Rodrigo Manga, prefeito de Sorocaba, cidade a 95 quilômetros de São Paulo, virou alvo da Polícia Federal na manhã de quinta-feira, dia 10 de abril, em uma operação que investiga suspeitas de desvios de recursos públicos na área da saúde. Batizada de “Copia e Cola”, a ação mobilizou mais de cem agentes para cumprir 28 mandados de busca e apreensão em 13 cidades, incluindo a residência de Manga, o gabinete dele na prefeitura e a Secretaria de Saúde. Horas após as buscas, o gestor, conhecido nas redes sociais como “prefeito tiktoker” por seus vídeos virais, reagiu de forma inusitada: publicou um vídeo irônico nas redes sociais, debochando da operação e reafirmando a lisura de sua administração. A gravação, que rapidamente ganhou tração online, mostra Manga em seu estilo característico, com tom descontraído e gestos exagerados, enquanto questiona as acusações e destaca projetos de sua gestão.
A operação da PF apura fraudes na contratação de uma organização social responsável por gerenciar serviços de saúde em Sorocaba, com indícios de lavagem de dinheiro e pagamento de propinas. Durante as buscas, foram apreendidos R$ 600 mil em dinheiro em endereços ligados aos investigados, e a Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões em bens. Além de Manga, a ação envolve ex-secretários municipais, como Vinicius Rodrigues, ex-titular da Saúde, e Fausto Bossolo, ex-secretário de Governo, além de uma igreja e um empresário do setor imobiliário. Apesar da gravidade das suspeitas, Manga usou o vídeo para minimizar o impacto, afirmando que a operação é uma tentativa de desgastar sua imagem, e destacou que foi reeleito em 2024 com 73,75% dos votos, um recorde na história da cidade.
Conhecido por acumular mais de 6 milhões de seguidores somando TikTok e Instagram, Manga transformou sua popularidade digital em um trunfo político. Eleito em 2020 e reeleito no ano passado, o prefeito de 45 anos, formado em marketing, aposta em vídeos curtos e bem-humorados para divulgar ações de sua gestão, como a entrega de viaturas e programas sociais. O vídeo em resposta à PF, postado no mesmo dia da operação, segue essa linha: Manga aparece com um sorriso irônico, faz gestos teatrais e diz que “o trabalho continua”, enquanto imagens de obras e eventos em Sorocaba rolam ao fundo. A estratégia dividiu opiniões, com apoiadores elogiando sua coragem e críticos apontando falta de seriedade diante de acusações tão graves.
- Mandados cumpridos: 28 em 13 cidades de São Paulo e Bahia.
- Dinheiro apreendido: R$ 600 mil em espécie.
- Bloqueio de bens: R$ 20 milhões determinados pela Justiça.
Operação da PF sacode Sorocaba
A ação da Polícia Federal em Sorocaba começou cedo, com agentes chegando à prefeitura por volta das 6h da manhã de quinta-feira. As buscas se concentraram no 6º andar, onde fica o gabinete de Rodrigo Manga, e no 2º andar, na Secretaria de Saúde. Além disso, a casa do prefeito, no bairro Campolim, e a sede do partido Republicanos na cidade foram alvos. A operação também se estendeu a outras cidades paulistas, como São Paulo, São Bernardo do Campo e Santos, e chegou até Vitória da Conquista, na Bahia, indicando a amplitude da investigação que começou em 2022. O foco está em contratos firmados com uma organização social para serviços de saúde, suspeitos de encobrir desvios e lavagem de dinheiro.
Durante as buscas, os agentes encontraram uma quantidade significativa de dinheiro vivo em endereços ligados aos investigados, totalizando R$ 600 mil. Na casa de um pastor evangélico, supostamente conectado ao esquema, foram apreendidas armas de fogo legais, mas em número e poder de fogo que chamaram a atenção da PF. A Justiça, além de bloquear R$ 20 milhões em bens, proibiu a organização social investigada de firmar novos contratos com o poder público. A prefeitura emitiu uma nota afirmando que colabora com as autoridades, mas sugeriu que a operação seria uma reação de “forças ocultas” contra líderes que desafiam o sistema tradicional.
A investigação abrange não apenas Manga, mas figuras próximas à gestão, como Vinicius Rodrigues, que deixou a Secretaria de Saúde em 2023, e Fausto Bossolo, exonerado do cargo de secretário de Governo no mesmo ano. Há ainda suspeitas envolvendo uma igreja local e um empresário do ramo imobiliário, cujas transações teriam servido para ocultar recursos. A PF aponta que os crimes em apuração incluem corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro e irregularidades em contratações públicas, com os investigados podendo enfrentar penas severas dependendo de suas responsabilidades individuais.
Vídeo irônico viraliza nas redes
Rodrigo Manga não perdeu tempo para reagir à operação da PF. Ainda na tarde de quinta-feira, ele publicou um vídeo nas redes sociais que já acumula milhares de visualizações. Na gravação, o prefeito aparece em um tom debochado, fazendo gestos com as mãos e ironizando as buscas. “Mandaram a PF aqui, mas o trabalho não para! Enquanto eles procuram, a gente entrega viaturas, saúde e educação”, diz ele, enquanto imagens de obras e eventos aparecem ao fundo, embaladas por uma trilha animada. Manga também aproveitou para atacar o governo federal, sugerindo que a operação seria uma retaliação política contra sua pré-candidatura à Presidência em 2026.
A estratégia não é nova para o “prefeito tiktoker”. Desde o início de seu mandato, em 2021, Manga usa as redes sociais como principal ferramenta de comunicação, acumulando 2,9 milhões de seguidores no TikTok e 2,7 milhões no Instagram. Seus vídeos, que misturam humor, performances e divulgação de projetos, como o plano de construir um arranha-céu de 170 andares ou oferecer Ozempic gratuito, o transformaram em uma celebridade digital. O vídeo sobre a operação da PF segue esse padrão, mas levantou críticas de opositores, que o acusaram de tratar um assunto sério com leviandade. Por outro lado, apoiadores destacaram sua habilidade em transformar uma crise em oportunidade de engajamento.
- Seguidores no TikTok: 2,9 milhões, com 62,9 milhões de curtidas.
- Seguidores no Instagram: 2,7 milhões.
- Visualizações do vídeo: milhares em poucas horas após a publicação.
Carreira política de Manga em foco
Rodrigo Manga, nascido em Sorocaba em 1980, entrou na política em 2012 como vereador pelo Progressistas, sendo reeleito em 2016 com mais de 11 mil votos, já pelo Democratas. Em 2020, filiado ao Republicanos, venceu a eleição para prefeito com 52,68% dos votos, assumindo o cargo em 2021. No ano passado, consolidou sua popularidade ao ser reeleito no primeiro turno com 73,75% dos votos, um recorde histórico na cidade, contando com o apoio de nomes como Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. Antes da política, Manga trabalhou como vendedor de carros e usou sua formação em marketing para construir uma imagem pública forte, baseada em vídeos virais que o apelidaram de “prefeito tiktoker”.
Sua gestão tem sido marcada por iniciativas chamativas, como o programa “Emagrecer Certo”, com R$ 5 milhões de orçamento, e a proposta de erguer o “Burj Khalifa de Sorocaba”, um prédio de 170 andares que seria o maior do mundo. Essas ações, amplamente divulgadas nas redes, dividem opiniões: enquanto alguns elogiam o foco em inovação e visibilidade, outros apontam exageros e questionam a viabilidade dos projetos. A operação da PF agora coloca um desafio inédito em sua trajetória, testando sua habilidade de manter o apoio popular diante de acusações graves.
O sucesso de Manga nas redes sociais vai além de Sorocaba. Com mais seguidores do que a população da cidade, que tem 723 mil habitantes segundo o Censo de 2022, ele já foi tietado por prefeitos e secretários em eventos, como no Palácio dos Bandeirantes em 2024, onde virou uma espécie de celebridade. Sua pré-candidatura à Presidência em 2026, anunciada no início deste mês, depende de um cenário sem Bolsonaro ou Tarcísio na disputa, mas a operação da PF pode complicar esses planos ambiciosos.
Passado de superação de Manga
Antes de entrar na política, Rodrigo Manga enfrentou desafios pessoais que ele próprio detalhou em seu livro “Governe sua vida e transforme o mundo”, lançado em 2023. O prefeito revelou ter sido dependente químico na juventude, passando por maconha, cocaína e crack enquanto trabalhava no varejo automotivo. Segundo ele, chegou a gastar todo o dinheiro das vendas de carros em drogas, até encontrar na fé evangélica um caminho para a recuperação. Casado desde 2010 com Sirlange Frate, Manga é missionário da Igreja Mundial do Poder de Deus, uma influência que marca sua vida pública e suas falas, como no vídeo sobre a PF, onde citou bênçãos divinas.
Essa história de superação é um dos pilares de sua narrativa pública, usada para conectar-se com eleitores e justificar sua visão de liderança. A transição de vendedor de carros para político bem-sucedido, passando por uma recuperação pessoal, rendeu a Manga uma base fiel de apoiadores, que veem nele um exemplo de resiliência. A operação da PF, no entanto, coloca essa imagem sob escrutínio, com adversários questionando se o passado de Manga reflete em sua gestão atual.
Repercussão divide apoiadores e críticos
O vídeo irônico de Rodrigo Manga sobre a operação da PF gerou reações intensas. Nas redes sociais, apoiadores elogiaram sua postura desafiadora, com comentários como “Manga não se abala, continua firme!” e “Melhor prefeito do Brasil mostrando quem manda”. A base bolsonarista, que o apoiou nas eleições de 2024, viu no vídeo uma resistência contra o que chamam de “perseguição política” do governo Lula. Já críticos, incluindo opositores locais, classificaram a atitude como desrespeitosa. “É uma vergonha tratar uma investigação séria como piada”, escreveu um internauta, enquanto outro questionou: “Cadê o dinheiro da saúde que sumiu?”.
A polarização reflete o estilo de Manga, que usa o humor e a provocação como armas políticas. Em março de 2024, ele foi vaiado em um evento com Lula em Sorocaba, mas respondeu com ironia, fazendo um coração com as mãos. No mês passado, trocou farpas com Gleisi Hoffmann, presidente do PT, após ela divulgar um vídeo debochando dele. Manga retrucou destacando sua vitória eleitoral e desafiando prefeitos petistas a replicarem seus projetos. A operação da PF agora amplifica esse embate, com o prefeito tentando transformar o desgaste em mais um capítulo de sua narrativa de resistência.
Detalhes da investigação da PF
A operação “Copia e Cola” teve início em 2022, após denúncias de irregularidades na contratação de uma organização social para gerenciar serviços de saúde em Sorocaba. A PF identificou depósitos em espécie, pagamentos de boletos e negociações imobiliárias como possíveis mecanismos de lavagem de dinheiro. Os R$ 600 mil apreendidos em dinheiro vivo, encontrados em endereços como a casa de um pastor e de um empresário, reforçam as suspeitas de movimentações ilícitas. A Justiça bloqueou R$ 20 milhões em bens dos investigados, incluindo imóveis e veículos, para garantir o ressarcimento aos cofres públicos.
Entre os alvos, além de Manga, estão Vinicius Rodrigues, que comandou a Secretaria de Saúde até 2023, e Fausto Bossolo, ex-secretário de Governo. A investigação aponta que os desvios podem ter ocorrido entre 2022 e 2023, durante o primeiro mandato de Manga, contrariando a nota da prefeitura que sugere que os contratos seriam de gestões anteriores. A participação de uma igreja local, possivelmente ligada a doações ou transações suspeitas, e de um empresário imobiliário, dono de uma corretora em Sorocaba, também está sob análise. A PF não descartou novas fases da operação, dependendo do que for encontrado nos materiais apreendidos.
- Cidades envolvidas: Sorocaba, São Paulo, Santos, Vitória da Conquista, entre outras.
- Período investigado: 2022 a 2023, durante a gestão de Manga.
- Crimes apurados: corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações.
Projetos polêmicos de Manga
Rodrigo Manga ganhou notoriedade com projetos ambiciosos divulgados em vídeos virais. Um deles é o plano de construir um arranha-céu de 170 andares no centro de Sorocaba, apelidado de “Burj Khalifa brasileiro”, que seria o maior do mundo, superando os 829 metros do original em Dubai. Anunciado em 2024, o projeto visa revitalizar a região central e atrair turistas, mas enfrenta ceticismo quanto à viabilidade financeira e estrutural. Outro destaque é o programa “Emagrecer Certo”, que promete oferecer Ozempic, um medicamento para diabetes usado para emagrecer, à população, com orçamento de R$ 5 milhões, embora o remédio não esteja na lista do SUS.
Essas iniciativas, amplamente promovidas nas redes, renderam a Manga tanto elogios quanto críticas. Em janeiro, ele anunciou isenção de IPTU para torrefadoras de café, mas empresas locais apontaram que o benefício teria impacto mínimo nos preços. Em 2023, aprovou uma lei proibindo manifestações de apoio ao Hamas em Sorocaba, no contexto da guerra em Gaza, e viajou a Brasília para receber repatriados do conflito, divulgando a ação como um feito da prefeitura. Esses projetos reforçam seu estilo chamativo, mas a operação da PF levanta dúvidas sobre a gestão dos recursos por trás dessas promessas.
Ambições presidenciais em xeque
No início de abril, Manga lançou sua pré-candidatura à Presidência da República para 2026, condicionada à ausência de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas na disputa. Filiado ao Republicanos, mesmo partido do governador de São Paulo, ele aposta na imagem de gestor inovador e na popularidade digital para se projetar nacionalmente. Em eventos como o do Palácio dos Bandeirantes em 2024, foi tietado por prefeitos e assessores, que pediam vídeos e dicas de marketing digital, sinalizando seu alcance além de Sorocaba. Ele já afirmou ter sido convidado para palestras em estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro.
A operação da PF, porém, pode abalar esses planos. Embora Manga negue envolvimento e use o vídeo irônico para se defender, as acusações de desvios na saúde trazem um risco político significativo. Sua base, alinhada à direita conservadora e bolsonarista, pode vê-lo como vítima de perseguição, mas o desgaste com eleitores indecisos ou críticos pode limitar sua ascensão. O apoio de Tarcísio e a posição do Republicanos serão cruciais para definir se ele mantém a pré-candidatura ou recua diante da pressão.
Cronograma da operação e gestão
Os últimos anos de Rodrigo Manga misturam conquistas eleitorais e controvérsias. Veja os principais eventos recentes:
- 2020: eleito prefeito de Sorocaba com 52,68% dos votos.
- 2022: início da investigação da PF sobre contratos na saúde.
- 2024: reeleito com 73,75% dos votos no primeiro turno.
- Abril de 2025: operação “Copia e Cola” da PF e vídeo de resposta.
Esse calendário destaca o contraste entre o sucesso político de Manga e os desafios legais que agora enfrenta, com a operação marcando um ponto de inflexão em sua trajetória.
Reação da prefeitura e aliados
A prefeitura de Sorocaba divulgou uma nota afirmando que colabora plenamente com a PF e que os processos da gestão seguem os princípios de legalidade e transparência. O texto sugere que a operação seria uma tentativa de “forças ocultas” de atingir líderes que desafiam o sistema, uma narrativa que Manga reforçou no vídeo. Tarcísio de Freitas, governador e aliado, não se pronunciou até o momento, mas sua postura será observada, dado o peso do Republicanos na direita paulista.
Bolsonaro, que apoiou Manga em 2024, também não comentou publicamente, mas a base bolsonarista nas redes já começou a divulgar mensagens de apoio, chamando a operação de “ataque da esquerda”. A estratégia de Manga de usar o humor para enfrentar a crise parece alinhada a essa visão, buscando manter sua imagem intacta entre os fiéis seguidores enquanto a investigação avança.
Impacto na imagem de Sorocaba
Sorocaba, com 723 mil habitantes, ganhou visibilidade nacional com os vídeos de Manga, que já levaram a cidade a ser chamada de “melhor do Brasil” por seus apoiadores. A Associação Comercial local aproveitou a fama para lançar descontos de 20% em lojas, e o termo “Sorocaba” disparou nas buscas do Google desde o início do ano. A operação da PF, no entanto, coloca essa reputação em xeque, com a possibilidade de manchar a narrativa de sucesso que Manga construiu.
Comerciantes e moradores acompanham os desdobramentos com atenção. Enquanto alguns defendem o prefeito, apontando seus feitos como a entrega de viaturas e reformas, outros temem que os desvios na saúde, se confirmados, revelem falhas graves na gestão. A popularidade de Manga, que ultrapassa os limites da cidade, agora enfrenta um teste real, com o vídeo irônico sendo apenas o primeiro passo de uma batalha que pode redefinir seu futuro político.
Curiosidades sobre o “prefeito tiktoker”
A trajetória de Rodrigo Manga é cheia de detalhes marcantes:
- Antes de ser prefeito, ele vendia carros e usava vídeos para atrair clientes.
- Em 2023, lançou um livro sobre sua luta contra as drogas na juventude.
- Seus vídeos no TikTok já inspiraram campanhas comerciais em Sorocaba.
- Foi vaiado em evento com Lula, mas respondeu com um gesto de coração.
Esses fatos mostram como Manga transformou sua vida em uma história de superação e marketing, agora desafiada pela operação da PF.
Desafios à frente para Manga
A operação da PF coloca Rodrigo Manga em um momento delicado. Enquanto ele usa o vídeo irônico para manter o apoio de sua base, a investigação pode trazer revelações que afetem sua credibilidade. A gestão da saúde, já alvo de críticas por falta de remédios no SUS, está no centro das acusações, e os R$ 600 mil apreendidos reforçam a gravidade do caso. O bloqueio de R$ 20 milhões e a possível ligação com uma igreja e um empresário ampliam o escopo do problema.
Seus planos para 2026, que dependem de uma imagem de gestor eficiente e popular, estão em risco. A reação nas redes, embora favorável entre apoiadores, não garante que ele saia ileso do desgaste político. A habilidade de Manga em transformar crises em oportunidades, como fez em outros momentos, será testada ao limite, enquanto Sorocaba e o país acompanham os próximos capítulos dessa história que mistura política, redes sociais e investigações.

Rodrigo Manga, prefeito de Sorocaba, cidade a 95 quilômetros de São Paulo, virou alvo da Polícia Federal na manhã de quinta-feira, dia 10 de abril, em uma operação que investiga suspeitas de desvios de recursos públicos na área da saúde. Batizada de “Copia e Cola”, a ação mobilizou mais de cem agentes para cumprir 28 mandados de busca e apreensão em 13 cidades, incluindo a residência de Manga, o gabinete dele na prefeitura e a Secretaria de Saúde. Horas após as buscas, o gestor, conhecido nas redes sociais como “prefeito tiktoker” por seus vídeos virais, reagiu de forma inusitada: publicou um vídeo irônico nas redes sociais, debochando da operação e reafirmando a lisura de sua administração. A gravação, que rapidamente ganhou tração online, mostra Manga em seu estilo característico, com tom descontraído e gestos exagerados, enquanto questiona as acusações e destaca projetos de sua gestão.
A operação da PF apura fraudes na contratação de uma organização social responsável por gerenciar serviços de saúde em Sorocaba, com indícios de lavagem de dinheiro e pagamento de propinas. Durante as buscas, foram apreendidos R$ 600 mil em dinheiro em endereços ligados aos investigados, e a Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões em bens. Além de Manga, a ação envolve ex-secretários municipais, como Vinicius Rodrigues, ex-titular da Saúde, e Fausto Bossolo, ex-secretário de Governo, além de uma igreja e um empresário do setor imobiliário. Apesar da gravidade das suspeitas, Manga usou o vídeo para minimizar o impacto, afirmando que a operação é uma tentativa de desgastar sua imagem, e destacou que foi reeleito em 2024 com 73,75% dos votos, um recorde na história da cidade.
Conhecido por acumular mais de 6 milhões de seguidores somando TikTok e Instagram, Manga transformou sua popularidade digital em um trunfo político. Eleito em 2020 e reeleito no ano passado, o prefeito de 45 anos, formado em marketing, aposta em vídeos curtos e bem-humorados para divulgar ações de sua gestão, como a entrega de viaturas e programas sociais. O vídeo em resposta à PF, postado no mesmo dia da operação, segue essa linha: Manga aparece com um sorriso irônico, faz gestos teatrais e diz que “o trabalho continua”, enquanto imagens de obras e eventos em Sorocaba rolam ao fundo. A estratégia dividiu opiniões, com apoiadores elogiando sua coragem e críticos apontando falta de seriedade diante de acusações tão graves.
- Mandados cumpridos: 28 em 13 cidades de São Paulo e Bahia.
- Dinheiro apreendido: R$ 600 mil em espécie.
- Bloqueio de bens: R$ 20 milhões determinados pela Justiça.
Operação da PF sacode Sorocaba
A ação da Polícia Federal em Sorocaba começou cedo, com agentes chegando à prefeitura por volta das 6h da manhã de quinta-feira. As buscas se concentraram no 6º andar, onde fica o gabinete de Rodrigo Manga, e no 2º andar, na Secretaria de Saúde. Além disso, a casa do prefeito, no bairro Campolim, e a sede do partido Republicanos na cidade foram alvos. A operação também se estendeu a outras cidades paulistas, como São Paulo, São Bernardo do Campo e Santos, e chegou até Vitória da Conquista, na Bahia, indicando a amplitude da investigação que começou em 2022. O foco está em contratos firmados com uma organização social para serviços de saúde, suspeitos de encobrir desvios e lavagem de dinheiro.
Durante as buscas, os agentes encontraram uma quantidade significativa de dinheiro vivo em endereços ligados aos investigados, totalizando R$ 600 mil. Na casa de um pastor evangélico, supostamente conectado ao esquema, foram apreendidas armas de fogo legais, mas em número e poder de fogo que chamaram a atenção da PF. A Justiça, além de bloquear R$ 20 milhões em bens, proibiu a organização social investigada de firmar novos contratos com o poder público. A prefeitura emitiu uma nota afirmando que colabora com as autoridades, mas sugeriu que a operação seria uma reação de “forças ocultas” contra líderes que desafiam o sistema tradicional.
A investigação abrange não apenas Manga, mas figuras próximas à gestão, como Vinicius Rodrigues, que deixou a Secretaria de Saúde em 2023, e Fausto Bossolo, exonerado do cargo de secretário de Governo no mesmo ano. Há ainda suspeitas envolvendo uma igreja local e um empresário do ramo imobiliário, cujas transações teriam servido para ocultar recursos. A PF aponta que os crimes em apuração incluem corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro e irregularidades em contratações públicas, com os investigados podendo enfrentar penas severas dependendo de suas responsabilidades individuais.
Vídeo irônico viraliza nas redes
Rodrigo Manga não perdeu tempo para reagir à operação da PF. Ainda na tarde de quinta-feira, ele publicou um vídeo nas redes sociais que já acumula milhares de visualizações. Na gravação, o prefeito aparece em um tom debochado, fazendo gestos com as mãos e ironizando as buscas. “Mandaram a PF aqui, mas o trabalho não para! Enquanto eles procuram, a gente entrega viaturas, saúde e educação”, diz ele, enquanto imagens de obras e eventos aparecem ao fundo, embaladas por uma trilha animada. Manga também aproveitou para atacar o governo federal, sugerindo que a operação seria uma retaliação política contra sua pré-candidatura à Presidência em 2026.
A estratégia não é nova para o “prefeito tiktoker”. Desde o início de seu mandato, em 2021, Manga usa as redes sociais como principal ferramenta de comunicação, acumulando 2,9 milhões de seguidores no TikTok e 2,7 milhões no Instagram. Seus vídeos, que misturam humor, performances e divulgação de projetos, como o plano de construir um arranha-céu de 170 andares ou oferecer Ozempic gratuito, o transformaram em uma celebridade digital. O vídeo sobre a operação da PF segue esse padrão, mas levantou críticas de opositores, que o acusaram de tratar um assunto sério com leviandade. Por outro lado, apoiadores destacaram sua habilidade em transformar uma crise em oportunidade de engajamento.
- Seguidores no TikTok: 2,9 milhões, com 62,9 milhões de curtidas.
- Seguidores no Instagram: 2,7 milhões.
- Visualizações do vídeo: milhares em poucas horas após a publicação.
Carreira política de Manga em foco
Rodrigo Manga, nascido em Sorocaba em 1980, entrou na política em 2012 como vereador pelo Progressistas, sendo reeleito em 2016 com mais de 11 mil votos, já pelo Democratas. Em 2020, filiado ao Republicanos, venceu a eleição para prefeito com 52,68% dos votos, assumindo o cargo em 2021. No ano passado, consolidou sua popularidade ao ser reeleito no primeiro turno com 73,75% dos votos, um recorde histórico na cidade, contando com o apoio de nomes como Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. Antes da política, Manga trabalhou como vendedor de carros e usou sua formação em marketing para construir uma imagem pública forte, baseada em vídeos virais que o apelidaram de “prefeito tiktoker”.
Sua gestão tem sido marcada por iniciativas chamativas, como o programa “Emagrecer Certo”, com R$ 5 milhões de orçamento, e a proposta de erguer o “Burj Khalifa de Sorocaba”, um prédio de 170 andares que seria o maior do mundo. Essas ações, amplamente divulgadas nas redes, dividem opiniões: enquanto alguns elogiam o foco em inovação e visibilidade, outros apontam exageros e questionam a viabilidade dos projetos. A operação da PF agora coloca um desafio inédito em sua trajetória, testando sua habilidade de manter o apoio popular diante de acusações graves.
O sucesso de Manga nas redes sociais vai além de Sorocaba. Com mais seguidores do que a população da cidade, que tem 723 mil habitantes segundo o Censo de 2022, ele já foi tietado por prefeitos e secretários em eventos, como no Palácio dos Bandeirantes em 2024, onde virou uma espécie de celebridade. Sua pré-candidatura à Presidência em 2026, anunciada no início deste mês, depende de um cenário sem Bolsonaro ou Tarcísio na disputa, mas a operação da PF pode complicar esses planos ambiciosos.
Passado de superação de Manga
Antes de entrar na política, Rodrigo Manga enfrentou desafios pessoais que ele próprio detalhou em seu livro “Governe sua vida e transforme o mundo”, lançado em 2023. O prefeito revelou ter sido dependente químico na juventude, passando por maconha, cocaína e crack enquanto trabalhava no varejo automotivo. Segundo ele, chegou a gastar todo o dinheiro das vendas de carros em drogas, até encontrar na fé evangélica um caminho para a recuperação. Casado desde 2010 com Sirlange Frate, Manga é missionário da Igreja Mundial do Poder de Deus, uma influência que marca sua vida pública e suas falas, como no vídeo sobre a PF, onde citou bênçãos divinas.
Essa história de superação é um dos pilares de sua narrativa pública, usada para conectar-se com eleitores e justificar sua visão de liderança. A transição de vendedor de carros para político bem-sucedido, passando por uma recuperação pessoal, rendeu a Manga uma base fiel de apoiadores, que veem nele um exemplo de resiliência. A operação da PF, no entanto, coloca essa imagem sob escrutínio, com adversários questionando se o passado de Manga reflete em sua gestão atual.
Repercussão divide apoiadores e críticos
O vídeo irônico de Rodrigo Manga sobre a operação da PF gerou reações intensas. Nas redes sociais, apoiadores elogiaram sua postura desafiadora, com comentários como “Manga não se abala, continua firme!” e “Melhor prefeito do Brasil mostrando quem manda”. A base bolsonarista, que o apoiou nas eleições de 2024, viu no vídeo uma resistência contra o que chamam de “perseguição política” do governo Lula. Já críticos, incluindo opositores locais, classificaram a atitude como desrespeitosa. “É uma vergonha tratar uma investigação séria como piada”, escreveu um internauta, enquanto outro questionou: “Cadê o dinheiro da saúde que sumiu?”.
A polarização reflete o estilo de Manga, que usa o humor e a provocação como armas políticas. Em março de 2024, ele foi vaiado em um evento com Lula em Sorocaba, mas respondeu com ironia, fazendo um coração com as mãos. No mês passado, trocou farpas com Gleisi Hoffmann, presidente do PT, após ela divulgar um vídeo debochando dele. Manga retrucou destacando sua vitória eleitoral e desafiando prefeitos petistas a replicarem seus projetos. A operação da PF agora amplifica esse embate, com o prefeito tentando transformar o desgaste em mais um capítulo de sua narrativa de resistência.
Detalhes da investigação da PF
A operação “Copia e Cola” teve início em 2022, após denúncias de irregularidades na contratação de uma organização social para gerenciar serviços de saúde em Sorocaba. A PF identificou depósitos em espécie, pagamentos de boletos e negociações imobiliárias como possíveis mecanismos de lavagem de dinheiro. Os R$ 600 mil apreendidos em dinheiro vivo, encontrados em endereços como a casa de um pastor e de um empresário, reforçam as suspeitas de movimentações ilícitas. A Justiça bloqueou R$ 20 milhões em bens dos investigados, incluindo imóveis e veículos, para garantir o ressarcimento aos cofres públicos.
Entre os alvos, além de Manga, estão Vinicius Rodrigues, que comandou a Secretaria de Saúde até 2023, e Fausto Bossolo, ex-secretário de Governo. A investigação aponta que os desvios podem ter ocorrido entre 2022 e 2023, durante o primeiro mandato de Manga, contrariando a nota da prefeitura que sugere que os contratos seriam de gestões anteriores. A participação de uma igreja local, possivelmente ligada a doações ou transações suspeitas, e de um empresário imobiliário, dono de uma corretora em Sorocaba, também está sob análise. A PF não descartou novas fases da operação, dependendo do que for encontrado nos materiais apreendidos.
- Cidades envolvidas: Sorocaba, São Paulo, Santos, Vitória da Conquista, entre outras.
- Período investigado: 2022 a 2023, durante a gestão de Manga.
- Crimes apurados: corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações.
Projetos polêmicos de Manga
Rodrigo Manga ganhou notoriedade com projetos ambiciosos divulgados em vídeos virais. Um deles é o plano de construir um arranha-céu de 170 andares no centro de Sorocaba, apelidado de “Burj Khalifa brasileiro”, que seria o maior do mundo, superando os 829 metros do original em Dubai. Anunciado em 2024, o projeto visa revitalizar a região central e atrair turistas, mas enfrenta ceticismo quanto à viabilidade financeira e estrutural. Outro destaque é o programa “Emagrecer Certo”, que promete oferecer Ozempic, um medicamento para diabetes usado para emagrecer, à população, com orçamento de R$ 5 milhões, embora o remédio não esteja na lista do SUS.
Essas iniciativas, amplamente promovidas nas redes, renderam a Manga tanto elogios quanto críticas. Em janeiro, ele anunciou isenção de IPTU para torrefadoras de café, mas empresas locais apontaram que o benefício teria impacto mínimo nos preços. Em 2023, aprovou uma lei proibindo manifestações de apoio ao Hamas em Sorocaba, no contexto da guerra em Gaza, e viajou a Brasília para receber repatriados do conflito, divulgando a ação como um feito da prefeitura. Esses projetos reforçam seu estilo chamativo, mas a operação da PF levanta dúvidas sobre a gestão dos recursos por trás dessas promessas.
Ambições presidenciais em xeque
No início de abril, Manga lançou sua pré-candidatura à Presidência da República para 2026, condicionada à ausência de Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas na disputa. Filiado ao Republicanos, mesmo partido do governador de São Paulo, ele aposta na imagem de gestor inovador e na popularidade digital para se projetar nacionalmente. Em eventos como o do Palácio dos Bandeirantes em 2024, foi tietado por prefeitos e assessores, que pediam vídeos e dicas de marketing digital, sinalizando seu alcance além de Sorocaba. Ele já afirmou ter sido convidado para palestras em estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro.
A operação da PF, porém, pode abalar esses planos. Embora Manga negue envolvimento e use o vídeo irônico para se defender, as acusações de desvios na saúde trazem um risco político significativo. Sua base, alinhada à direita conservadora e bolsonarista, pode vê-lo como vítima de perseguição, mas o desgaste com eleitores indecisos ou críticos pode limitar sua ascensão. O apoio de Tarcísio e a posição do Republicanos serão cruciais para definir se ele mantém a pré-candidatura ou recua diante da pressão.
Cronograma da operação e gestão
Os últimos anos de Rodrigo Manga misturam conquistas eleitorais e controvérsias. Veja os principais eventos recentes:
- 2020: eleito prefeito de Sorocaba com 52,68% dos votos.
- 2022: início da investigação da PF sobre contratos na saúde.
- 2024: reeleito com 73,75% dos votos no primeiro turno.
- Abril de 2025: operação “Copia e Cola” da PF e vídeo de resposta.
Esse calendário destaca o contraste entre o sucesso político de Manga e os desafios legais que agora enfrenta, com a operação marcando um ponto de inflexão em sua trajetória.
Reação da prefeitura e aliados
A prefeitura de Sorocaba divulgou uma nota afirmando que colabora plenamente com a PF e que os processos da gestão seguem os princípios de legalidade e transparência. O texto sugere que a operação seria uma tentativa de “forças ocultas” de atingir líderes que desafiam o sistema, uma narrativa que Manga reforçou no vídeo. Tarcísio de Freitas, governador e aliado, não se pronunciou até o momento, mas sua postura será observada, dado o peso do Republicanos na direita paulista.
Bolsonaro, que apoiou Manga em 2024, também não comentou publicamente, mas a base bolsonarista nas redes já começou a divulgar mensagens de apoio, chamando a operação de “ataque da esquerda”. A estratégia de Manga de usar o humor para enfrentar a crise parece alinhada a essa visão, buscando manter sua imagem intacta entre os fiéis seguidores enquanto a investigação avança.
Impacto na imagem de Sorocaba
Sorocaba, com 723 mil habitantes, ganhou visibilidade nacional com os vídeos de Manga, que já levaram a cidade a ser chamada de “melhor do Brasil” por seus apoiadores. A Associação Comercial local aproveitou a fama para lançar descontos de 20% em lojas, e o termo “Sorocaba” disparou nas buscas do Google desde o início do ano. A operação da PF, no entanto, coloca essa reputação em xeque, com a possibilidade de manchar a narrativa de sucesso que Manga construiu.
Comerciantes e moradores acompanham os desdobramentos com atenção. Enquanto alguns defendem o prefeito, apontando seus feitos como a entrega de viaturas e reformas, outros temem que os desvios na saúde, se confirmados, revelem falhas graves na gestão. A popularidade de Manga, que ultrapassa os limites da cidade, agora enfrenta um teste real, com o vídeo irônico sendo apenas o primeiro passo de uma batalha que pode redefinir seu futuro político.
Curiosidades sobre o “prefeito tiktoker”
A trajetória de Rodrigo Manga é cheia de detalhes marcantes:
- Antes de ser prefeito, ele vendia carros e usava vídeos para atrair clientes.
- Em 2023, lançou um livro sobre sua luta contra as drogas na juventude.
- Seus vídeos no TikTok já inspiraram campanhas comerciais em Sorocaba.
- Foi vaiado em evento com Lula, mas respondeu com um gesto de coração.
Esses fatos mostram como Manga transformou sua vida em uma história de superação e marketing, agora desafiada pela operação da PF.
Desafios à frente para Manga
A operação da PF coloca Rodrigo Manga em um momento delicado. Enquanto ele usa o vídeo irônico para manter o apoio de sua base, a investigação pode trazer revelações que afetem sua credibilidade. A gestão da saúde, já alvo de críticas por falta de remédios no SUS, está no centro das acusações, e os R$ 600 mil apreendidos reforçam a gravidade do caso. O bloqueio de R$ 20 milhões e a possível ligação com uma igreja e um empresário ampliam o escopo do problema.
Seus planos para 2026, que dependem de uma imagem de gestor eficiente e popular, estão em risco. A reação nas redes, embora favorável entre apoiadores, não garante que ele saia ileso do desgaste político. A habilidade de Manga em transformar crises em oportunidades, como fez em outros momentos, será testada ao limite, enquanto Sorocaba e o país acompanham os próximos capítulos dessa história que mistura política, redes sociais e investigações.
