A dúvida sobre a possibilidade de se aposentar sem nunca ter contribuído para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é comum entre muitos brasileiros. Afinal, nem todos conseguiram manter contribuições regulares ao longo da vida, seja por trabalhos informais, desemprego ou outras circunstâncias. Para responder a essa questão, é preciso entender que a aposentadoria tradicional exige um tempo mínimo de contribuição, mas existe uma alternativa assistencial que pode amparar quem está em situação de vulnerabilidade. O Benefício de Prestação Continuada (BPC), conhecido também como LOAS, surge como uma opção para idosos e pessoas com deficiência que nunca recolheram para a Previdência Social, desde que cumpram critérios específicos de renda e idade.
No sistema previdenciário brasileiro, a aposentadoria por idade, por exemplo, demanda pelo menos 15 anos de contribuição, além de uma idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres, conforme as regras atuais. Sem esse histórico de pagamentos ao INSS, o direito a esse tipo de benefício não existe. Contudo, o BPC oferece uma saída para quem não se enquadra nessas exigências, garantindo um salário mínimo mensal a idosos acima de 65 anos ou a pessoas com deficiência de qualquer idade, desde que a renda familiar por pessoa seja inferior a um quarto do salário mínimo, equivalente a R$ 353,50 em 2025, considerando o piso de R$ 1.414,00.
Explorar essas possibilidades é essencial para milhões de brasileiros que, por diferentes motivos, não conseguiram contribuir para o INSS ao longo da vida. O BPC, embora seja uma alternativa, tem características distintas da aposentadoria tradicional, como a ausência de 13º salário e de pensão por morte para dependentes. Assim, compreender as regras e os caminhos disponíveis pode fazer a diferença na busca por uma renda mínima na velhice ou em casos de incapacidade.

Requisitos para a aposentadoria tradicional
Contribuir para o INSS é a base do sistema previdenciário brasileiro. A aposentadoria por idade, uma das modalidades mais comuns, exige que o trabalhador tenha recolhido pelo menos 180 meses, ou seja, 15 anos, além de atingir a idade mínima estabelecida pela legislação. Para homens, esse limite é de 65 anos, enquanto para mulheres é de 62, conforme ajustado pela Reforma da Previdência de 2019. Há ainda a aposentadoria por tempo de contribuição, que, embora em desuso para novos pedidos, permitia o benefício com 35 anos de recolhimento para homens e 30 para mulheres, independentemente da idade, desde que o segurado já estivesse filiado antes da reforma.
Quem nunca pagou ao INSS, portanto, não consegue atender a esses critérios. Mesmo em situações em que o trabalhador atuou como empregado formal, mas o empregador deixou de repassar as contribuições, é necessário comprovar o vínculo trabalhista com documentos como carteira de trabalho, contracheques ou testemunhas para incluir esse período no cálculo. Sem essa documentação ou sem qualquer registro de pagamento, a aposentadoria tradicional fica fora de alcance.
O que é o BPC e quem pode recebê-lo
Diferente da aposentadoria, o Benefício de Prestação Continuada não exige contribuições prévias ao INSS. Instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), ele é voltado para dois públicos principais: idosos com 65 anos ou mais e pessoas com deficiência que apresentem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial. Para ter direito, é preciso comprovar que a renda per capita familiar não ultrapassa um quarto do salário mínimo, um valor que pode ser ajustado em casos excepcionais por decisão judicial ou análise detalhada do INSS.
O processo para solicitar o BPC começa pelo cadastro no Cadastro Único (CadÚnico), sistema que reúne informações sobre famílias de baixa renda. Após essa etapa, o pedido é formalizado pelo portal Meu INSS ou em uma agência física, com a apresentação de documentos como CPF, RG e comprovantes de residência. No caso de pessoas com deficiência, uma perícia médica e social é realizada para avaliar a condição apresentada.
Principais características do BPC
O BPC garante um salário mínimo mensal, mas possui particularidades que o diferenciam da aposentadoria. Veja alguns pontos importantes:
- Não paga 13º salário, ao contrário dos benefícios previdenciários.
- Não gera pensão por morte para dependentes após o falecimento do beneficiário.
- Exige revisão periódica, geralmente a cada dois anos, para confirmar que as condições de elegibilidade ainda existem.
- Pode ser acumulado com outros benefícios assistenciais em situações específicas, como despesas médicas altas, desde que autorizado por avaliação social.
Essas diferenças refletem o caráter assistencial do BPC, que visa atender a quem está em extrema vulnerabilidade, e não substituir a aposentadoria contributiva.
Por que muitos não contribuem para o INSS
Milhões de brasileiros passam a vida inteira sem recolher para o INSS por razões diversas. O trabalho informal, que representa cerca de 38% da força de trabalho no país, segundo dados recentes do IBGE, é um dos principais fatores. Atividades como vendas ambulantes, serviços domésticos sem registro e trabalhos agrícolas muitas vezes não incluem contribuições previdenciárias. Além disso, períodos prolongados de desemprego ou a falta de informação sobre a importância de contribuir como autônomo ou facultativo também afastam as pessoas do sistema.
Em áreas rurais, especialmente no passado, a ausência de formalização era ainda mais comum. Muitos trabalhadores dedicaram décadas à agricultura familiar sem jamais recolher para o INSS, dependendo, na velhice, de benefícios assistenciais como o BPC ou da ajuda de familiares. Essa realidade explica por que o benefício assistencial é tão procurado hoje.
Alternativas para quem trabalhou sem registro
Quem nunca contribuiu diretamente, mas exerceu atividades formais sem que o empregador recolhesse ao INSS, tem uma chance de buscar direitos. Comprovar o vínculo empregatício é o primeiro passo, e isso pode ser feito com documentos como contratos, recibos de pagamento, registros em carteira de trabalho ou até depoimentos de testemunhas. Se o período for reconhecido pelo INSS ou pela Justiça, ele pode contar para a aposentadoria, desde que atinja o tempo mínimo exigido.
Já os trabalhadores autônomos que não contribuíram por conta própria enfrentam um cenário mais limitado. Nesses casos, o BPC surge como a principal alternativa, desde que os critérios de renda e idade ou deficiência sejam atendidos. Para quem ainda está em idade ativa, começar a contribuir como facultativo, pagando mensalmente ao INSS, pode ser uma opção para garantir uma aposentadoria futura.
Benefícios assistenciais versus previdenciários
Compreender a diferença entre benefícios assistenciais e previdenciários é essencial para quem busca amparo na velhice. Os previdenciários, como aposentadoria por idade ou por invalidez, dependem de contribuições ao longo do tempo e oferecem vantagens como o 13º salário e a possibilidade de deixar pensão para dependentes. Já os assistenciais, como o BPC, não requerem pagamento prévio, mas são mais restritivos em termos de valores adicionais e continuidade após a morte do beneficiário.
Enquanto a aposentadoria por idade pode ultrapassar o salário mínimo dependendo das contribuições feitas, o BPC é fixo em um salário mínimo, sem ajustes por tempo de trabalho ou valor pago ao INSS. Essa distinção reflete os objetivos de cada modalidade: a primeira recompensa o histórico contributivo, enquanto a segunda foca na proteção social básica.
Passo a passo para solicitar o BPC
Solicitar o BPC exige organização e paciência. O processo começa com a inscrição no Cadastro Único, que pode ser feita em um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) próximo à residência. Depois, o pedido é registrado no Meu INSS, seja pelo site, aplicativo ou atendimento presencial. Os documentos básicos incluem identidade, CPF e comprovante de residência, mas pessoas com deficiência precisam passar por avaliação médica e social para confirmar a incapacidade.
O prazo para análise do pedido pode chegar a 90 dias, embora atrasos sejam comuns devido à alta demanda. Se aprovado, o pagamento é depositado em uma conta bancária indicada pelo beneficiário ou em uma conta aberta automaticamente pelo INSS. Em caso de negativa, é possível recorrer administrativamente ou buscar auxílio judicial.
Dados que mostram a realidade
Os números ajudam a entender a importância do BPC no Brasil. Veja algumas estatísticas relevantes:
- Cerca de 4,8 milhões de pessoas recebem o BPC atualmente, sendo 2,6 milhões idosos e 2,2 milhões com deficiência.
- Aproximadamente 38% dos trabalhadores brasileiros estão na informalidade, o que limita o acesso à aposentadoria contributiva.
- O valor do BPC, fixado em R$ 1.414,00 em 2025, é a única renda de muitas famílias em situação de pobreza extrema.
- Mais de 60% dos pedidos iniciais do BPC são negados, exigindo recursos ou ações judiciais para liberação.
Esses dados reforçam a relevância do benefício assistencial em um país com desigualdades históricas e desafios no mercado de trabalho.
Impactos do BPC na vida dos beneficiários
Receber o BPC pode transformar a realidade de quem nunca contribuiu para o INSS. Para idosos em situação de pobreza, o benefício garante o básico, como alimentação, remédios e moradia, sem depender exclusivamente de familiares. Já para pessoas com deficiência, o valor ajuda a cobrir despesas com tratamentos, equipamentos de acessibilidade ou transporte, aliviando o peso financeiro sobre o núcleo familiar.
Por outro lado, a limitação a um salário mínimo e a falta de 13º salário podem dificultar o planejamento a longo prazo. Além disso, a necessidade de revisão periódica gera insegurança, já que mudanças na renda familiar ou na condição de saúde podem levar à suspensão do pagamento. Apesar disso, o BPC é um suporte vital para milhões de brasileiros.
Desafios no acesso ao benefício
Conseguir o BPC nem sempre é simples. A exigência de renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo é um dos principais entraves, especialmente em famílias numerosas ou com outros membros trabalhando informalmente. A soma de todos os ganhos, mesmo que pequenos, pode ultrapassar o limite, resultando em negativa do pedido. Além disso, a perícia para pessoas com deficiência enfrenta filas e demoras, agravadas pela falta de profissionais nas agências do INSS.
Outro obstáculo é a falta de informação. Muitos brasileiros desconhecem o benefício ou não sabem como iniciar o processo, o que leva a uma subutilização do programa. Em regiões afastadas, o acesso a CRAS ou a internet para usar o Meu INSS também é limitado, dificultando ainda mais a solicitação.
Histórico do BPC no Brasil
O Benefício de Prestação Continuada foi criado em 1993, com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social, e começou a ser pago em 1996. Inicialmente, o valor era de meio salário mínimo, mas passou a um salário integral em 2004, ampliando seu alcance. Desde então, o programa se consolidou como uma das principais políticas de proteção social do país, atendendo milhões de pessoas que ficariam desamparadas sem ele.
Ao longo dos anos, o BPC enfrentou tentativas de mudanças, como a proposta de reduzir a idade mínima para 70 anos durante a Reforma da Previdência de 2019, que não foi aprovada. Hoje, ele segue como um pilar essencial para idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade.
Calendário de pagamento do BPC
Os pagamentos do BPC seguem o mesmo calendário dos benefícios previdenciários do INSS, organizados pelo número final do cartão de benefício, sem o dígito verificador. Em 2025, os depósitos começam no final de cada mês para quem recebe até um salário mínimo, com datas escalonadas. Veja um exemplo típico:
- Final 1: 25 de janeiro
- Final 2: 26 de janeiro
- Final 3: 27 de janeiro
- Final 4: 28 de janeiro
- Final 5: 29 de janeiro
- Final 6: 30 de janeiro
- Final 7: 31 de janeiro
- Final 8: 1º de fevereiro
- Final 9: 2 de fevereiro
- Final 0: 3 de fevereiro
Esse cronograma é ajustado anualmente, mas mantém a lógica de atender milhões de beneficiários de forma organizada.
Possibilidades para quem ainda pode contribuir
Quem nunca pagou o INSS, mas está em idade ativa, pode considerar contribuir como facultativo ou autônomo para garantir uma aposentadoria futura. O pagamento como facultativo é aberto a donas de casa, estudantes e desempregados, com alíquotas que variam de 5% a 20% do salário mínimo, dependendo do plano escolhido. Já o autônomo paga 20% sobre o valor declarado, com possibilidade de aumentar o benefício final.
Começar tarde exige planejamento, já que os 15 anos mínimos de contribuição levam tempo. Mesmo assim, é uma alternativa para quem quer evitar depender exclusivamente do BPC na velhice, ganhando acesso a benefícios como o 13º salário e pensão para dependentes.
Casos reais de quem vive do BPC
Histórias de beneficiários mostram o impacto do BPC na prática. Uma idosa de 68 anos, que trabalhou a vida toda como costureira informal no interior de São Paulo, nunca contribuiu para o INSS. Com a ajuda do CRAS, ela conseguiu o benefício e hoje usa o valor para pagar aluguel e comprar medicamentos. Outro exemplo é o de um jovem de 25 anos com deficiência visual, que, sem condições de trabalhar, recebe o BPC para custear transporte e cursos de capacitação.
Esses relatos evidenciam como o benefício é uma rede de segurança, mas também expõem suas limitações, como a dependência de revisões e a ausência de extras que a aposentadoria oferece. Ainda assim, para quem nunca teve a chance de contribuir, o BPC é um alívio significativo.

A dúvida sobre a possibilidade de se aposentar sem nunca ter contribuído para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é comum entre muitos brasileiros. Afinal, nem todos conseguiram manter contribuições regulares ao longo da vida, seja por trabalhos informais, desemprego ou outras circunstâncias. Para responder a essa questão, é preciso entender que a aposentadoria tradicional exige um tempo mínimo de contribuição, mas existe uma alternativa assistencial que pode amparar quem está em situação de vulnerabilidade. O Benefício de Prestação Continuada (BPC), conhecido também como LOAS, surge como uma opção para idosos e pessoas com deficiência que nunca recolheram para a Previdência Social, desde que cumpram critérios específicos de renda e idade.
No sistema previdenciário brasileiro, a aposentadoria por idade, por exemplo, demanda pelo menos 15 anos de contribuição, além de uma idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres, conforme as regras atuais. Sem esse histórico de pagamentos ao INSS, o direito a esse tipo de benefício não existe. Contudo, o BPC oferece uma saída para quem não se enquadra nessas exigências, garantindo um salário mínimo mensal a idosos acima de 65 anos ou a pessoas com deficiência de qualquer idade, desde que a renda familiar por pessoa seja inferior a um quarto do salário mínimo, equivalente a R$ 353,50 em 2025, considerando o piso de R$ 1.414,00.
Explorar essas possibilidades é essencial para milhões de brasileiros que, por diferentes motivos, não conseguiram contribuir para o INSS ao longo da vida. O BPC, embora seja uma alternativa, tem características distintas da aposentadoria tradicional, como a ausência de 13º salário e de pensão por morte para dependentes. Assim, compreender as regras e os caminhos disponíveis pode fazer a diferença na busca por uma renda mínima na velhice ou em casos de incapacidade.

Requisitos para a aposentadoria tradicional
Contribuir para o INSS é a base do sistema previdenciário brasileiro. A aposentadoria por idade, uma das modalidades mais comuns, exige que o trabalhador tenha recolhido pelo menos 180 meses, ou seja, 15 anos, além de atingir a idade mínima estabelecida pela legislação. Para homens, esse limite é de 65 anos, enquanto para mulheres é de 62, conforme ajustado pela Reforma da Previdência de 2019. Há ainda a aposentadoria por tempo de contribuição, que, embora em desuso para novos pedidos, permitia o benefício com 35 anos de recolhimento para homens e 30 para mulheres, independentemente da idade, desde que o segurado já estivesse filiado antes da reforma.
Quem nunca pagou ao INSS, portanto, não consegue atender a esses critérios. Mesmo em situações em que o trabalhador atuou como empregado formal, mas o empregador deixou de repassar as contribuições, é necessário comprovar o vínculo trabalhista com documentos como carteira de trabalho, contracheques ou testemunhas para incluir esse período no cálculo. Sem essa documentação ou sem qualquer registro de pagamento, a aposentadoria tradicional fica fora de alcance.
O que é o BPC e quem pode recebê-lo
Diferente da aposentadoria, o Benefício de Prestação Continuada não exige contribuições prévias ao INSS. Instituído pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), ele é voltado para dois públicos principais: idosos com 65 anos ou mais e pessoas com deficiência que apresentem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial. Para ter direito, é preciso comprovar que a renda per capita familiar não ultrapassa um quarto do salário mínimo, um valor que pode ser ajustado em casos excepcionais por decisão judicial ou análise detalhada do INSS.
O processo para solicitar o BPC começa pelo cadastro no Cadastro Único (CadÚnico), sistema que reúne informações sobre famílias de baixa renda. Após essa etapa, o pedido é formalizado pelo portal Meu INSS ou em uma agência física, com a apresentação de documentos como CPF, RG e comprovantes de residência. No caso de pessoas com deficiência, uma perícia médica e social é realizada para avaliar a condição apresentada.
Principais características do BPC
O BPC garante um salário mínimo mensal, mas possui particularidades que o diferenciam da aposentadoria. Veja alguns pontos importantes:
- Não paga 13º salário, ao contrário dos benefícios previdenciários.
- Não gera pensão por morte para dependentes após o falecimento do beneficiário.
- Exige revisão periódica, geralmente a cada dois anos, para confirmar que as condições de elegibilidade ainda existem.
- Pode ser acumulado com outros benefícios assistenciais em situações específicas, como despesas médicas altas, desde que autorizado por avaliação social.
Essas diferenças refletem o caráter assistencial do BPC, que visa atender a quem está em extrema vulnerabilidade, e não substituir a aposentadoria contributiva.
Por que muitos não contribuem para o INSS
Milhões de brasileiros passam a vida inteira sem recolher para o INSS por razões diversas. O trabalho informal, que representa cerca de 38% da força de trabalho no país, segundo dados recentes do IBGE, é um dos principais fatores. Atividades como vendas ambulantes, serviços domésticos sem registro e trabalhos agrícolas muitas vezes não incluem contribuições previdenciárias. Além disso, períodos prolongados de desemprego ou a falta de informação sobre a importância de contribuir como autônomo ou facultativo também afastam as pessoas do sistema.
Em áreas rurais, especialmente no passado, a ausência de formalização era ainda mais comum. Muitos trabalhadores dedicaram décadas à agricultura familiar sem jamais recolher para o INSS, dependendo, na velhice, de benefícios assistenciais como o BPC ou da ajuda de familiares. Essa realidade explica por que o benefício assistencial é tão procurado hoje.
Alternativas para quem trabalhou sem registro
Quem nunca contribuiu diretamente, mas exerceu atividades formais sem que o empregador recolhesse ao INSS, tem uma chance de buscar direitos. Comprovar o vínculo empregatício é o primeiro passo, e isso pode ser feito com documentos como contratos, recibos de pagamento, registros em carteira de trabalho ou até depoimentos de testemunhas. Se o período for reconhecido pelo INSS ou pela Justiça, ele pode contar para a aposentadoria, desde que atinja o tempo mínimo exigido.
Já os trabalhadores autônomos que não contribuíram por conta própria enfrentam um cenário mais limitado. Nesses casos, o BPC surge como a principal alternativa, desde que os critérios de renda e idade ou deficiência sejam atendidos. Para quem ainda está em idade ativa, começar a contribuir como facultativo, pagando mensalmente ao INSS, pode ser uma opção para garantir uma aposentadoria futura.
Benefícios assistenciais versus previdenciários
Compreender a diferença entre benefícios assistenciais e previdenciários é essencial para quem busca amparo na velhice. Os previdenciários, como aposentadoria por idade ou por invalidez, dependem de contribuições ao longo do tempo e oferecem vantagens como o 13º salário e a possibilidade de deixar pensão para dependentes. Já os assistenciais, como o BPC, não requerem pagamento prévio, mas são mais restritivos em termos de valores adicionais e continuidade após a morte do beneficiário.
Enquanto a aposentadoria por idade pode ultrapassar o salário mínimo dependendo das contribuições feitas, o BPC é fixo em um salário mínimo, sem ajustes por tempo de trabalho ou valor pago ao INSS. Essa distinção reflete os objetivos de cada modalidade: a primeira recompensa o histórico contributivo, enquanto a segunda foca na proteção social básica.
Passo a passo para solicitar o BPC
Solicitar o BPC exige organização e paciência. O processo começa com a inscrição no Cadastro Único, que pode ser feita em um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) próximo à residência. Depois, o pedido é registrado no Meu INSS, seja pelo site, aplicativo ou atendimento presencial. Os documentos básicos incluem identidade, CPF e comprovante de residência, mas pessoas com deficiência precisam passar por avaliação médica e social para confirmar a incapacidade.
O prazo para análise do pedido pode chegar a 90 dias, embora atrasos sejam comuns devido à alta demanda. Se aprovado, o pagamento é depositado em uma conta bancária indicada pelo beneficiário ou em uma conta aberta automaticamente pelo INSS. Em caso de negativa, é possível recorrer administrativamente ou buscar auxílio judicial.
Dados que mostram a realidade
Os números ajudam a entender a importância do BPC no Brasil. Veja algumas estatísticas relevantes:
- Cerca de 4,8 milhões de pessoas recebem o BPC atualmente, sendo 2,6 milhões idosos e 2,2 milhões com deficiência.
- Aproximadamente 38% dos trabalhadores brasileiros estão na informalidade, o que limita o acesso à aposentadoria contributiva.
- O valor do BPC, fixado em R$ 1.414,00 em 2025, é a única renda de muitas famílias em situação de pobreza extrema.
- Mais de 60% dos pedidos iniciais do BPC são negados, exigindo recursos ou ações judiciais para liberação.
Esses dados reforçam a relevância do benefício assistencial em um país com desigualdades históricas e desafios no mercado de trabalho.
Impactos do BPC na vida dos beneficiários
Receber o BPC pode transformar a realidade de quem nunca contribuiu para o INSS. Para idosos em situação de pobreza, o benefício garante o básico, como alimentação, remédios e moradia, sem depender exclusivamente de familiares. Já para pessoas com deficiência, o valor ajuda a cobrir despesas com tratamentos, equipamentos de acessibilidade ou transporte, aliviando o peso financeiro sobre o núcleo familiar.
Por outro lado, a limitação a um salário mínimo e a falta de 13º salário podem dificultar o planejamento a longo prazo. Além disso, a necessidade de revisão periódica gera insegurança, já que mudanças na renda familiar ou na condição de saúde podem levar à suspensão do pagamento. Apesar disso, o BPC é um suporte vital para milhões de brasileiros.
Desafios no acesso ao benefício
Conseguir o BPC nem sempre é simples. A exigência de renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo é um dos principais entraves, especialmente em famílias numerosas ou com outros membros trabalhando informalmente. A soma de todos os ganhos, mesmo que pequenos, pode ultrapassar o limite, resultando em negativa do pedido. Além disso, a perícia para pessoas com deficiência enfrenta filas e demoras, agravadas pela falta de profissionais nas agências do INSS.
Outro obstáculo é a falta de informação. Muitos brasileiros desconhecem o benefício ou não sabem como iniciar o processo, o que leva a uma subutilização do programa. Em regiões afastadas, o acesso a CRAS ou a internet para usar o Meu INSS também é limitado, dificultando ainda mais a solicitação.
Histórico do BPC no Brasil
O Benefício de Prestação Continuada foi criado em 1993, com a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social, e começou a ser pago em 1996. Inicialmente, o valor era de meio salário mínimo, mas passou a um salário integral em 2004, ampliando seu alcance. Desde então, o programa se consolidou como uma das principais políticas de proteção social do país, atendendo milhões de pessoas que ficariam desamparadas sem ele.
Ao longo dos anos, o BPC enfrentou tentativas de mudanças, como a proposta de reduzir a idade mínima para 70 anos durante a Reforma da Previdência de 2019, que não foi aprovada. Hoje, ele segue como um pilar essencial para idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade.
Calendário de pagamento do BPC
Os pagamentos do BPC seguem o mesmo calendário dos benefícios previdenciários do INSS, organizados pelo número final do cartão de benefício, sem o dígito verificador. Em 2025, os depósitos começam no final de cada mês para quem recebe até um salário mínimo, com datas escalonadas. Veja um exemplo típico:
- Final 1: 25 de janeiro
- Final 2: 26 de janeiro
- Final 3: 27 de janeiro
- Final 4: 28 de janeiro
- Final 5: 29 de janeiro
- Final 6: 30 de janeiro
- Final 7: 31 de janeiro
- Final 8: 1º de fevereiro
- Final 9: 2 de fevereiro
- Final 0: 3 de fevereiro
Esse cronograma é ajustado anualmente, mas mantém a lógica de atender milhões de beneficiários de forma organizada.
Possibilidades para quem ainda pode contribuir
Quem nunca pagou o INSS, mas está em idade ativa, pode considerar contribuir como facultativo ou autônomo para garantir uma aposentadoria futura. O pagamento como facultativo é aberto a donas de casa, estudantes e desempregados, com alíquotas que variam de 5% a 20% do salário mínimo, dependendo do plano escolhido. Já o autônomo paga 20% sobre o valor declarado, com possibilidade de aumentar o benefício final.
Começar tarde exige planejamento, já que os 15 anos mínimos de contribuição levam tempo. Mesmo assim, é uma alternativa para quem quer evitar depender exclusivamente do BPC na velhice, ganhando acesso a benefícios como o 13º salário e pensão para dependentes.
Casos reais de quem vive do BPC
Histórias de beneficiários mostram o impacto do BPC na prática. Uma idosa de 68 anos, que trabalhou a vida toda como costureira informal no interior de São Paulo, nunca contribuiu para o INSS. Com a ajuda do CRAS, ela conseguiu o benefício e hoje usa o valor para pagar aluguel e comprar medicamentos. Outro exemplo é o de um jovem de 25 anos com deficiência visual, que, sem condições de trabalhar, recebe o BPC para custear transporte e cursos de capacitação.
Esses relatos evidenciam como o benefício é uma rede de segurança, mas também expõem suas limitações, como a dependência de revisões e a ausência de extras que a aposentadoria oferece. Ainda assim, para quem nunca teve a chance de contribuir, o BPC é um alívio significativo.
