Em 5 de agosto de 1972, o Aerosmith tocou em um clube de Nova York chamado Max’s Kansas City, pagando do próprio bolso por uma vaga no evento e convidando o presidente da Columbia Records, Clive Davis, para o show. Davis saiu de lá com uma nova contratação para a gravadora, mas não antes de chamar o vocalista Steven Tyler de lado e dizer a ele: “Filho, você vai ser um grande astro”.
Mas o estrelato não viria da noite para o dia, nem para Tyler nem para seus colegas — os guitarristas Joe Perry e Brad Whitford, o baixista Tom Hamilton e o baterista Joey Kramer. Isso porque as vendas do álbum de estreia “Aerosmith” (1973) estagnaram, já que a banda fora injustamente rotulada como “uma versão barata dos Rolling Stones”. O segundo disco, “Get Your Wings” (1974) — que marcou o início de uma longa parceria com o produtor Jack Douglas —, assim como seu antecessor, também não causou grande impacto.
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Na verdade, as vendas só começaram a decolar para o Aerosmith com o terceiro álbum, um verdadeiro divisor de águas lançado em 8 de abril de 1975. Atualmente, com mais de seis milhões de cópias vendidas, o disco na época alcançou a 11ª posição na Billboard e trouxe duas das músicas mais populares da banda.
Esta é a história de “Toys in the Attic”.
No princípio, uma sorveteria
Reza a lenda que o Aerosmith tomou forma em meados de 1970, em Sunapee, uma cidade turística em New Hampshire (EUA). Na época, Anthony Joseph Perry e Steven Tallarico se conheceram em uma sorveteria onde o primeiro, também guitarrista, trabalhava.
Filho de um pianista clássico, Tallarico estudou piano antes de descobrir que sua verdadeira paixão era a bateria. Convidado a assistir à banda de Perry, The Jam Band, que contava com Tom Hamilton no baixo, em um bar chamado The Barn, ele ficou impressionado. “Talvez um dia toquemos juntos”, disse a Perry no dia seguinte.
Isso só se concretizou quando Tallarico, agora adotando o nome artístico Steven Tyler, insatisfeito com a banda em que estava, decidiu trocar a bateria pelo microfone e unir forças com Perry e Hamilton. Por indicação do segundo guitarrista, Ray Tabano, o baterista Joey Kramer — que por coincidência fora colega de escola de Tyler em Nova York — fez um teste e passou. Batizada com um nome que Kramer havia inventado na época do colégio, nascia assim a primeira formação do Aerosmith.
Após isso, a banda se mudou para Boston e passou a dividir um teto. Seu show de estreia aconteceu no finalzinho de 1970, em circunstâncias nada glamourosas, na Nipmuc Regional High School. Os estudantes adoraram-nos.
O Aerosmith seguiu tocando covers de Yardbirds, Beatles e Rolling Stones em colégios e festas universitárias por um cachê modesto de 300 dólares e uma caixa de bombons enquanto compunha músicas autorais. Com isso, sua reputação cruzou as fronteiras de Boston, culminando na sequência de três noites no Max’s Kansas City que mudaria tudo. Nesse ínterim, Tabano perdeu o posto para Brad Whitford.
Com um orçamento modesto para gravação em mãos, os cinco entraram no Intermedia Studios, em Boston, para registrar seu álbum de estreia, “Aerosmith”, sob a produção de Adrian Barber (Cream, Vanilla Fudge, The Allman Brothers Band). Com exceção de “Dream On”, que teve um sucesso moderado (59º lugar nas paradas), o álbum passou despercebido. Mas o grupo não se deixou abalar e caiu na estrada, abrindo shows para nomes como The Kinks e Mott the Hoople e, em uma das combinações mais surreais do rock, para a Mahavishnu Orchestra, conquistando fãs na base da persistência.
No fim de 1973, o Aerosmith gravou “Get Your Wings”, trazendo faixas como “Same Old Song and Dance”, “Lord of the Thighs”, “Seasons of Wither” e uma versão de “Train Kept a Rollin’”, dos Yardbirds. Mesmo assim, o álbum, lançado em 1º de março de 1974, não trouxe o sucesso comercial esperado. Mais uma vez, o quinteto voltou para a estrada, dessa vez como banda de abertura para Deep Purple e Black Sabbath. Seu próximo lançamento seria o famoso “ou vai, ou racha”.
A química da composição
As constantes turnês aumentaram a confiança do Aerosmith. Um ano na estrada para divulgar “Get Your Wings” fez com que todos se tornassem músicos ainda melhores. E, ao contrário dos dois primeiros álbuns, que eram basicamente compostos por músicas que a banda já tocava há anos nos clubes, no terceiro tudo começou do zero.
Em fevereiro de 1975, quando o grupo começou a trabalhar no álbum que se tornaria “Toys in the Attic” no Record Plant, em Nova York, tinha apenas três ou quatro músicas e uma porção de riffs que Joe Perry e Brad Whitford haviam composto na estrada. Pela primeira vez, a maior parte do material precisaria ser escrita durante as gravações.
O método adotado era simples e eficaz: Steven Tyler escrevia as letras conforme a música era finalizada pelos outros quatro integrantes. Entre essas composições estavam duas das músicas mais famosas da carreira do Aerosmith.
Escrita a partir de um riff de baixo que Tom Hamilton havia criado no colégio, “Sweet Emotion” foi uma temporã das sessões de “Toys”. O baixista relembra:
“Eu já tinha esse riff, mas era tímido demais para sugerir trabalharmos nele. Mas, de alguma forma, no último dia de gravação, Jack [Douglas] perguntou: ‘Alguém tem algo em que possamos improvisar?’. E essa música entrou no último minuto. Lembro-me de mostrar o riff para o Steven algumas vezes durante as sessões de ‘Get Your Wings’, e ele simplesmente não gostar. Minha reação imediata foi deixar para lá. Mas um dia começamos o riff em um ponto diferente, e isso deu uma nova perspectiva para ele. Mas nada aconteceu até o álbum seguinte. O resto é história. Ainda é uma música da qual me orgulho muito.”
Alcançando a posição 36 nas paradas de singles, “Sweet Emotion” conta com um instrumento incomum: Tyler chacoalhou um pacote de açúcar no microfone para substituir as maracas que estavam faltando. Segundo ele, a letra refletia sua frustração com a ex-esposa de Perry e outras tensões daquele período.
“Eu nunca conseguia me conectar com ele [Perry]. Até hoje, ele constrói muitas barreiras, mas a música sempre foi nossa salvação. E se essa é a maneira que ele escolhe para me deixar entrar, tudo bem. Só preciso continuar encontrando novas senhas para entrar lá.”
Já “Walk This Way”, o maior sucesso do álbum (10º nas paradas), foi inspirada por uma cena da comédia “O Jovem Frankenstein”, de Gene Wilder e Marty Feldman. Hamilton relembra:
“Estávamos ensaiando aquele riff e acho que o Steven nem estava presente no dia em que trabalhamos na estrutura da música. Naquela noite, fomos com Jack Douglas ao cinema e assistimos ‘O Jovem Frankenstein’. Tem aquela cena em que o Igor diz ‘walk this way’ (‘caminhe assim’), e o outro cara imita o jeito estranho dele andar, com a corcunda e tudo mais. Achamos que era a coisa mais engraçada do mundo. Então dissemos ao Steven: ‘O nome dessa música tem que ser ‘Walk This Way’’, e ele levou isso adiante.”
Sobre a letra, repleta de duplos sentidos, Tyler comenta:
“Lembro-me de ler um jornal, por volta de 1976, e havia um artigo sobre como as letras do rock eram vulgares. Eles usaram ‘Walk This Way’ como exemplo de como as letras deveriam ser mais ‘limpas’ e saudáveis. Eu não conseguia acreditar. Obviamente, eles não entenderam o significado de ‘you ain’t seen nothin’ till you’re down on the muffin’.”
Fora da raia dos hits
Além de seus dois grandes sucessos, “Toys in the Attic” trouxe faixas míticas para o cânone do Aerosmith como “Uncle Salty” — uma abordagem ao abuso infantil muitos anos antes de “Janie’s Got a Gun” —, “Adam’s Apple” e “No More, No More”, cuja letra Joe Perry exalta:
“Não é uma daquelas músicas estúpidas e genéricas de ‘eu amo rock ‘n’ roll’ que algumas bandas fazem. É uma música real sobre o estilo de vida do rock ‘n’ roll, ou o nosso estilo de vida no rock ‘n’ roll. Não sei se é a música definitiva sobre a vida na estrada, e nem me importo. É como uma página do nosso diário.”
Para o guitarrista, outro destaque do álbum é sua faixa-título, que ele define como “uma música referência de rock ‘n’ roll para o Aerosmith”.
“Aquele tipo de música rápida que sempre foi um dos meus favoritos. Esta [‘Toys in the Attic’] foi meio que a primeira. Houve muitas outras depois.”
“You See Me Crying” preenche a cota de balada do disco. Segundo Brad Whitford, “muitas longas horas” foram necessárias para a construção da música no Record Plant. E por falar em Whitford, sua principal contribuição para o trabalho está no riff de “Round and Round”. “Foi um daqueles riffs que todo mundo disse: ‘Precisamos fazer algo com isso’”, relembra ele.
Fechando o repertório, um cover de “Big Ten-Inch Record”, do cantor e saxofonista Bull Moose Jackson, foi ideia de Steven Tyler, que conta:
“Eu estava ouvindo uma fita do [locutor de rádio] Dr. Demento que um velho amigo nosso me deu, e ouvi essa música, que é originalmente de 1936 [N.E.: na verdade, é de 1952]. O grande boato é que eu digo ‘Suck on my big 10 inch’ [‘Chupe os meus 25 cm’] na gravação. Eu não digo. Mas ninguém no mundo acredita em mim.”
O primeiro grande álbum do Aerosmith
Lançado em 8 de abril de 1975, “Toys in the Attic” se tornou o primeiro disco de platina do Aerosmith, e seu sucesso ajudou os dois primeiros álbuns da banda a conquistarem certificação de ouro até o final daquele ano. O interesse pelo grupo cresceu tanto que as rádios abraçaram primeiro “Walk This Way” e, em seguida, deram nova chance a “Dream On”, que foi relançada como single e também chegou ao Top 10.
“Todas as peças se encaixaram”, resume Brad Whitford. Para Joey Kramer, “Toys in the Attic” foi o momento em que tudo realmente começou a acontecer para o Aerosmith:
“(…) [N]o sentido de poder olhar para a banda e dizer: ‘Sim, agora as coisas estão bem. As músicas são boas. A performance está ótima’. E era como se não houvesse limites para o que poderíamos fazer.”
Tom Hamilton acrescenta:
“Nós realmente colocamos tudo o que tínhamos em ‘Toys in the Attic’. Acho que o motivo pelo qual o álbum ficou tão bom foi porque tínhamos a combinação perfeita de grandes músicas e o espírito inflamado que vem depois de muitas turnês. Éramos como uma máquina bem azeitada naquela época, com um monte de músicas explosivas que mal podíamos esperar para gravar. Por isso não é surpresa que o álbum tenha saído do jeito que saiu.”
Por tudo isso, Steven Tyler define “Toys in the Attic” como “o primeiro grande álbum do Aerosmith”. “Não éramos muito ambiciosos quando começamos”, revela ele. “Só queríamos ser a maior coisa que já caminhou sobre a Terra, a maior banda de rock de todos os tempos.”
Mas a lembrança mais vívida na mente esburacada do vocalista não vem do estúdio:
“Nunca vamos esquecer de voltar para o hotel caminhando pela Oitava Avenida, no meio das p#tas e dos cafetões, ao nascer do sol, todas as manhãs.”
Aerosmith – “Toys in the Attic”

- Lançado pela Columbia Records em 8 de abril de 1975
- Produzido por Jack Douglas
Faixas:
- Toys in the Attic
- Uncle Salty
- Adam’s Apple
- Walk This Way
- Big Ten-Inch Record
- Sweet Emotion
- No More, No More
- Round and Round
- You See Me Crying
Músicos:
- Steven Tyler – vocais, teclados, gaita, percussão
- Joe Perry – guitarra solo, guitarra base em “Round and Round”, violão, slide guitar, talkbox, backing vocals, percussão
- Brad Whitford – guitarra base, guitarra solo em “Round and Round” e “You See Me Crying”
- Tom Hamilton – baixo, guitarra base em “Uncle Salty”
- Joey Kramer – bateria, percussão
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Em 5 de agosto de 1972, o Aerosmith tocou em um clube de Nova York chamado Max’s Kansas City, pagando do próprio bolso por uma vaga no evento e convidando o presidente da Columbia Records, Clive Davis, para o show. Davis saiu de lá com uma nova contratação para a gravadora, mas não antes de chamar o vocalista Steven Tyler de lado e dizer a ele: “Filho, você vai ser um grande astro”.
Mas o estrelato não viria da noite para o dia, nem para Tyler nem para seus colegas — os guitarristas Joe Perry e Brad Whitford, o baixista Tom Hamilton e o baterista Joey Kramer. Isso porque as vendas do álbum de estreia “Aerosmith” (1973) estagnaram, já que a banda fora injustamente rotulada como “uma versão barata dos Rolling Stones”. O segundo disco, “Get Your Wings” (1974) — que marcou o início de uma longa parceria com o produtor Jack Douglas —, assim como seu antecessor, também não causou grande impacto.
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Na verdade, as vendas só começaram a decolar para o Aerosmith com o terceiro álbum, um verdadeiro divisor de águas lançado em 8 de abril de 1975. Atualmente, com mais de seis milhões de cópias vendidas, o disco na época alcançou a 11ª posição na Billboard e trouxe duas das músicas mais populares da banda.
Esta é a história de “Toys in the Attic”.
No princípio, uma sorveteria
Reza a lenda que o Aerosmith tomou forma em meados de 1970, em Sunapee, uma cidade turística em New Hampshire (EUA). Na época, Anthony Joseph Perry e Steven Tallarico se conheceram em uma sorveteria onde o primeiro, também guitarrista, trabalhava.
Filho de um pianista clássico, Tallarico estudou piano antes de descobrir que sua verdadeira paixão era a bateria. Convidado a assistir à banda de Perry, The Jam Band, que contava com Tom Hamilton no baixo, em um bar chamado The Barn, ele ficou impressionado. “Talvez um dia toquemos juntos”, disse a Perry no dia seguinte.
Isso só se concretizou quando Tallarico, agora adotando o nome artístico Steven Tyler, insatisfeito com a banda em que estava, decidiu trocar a bateria pelo microfone e unir forças com Perry e Hamilton. Por indicação do segundo guitarrista, Ray Tabano, o baterista Joey Kramer — que por coincidência fora colega de escola de Tyler em Nova York — fez um teste e passou. Batizada com um nome que Kramer havia inventado na época do colégio, nascia assim a primeira formação do Aerosmith.
Após isso, a banda se mudou para Boston e passou a dividir um teto. Seu show de estreia aconteceu no finalzinho de 1970, em circunstâncias nada glamourosas, na Nipmuc Regional High School. Os estudantes adoraram-nos.
O Aerosmith seguiu tocando covers de Yardbirds, Beatles e Rolling Stones em colégios e festas universitárias por um cachê modesto de 300 dólares e uma caixa de bombons enquanto compunha músicas autorais. Com isso, sua reputação cruzou as fronteiras de Boston, culminando na sequência de três noites no Max’s Kansas City que mudaria tudo. Nesse ínterim, Tabano perdeu o posto para Brad Whitford.
Com um orçamento modesto para gravação em mãos, os cinco entraram no Intermedia Studios, em Boston, para registrar seu álbum de estreia, “Aerosmith”, sob a produção de Adrian Barber (Cream, Vanilla Fudge, The Allman Brothers Band). Com exceção de “Dream On”, que teve um sucesso moderado (59º lugar nas paradas), o álbum passou despercebido. Mas o grupo não se deixou abalar e caiu na estrada, abrindo shows para nomes como The Kinks e Mott the Hoople e, em uma das combinações mais surreais do rock, para a Mahavishnu Orchestra, conquistando fãs na base da persistência.
No fim de 1973, o Aerosmith gravou “Get Your Wings”, trazendo faixas como “Same Old Song and Dance”, “Lord of the Thighs”, “Seasons of Wither” e uma versão de “Train Kept a Rollin’”, dos Yardbirds. Mesmo assim, o álbum, lançado em 1º de março de 1974, não trouxe o sucesso comercial esperado. Mais uma vez, o quinteto voltou para a estrada, dessa vez como banda de abertura para Deep Purple e Black Sabbath. Seu próximo lançamento seria o famoso “ou vai, ou racha”.
A química da composição
As constantes turnês aumentaram a confiança do Aerosmith. Um ano na estrada para divulgar “Get Your Wings” fez com que todos se tornassem músicos ainda melhores. E, ao contrário dos dois primeiros álbuns, que eram basicamente compostos por músicas que a banda já tocava há anos nos clubes, no terceiro tudo começou do zero.
Em fevereiro de 1975, quando o grupo começou a trabalhar no álbum que se tornaria “Toys in the Attic” no Record Plant, em Nova York, tinha apenas três ou quatro músicas e uma porção de riffs que Joe Perry e Brad Whitford haviam composto na estrada. Pela primeira vez, a maior parte do material precisaria ser escrita durante as gravações.
O método adotado era simples e eficaz: Steven Tyler escrevia as letras conforme a música era finalizada pelos outros quatro integrantes. Entre essas composições estavam duas das músicas mais famosas da carreira do Aerosmith.
Escrita a partir de um riff de baixo que Tom Hamilton havia criado no colégio, “Sweet Emotion” foi uma temporã das sessões de “Toys”. O baixista relembra:
“Eu já tinha esse riff, mas era tímido demais para sugerir trabalharmos nele. Mas, de alguma forma, no último dia de gravação, Jack [Douglas] perguntou: ‘Alguém tem algo em que possamos improvisar?’. E essa música entrou no último minuto. Lembro-me de mostrar o riff para o Steven algumas vezes durante as sessões de ‘Get Your Wings’, e ele simplesmente não gostar. Minha reação imediata foi deixar para lá. Mas um dia começamos o riff em um ponto diferente, e isso deu uma nova perspectiva para ele. Mas nada aconteceu até o álbum seguinte. O resto é história. Ainda é uma música da qual me orgulho muito.”
Alcançando a posição 36 nas paradas de singles, “Sweet Emotion” conta com um instrumento incomum: Tyler chacoalhou um pacote de açúcar no microfone para substituir as maracas que estavam faltando. Segundo ele, a letra refletia sua frustração com a ex-esposa de Perry e outras tensões daquele período.
“Eu nunca conseguia me conectar com ele [Perry]. Até hoje, ele constrói muitas barreiras, mas a música sempre foi nossa salvação. E se essa é a maneira que ele escolhe para me deixar entrar, tudo bem. Só preciso continuar encontrando novas senhas para entrar lá.”
Já “Walk This Way”, o maior sucesso do álbum (10º nas paradas), foi inspirada por uma cena da comédia “O Jovem Frankenstein”, de Gene Wilder e Marty Feldman. Hamilton relembra:
“Estávamos ensaiando aquele riff e acho que o Steven nem estava presente no dia em que trabalhamos na estrutura da música. Naquela noite, fomos com Jack Douglas ao cinema e assistimos ‘O Jovem Frankenstein’. Tem aquela cena em que o Igor diz ‘walk this way’ (‘caminhe assim’), e o outro cara imita o jeito estranho dele andar, com a corcunda e tudo mais. Achamos que era a coisa mais engraçada do mundo. Então dissemos ao Steven: ‘O nome dessa música tem que ser ‘Walk This Way’’, e ele levou isso adiante.”
Sobre a letra, repleta de duplos sentidos, Tyler comenta:
“Lembro-me de ler um jornal, por volta de 1976, e havia um artigo sobre como as letras do rock eram vulgares. Eles usaram ‘Walk This Way’ como exemplo de como as letras deveriam ser mais ‘limpas’ e saudáveis. Eu não conseguia acreditar. Obviamente, eles não entenderam o significado de ‘you ain’t seen nothin’ till you’re down on the muffin’.”
Fora da raia dos hits
Além de seus dois grandes sucessos, “Toys in the Attic” trouxe faixas míticas para o cânone do Aerosmith como “Uncle Salty” — uma abordagem ao abuso infantil muitos anos antes de “Janie’s Got a Gun” —, “Adam’s Apple” e “No More, No More”, cuja letra Joe Perry exalta:
“Não é uma daquelas músicas estúpidas e genéricas de ‘eu amo rock ‘n’ roll’ que algumas bandas fazem. É uma música real sobre o estilo de vida do rock ‘n’ roll, ou o nosso estilo de vida no rock ‘n’ roll. Não sei se é a música definitiva sobre a vida na estrada, e nem me importo. É como uma página do nosso diário.”
Para o guitarrista, outro destaque do álbum é sua faixa-título, que ele define como “uma música referência de rock ‘n’ roll para o Aerosmith”.
“Aquele tipo de música rápida que sempre foi um dos meus favoritos. Esta [‘Toys in the Attic’] foi meio que a primeira. Houve muitas outras depois.”
“You See Me Crying” preenche a cota de balada do disco. Segundo Brad Whitford, “muitas longas horas” foram necessárias para a construção da música no Record Plant. E por falar em Whitford, sua principal contribuição para o trabalho está no riff de “Round and Round”. “Foi um daqueles riffs que todo mundo disse: ‘Precisamos fazer algo com isso’”, relembra ele.
Fechando o repertório, um cover de “Big Ten-Inch Record”, do cantor e saxofonista Bull Moose Jackson, foi ideia de Steven Tyler, que conta:
“Eu estava ouvindo uma fita do [locutor de rádio] Dr. Demento que um velho amigo nosso me deu, e ouvi essa música, que é originalmente de 1936 [N.E.: na verdade, é de 1952]. O grande boato é que eu digo ‘Suck on my big 10 inch’ [‘Chupe os meus 25 cm’] na gravação. Eu não digo. Mas ninguém no mundo acredita em mim.”
O primeiro grande álbum do Aerosmith
Lançado em 8 de abril de 1975, “Toys in the Attic” se tornou o primeiro disco de platina do Aerosmith, e seu sucesso ajudou os dois primeiros álbuns da banda a conquistarem certificação de ouro até o final daquele ano. O interesse pelo grupo cresceu tanto que as rádios abraçaram primeiro “Walk This Way” e, em seguida, deram nova chance a “Dream On”, que foi relançada como single e também chegou ao Top 10.
“Todas as peças se encaixaram”, resume Brad Whitford. Para Joey Kramer, “Toys in the Attic” foi o momento em que tudo realmente começou a acontecer para o Aerosmith:
“(…) [N]o sentido de poder olhar para a banda e dizer: ‘Sim, agora as coisas estão bem. As músicas são boas. A performance está ótima’. E era como se não houvesse limites para o que poderíamos fazer.”
Tom Hamilton acrescenta:
“Nós realmente colocamos tudo o que tínhamos em ‘Toys in the Attic’. Acho que o motivo pelo qual o álbum ficou tão bom foi porque tínhamos a combinação perfeita de grandes músicas e o espírito inflamado que vem depois de muitas turnês. Éramos como uma máquina bem azeitada naquela época, com um monte de músicas explosivas que mal podíamos esperar para gravar. Por isso não é surpresa que o álbum tenha saído do jeito que saiu.”
Por tudo isso, Steven Tyler define “Toys in the Attic” como “o primeiro grande álbum do Aerosmith”. “Não éramos muito ambiciosos quando começamos”, revela ele. “Só queríamos ser a maior coisa que já caminhou sobre a Terra, a maior banda de rock de todos os tempos.”
Mas a lembrança mais vívida na mente esburacada do vocalista não vem do estúdio:
“Nunca vamos esquecer de voltar para o hotel caminhando pela Oitava Avenida, no meio das p#tas e dos cafetões, ao nascer do sol, todas as manhãs.”
Aerosmith – “Toys in the Attic”

- Lançado pela Columbia Records em 8 de abril de 1975
- Produzido por Jack Douglas
Faixas:
- Toys in the Attic
- Uncle Salty
- Adam’s Apple
- Walk This Way
- Big Ten-Inch Record
- Sweet Emotion
- No More, No More
- Round and Round
- You See Me Crying
Músicos:
- Steven Tyler – vocais, teclados, gaita, percussão
- Joe Perry – guitarra solo, guitarra base em “Round and Round”, violão, slide guitar, talkbox, backing vocals, percussão
- Brad Whitford – guitarra base, guitarra solo em “Round and Round” e “You See Me Crying”
- Tom Hamilton – baixo, guitarra base em “Uncle Salty”
- Joey Kramer – bateria, percussão
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