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16 Apr 2025, Wed

Ibovespa sobe 2,63% com pausa de Trump nas tarifas, enquanto China enfrenta taxação de 125% dos EUA

B3 Ibovespa


O Ibovespa viveu um dia de forte recuperação nesta quarta-feira, 9 de abril, com uma alta de 2,63%, alcançando os 127.186 pontos por volta das 16h. A virada no principal índice da bolsa brasileira veio após uma reviravolta no cenário internacional: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas aplicadas a mais de 75 países, reduzindo a taxação para 10%, enquanto elevou a tarifa contra a China para 125%. A decisão, divulgada por meio de sua rede social, Truth Social, mexeu com os mercados globais e trouxe alívio parcial à volatilidade que vinha marcando os últimos dias. A guerra comercial entre EUA e China, no entanto, ganhou um novo capítulo, com Pequim mantendo uma postura firme após sucessivas retaliações.

Antes do anúncio, o índice brasileiro oscilava em terreno negativo, refletindo a incerteza que dominava os investidores desde o início da semana. A mudança de rumo nas tarifas americanas alterou o humor do mercado, beneficiando especialmente ações de empresas sensíveis ao comércio internacional. Às 15h22, 82 das ações que compõem o Ibovespa registravam alta, enquanto apenas cinco permaneciam estáveis, segundo dados do mercado. A Petrobras, um dos pesos pesados do índice, viu seus papéis preferenciais (PETR4) subirem 4,16%, cotados a R$ 33,33, e os ordinários (PETR3) avançarem 3,31%, negociados a R$ 35,63, em um dia de recuperação para o setor de commodities.

A decisão de Trump foi acompanhada de um discurso duro contra a China, acusada por ele de desrespeitar os mercados mundiais. No entanto, o recuo nas tarifas aplicadas a outros países foi recebido como um sinal de distensão, pelo menos temporária, em meio às negociações comerciais. Mais de 75 nações entraram em contato com representantes americanos, incluindo os Departamentos de Comércio e Tesouro, para discutir barreiras comerciais, manipulação de moedas e outras questões econômicas. Esse movimento parece ter influenciado a pausa de 90 dias, oferecendo um respiro às economias globais que temiam uma escalada generalizada de barreiras tarifárias.

Escalada da tensão entre EUA e China

Nos últimos dias, a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo atingiu níveis alarmantes. Na terça-feira, 8 de abril, Trump havia anunciado uma tarifa adicional de 50% sobre produtos chineses, elevando a taxação total a 104%. A medida veio como resposta à falta de avanço em negociações e às críticas do presidente americano sobre práticas comerciais de Pequim. A China, por sua vez, não hesitou em retaliar, aplicando mais 50% de tarifas sobre produtos americanos, o que levou a taxação chinesa aos EUA a 84% antes do novo ajuste de Trump.

A resposta americana não tardou. Com o aumento para 125% anunciado nesta quarta-feira, os produtos chineses que chegam aos Estados Unidos agora enfrentam uma das maiores barreiras tarifárias já impostas pelo país. O movimento intensifica a pressão sobre Pequim, que já havia elevado suas tarifas retaliatórias em um claro sinal de que não recuará facilmente. A troca de golpes comerciais entre os dois gigantes econômicos mantém os mercados em alerta, com temores de que os custos mais altos sejam repassados aos consumidores, elevando a inflação global.

bolsa ibovespa trade bolsa de valores
Bolsa de Valores – Foto: sweeann/shutterstock.com

O impacto imediato no Brasil foi sentido no câmbio. O dólar, que vinha operando acima dos R$ 6 nos últimos dias, recuou ligeiramente, mas ainda reflete a incerteza do cenário internacional. A valorização da moeda americana pressiona o Banco Central brasileiro, que monitora de perto os efeitos da guerra comercial sobre a economia doméstica. Agentes financeiros apontam que a alta do dólar pode encarecer produtos importados, enquanto exportadores brasileiros, especialmente do agronegócio, podem encontrar oportunidades em meio ao atrito entre EUA e China.

Reviravolta no mercado brasileiro

A bolsa brasileira reagiu com otimismo à pausa nas tarifas para a maioria dos países. Após dias de quedas expressivas, o Ibovespa inverteu a tendência negativa que marcava o início do pregão. Por volta das 15h, o índice já acumulava ganhos consistentes, impulsionado por ações de empresas ligadas a commodities e ao setor financeiro. A Petrobras, beneficiada pela estabilização parcial dos preços do petróleo, liderou as altas entre os papéis mais negociados, enquanto bancos como Itaú Unibanco também registraram valorização.

O alívio no mercado, no entanto, não apaga os desafios que o Brasil enfrenta em meio à guerra comercial. A dependência das exportações para a China, principal destino de produtos como soja e minério de ferro, coloca o país em uma posição delicada. Uma desaceleração mais intensa da economia chinesa, provocada pelas tarifas americanas, pode reduzir a demanda por commodities brasileiras, afetando os preços internacionais e, consequentemente, a balança comercial do país.

Ainda assim, o recuo de Trump nas tarifas aplicadas a outras nações abre espaço para o Brasil respirar. A redução para 10% durante os próximos 90 dias evita, por ora, uma pressão adicional sobre produtos brasileiros exportados para os EUA, como etanol e aço. A pausa também pode ser uma janela para negociações, já que o governo americano destacou a ausência de retaliações por parte desses países como fator decisivo para a decisão.

Dados do varejo e inflação no radar

Enquanto os mercados digeriam as notícias do exterior, o Brasil recebeu dados importantes sobre o desempenho do varejo. As vendas no comércio varejista cresceram 0,5% em fevereiro em comparação com janeiro, segundo o IBGE. O número, embora positivo, ficou abaixo das expectativas do mercado, que projetava uma alta de 0,8%. Na comparação com fevereiro do ano anterior, o avanço foi de 1,5%, indicando uma recuperação tímida do consumo interno.

Os números ganham relevância em um momento em que o Banco Central sinaliza preocupação com a inflação. A escalada do dólar e os possíveis reflexos das tarifas internacionais sobre os preços de importados acendem um alerta para a política monetária. A ata do Federal Reserve, divulgada no mesmo dia, também está sob análise dos investidores, que buscam pistas sobre como o banco central americano lidará com os impactos da guerra comercial na economia dos EUA.

No cenário doméstico, a alta das taxas do Tesouro Direto reflete a cautela dos investidores. Os títulos públicos voltaram a disparar, acompanhando a instabilidade global e a percepção de risco elevada. A combinação de inflação persistente e crescimento econômico moderado coloca o Banco Central brasileiro diante de um dilema: elevar os juros para conter os preços ou manter a política atual para estimular a atividade.

Impactos globais da guerra comercial

A decisão de Trump de elevar as tarifas contra a China para 125% enquanto reduz a taxação para outros países reflete uma estratégia dupla. Por um lado, o presidente americano busca pressionar Pequim a rever práticas comerciais que ele considera desleais, como a manipulação de moedas e o controle de exportações de terras raras. Por outro, a pausa de 90 dias para mais de 75 nações sinaliza uma tentativa de evitar uma guerra comercial generalizada, que poderia levar os EUA a uma recessão.

Os mercados globais, que vinham registrando quedas acentuadas nos últimos dias, mostraram sinais mistos após o anúncio. As bolsas asiáticas fecharam em baixa, com destaque para o recuo de quase 3% no Japão, enquanto na Europa as perdas variaram entre 4% e 6,5%. Nos EUA, os principais índices acionários, como o S&P 500 e o Nasdaq, também operaram no vermelho nos pregões recentes, mas a pausa nas tarifas trouxe alguma estabilização.

A China, por sua vez, mantém uma postura de resistência. Além das tarifas retaliatórias, o governo chinês anunciou controles mais rígidos sobre a exportação de terras raras, matérias-primas essenciais para a produção de tecnologias como chips e baterias. A medida é vista como uma carta na manga de Pequim, que busca preservar sua influência no comércio global diante das pressões americanas.

Efeitos nas commodities e na Petrobras

A volatilidade no mercado de commodities foi outro reflexo direto da guerra comercial. O petróleo, que chegou a cair mais de 3% no início da semana, renovando mínimas de quatro anos, teve uma leve recuperação após o recuo de Trump nas tarifas. A Petrobras, sensível às oscilações do preço do barril, viu seus papéis reagirem positivamente, mas analistas alertam que o cenário segue incerto.

No caso do minério de ferro, a commodity também sentiu o impacto das tensões entre EUA e China. O contrato mais negociado na China caiu 2,68% na véspera, refletindo temores de uma menor demanda por parte do gigante asiático. A Vale, outra gigante do Ibovespa, registrou ganhos moderados no pregão desta quarta-feira, com suas ações subindo 0,59%, mas ainda longe de compensar as perdas acumuladas nos últimos dias.

O desempenho das commodities é crucial para a economia brasileira, que depende fortemente da exportação de matérias-primas. Uma prolongada guerra comercial entre EUA e China pode agravar o desequilíbrio entre oferta e demanda, pressionando os preços e afetando as receitas de empresas como Petrobras e Vale.

O que mudou com a pausa de 90 dias

A pausa de 90 dias nas tarifas para mais de 75 países trouxe um alívio imediato aos mercados, mas não resolve os problemas de fundo da guerra comercial. Veja os principais pontos da decisão de Trump:

  • Redução para 10%: A tarifa recíproca foi cortada de níveis mais altos para 10%, com efeito imediato, beneficiando países como o Brasil.
  • Exceção da China: A taxação contra produtos chineses subiu para 125%, intensificando o confronto com Pequim.
  • Janela de negociação: Os 90 dias abrem espaço para diálogos entre os EUA e as nações que não retaliaram, possivelmente evitando uma escalada maior.
  • Volatilidade persistente: Apesar do alívio, a incerteza sobre os próximos passos de China e EUA mantém os investidores cautelosos.

A medida foi interpretada como uma tentativa de Trump de equilibrar sua agenda protecionista com a necessidade de evitar um colapso econômico global. A ausência de retaliações por parte de países como Brasil, Canadá e México foi destacada pelo presidente como um fator determinante para a pausa.

Pressão sobre a inflação global

A guerra comercial entre EUA e China tem potencial para elevar a inflação em escala global. Nos Estados Unidos, as tarifas de 125% sobre produtos chineses devem encarecer bens de consumo, como eletrônicos e vestuário, pressionando o Federal Reserve a ajustar sua política monetária. A ata do Fed, divulgada nesta quarta-feira, é aguardada com ansiedade por investidores que buscam sinais sobre os próximos passos do banco central americano.

No Brasil, o impacto indireto já é sentido. A valorização do dólar, que voltou a operar acima dos R$ 6, encarece importações e pode alimentar a inflação doméstica. O Banco Central, que já vinha alertando sobre os riscos inflacionários, pode ser forçado a adotar uma postura mais dura, elevando a taxa Selic em um momento em que a economia ainda busca se recuperar.

A combinação de inflação alta e crescimento econômico lento, conhecida como estagflação, é um dos cenários temidos por analistas. A pausa de 90 dias nas tarifas pode amenizar esse risco no curto prazo, mas o confronto com a China mantém o futuro incerto.

Cronograma das tarifas recentes

A sequência de eventos na guerra comercial entre EUA e China tem movimentado os mercados nas últimas semanas. Confira os principais marcos:

  1. 2 de abril: Trump anuncia tarifas recíprocas a diversos países, incluindo 10% sobre produtos brasileiros.
  2. 4 de abril: China retalia com tarifas de 34% sobre produtos americanos e limita exportações de terras raras.
  3. 8 de abril: Trump eleva tarifas contra a China para 104%, enquanto Pequim responde com 84% sobre os EUA.
  4. 9 de abril: EUA anunciam pausa de 90 dias e redução para 10% a mais de 75 países, mas sobem taxação da China para 125%.

Esse vai-e-vem de medidas mantém os investidores em um estado de constante apreensão, com reflexos diretos nas bolsas, no câmbio e nos preços das commodities.

O papel do Brasil no tabuleiro comercial

O Brasil, como um dos países beneficiados pela pausa de 90 dias, ganha tempo para ajustar sua estratégia comercial. A redução das tarifas americanas para 10% evita um impacto imediato sobre exportações como etanol e aço, mas a dependência da China continua sendo um ponto de vulnerabilidade. Em 2024, o gigante asiático respondeu por 24,2% das importações brasileiras, enquanto as exportações para o país incluem commodities essenciais como soja e minério de ferro.

Uma eventual desaceleração da economia chinesa, provocada pelas tarifas americanas, pode reduzir a demanda por esses produtos, afetando diretamente a balança comercial brasileira. Por outro lado, o atrito entre EUA e China abre oportunidades para o agronegócio nacional, que pode ganhar mercado caso os americanos busquem alternativas aos fornecedores chineses.

A posição do Brasil nesse tabuleiro exige cautela. Proteger a indústria nacional contra uma possível enxurrada de produtos chineses desviados dos EUA é um desafio, mas qualquer retaliação contra Pequim poderia comprometer as relações comerciais com o maior parceiro econômico do país.

Perspectivas para os próximos 90 dias

Com a pausa de 90 dias nas tarifas, os mercados globais entram em um período de relativa calmaria, mas as tensões subjacentes permanecem. A China, que já diversificou suas exportações nos últimos anos, pode buscar fortalecer laços com emergentes como o Brasil, enquanto os EUA tentam reequilibrar sua balança comercial. O Ibovespa, que reagiu positivamente ao anúncio de Trump, reflete o otimismo de curto prazo, mas analistas alertam que a volatilidade deve continuar.

No cenário doméstico, os dados econômicos seguem no radar. A alta de 0,5% nas vendas do varejo em fevereiro, embora modesta, indica que o consumo interno ainda resiste, mas a pressão inflacionária pode mudar esse quadro. A Petrobras, cujos dividendos estão sob escrutínio após a queda do petróleo, também será um termômetro importante para o desempenho do índice nos próximos meses.

A guerra comercial, longe de terminar, continua moldando o futuro da economia global. A pausa de Trump pode ser um respiro, mas o confronto com a China mantém o mundo em suspense.

O Ibovespa viveu um dia de forte recuperação nesta quarta-feira, 9 de abril, com uma alta de 2,63%, alcançando os 127.186 pontos por volta das 16h. A virada no principal índice da bolsa brasileira veio após uma reviravolta no cenário internacional: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas aplicadas a mais de 75 países, reduzindo a taxação para 10%, enquanto elevou a tarifa contra a China para 125%. A decisão, divulgada por meio de sua rede social, Truth Social, mexeu com os mercados globais e trouxe alívio parcial à volatilidade que vinha marcando os últimos dias. A guerra comercial entre EUA e China, no entanto, ganhou um novo capítulo, com Pequim mantendo uma postura firme após sucessivas retaliações.

Antes do anúncio, o índice brasileiro oscilava em terreno negativo, refletindo a incerteza que dominava os investidores desde o início da semana. A mudança de rumo nas tarifas americanas alterou o humor do mercado, beneficiando especialmente ações de empresas sensíveis ao comércio internacional. Às 15h22, 82 das ações que compõem o Ibovespa registravam alta, enquanto apenas cinco permaneciam estáveis, segundo dados do mercado. A Petrobras, um dos pesos pesados do índice, viu seus papéis preferenciais (PETR4) subirem 4,16%, cotados a R$ 33,33, e os ordinários (PETR3) avançarem 3,31%, negociados a R$ 35,63, em um dia de recuperação para o setor de commodities.

A decisão de Trump foi acompanhada de um discurso duro contra a China, acusada por ele de desrespeitar os mercados mundiais. No entanto, o recuo nas tarifas aplicadas a outros países foi recebido como um sinal de distensão, pelo menos temporária, em meio às negociações comerciais. Mais de 75 nações entraram em contato com representantes americanos, incluindo os Departamentos de Comércio e Tesouro, para discutir barreiras comerciais, manipulação de moedas e outras questões econômicas. Esse movimento parece ter influenciado a pausa de 90 dias, oferecendo um respiro às economias globais que temiam uma escalada generalizada de barreiras tarifárias.

Escalada da tensão entre EUA e China

Nos últimos dias, a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo atingiu níveis alarmantes. Na terça-feira, 8 de abril, Trump havia anunciado uma tarifa adicional de 50% sobre produtos chineses, elevando a taxação total a 104%. A medida veio como resposta à falta de avanço em negociações e às críticas do presidente americano sobre práticas comerciais de Pequim. A China, por sua vez, não hesitou em retaliar, aplicando mais 50% de tarifas sobre produtos americanos, o que levou a taxação chinesa aos EUA a 84% antes do novo ajuste de Trump.

A resposta americana não tardou. Com o aumento para 125% anunciado nesta quarta-feira, os produtos chineses que chegam aos Estados Unidos agora enfrentam uma das maiores barreiras tarifárias já impostas pelo país. O movimento intensifica a pressão sobre Pequim, que já havia elevado suas tarifas retaliatórias em um claro sinal de que não recuará facilmente. A troca de golpes comerciais entre os dois gigantes econômicos mantém os mercados em alerta, com temores de que os custos mais altos sejam repassados aos consumidores, elevando a inflação global.

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Bolsa de Valores – Foto: sweeann/shutterstock.com

O impacto imediato no Brasil foi sentido no câmbio. O dólar, que vinha operando acima dos R$ 6 nos últimos dias, recuou ligeiramente, mas ainda reflete a incerteza do cenário internacional. A valorização da moeda americana pressiona o Banco Central brasileiro, que monitora de perto os efeitos da guerra comercial sobre a economia doméstica. Agentes financeiros apontam que a alta do dólar pode encarecer produtos importados, enquanto exportadores brasileiros, especialmente do agronegócio, podem encontrar oportunidades em meio ao atrito entre EUA e China.

Reviravolta no mercado brasileiro

A bolsa brasileira reagiu com otimismo à pausa nas tarifas para a maioria dos países. Após dias de quedas expressivas, o Ibovespa inverteu a tendência negativa que marcava o início do pregão. Por volta das 15h, o índice já acumulava ganhos consistentes, impulsionado por ações de empresas ligadas a commodities e ao setor financeiro. A Petrobras, beneficiada pela estabilização parcial dos preços do petróleo, liderou as altas entre os papéis mais negociados, enquanto bancos como Itaú Unibanco também registraram valorização.

O alívio no mercado, no entanto, não apaga os desafios que o Brasil enfrenta em meio à guerra comercial. A dependência das exportações para a China, principal destino de produtos como soja e minério de ferro, coloca o país em uma posição delicada. Uma desaceleração mais intensa da economia chinesa, provocada pelas tarifas americanas, pode reduzir a demanda por commodities brasileiras, afetando os preços internacionais e, consequentemente, a balança comercial do país.

Ainda assim, o recuo de Trump nas tarifas aplicadas a outras nações abre espaço para o Brasil respirar. A redução para 10% durante os próximos 90 dias evita, por ora, uma pressão adicional sobre produtos brasileiros exportados para os EUA, como etanol e aço. A pausa também pode ser uma janela para negociações, já que o governo americano destacou a ausência de retaliações por parte desses países como fator decisivo para a decisão.

Dados do varejo e inflação no radar

Enquanto os mercados digeriam as notícias do exterior, o Brasil recebeu dados importantes sobre o desempenho do varejo. As vendas no comércio varejista cresceram 0,5% em fevereiro em comparação com janeiro, segundo o IBGE. O número, embora positivo, ficou abaixo das expectativas do mercado, que projetava uma alta de 0,8%. Na comparação com fevereiro do ano anterior, o avanço foi de 1,5%, indicando uma recuperação tímida do consumo interno.

Os números ganham relevância em um momento em que o Banco Central sinaliza preocupação com a inflação. A escalada do dólar e os possíveis reflexos das tarifas internacionais sobre os preços de importados acendem um alerta para a política monetária. A ata do Federal Reserve, divulgada no mesmo dia, também está sob análise dos investidores, que buscam pistas sobre como o banco central americano lidará com os impactos da guerra comercial na economia dos EUA.

No cenário doméstico, a alta das taxas do Tesouro Direto reflete a cautela dos investidores. Os títulos públicos voltaram a disparar, acompanhando a instabilidade global e a percepção de risco elevada. A combinação de inflação persistente e crescimento econômico moderado coloca o Banco Central brasileiro diante de um dilema: elevar os juros para conter os preços ou manter a política atual para estimular a atividade.

Impactos globais da guerra comercial

A decisão de Trump de elevar as tarifas contra a China para 125% enquanto reduz a taxação para outros países reflete uma estratégia dupla. Por um lado, o presidente americano busca pressionar Pequim a rever práticas comerciais que ele considera desleais, como a manipulação de moedas e o controle de exportações de terras raras. Por outro, a pausa de 90 dias para mais de 75 nações sinaliza uma tentativa de evitar uma guerra comercial generalizada, que poderia levar os EUA a uma recessão.

Os mercados globais, que vinham registrando quedas acentuadas nos últimos dias, mostraram sinais mistos após o anúncio. As bolsas asiáticas fecharam em baixa, com destaque para o recuo de quase 3% no Japão, enquanto na Europa as perdas variaram entre 4% e 6,5%. Nos EUA, os principais índices acionários, como o S&P 500 e o Nasdaq, também operaram no vermelho nos pregões recentes, mas a pausa nas tarifas trouxe alguma estabilização.

A China, por sua vez, mantém uma postura de resistência. Além das tarifas retaliatórias, o governo chinês anunciou controles mais rígidos sobre a exportação de terras raras, matérias-primas essenciais para a produção de tecnologias como chips e baterias. A medida é vista como uma carta na manga de Pequim, que busca preservar sua influência no comércio global diante das pressões americanas.

Efeitos nas commodities e na Petrobras

A volatilidade no mercado de commodities foi outro reflexo direto da guerra comercial. O petróleo, que chegou a cair mais de 3% no início da semana, renovando mínimas de quatro anos, teve uma leve recuperação após o recuo de Trump nas tarifas. A Petrobras, sensível às oscilações do preço do barril, viu seus papéis reagirem positivamente, mas analistas alertam que o cenário segue incerto.

No caso do minério de ferro, a commodity também sentiu o impacto das tensões entre EUA e China. O contrato mais negociado na China caiu 2,68% na véspera, refletindo temores de uma menor demanda por parte do gigante asiático. A Vale, outra gigante do Ibovespa, registrou ganhos moderados no pregão desta quarta-feira, com suas ações subindo 0,59%, mas ainda longe de compensar as perdas acumuladas nos últimos dias.

O desempenho das commodities é crucial para a economia brasileira, que depende fortemente da exportação de matérias-primas. Uma prolongada guerra comercial entre EUA e China pode agravar o desequilíbrio entre oferta e demanda, pressionando os preços e afetando as receitas de empresas como Petrobras e Vale.

O que mudou com a pausa de 90 dias

A pausa de 90 dias nas tarifas para mais de 75 países trouxe um alívio imediato aos mercados, mas não resolve os problemas de fundo da guerra comercial. Veja os principais pontos da decisão de Trump:

  • Redução para 10%: A tarifa recíproca foi cortada de níveis mais altos para 10%, com efeito imediato, beneficiando países como o Brasil.
  • Exceção da China: A taxação contra produtos chineses subiu para 125%, intensificando o confronto com Pequim.
  • Janela de negociação: Os 90 dias abrem espaço para diálogos entre os EUA e as nações que não retaliaram, possivelmente evitando uma escalada maior.
  • Volatilidade persistente: Apesar do alívio, a incerteza sobre os próximos passos de China e EUA mantém os investidores cautelosos.

A medida foi interpretada como uma tentativa de Trump de equilibrar sua agenda protecionista com a necessidade de evitar um colapso econômico global. A ausência de retaliações por parte de países como Brasil, Canadá e México foi destacada pelo presidente como um fator determinante para a pausa.

Pressão sobre a inflação global

A guerra comercial entre EUA e China tem potencial para elevar a inflação em escala global. Nos Estados Unidos, as tarifas de 125% sobre produtos chineses devem encarecer bens de consumo, como eletrônicos e vestuário, pressionando o Federal Reserve a ajustar sua política monetária. A ata do Fed, divulgada nesta quarta-feira, é aguardada com ansiedade por investidores que buscam sinais sobre os próximos passos do banco central americano.

No Brasil, o impacto indireto já é sentido. A valorização do dólar, que voltou a operar acima dos R$ 6, encarece importações e pode alimentar a inflação doméstica. O Banco Central, que já vinha alertando sobre os riscos inflacionários, pode ser forçado a adotar uma postura mais dura, elevando a taxa Selic em um momento em que a economia ainda busca se recuperar.

A combinação de inflação alta e crescimento econômico lento, conhecida como estagflação, é um dos cenários temidos por analistas. A pausa de 90 dias nas tarifas pode amenizar esse risco no curto prazo, mas o confronto com a China mantém o futuro incerto.

Cronograma das tarifas recentes

A sequência de eventos na guerra comercial entre EUA e China tem movimentado os mercados nas últimas semanas. Confira os principais marcos:

  1. 2 de abril: Trump anuncia tarifas recíprocas a diversos países, incluindo 10% sobre produtos brasileiros.
  2. 4 de abril: China retalia com tarifas de 34% sobre produtos americanos e limita exportações de terras raras.
  3. 8 de abril: Trump eleva tarifas contra a China para 104%, enquanto Pequim responde com 84% sobre os EUA.
  4. 9 de abril: EUA anunciam pausa de 90 dias e redução para 10% a mais de 75 países, mas sobem taxação da China para 125%.

Esse vai-e-vem de medidas mantém os investidores em um estado de constante apreensão, com reflexos diretos nas bolsas, no câmbio e nos preços das commodities.

O papel do Brasil no tabuleiro comercial

O Brasil, como um dos países beneficiados pela pausa de 90 dias, ganha tempo para ajustar sua estratégia comercial. A redução das tarifas americanas para 10% evita um impacto imediato sobre exportações como etanol e aço, mas a dependência da China continua sendo um ponto de vulnerabilidade. Em 2024, o gigante asiático respondeu por 24,2% das importações brasileiras, enquanto as exportações para o país incluem commodities essenciais como soja e minério de ferro.

Uma eventual desaceleração da economia chinesa, provocada pelas tarifas americanas, pode reduzir a demanda por esses produtos, afetando diretamente a balança comercial brasileira. Por outro lado, o atrito entre EUA e China abre oportunidades para o agronegócio nacional, que pode ganhar mercado caso os americanos busquem alternativas aos fornecedores chineses.

A posição do Brasil nesse tabuleiro exige cautela. Proteger a indústria nacional contra uma possível enxurrada de produtos chineses desviados dos EUA é um desafio, mas qualquer retaliação contra Pequim poderia comprometer as relações comerciais com o maior parceiro econômico do país.

Perspectivas para os próximos 90 dias

Com a pausa de 90 dias nas tarifas, os mercados globais entram em um período de relativa calmaria, mas as tensões subjacentes permanecem. A China, que já diversificou suas exportações nos últimos anos, pode buscar fortalecer laços com emergentes como o Brasil, enquanto os EUA tentam reequilibrar sua balança comercial. O Ibovespa, que reagiu positivamente ao anúncio de Trump, reflete o otimismo de curto prazo, mas analistas alertam que a volatilidade deve continuar.

No cenário doméstico, os dados econômicos seguem no radar. A alta de 0,5% nas vendas do varejo em fevereiro, embora modesta, indica que o consumo interno ainda resiste, mas a pressão inflacionária pode mudar esse quadro. A Petrobras, cujos dividendos estão sob escrutínio após a queda do petróleo, também será um termômetro importante para o desempenho do índice nos próximos meses.

A guerra comercial, longe de terminar, continua moldando o futuro da economia global. A pausa de Trump pode ser um respiro, mas o confronto com a China mantém o mundo em suspense.

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