Betty Faria, aos 83 anos, voltou ao centro das atenções ao abordar um tema que divide opiniões: o impacto do politicamente correto na arte e na sociedade. Em entrevista recente ao videocast Novelão, ao lado do diretor Ricardo Linhares, a atriz, conhecida por protagonizar a novela Tieta, atualmente reprisada pela TV Globo, expôs sua visão crítica sobre as limitações impostas às expressões artísticas nos dias atuais. A trama, exibida originalmente em 1989, traz enredos polêmicos, como o relacionamento entre Tieta e seu sobrinho seminarista Ricardo, interpretado por Cássio Gabus Mendes, algo que, segundo Linhares, dificilmente passaria pelo crivo das emissoras hoje.
A atriz não mediu palavras ao revelar que mantém uma “lista de palavras proibidas” fornecida por alguém da televisão, uma tentativa de se adequar às normas contemporâneas. Criada em uma geração marcada pela luta por liberdade, Betty reflete sobre como a espontaneidade de outrora foi substituída por restrições que, em sua visão, escondem a essência das pessoas. Para ela, o politicamente correto é uma forma de repressão que mascara sentimentos genuínos e impede os artistas de mostrarem quem realmente são.
Por outro lado, Ricardo Linhares trouxe uma perspectiva técnica ao debate, lembrando que, na época da produção, os roteiristas tinham mais liberdade criativa. Ele destacou que, apesar do receio de cortes por causa da classificação indicativa, a novela nunca enfrentou grandes barreiras. A combinação entre os comentários da atriz e do diretor reacende uma discussão antiga, mas ainda relevante: até que ponto as regras atuais beneficiam ou prejudicam a produção cultural?
Tieta e a rebeldia que resiste ao tempo
Betty Faria não esconde sua identificação com a personagem que marcou sua carreira. Tieta, uma mulher forte e sem amarras, reflete traços da personalidade da atriz, que se descreve como rebelde desde sempre. Na novela, a protagonista usa sua sensualidade para desafiar a moral conservadora da fictícia Santana do Agreste, seduzindo o sobrinho Ricardo como parte de uma vingança contra a irmã Perpétua, vivida por Joana Fomm. O que começa como um plano calculado evolui para um amor inesperado, um enredo que mistura tabus e provocações.
A atriz enxerga nesse papel um espelho de sua própria trajetória. Nascida em 1941, ela viveu os anos 1970, período de efervescência cultural no Brasil, quando o país saía de duas décadas de ditadura militar. Foi uma era de resistência, marcada por obras que desafiavam censores e conventions sociais. “Eu venho dessa escola de vida que não aceita repressão”, afirmou Betty, lembrando como a arte daquela época carregava uma energia libertadora que, para ela, está em falta hoje.
Enquanto isso, o diretor reforça que Tieta, apesar de ousada, nunca cruzou certas linhas. A trama evitava violência explícita e focava em conflitos emocionais e psicológicos, o que ajudou a driblar possíveis censuras na época. Ainda assim, ele reconhece que os tempos mudaram, e o mesmo roteiro, se apresentado hoje, enfrentaria resistência por parte de executivos e do público mais atento às sensibilidades contemporâneas.
Politicamente correto sob o olhar da arte
O debate sobre o politicamente correto não é novidade, mas ganha força com depoimentos como o de Betty Faria. A atriz argumenta que a imposição de regras linguísticas e temáticas cria uma barreira entre o artista e sua autenticidade. Para ela, a necessidade de “segurar” palavras ou ideias reflete uma hipocrisia cultural que vai contra o espírito livre que a arte deveria carregar. “Você não mostra o coração”, dispara, apontando que o excesso de filtros pode transformar relações e criações em algo superficial.
Ricardo Linhares complementa essa visão ao lembrar que, nos anos 1980, os criadores de Tieta não se preocupavam tanto com o que “podia” ou “não podia” ser dito. A liberdade narrativa permitiu explorar temas complexos, como incesto e poder, sem o peso das restrições atuais. Ele acredita que, hoje, a sinopse da novela seria rejeitada logo na primeira reunião, um sinal de como as prioridades da indústria audiovisual mudaram nas últimas décadas.
Essa percepção não é isolada. Nos últimos anos, diversas produções enfrentaram críticas por conteúdos considerados sensíveis. Novelas, filmes e séries passaram a adotar uma postura mais cautelosa, muitas vezes ajustando roteiros para evitar controvérsias. O resultado, segundo vozes como a de Betty, é uma arte menos ousada, que prefere o conforto à provocação.
Liberdade perdida ou evolução necessária?
A crítica de Betty Faria ao politicamente correto ecoa em um momento em que a sociedade discute os limites da liberdade de expressão. Nos anos 1970, o Brasil vivia a transição para a redemocratização, e a cultura servia como arma contra a repressão. Peças de teatro como “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, e músicas de artistas como Chico Buarque desafiavam o status quo, muitas vezes enfrentando a censura direta do regime militar. Era um tempo em que a arte carregava um papel político explícito, algo que Betty carrega em sua memória e em sua forma de ver o mundo.
Hoje, porém, o cenário é outro. As redes sociais amplificaram as vozes do público, e o que antes passava despercebido agora pode gerar campanhas de boicote ou debates acalorados. Produtoras e emissoras, cientes desse poder, optam por evitar riscos. Para Linhares, isso significa que histórias como a de Tieta, com sua mistura de sedução e subversão, teriam dificuldade para encontrar espaço em um mercado dominado por preocupações éticas e comerciais.
Betty, no entanto, não vê essa mudança como um avanço. Para ela, o politicamente correto é uma forma de controle disfarçado, que limita a criatividade e a honestidade. “Eu não confio em quem é politicamente correto demais”, afirma, sugerindo que a autenticidade é sacrificada em nome de uma fachada de perfeição moral.
- Casos que mostram a mudança nos tempos:
- Relacionamento entre Tieta e Ricardo seria alvo de críticas hoje por envolver tabus familiares.
- Novelas atuais evitam temas polêmicos para não afastar anunciantes ou público.
- Artistas enfrentam pressões para se adequar a discursos aceitáveis nas redes sociais.
Impacto nas novas gerações de artistas
Jovens atores e roteiristas, que não viveram a liberdade dos anos 1970, encaram um mercado bem diferente. A preocupação com a recepção do público e a possibilidade de “cancelamento” moldam escolhas criativas desde o início. Betty Faria lamenta essa realidade, destacando que a arte perde sua essência quando é guiada pelo medo. “A gente brincava, cantava, não tinha hipocrisia”, diz, relembrando um tempo em que as palavras fluíam sem tantas amarras.
Ricardo Linhares, por sua vez, aponta que a classificação indicativa sempre foi um fator a considerar, mas nunca tão determinante quanto agora. Na época de Tieta, a emissora conseguia equilibrar ousadia e responsabilidade, algo que ele vê como mais difícil hoje. “A gente tinha medo que cortassem, mas no fim dava tudo certo”, recorda, comparando com o rigor atual das aprovações.
O contraste entre passado e presente fica evidente na forma como os dois enxergam o legado da novela. Para Betty, Tieta é um símbolo de resistência que ainda inspira, enquanto Linhares reconhece que sua produção seria um desafio logístico e ético nos dias atuais. Ambos concordam, porém, que a trama marcou época por sua coragem de ir além do esperado.
Temas polêmicos que definiram Tieta
A novela não se limitava ao romance entre Tieta e Ricardo. Outros elementos, como a crítica à hipocrisia religiosa e o empoderamento feminino, permeavam a história. Perpétua, a irmã devota e repressora, representava o conservadorismo que Tieta vinha desconstruir. A protagonista, ao retornar à cidade após anos de ausência, trazia uma energia disruptiva, desafiando normas e expondo contradições.
Essa abordagem, segundo Betty, reflete sua própria visão de mundo. “Sempre fui contra o falso moralismo”, diz, conectando sua experiência pessoal ao papel. A atriz acredita que a força de Tieta está em sua capacidade de mostrar verdades incômodas, algo que ela sente falta na televisão atual.
Já Linhares destaca a habilidade da equipe em equilibrar os tons da narrativa. A novela misturava humor, drama e crítica social, criando um universo rico que conquistou o público. “Não era só ousadia pela ousadia”, explica, enfatizando que cada escolha tinha um propósito na trama.
- Momentos marcantes da novela:
- Tieta enfrentando Perpétua em embates cheios de ironia e tensão.
- A sedução de Ricardo como símbolo de quebra de tabus.
- Cenas que expunham a hipocrisia da elite local com leveza e acidez.
Arte e sociedade em transformação
O embate entre liberdade criativa e normas sociais não é exclusivo do Brasil. Em todo o mundo, a indústria do entretenimento enfrenta dilemas semelhantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, séries como “Game of Thrones” receberam críticas por cenas explícitas, enquanto produções mais recentes optam por abordagens menos arriscadas. No Brasil, novelas que antes abordavam temas como aborto e sexualidade com naturalidade agora hesitam diante da possibilidade de backlash.
Betty Faria vê nisso uma perda significativa. Para ela, a arte deve provocar, questionar e, acima de tudo, ser verdadeira. “Eu não aceito fingimento”, afirma, resumindo sua filosofia de vida e sua crítica ao presente. A atriz lembra que os anos 1970, apesar das dificuldades, foram um período de explosão criativa, com nomes como Elis Regina e Paulo Autran deixando legados que resistem até hoje.
Ricardo Linhares, por outro lado, reconhece que as mudanças refletem uma sociedade mais diversa e consciente. Ainda assim, ele pondera se o excesso de cautela não está sufocando a essência do que a televisão brasileira já foi capaz de oferecer. Tieta, nesse sentido, permanece como um marco de uma era menos restritiva.
Calendário de Tieta e seu impacto
A reprise da novela na TV Globo, iniciada em 2024, trouxe à tona essas reflexões. Originalmente exibida entre agosto de 1989 e março de 1990, a trama alcançava médias de 60 pontos de audiência, um feito impressionante para a época. Hoje, com a audiência fragmentada por streaming e redes sociais, os números são menores, mas o interesse pela história persiste.
- Cronologia da novela:
- Agosto de 1989: Estreia na faixa das 20h30, escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares.
- Março de 1990: Encerramento com 196 capítulos e sucesso de público.
- 2024: Reprise na Globo, reacendendo debates sobre sua relevância.
A volta de Tieta às telas mostra que os temas abordados ainda ressoam, mesmo em um contexto tão diferente. Para Betty, é uma chance de lembrar ao público o valor da autenticidade, enquanto Linhares vê na reprise uma oportunidade de revisitar uma obra que desafiou convenções sem perder o apelo popular.
Legado de uma era sem filtros
Betty Faria e Ricardo Linhares, cada um a seu modo, defendem que a arte precisa de espaço para respirar. A atriz, com sua verve rebelde, insiste que o politicamente correto é uma camisa de força que sufoca a criatividade. O diretor, mais pragmático, reconhece os desafios do mercado atual, mas não esconde a saudade de um tempo em que as ideias fluíam com menos barreiras.
A novela Tieta, com seus personagens complexos e suas provocações, segue como um testemunho dessa liberdade perdida. Seja pela sedução de Ricardo, pelas tiradas de Perpétua ou pela força de sua protagonista, a trama continua a gerar discussão, provando que histórias bem contadas atravessam gerações. Para Betty, o maior legado é a mensagem de ser fiel a si mesmo, algo que ela carrega desde os tempos em que a arte era sinônimo de resistência.

Betty Faria, aos 83 anos, voltou ao centro das atenções ao abordar um tema que divide opiniões: o impacto do politicamente correto na arte e na sociedade. Em entrevista recente ao videocast Novelão, ao lado do diretor Ricardo Linhares, a atriz, conhecida por protagonizar a novela Tieta, atualmente reprisada pela TV Globo, expôs sua visão crítica sobre as limitações impostas às expressões artísticas nos dias atuais. A trama, exibida originalmente em 1989, traz enredos polêmicos, como o relacionamento entre Tieta e seu sobrinho seminarista Ricardo, interpretado por Cássio Gabus Mendes, algo que, segundo Linhares, dificilmente passaria pelo crivo das emissoras hoje.
A atriz não mediu palavras ao revelar que mantém uma “lista de palavras proibidas” fornecida por alguém da televisão, uma tentativa de se adequar às normas contemporâneas. Criada em uma geração marcada pela luta por liberdade, Betty reflete sobre como a espontaneidade de outrora foi substituída por restrições que, em sua visão, escondem a essência das pessoas. Para ela, o politicamente correto é uma forma de repressão que mascara sentimentos genuínos e impede os artistas de mostrarem quem realmente são.
Por outro lado, Ricardo Linhares trouxe uma perspectiva técnica ao debate, lembrando que, na época da produção, os roteiristas tinham mais liberdade criativa. Ele destacou que, apesar do receio de cortes por causa da classificação indicativa, a novela nunca enfrentou grandes barreiras. A combinação entre os comentários da atriz e do diretor reacende uma discussão antiga, mas ainda relevante: até que ponto as regras atuais beneficiam ou prejudicam a produção cultural?
Tieta e a rebeldia que resiste ao tempo
Betty Faria não esconde sua identificação com a personagem que marcou sua carreira. Tieta, uma mulher forte e sem amarras, reflete traços da personalidade da atriz, que se descreve como rebelde desde sempre. Na novela, a protagonista usa sua sensualidade para desafiar a moral conservadora da fictícia Santana do Agreste, seduzindo o sobrinho Ricardo como parte de uma vingança contra a irmã Perpétua, vivida por Joana Fomm. O que começa como um plano calculado evolui para um amor inesperado, um enredo que mistura tabus e provocações.
A atriz enxerga nesse papel um espelho de sua própria trajetória. Nascida em 1941, ela viveu os anos 1970, período de efervescência cultural no Brasil, quando o país saía de duas décadas de ditadura militar. Foi uma era de resistência, marcada por obras que desafiavam censores e conventions sociais. “Eu venho dessa escola de vida que não aceita repressão”, afirmou Betty, lembrando como a arte daquela época carregava uma energia libertadora que, para ela, está em falta hoje.
Enquanto isso, o diretor reforça que Tieta, apesar de ousada, nunca cruzou certas linhas. A trama evitava violência explícita e focava em conflitos emocionais e psicológicos, o que ajudou a driblar possíveis censuras na época. Ainda assim, ele reconhece que os tempos mudaram, e o mesmo roteiro, se apresentado hoje, enfrentaria resistência por parte de executivos e do público mais atento às sensibilidades contemporâneas.
Politicamente correto sob o olhar da arte
O debate sobre o politicamente correto não é novidade, mas ganha força com depoimentos como o de Betty Faria. A atriz argumenta que a imposição de regras linguísticas e temáticas cria uma barreira entre o artista e sua autenticidade. Para ela, a necessidade de “segurar” palavras ou ideias reflete uma hipocrisia cultural que vai contra o espírito livre que a arte deveria carregar. “Você não mostra o coração”, dispara, apontando que o excesso de filtros pode transformar relações e criações em algo superficial.
Ricardo Linhares complementa essa visão ao lembrar que, nos anos 1980, os criadores de Tieta não se preocupavam tanto com o que “podia” ou “não podia” ser dito. A liberdade narrativa permitiu explorar temas complexos, como incesto e poder, sem o peso das restrições atuais. Ele acredita que, hoje, a sinopse da novela seria rejeitada logo na primeira reunião, um sinal de como as prioridades da indústria audiovisual mudaram nas últimas décadas.
Essa percepção não é isolada. Nos últimos anos, diversas produções enfrentaram críticas por conteúdos considerados sensíveis. Novelas, filmes e séries passaram a adotar uma postura mais cautelosa, muitas vezes ajustando roteiros para evitar controvérsias. O resultado, segundo vozes como a de Betty, é uma arte menos ousada, que prefere o conforto à provocação.
Liberdade perdida ou evolução necessária?
A crítica de Betty Faria ao politicamente correto ecoa em um momento em que a sociedade discute os limites da liberdade de expressão. Nos anos 1970, o Brasil vivia a transição para a redemocratização, e a cultura servia como arma contra a repressão. Peças de teatro como “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, e músicas de artistas como Chico Buarque desafiavam o status quo, muitas vezes enfrentando a censura direta do regime militar. Era um tempo em que a arte carregava um papel político explícito, algo que Betty carrega em sua memória e em sua forma de ver o mundo.
Hoje, porém, o cenário é outro. As redes sociais amplificaram as vozes do público, e o que antes passava despercebido agora pode gerar campanhas de boicote ou debates acalorados. Produtoras e emissoras, cientes desse poder, optam por evitar riscos. Para Linhares, isso significa que histórias como a de Tieta, com sua mistura de sedução e subversão, teriam dificuldade para encontrar espaço em um mercado dominado por preocupações éticas e comerciais.
Betty, no entanto, não vê essa mudança como um avanço. Para ela, o politicamente correto é uma forma de controle disfarçado, que limita a criatividade e a honestidade. “Eu não confio em quem é politicamente correto demais”, afirma, sugerindo que a autenticidade é sacrificada em nome de uma fachada de perfeição moral.
- Casos que mostram a mudança nos tempos:
- Relacionamento entre Tieta e Ricardo seria alvo de críticas hoje por envolver tabus familiares.
- Novelas atuais evitam temas polêmicos para não afastar anunciantes ou público.
- Artistas enfrentam pressões para se adequar a discursos aceitáveis nas redes sociais.
Impacto nas novas gerações de artistas
Jovens atores e roteiristas, que não viveram a liberdade dos anos 1970, encaram um mercado bem diferente. A preocupação com a recepção do público e a possibilidade de “cancelamento” moldam escolhas criativas desde o início. Betty Faria lamenta essa realidade, destacando que a arte perde sua essência quando é guiada pelo medo. “A gente brincava, cantava, não tinha hipocrisia”, diz, relembrando um tempo em que as palavras fluíam sem tantas amarras.
Ricardo Linhares, por sua vez, aponta que a classificação indicativa sempre foi um fator a considerar, mas nunca tão determinante quanto agora. Na época de Tieta, a emissora conseguia equilibrar ousadia e responsabilidade, algo que ele vê como mais difícil hoje. “A gente tinha medo que cortassem, mas no fim dava tudo certo”, recorda, comparando com o rigor atual das aprovações.
O contraste entre passado e presente fica evidente na forma como os dois enxergam o legado da novela. Para Betty, Tieta é um símbolo de resistência que ainda inspira, enquanto Linhares reconhece que sua produção seria um desafio logístico e ético nos dias atuais. Ambos concordam, porém, que a trama marcou época por sua coragem de ir além do esperado.
Temas polêmicos que definiram Tieta
A novela não se limitava ao romance entre Tieta e Ricardo. Outros elementos, como a crítica à hipocrisia religiosa e o empoderamento feminino, permeavam a história. Perpétua, a irmã devota e repressora, representava o conservadorismo que Tieta vinha desconstruir. A protagonista, ao retornar à cidade após anos de ausência, trazia uma energia disruptiva, desafiando normas e expondo contradições.
Essa abordagem, segundo Betty, reflete sua própria visão de mundo. “Sempre fui contra o falso moralismo”, diz, conectando sua experiência pessoal ao papel. A atriz acredita que a força de Tieta está em sua capacidade de mostrar verdades incômodas, algo que ela sente falta na televisão atual.
Já Linhares destaca a habilidade da equipe em equilibrar os tons da narrativa. A novela misturava humor, drama e crítica social, criando um universo rico que conquistou o público. “Não era só ousadia pela ousadia”, explica, enfatizando que cada escolha tinha um propósito na trama.
- Momentos marcantes da novela:
- Tieta enfrentando Perpétua em embates cheios de ironia e tensão.
- A sedução de Ricardo como símbolo de quebra de tabus.
- Cenas que expunham a hipocrisia da elite local com leveza e acidez.
Arte e sociedade em transformação
O embate entre liberdade criativa e normas sociais não é exclusivo do Brasil. Em todo o mundo, a indústria do entretenimento enfrenta dilemas semelhantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, séries como “Game of Thrones” receberam críticas por cenas explícitas, enquanto produções mais recentes optam por abordagens menos arriscadas. No Brasil, novelas que antes abordavam temas como aborto e sexualidade com naturalidade agora hesitam diante da possibilidade de backlash.
Betty Faria vê nisso uma perda significativa. Para ela, a arte deve provocar, questionar e, acima de tudo, ser verdadeira. “Eu não aceito fingimento”, afirma, resumindo sua filosofia de vida e sua crítica ao presente. A atriz lembra que os anos 1970, apesar das dificuldades, foram um período de explosão criativa, com nomes como Elis Regina e Paulo Autran deixando legados que resistem até hoje.
Ricardo Linhares, por outro lado, reconhece que as mudanças refletem uma sociedade mais diversa e consciente. Ainda assim, ele pondera se o excesso de cautela não está sufocando a essência do que a televisão brasileira já foi capaz de oferecer. Tieta, nesse sentido, permanece como um marco de uma era menos restritiva.
Calendário de Tieta e seu impacto
A reprise da novela na TV Globo, iniciada em 2024, trouxe à tona essas reflexões. Originalmente exibida entre agosto de 1989 e março de 1990, a trama alcançava médias de 60 pontos de audiência, um feito impressionante para a época. Hoje, com a audiência fragmentada por streaming e redes sociais, os números são menores, mas o interesse pela história persiste.
- Cronologia da novela:
- Agosto de 1989: Estreia na faixa das 20h30, escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares.
- Março de 1990: Encerramento com 196 capítulos e sucesso de público.
- 2024: Reprise na Globo, reacendendo debates sobre sua relevância.
A volta de Tieta às telas mostra que os temas abordados ainda ressoam, mesmo em um contexto tão diferente. Para Betty, é uma chance de lembrar ao público o valor da autenticidade, enquanto Linhares vê na reprise uma oportunidade de revisitar uma obra que desafiou convenções sem perder o apelo popular.
Legado de uma era sem filtros
Betty Faria e Ricardo Linhares, cada um a seu modo, defendem que a arte precisa de espaço para respirar. A atriz, com sua verve rebelde, insiste que o politicamente correto é uma camisa de força que sufoca a criatividade. O diretor, mais pragmático, reconhece os desafios do mercado atual, mas não esconde a saudade de um tempo em que as ideias fluíam com menos barreiras.
A novela Tieta, com seus personagens complexos e suas provocações, segue como um testemunho dessa liberdade perdida. Seja pela sedução de Ricardo, pelas tiradas de Perpétua ou pela força de sua protagonista, a trama continua a gerar discussão, provando que histórias bem contadas atravessam gerações. Para Betty, o maior legado é a mensagem de ser fiel a si mesmo, algo que ela carrega desde os tempos em que a arte era sinônimo de resistência.
