O deputado federal Glauber Braga, do PSOL do Rio de Janeiro, anunciou nesta quarta-feira, 9 de abril, que iniciou uma greve de fome em protesto contra o processo de cassação de seu mandato, em tramitação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. A decisão veio após a leitura de um relatório favorável à sua punição, elaborado pelo deputado Paulo Magalhães, do PSD da Bahia, que recomenda a perda do mandato por quebra de decoro parlamentar. O caso tem origem em um incidente ocorrido em abril de 2024, quando Braga expulsou, com empurrões e chutes, um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) das dependências da Câmara. O parlamentar declarou que permanecerá sem se alimentar até o desfecho final do processo, prometendo ficar na sala do Conselho de Ética durante todo o período.
A atitude de Glauber Braga marca um momento de tensão no Legislativo brasileiro. Ele justificou a medida como uma forma de resistência ao que classifica como uma perseguição política articulada pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, do PP de Alagoas. O deputado alega que o processo é uma retaliação por suas críticas ao chamado “orçamento secreto” e a Lira, a quem já chamou de “bandido” em plenário. A sessão do Conselho de Ética foi acompanhada por apoiadores do parlamentar, incluindo militantes do PSOL e o ator Marco Nanini, que lotaram os corredores do Congresso em demonstração de solidariedade. O clima foi de tumulto, com gritos de “Glauber fica” ecoando enquanto o deputado fazia seu pronunciamento.
🇧🇷 AGORA: Glauber Braga (PSOL-RJ) anuncia greve de fome até o fim do processo no Conselho de Ética que pode levar à sua cassação.
Deputado responde por agredir e expulsar um militante do MBL na Câmara após o homem insultar sua mãe. pic.twitter.com/wwwSSjPMRx
— Eixo Político (@eixopolitico) April 9, 2025
Para Braga, a greve de fome é um ato extremo, mas necessário. “Estou o dia inteiro em jejum e, a partir de agora, não vou me alimentar até o fechamento desse processo”, afirmou ele, visivelmente emocionado. O parlamentar destacou que não pretende ceder ao que considera uma tentativa de silenciá-lo politicamente. A decisão recebeu apoio imediato de colegas de partido, como a deputada Luiza Erundina, do PSOL de São Paulo, que pediu aos aliados que permaneçam ao lado de Braga em solidariedade. O PSOL, por meio de sua líder Talíria Petrone, do Rio de Janeiro, classificou o processo como uma agressão não apenas ao deputado, mas a toda a esquerda brasileira, prometendo recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso a cassação avance.
O incidente que desencadeou o processo
Em abril de 2024, Glauber Braga se envolveu em um confronto físico com Gabriel Costenaro, integrante do MBL, em um dos anexos da Câmara dos Deputados. O desentendimento começou com uma discussão verbal, que evoluiu para empurrões e chutes por parte do parlamentar, na tentativa de expulsar o militante do prédio. Imagens do sistema de monitoramento da Casa registraram o momento em que Braga reagiu de forma agressiva, enquanto outras pessoas tentavam intervir. A confusão continuou fora do edifício e só foi interrompida por policiais legislativos, que levaram os envolvidos ao Departamento de Polícia Legislativa (Depol) para prestar depoimento.
O Partido Novo, autor da representação contra Braga, argumenta que o deputado violou as normas de decoro parlamentar ao usar de violência física contra Costenaro. Segundo a denúncia, o comportamento do parlamentar extrapolou os limites de suas prerrogativas, configurando abuso de poder e desrespeito às regras de convivência no Legislativo. O relator Paulo Magalhães acolheu a tese e, em seu parecer, destacou que as provas, incluindo os vídeos, confirmam a conduta inadequada de Braga, justificando a sanção mais grave: a perda do mandato.
Braga, por sua vez, defende que agiu em legítima defesa da honra de sua mãe, Saudade Braga, ex-prefeita de Nova Friburgo, que faleceu em setembro de 2024. Ele alega que Costenaro o provocou ao ofender sua mãe, então em estado grave de saúde, com insultos como “corrupta” e “safada”. O deputado afirma que o militante do MBL é conhecido por ações de provocação contra figuras da esquerda, buscando gerar conteúdo para redes sociais. “A reiteração das agressões daquele provocador é conhecida”, disse Braga durante sua defesa, reforçando que sua reação foi motivada por uma questão pessoal e emocional.
Repercussão no Conselho de Ética
A sessão do Conselho de Ética que debateu o relatório de Paulo Magalhães foi marcada por interrupções e embates entre parlamentares. O parecer favorável à cassação foi apresentado na semana anterior, mas a votação foi adiada por um pedido de vista do deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio de Janeiro. Nesta quarta-feira, porém, a discussão foi retomada, e a decisão de encerrar os debates, proposta por Marcos Pollon, do PL de Mato Grosso do Sul, e Fábio Costa, do PP de Alagoas, foi aprovada por 14 votos a 4. A medida gerou revolta entre os aliados de Braga, que acusaram o colegiado de acelerar o processo para prejudicar o deputado.
Após o encerramento da discussão, Glauber tomou a palavra e anunciou a greve de fome, recebendo aplausos de seus apoiadores. O gesto foi interpretado como uma tentativa de chamar a atenção para o que ele considera uma injustiça. Parlamentares da oposição, como Chico Alencar, defenderam que a punição é desproporcional ao incidente, enquanto outros, como Kim Kataguiri, do União de São Paulo e coordenador nacional do MBL, reforçaram a necessidade de punição. “O futuro ex-deputado Glauber Braga é um desequilibrado”, declarou Kataguiri, lembrando outros episódios de atrito envolvendo o psolista.
O relatório de Magalhães ainda precisa ser votado pelo Conselho de Ética, o que deve ocorrer na próxima semana. Caso aprovado, o processo seguirá para o plenário da Câmara, onde será necessária a maioria absoluta, ou seja, pelo menos 257 votos dos 513 deputados, para que a cassação se concretize. Até lá, Braga promete manter sua resistência, transformando o plenário em palco de um protesto que já mobiliza aliados e adversários.
- Ato de resistência: Glauber anunciou que não sairá da sala do Conselho de Ética até o fim do processo.
- Apoio de peso: Luiza Erundina e outros deputados do PSOL se comprometeram a acompanhar o colega.
- Tumulto na sessão: A aprovação do encerramento dos debates foi recebida com protestos e gritos de “Glauber fica”.
Histórico de embates de Glauber Braga
Glauber Braga não é estranho a controvérsias no Congresso. Natural de Nova Friburgo, no interior do Rio de Janeiro, o deputado está em seu quarto mandato na Câmara, tendo iniciado sua carreira política em 2007 pelo PSB, antes de migrar para o PSOL em 2015. Conhecido por seu estilo combativo, ele já protagonizou diversos embates com colegas e figuras públicas. Em 2019, por exemplo, chamou o então ministro da Justiça, Sergio Moro, de “ladrão” durante uma audiência, o que gerou um processo no Conselho de Ética arquivado posteriormente.
Outro episódio marcante ocorreu em 2022, quando Braga discutiu com Arthur Lira no plenário, acusando-o de atuar como “ditador” e defendendo que ninguém o calaria. A relação com Lira, aliás, é um dos pontos centrais de sua narrativa atual. O deputado afirma que o ex-presidente da Câmara orquestrou o processo de cassação como vingança por suas denúncias contra o orçamento secreto, esquema de emendas parlamentares que Lira teria usado para consolidar poder político. “Eu estou lutando contra a compra de apoio político articulada por Arthur Lira”, declarou Braga na sessão desta quarta-feira.
Além disso, em setembro de 2024, Glauber foi detido durante uma ação de desocupação na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde apoiava estudantes que protestavam contra cortes em benefícios. Liberado após dez horas, o episódio reforçou sua imagem como um político disposto a ir às últimas consequências em defesa de suas causas. Esses antecedentes ajudam a explicar a radicalidade de sua decisão atual, que já divide opiniões entre parlamentares e a sociedade.
O que está em jogo no processo de cassação
Caso o Conselho de Ética aprove o relatório de Paulo Magalhães, o futuro político de Glauber Braga dependerá do plenário da Câmara. A cassação de um mandato exige um quórum elevado, o que torna o desfecho incerto. Nos últimos anos, poucos processos chegaram a essa etapa. Um exemplo é o caso de Chiquinho Brazão, acusado de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco, cujo pedido de cassação está pronto para votação desde agosto de 2024, mas ainda não foi pautado.
Se perder o mandato, Braga ficará inelegível até o fim da legislatura atual, em 2026, e pelos oito anos seguintes, conforme a Lei da Ficha Limpa. Nesse cenário, sua vaga seria ocupada pela suplente mais votada da federação PSOL-Rede no Rio de Janeiro nas eleições de 2022, a ex-senadora Heloísa Helena, que obteve 38.161 votos. A possibilidade de um desfecho tão drástico alimenta o discurso do PSOL, que vê no processo uma tentativa de enfraquecer a esquerda no Congresso.
A gravidade da situação levou parlamentares próximos a Magalhães a tentarem, nos últimos dias, convencê-lo a suavizar o parecer, propondo uma punição menos severa, como uma suspensão temporária. Apesar disso, o relator manteve sua posição, argumentando que o comportamento de Braga foi “inaceitável” e exige uma resposta firme do Legislativo. A votação no Conselho de Ética será o próximo passo para definir o rumo dessa disputa.
Reações políticas e apoio popular
A decisão de Glauber Braga de iniciar uma greve de fome reverberou rapidamente entre parlamentares e movimentos sociais. O PSOL mobilizou sua base, com figuras como Talíria Petrone e Chico Alencar reforçando o discurso de que o processo é uma perseguição política. “Isso é um ataque à esquerda brasileira”, afirmou Petrone, prometendo levar o caso ao STF se necessário. A presença de Marco Nanini na sessão simbolizou o apoio de personalidades culturais ao deputado, ampliando a visibilidade do protesto.
Por outro lado, adversários como Carlos Jordy, do PL do Rio de Janeiro, ironizaram a medida, sugerindo que outros parlamentares de esquerda seguissem o exemplo em solidariedade. Kim Kataguiri, que também esteve envolvido no incidente de abril de 2024, voltou a criticar Braga, chamando-o de “desequilibrado” e defendendo que sua cassação é essencial para manter a ordem na Câmara. A polarização em torno do caso reflete o clima de animosidade que marca o Legislativo nos últimos anos.
Nas redes sociais, a hashtag #GlauberFica ganhou força, com militantes e simpatizantes do PSOL compartilhando mensagens de apoio. Eventos como o realizado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, em novembro de 2024, já haviam demonstrado a mobilização em defesa do mandato de Braga. A presença de apoiadores nos corredores da Câmara durante a sessão reforça que o caso ultrapassou os limites do Congresso, tornando-se um símbolo de resistência para parte da esquerda.
Os próximos passos do processo
O trâmite do processo de cassação de Glauber Braga segue um calendário definido pelo regimento interno da Câmara. Após a aprovação do relatório no Conselho de Ética, prevista para a próxima semana, o caso será encaminhado ao plenário, onde o presidente da Casa, Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba, terá até 90 dias úteis para pautar a votação. A demora na análise de casos anteriores, como o de Chiquinho Brazão, sugere que o desfecho pode se arrastar por meses, prolongando a greve de fome anunciada por Braga.
Enquanto isso, o deputado planeja permanecer na sala do Conselho de Ética, transformando o espaço em um ponto de resistência. A estratégia visa pressionar os colegas e manter o tema em evidência na opinião pública. Acompanham-no aliados como Luiza Erundina, cuja saúde frágil, aos 90 anos, levanta preocupações entre os parlamentares do PSOL. A presença constante de Braga no local também pode gerar novos embates, especialmente se apoiadores continuarem a ocupar os corredores do Congresso.
O desfecho do processo dependerá de articulações políticas nos bastidores. Parlamentares “bombeiros”, que buscam apaziguar conflitos, já sinalizaram que a cassação pode ser vista como excessiva, propondo alternativas como uma advertência ou suspensão. No entanto, a intransigência de Magalhães e a radicalização de Braga indicam que o confronto está longe de um acordo.
Detalhes do confronto com o MBL
O incidente que deu origem ao processo ocorreu em 16 de abril de 2024, quando Gabriel Costenaro, militante do MBL, abordou Glauber Braga em um dos anexos da Câmara. O grupo estava no local para discutir a regulamentação de motoristas de aplicativo, uma pauta que opunha interesses de parlamentares da direita e da esquerda. A discussão entre Braga e Costenaro começou de forma verbal, mas rapidamente escalou para agressões físicas, com o deputado empurrando e chutando o militante para fora do prédio.
Imagens captadas pelas câmeras de segurança mostram o momento em que Braga reage, enquanto outras pessoas tentam contê-lo. Fora da Câmara, a confusão continuou, com a intervenção de policiais legislativos. No Depol, Braga ainda trocou empurrões com Kim Kataguiri, que acompanhava Costenaro, elevando a tensão do episódio. O Novo usou os registros como prova central na representação, enquanto Braga insiste que foi uma resposta a provocações pessoais.
Costenaro, por sua vez, é conhecido por ações polêmicas. Ele já foi acusado de ameaçar a ministra Anielle Franco e de provocar militantes em eventos públicos, o que reforça a narrativa de Braga sobre seu comportamento. O histórico do militante, no entanto, não foi suficiente para convencer Magalhães, que manteve o foco na conduta do deputado como o principal problema.
Implicações para o PSOL e a esquerda
A possível cassação de Glauber Braga representa um golpe significativo para o PSOL, que perderia uma de suas vozes mais atuantes no Congresso. O partido, que tem sete deputados na atual legislatura, já enfrentou desafios recentes, como a morte de Marielle Franco em 2018 e as dificuldades de ampliar sua bancada nas eleições de 2022. A saída de Braga enfraqueceria ainda mais sua influência em pautas como direitos humanos, educação e combate às desigualdades.
Além disso, o caso alimenta o discurso de perseguição política que a esquerda vem sustentando nos últimos anos. Parlamentares do PSOL argumentam que a rapidez com que o processo contra Braga avançou contrasta com a lentidão em casos envolvendo deputados da direita, como Chiquinho Brazão. A percepção de dois pesos e duas medidas pode mobilizar a base do partido, mas também expõe as fragilidades de sua articulação no Legislativo.
O apoio de figuras como Marco Nanini e a mobilização de movimentos sociais mostram que o PSOL aposta na pressão popular para reverter o cenário. A ameaça de recorrer ao STF, caso a cassação seja aprovada, é outro indicativo de que o partido não pretende aceitar o desfecho sem luta. Enquanto isso, a greve de fome de Braga mantém o caso em evidência, desafiando os limites da política institucional.
Cronograma do processo de cassação
O andamento do processo contra Glauber Braga segue etapas definidas pelo regimento da Câmara. Veja os principais momentos previstos:
- Próxima semana: Votação do relatório de Paulo Magalhães no Conselho de Ética.
- Após aprovação: Encaminhamento ao plenário da Câmara em até 90 dias úteis.
- Votação final: Necessidade de 257 votos para confirmar a cassação.
O prazo de 90 dias úteis dá ao presidente Hugo Motta flexibilidade para definir o momento da votação, o que pode prolongar a incerteza. Até lá, Braga promete manter sua resistência, com o apoio de aliados e a atenção crescente da mídia e da sociedade.
A trajetória política de Glauber Braga
Nascido em Nova Friburgo, Glauber Braga ingressou na política em 2007, aos 25 anos, como deputado federal pelo PSB. Após três mandatos, migrou para o PSOL em 2015, consolidando-se como uma liderança combativa da esquerda. Sua atuação se destaca em pautas como a defesa da educação pública, a crítica às privatizações e o combate ao que chama de “política de conchavos” no Congresso.
Entre os episódios marcantes de sua trajetória está o confronto com Sergio Moro em 2019, quando o acusou de corrupção durante a Lava Jato. O caso gerou repercussão nacional, mas não resultou em punição. Outro momento significativo foi sua participação nos protestos na UERJ em 2024, que terminou com sua detenção temporária. Esses eventos reforçam sua imagem como um político que não teme enfrentamentos diretos.
A relação conturbada com Arthur Lira, porém, é o pano de fundo do atual processo. Braga acusa o ex-presidente da Câmara de usar sua influência para direcionar emendas parlamentares de forma pouco transparente, uma prática que ele combateu abertamente. A greve de fome iniciada agora é mais um capítulo dessa trajetória marcada por radicalidade e resistência.
O papel de Arthur Lira no caso
Arthur Lira, ex-presidente da Câmara até o início de 2025, é uma figura central na narrativa de Glauber Braga. O deputado do PSOL alega que Lira articulou o processo de cassação como retaliação por suas críticas ao orçamento secreto, um mecanismo que destinou bilhões de reais em emendas sem transparência. Braga já havia prestado depoimento à Polícia Federal em uma investigação que apura supostas manobras de Lira para liberar R$ 4,2 bilhões em recursos.
Durante sua defesa no Conselho de Ética, Braga acusou o relator Paulo Magalhães de agir a mando de Lira, sugerindo que o parecer foi “comprado” para agradar o ex-presidente da Casa. “O que está aqui colocado já havia sido estipulado com antecedência”, afirmou, apontando uma suposta ligação entre os dois parlamentares. Magalhães negou as acusações, mas o histórico de Lira, envolvido em denúncias de corrupção, dá peso às alegações de Braga para seus apoiadores.
A influência de Lira no Congresso, mesmo após deixar a presidência, continua sendo um fator determinante. Parlamentares aliados ao ex-presidente podem pressionar pela cassação, enquanto a oposição busca desmontar essa articulação. O embate entre os dois expõe as tensões de poder que atravessam o Legislativo brasileiro.
Impactos da greve de fome
A decisão de Glauber Braga de iniciar uma greve de fome traz riscos tanto para sua saúde quanto para a dinâmica política no Congresso. Aos 42 anos, o deputado está em boas condições físicas, mas a prolongação do jejum pode levar a complicações graves, especialmente se o processo se arrastar por semanas ou meses. A presença de Luiza Erundina ao seu lado aumenta a preocupação, dado o estado delicado da deputada, que já enfrentou problemas de saúde recentes.
No âmbito político, o ato radicaliza o confronto com seus adversários e coloca o Conselho de Ética sob pressão. A estratégia de permanecer na sala do colegiado pode dificultar o funcionamento do órgão, além de atrair mais apoiadores ao local, como ocorreu nesta quarta-feira. O precedente de greves de fome em contextos políticos, como as realizadas por presos durante o regime militar no Brasil, dá ao gesto de Braga um peso simbólico que ressoa entre a esquerda.
A mobilização popular em torno do caso também tende a crescer. A hashtag #GlauberFica já acumula milhares de menções nas redes sociais, e a cobertura da mídia mantém o tema em destaque. O impacto final dependerá do desfecho do processo, mas a greve de fome já transforma Braga em um mártir para seus aliados, enquanto seus críticos a veem como um sinal de desespero.
Curiosidades sobre o caso
O processo contra Glauber Braga traz à tona detalhes que ajudam a entender o contexto do embate. Confira alguns pontos relevantes:
- Paulo Magalhães, o relator, já se envolveu em uma agressão na Câmara em 2001, quando atacou um escritor crítico a seu tio, Antônio Carlos Magalhães.
- Gabriel Costenaro, o militante do MBL, é conhecido por provocações em eventos políticos, incluindo ameaças a figuras como Anielle Franco.
- A Câmara tem histórico de poucos casos de cassação: desde 2001, apenas sete deputados perderam o mandato por decisão do plenário.
Esses elementos mostram que o caso de Braga não é isolado, mas reflete tensões recorrentes no Legislativo, marcadas por rivalidades pessoais e disputas ideológicas.
O que dizem os envolvidos
As vozes no centro do caso revelam a polarização em torno do processo. Glauber Braga mantém o tom de indignação, afirmando estar “com o coração tranquilo, mas indignado” diante do que considera uma injustiça. Ele insiste que sua reação em abril de 2024 foi motivada pela defesa da honra de sua mãe e que o processo é uma tentativa de calar suas denúncias contra o establishment político.
Paulo Magalhães, por outro lado, defende a imparcialidade de seu relatório, destacando que as provas contra Braga são claras e que sua conduta foi “inaceitável”. O relator nega qualquer influência de Arthur Lira, mas evita comentar seu próprio histórico de agressão na Câmara, o que tem sido usado pela defesa de Braga para questionar sua isenção.
Kim Kataguiri, que também se envolveu no incidente, reforça a tese da cassação, chamando Braga de “desequilibrado” e apontando outros episódios de comportamento agressivo do deputado. Já aliados como Chico Alencar e Talíria Petrone veem o processo como uma perseguição orquestrada, prometendo lutar até as últimas consequências para preservar o mandato do colega.
A expectativa para a votação
A votação do relatório de Paulo Magalhães no Conselho de Ética, prevista para os próximos dias, será o primeiro teste decisivo para o futuro de Glauber Braga. O colegiado é composto por 21 membros, e a aprovação do parecer exigirá maioria simples dos presentes. Nos últimos dias, parlamentares aliados a Braga tentaram negociar uma punição mais branda, mas a postura firme do relator dificultou avanços nesse sentido.
Caso o relatório seja aprovado, o caso seguirá para o plenário, onde o cenário é ainda mais imprevisível. A necessidade de 257 votos favoráveis à cassação exige uma mobilização significativa, algo que dependerá do alinhamento entre os partidos da base de Hugo Motta e os interesses de Arthur Lira. A oposição, liderada pelo PSOL, já se organiza para barrar a medida, enquanto a greve de fome de Braga pressiona por uma solução rápida.
Até que o processo chegue ao fim, o deputado promete manter sua resistência, transformando a Câmara em um palco de confronto político e emocional. O desfecho, seja qual for, terá impactos não apenas para Braga, mas para o equilíbrio de forças no Legislativo brasileiro nos próximos anos.

O deputado federal Glauber Braga, do PSOL do Rio de Janeiro, anunciou nesta quarta-feira, 9 de abril, que iniciou uma greve de fome em protesto contra o processo de cassação de seu mandato, em tramitação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. A decisão veio após a leitura de um relatório favorável à sua punição, elaborado pelo deputado Paulo Magalhães, do PSD da Bahia, que recomenda a perda do mandato por quebra de decoro parlamentar. O caso tem origem em um incidente ocorrido em abril de 2024, quando Braga expulsou, com empurrões e chutes, um militante do Movimento Brasil Livre (MBL) das dependências da Câmara. O parlamentar declarou que permanecerá sem se alimentar até o desfecho final do processo, prometendo ficar na sala do Conselho de Ética durante todo o período.
A atitude de Glauber Braga marca um momento de tensão no Legislativo brasileiro. Ele justificou a medida como uma forma de resistência ao que classifica como uma perseguição política articulada pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, do PP de Alagoas. O deputado alega que o processo é uma retaliação por suas críticas ao chamado “orçamento secreto” e a Lira, a quem já chamou de “bandido” em plenário. A sessão do Conselho de Ética foi acompanhada por apoiadores do parlamentar, incluindo militantes do PSOL e o ator Marco Nanini, que lotaram os corredores do Congresso em demonstração de solidariedade. O clima foi de tumulto, com gritos de “Glauber fica” ecoando enquanto o deputado fazia seu pronunciamento.
🇧🇷 AGORA: Glauber Braga (PSOL-RJ) anuncia greve de fome até o fim do processo no Conselho de Ética que pode levar à sua cassação.
Deputado responde por agredir e expulsar um militante do MBL na Câmara após o homem insultar sua mãe. pic.twitter.com/wwwSSjPMRx
— Eixo Político (@eixopolitico) April 9, 2025
Para Braga, a greve de fome é um ato extremo, mas necessário. “Estou o dia inteiro em jejum e, a partir de agora, não vou me alimentar até o fechamento desse processo”, afirmou ele, visivelmente emocionado. O parlamentar destacou que não pretende ceder ao que considera uma tentativa de silenciá-lo politicamente. A decisão recebeu apoio imediato de colegas de partido, como a deputada Luiza Erundina, do PSOL de São Paulo, que pediu aos aliados que permaneçam ao lado de Braga em solidariedade. O PSOL, por meio de sua líder Talíria Petrone, do Rio de Janeiro, classificou o processo como uma agressão não apenas ao deputado, mas a toda a esquerda brasileira, prometendo recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso a cassação avance.
O incidente que desencadeou o processo
Em abril de 2024, Glauber Braga se envolveu em um confronto físico com Gabriel Costenaro, integrante do MBL, em um dos anexos da Câmara dos Deputados. O desentendimento começou com uma discussão verbal, que evoluiu para empurrões e chutes por parte do parlamentar, na tentativa de expulsar o militante do prédio. Imagens do sistema de monitoramento da Casa registraram o momento em que Braga reagiu de forma agressiva, enquanto outras pessoas tentavam intervir. A confusão continuou fora do edifício e só foi interrompida por policiais legislativos, que levaram os envolvidos ao Departamento de Polícia Legislativa (Depol) para prestar depoimento.
O Partido Novo, autor da representação contra Braga, argumenta que o deputado violou as normas de decoro parlamentar ao usar de violência física contra Costenaro. Segundo a denúncia, o comportamento do parlamentar extrapolou os limites de suas prerrogativas, configurando abuso de poder e desrespeito às regras de convivência no Legislativo. O relator Paulo Magalhães acolheu a tese e, em seu parecer, destacou que as provas, incluindo os vídeos, confirmam a conduta inadequada de Braga, justificando a sanção mais grave: a perda do mandato.
Braga, por sua vez, defende que agiu em legítima defesa da honra de sua mãe, Saudade Braga, ex-prefeita de Nova Friburgo, que faleceu em setembro de 2024. Ele alega que Costenaro o provocou ao ofender sua mãe, então em estado grave de saúde, com insultos como “corrupta” e “safada”. O deputado afirma que o militante do MBL é conhecido por ações de provocação contra figuras da esquerda, buscando gerar conteúdo para redes sociais. “A reiteração das agressões daquele provocador é conhecida”, disse Braga durante sua defesa, reforçando que sua reação foi motivada por uma questão pessoal e emocional.
Repercussão no Conselho de Ética
A sessão do Conselho de Ética que debateu o relatório de Paulo Magalhães foi marcada por interrupções e embates entre parlamentares. O parecer favorável à cassação foi apresentado na semana anterior, mas a votação foi adiada por um pedido de vista do deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio de Janeiro. Nesta quarta-feira, porém, a discussão foi retomada, e a decisão de encerrar os debates, proposta por Marcos Pollon, do PL de Mato Grosso do Sul, e Fábio Costa, do PP de Alagoas, foi aprovada por 14 votos a 4. A medida gerou revolta entre os aliados de Braga, que acusaram o colegiado de acelerar o processo para prejudicar o deputado.
Após o encerramento da discussão, Glauber tomou a palavra e anunciou a greve de fome, recebendo aplausos de seus apoiadores. O gesto foi interpretado como uma tentativa de chamar a atenção para o que ele considera uma injustiça. Parlamentares da oposição, como Chico Alencar, defenderam que a punição é desproporcional ao incidente, enquanto outros, como Kim Kataguiri, do União de São Paulo e coordenador nacional do MBL, reforçaram a necessidade de punição. “O futuro ex-deputado Glauber Braga é um desequilibrado”, declarou Kataguiri, lembrando outros episódios de atrito envolvendo o psolista.
O relatório de Magalhães ainda precisa ser votado pelo Conselho de Ética, o que deve ocorrer na próxima semana. Caso aprovado, o processo seguirá para o plenário da Câmara, onde será necessária a maioria absoluta, ou seja, pelo menos 257 votos dos 513 deputados, para que a cassação se concretize. Até lá, Braga promete manter sua resistência, transformando o plenário em palco de um protesto que já mobiliza aliados e adversários.
- Ato de resistência: Glauber anunciou que não sairá da sala do Conselho de Ética até o fim do processo.
- Apoio de peso: Luiza Erundina e outros deputados do PSOL se comprometeram a acompanhar o colega.
- Tumulto na sessão: A aprovação do encerramento dos debates foi recebida com protestos e gritos de “Glauber fica”.
Histórico de embates de Glauber Braga
Glauber Braga não é estranho a controvérsias no Congresso. Natural de Nova Friburgo, no interior do Rio de Janeiro, o deputado está em seu quarto mandato na Câmara, tendo iniciado sua carreira política em 2007 pelo PSB, antes de migrar para o PSOL em 2015. Conhecido por seu estilo combativo, ele já protagonizou diversos embates com colegas e figuras públicas. Em 2019, por exemplo, chamou o então ministro da Justiça, Sergio Moro, de “ladrão” durante uma audiência, o que gerou um processo no Conselho de Ética arquivado posteriormente.
Outro episódio marcante ocorreu em 2022, quando Braga discutiu com Arthur Lira no plenário, acusando-o de atuar como “ditador” e defendendo que ninguém o calaria. A relação com Lira, aliás, é um dos pontos centrais de sua narrativa atual. O deputado afirma que o ex-presidente da Câmara orquestrou o processo de cassação como vingança por suas denúncias contra o orçamento secreto, esquema de emendas parlamentares que Lira teria usado para consolidar poder político. “Eu estou lutando contra a compra de apoio político articulada por Arthur Lira”, declarou Braga na sessão desta quarta-feira.
Além disso, em setembro de 2024, Glauber foi detido durante uma ação de desocupação na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde apoiava estudantes que protestavam contra cortes em benefícios. Liberado após dez horas, o episódio reforçou sua imagem como um político disposto a ir às últimas consequências em defesa de suas causas. Esses antecedentes ajudam a explicar a radicalidade de sua decisão atual, que já divide opiniões entre parlamentares e a sociedade.
O que está em jogo no processo de cassação
Caso o Conselho de Ética aprove o relatório de Paulo Magalhães, o futuro político de Glauber Braga dependerá do plenário da Câmara. A cassação de um mandato exige um quórum elevado, o que torna o desfecho incerto. Nos últimos anos, poucos processos chegaram a essa etapa. Um exemplo é o caso de Chiquinho Brazão, acusado de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco, cujo pedido de cassação está pronto para votação desde agosto de 2024, mas ainda não foi pautado.
Se perder o mandato, Braga ficará inelegível até o fim da legislatura atual, em 2026, e pelos oito anos seguintes, conforme a Lei da Ficha Limpa. Nesse cenário, sua vaga seria ocupada pela suplente mais votada da federação PSOL-Rede no Rio de Janeiro nas eleições de 2022, a ex-senadora Heloísa Helena, que obteve 38.161 votos. A possibilidade de um desfecho tão drástico alimenta o discurso do PSOL, que vê no processo uma tentativa de enfraquecer a esquerda no Congresso.
A gravidade da situação levou parlamentares próximos a Magalhães a tentarem, nos últimos dias, convencê-lo a suavizar o parecer, propondo uma punição menos severa, como uma suspensão temporária. Apesar disso, o relator manteve sua posição, argumentando que o comportamento de Braga foi “inaceitável” e exige uma resposta firme do Legislativo. A votação no Conselho de Ética será o próximo passo para definir o rumo dessa disputa.
Reações políticas e apoio popular
A decisão de Glauber Braga de iniciar uma greve de fome reverberou rapidamente entre parlamentares e movimentos sociais. O PSOL mobilizou sua base, com figuras como Talíria Petrone e Chico Alencar reforçando o discurso de que o processo é uma perseguição política. “Isso é um ataque à esquerda brasileira”, afirmou Petrone, prometendo levar o caso ao STF se necessário. A presença de Marco Nanini na sessão simbolizou o apoio de personalidades culturais ao deputado, ampliando a visibilidade do protesto.
Por outro lado, adversários como Carlos Jordy, do PL do Rio de Janeiro, ironizaram a medida, sugerindo que outros parlamentares de esquerda seguissem o exemplo em solidariedade. Kim Kataguiri, que também esteve envolvido no incidente de abril de 2024, voltou a criticar Braga, chamando-o de “desequilibrado” e defendendo que sua cassação é essencial para manter a ordem na Câmara. A polarização em torno do caso reflete o clima de animosidade que marca o Legislativo nos últimos anos.
Nas redes sociais, a hashtag #GlauberFica ganhou força, com militantes e simpatizantes do PSOL compartilhando mensagens de apoio. Eventos como o realizado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, em novembro de 2024, já haviam demonstrado a mobilização em defesa do mandato de Braga. A presença de apoiadores nos corredores da Câmara durante a sessão reforça que o caso ultrapassou os limites do Congresso, tornando-se um símbolo de resistência para parte da esquerda.
Os próximos passos do processo
O trâmite do processo de cassação de Glauber Braga segue um calendário definido pelo regimento interno da Câmara. Após a aprovação do relatório no Conselho de Ética, prevista para a próxima semana, o caso será encaminhado ao plenário, onde o presidente da Casa, Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba, terá até 90 dias úteis para pautar a votação. A demora na análise de casos anteriores, como o de Chiquinho Brazão, sugere que o desfecho pode se arrastar por meses, prolongando a greve de fome anunciada por Braga.
Enquanto isso, o deputado planeja permanecer na sala do Conselho de Ética, transformando o espaço em um ponto de resistência. A estratégia visa pressionar os colegas e manter o tema em evidência na opinião pública. Acompanham-no aliados como Luiza Erundina, cuja saúde frágil, aos 90 anos, levanta preocupações entre os parlamentares do PSOL. A presença constante de Braga no local também pode gerar novos embates, especialmente se apoiadores continuarem a ocupar os corredores do Congresso.
O desfecho do processo dependerá de articulações políticas nos bastidores. Parlamentares “bombeiros”, que buscam apaziguar conflitos, já sinalizaram que a cassação pode ser vista como excessiva, propondo alternativas como uma advertência ou suspensão. No entanto, a intransigência de Magalhães e a radicalização de Braga indicam que o confronto está longe de um acordo.
Detalhes do confronto com o MBL
O incidente que deu origem ao processo ocorreu em 16 de abril de 2024, quando Gabriel Costenaro, militante do MBL, abordou Glauber Braga em um dos anexos da Câmara. O grupo estava no local para discutir a regulamentação de motoristas de aplicativo, uma pauta que opunha interesses de parlamentares da direita e da esquerda. A discussão entre Braga e Costenaro começou de forma verbal, mas rapidamente escalou para agressões físicas, com o deputado empurrando e chutando o militante para fora do prédio.
Imagens captadas pelas câmeras de segurança mostram o momento em que Braga reage, enquanto outras pessoas tentam contê-lo. Fora da Câmara, a confusão continuou, com a intervenção de policiais legislativos. No Depol, Braga ainda trocou empurrões com Kim Kataguiri, que acompanhava Costenaro, elevando a tensão do episódio. O Novo usou os registros como prova central na representação, enquanto Braga insiste que foi uma resposta a provocações pessoais.
Costenaro, por sua vez, é conhecido por ações polêmicas. Ele já foi acusado de ameaçar a ministra Anielle Franco e de provocar militantes em eventos públicos, o que reforça a narrativa de Braga sobre seu comportamento. O histórico do militante, no entanto, não foi suficiente para convencer Magalhães, que manteve o foco na conduta do deputado como o principal problema.
Implicações para o PSOL e a esquerda
A possível cassação de Glauber Braga representa um golpe significativo para o PSOL, que perderia uma de suas vozes mais atuantes no Congresso. O partido, que tem sete deputados na atual legislatura, já enfrentou desafios recentes, como a morte de Marielle Franco em 2018 e as dificuldades de ampliar sua bancada nas eleições de 2022. A saída de Braga enfraqueceria ainda mais sua influência em pautas como direitos humanos, educação e combate às desigualdades.
Além disso, o caso alimenta o discurso de perseguição política que a esquerda vem sustentando nos últimos anos. Parlamentares do PSOL argumentam que a rapidez com que o processo contra Braga avançou contrasta com a lentidão em casos envolvendo deputados da direita, como Chiquinho Brazão. A percepção de dois pesos e duas medidas pode mobilizar a base do partido, mas também expõe as fragilidades de sua articulação no Legislativo.
O apoio de figuras como Marco Nanini e a mobilização de movimentos sociais mostram que o PSOL aposta na pressão popular para reverter o cenário. A ameaça de recorrer ao STF, caso a cassação seja aprovada, é outro indicativo de que o partido não pretende aceitar o desfecho sem luta. Enquanto isso, a greve de fome de Braga mantém o caso em evidência, desafiando os limites da política institucional.
Cronograma do processo de cassação
O andamento do processo contra Glauber Braga segue etapas definidas pelo regimento da Câmara. Veja os principais momentos previstos:
- Próxima semana: Votação do relatório de Paulo Magalhães no Conselho de Ética.
- Após aprovação: Encaminhamento ao plenário da Câmara em até 90 dias úteis.
- Votação final: Necessidade de 257 votos para confirmar a cassação.
O prazo de 90 dias úteis dá ao presidente Hugo Motta flexibilidade para definir o momento da votação, o que pode prolongar a incerteza. Até lá, Braga promete manter sua resistência, com o apoio de aliados e a atenção crescente da mídia e da sociedade.
A trajetória política de Glauber Braga
Nascido em Nova Friburgo, Glauber Braga ingressou na política em 2007, aos 25 anos, como deputado federal pelo PSB. Após três mandatos, migrou para o PSOL em 2015, consolidando-se como uma liderança combativa da esquerda. Sua atuação se destaca em pautas como a defesa da educação pública, a crítica às privatizações e o combate ao que chama de “política de conchavos” no Congresso.
Entre os episódios marcantes de sua trajetória está o confronto com Sergio Moro em 2019, quando o acusou de corrupção durante a Lava Jato. O caso gerou repercussão nacional, mas não resultou em punição. Outro momento significativo foi sua participação nos protestos na UERJ em 2024, que terminou com sua detenção temporária. Esses eventos reforçam sua imagem como um político que não teme enfrentamentos diretos.
A relação conturbada com Arthur Lira, porém, é o pano de fundo do atual processo. Braga acusa o ex-presidente da Câmara de usar sua influência para direcionar emendas parlamentares de forma pouco transparente, uma prática que ele combateu abertamente. A greve de fome iniciada agora é mais um capítulo dessa trajetória marcada por radicalidade e resistência.
O papel de Arthur Lira no caso
Arthur Lira, ex-presidente da Câmara até o início de 2025, é uma figura central na narrativa de Glauber Braga. O deputado do PSOL alega que Lira articulou o processo de cassação como retaliação por suas críticas ao orçamento secreto, um mecanismo que destinou bilhões de reais em emendas sem transparência. Braga já havia prestado depoimento à Polícia Federal em uma investigação que apura supostas manobras de Lira para liberar R$ 4,2 bilhões em recursos.
Durante sua defesa no Conselho de Ética, Braga acusou o relator Paulo Magalhães de agir a mando de Lira, sugerindo que o parecer foi “comprado” para agradar o ex-presidente da Casa. “O que está aqui colocado já havia sido estipulado com antecedência”, afirmou, apontando uma suposta ligação entre os dois parlamentares. Magalhães negou as acusações, mas o histórico de Lira, envolvido em denúncias de corrupção, dá peso às alegações de Braga para seus apoiadores.
A influência de Lira no Congresso, mesmo após deixar a presidência, continua sendo um fator determinante. Parlamentares aliados ao ex-presidente podem pressionar pela cassação, enquanto a oposição busca desmontar essa articulação. O embate entre os dois expõe as tensões de poder que atravessam o Legislativo brasileiro.
Impactos da greve de fome
A decisão de Glauber Braga de iniciar uma greve de fome traz riscos tanto para sua saúde quanto para a dinâmica política no Congresso. Aos 42 anos, o deputado está em boas condições físicas, mas a prolongação do jejum pode levar a complicações graves, especialmente se o processo se arrastar por semanas ou meses. A presença de Luiza Erundina ao seu lado aumenta a preocupação, dado o estado delicado da deputada, que já enfrentou problemas de saúde recentes.
No âmbito político, o ato radicaliza o confronto com seus adversários e coloca o Conselho de Ética sob pressão. A estratégia de permanecer na sala do colegiado pode dificultar o funcionamento do órgão, além de atrair mais apoiadores ao local, como ocorreu nesta quarta-feira. O precedente de greves de fome em contextos políticos, como as realizadas por presos durante o regime militar no Brasil, dá ao gesto de Braga um peso simbólico que ressoa entre a esquerda.
A mobilização popular em torno do caso também tende a crescer. A hashtag #GlauberFica já acumula milhares de menções nas redes sociais, e a cobertura da mídia mantém o tema em destaque. O impacto final dependerá do desfecho do processo, mas a greve de fome já transforma Braga em um mártir para seus aliados, enquanto seus críticos a veem como um sinal de desespero.
Curiosidades sobre o caso
O processo contra Glauber Braga traz à tona detalhes que ajudam a entender o contexto do embate. Confira alguns pontos relevantes:
- Paulo Magalhães, o relator, já se envolveu em uma agressão na Câmara em 2001, quando atacou um escritor crítico a seu tio, Antônio Carlos Magalhães.
- Gabriel Costenaro, o militante do MBL, é conhecido por provocações em eventos políticos, incluindo ameaças a figuras como Anielle Franco.
- A Câmara tem histórico de poucos casos de cassação: desde 2001, apenas sete deputados perderam o mandato por decisão do plenário.
Esses elementos mostram que o caso de Braga não é isolado, mas reflete tensões recorrentes no Legislativo, marcadas por rivalidades pessoais e disputas ideológicas.
O que dizem os envolvidos
As vozes no centro do caso revelam a polarização em torno do processo. Glauber Braga mantém o tom de indignação, afirmando estar “com o coração tranquilo, mas indignado” diante do que considera uma injustiça. Ele insiste que sua reação em abril de 2024 foi motivada pela defesa da honra de sua mãe e que o processo é uma tentativa de calar suas denúncias contra o establishment político.
Paulo Magalhães, por outro lado, defende a imparcialidade de seu relatório, destacando que as provas contra Braga são claras e que sua conduta foi “inaceitável”. O relator nega qualquer influência de Arthur Lira, mas evita comentar seu próprio histórico de agressão na Câmara, o que tem sido usado pela defesa de Braga para questionar sua isenção.
Kim Kataguiri, que também se envolveu no incidente, reforça a tese da cassação, chamando Braga de “desequilibrado” e apontando outros episódios de comportamento agressivo do deputado. Já aliados como Chico Alencar e Talíria Petrone veem o processo como uma perseguição orquestrada, prometendo lutar até as últimas consequências para preservar o mandato do colega.
A expectativa para a votação
A votação do relatório de Paulo Magalhães no Conselho de Ética, prevista para os próximos dias, será o primeiro teste decisivo para o futuro de Glauber Braga. O colegiado é composto por 21 membros, e a aprovação do parecer exigirá maioria simples dos presentes. Nos últimos dias, parlamentares aliados a Braga tentaram negociar uma punição mais branda, mas a postura firme do relator dificultou avanços nesse sentido.
Caso o relatório seja aprovado, o caso seguirá para o plenário, onde o cenário é ainda mais imprevisível. A necessidade de 257 votos favoráveis à cassação exige uma mobilização significativa, algo que dependerá do alinhamento entre os partidos da base de Hugo Motta e os interesses de Arthur Lira. A oposição, liderada pelo PSOL, já se organiza para barrar a medida, enquanto a greve de fome de Braga pressiona por uma solução rápida.
Até que o processo chegue ao fim, o deputado promete manter sua resistência, transformando a Câmara em um palco de confronto político e emocional. O desfecho, seja qual for, terá impactos não apenas para Braga, mas para o equilíbrio de forças no Legislativo brasileiro nos próximos anos.
