhos, Pigossi demonstra que sua transição para o mercado internacional não foi apenas uma mudança de endereço, mas uma reinvenção completa de sua carreira.
Um marco pessoal e profissional
“Maré Alta” é, acima de tudo, um testemunho da coragem de Marco Pigossi. Deixar para trás a segurança de uma carreira consolidada no Brasil para se arriscar em Hollywood exigiu determinação. Assumir publicamente sua sexualidade e transformá-la em arte foi ainda mais desafiador, mas o resultado é um filme que ressoa com autenticidade.
O longa também reflete a força de sua parceria com Marco Calvani. Juntos, eles criaram uma obra que vai além do entretenimento, oferecendo um olhar sensível sobre a experiência humana. Para Pigossi, o processo foi uma forma de exorcizar a homofobia internalizada que carregou por anos, algo que ele trabalhou ao dar vida a Lourenço.
Com mais de uma década de carreira, o ator prova que está no auge de sua maturidade profissional. “Quero fazer arte que me transforme”, diz ele, sinalizando que “Maré Alta” é apenas o começo de uma nova fase.
