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18 Apr 2025, Fri

Inflação do INPC cai para 0,51% em março e impacta salários de 40 milhões de trabalhadores

Payet Vasco


Março trouxe alívio parcial para o bolso dos brasileiros com renda de até cinco salários mínimos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registrou alta de 0,51%, uma desaceleração significativa em relação aos 1,48% de fevereiro. Apesar da queda mensal, o acumulado em 12 meses chegou a 5,20%, refletindo pressões persistentes em itens essenciais, como alimentos. Esse índice, que mede a inflação para famílias de baixa renda, influencia diretamente o reajuste de salários, benefícios previdenciários e o salário mínimo, afetando cerca de 40 milhões de trabalhadores formais e informais no país.

A coleta de preços abrangeu dez regiões metropolitanas, incluindo Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além de Brasília e outras cinco capitais. A variação do INPC reflete os hábitos de consumo de uma população que destina grande parte da renda a itens básicos, como alimentação, habitação e saúde. Em março, os alimentos foram os principais vilões, com alta de 1,08%, enquanto outros grupos, como educação, apresentaram aumentos mais modestos, na casa de 0,08%.

O impacto do INPC vai além dos números. Ele serve como referência para negociações salariais de categorias como metalúrgicos, comerciários e empregados domésticos, além de corrigir benefícios como o seguro-desemprego e as aposentadorias do INSS. Com o salário mínimo atual em R$ 1.518, a inflação acumulada pressiona o poder de compra, especialmente para quem depende de rendas fixas.

Alimentos lideram alta de preços

Os produtos alimentícios exerceram a maior pressão no INPC de março, respondendo por mais da metade do índice mensal. A alta de 1,08% nos preços de alimentos reflete o aumento em itens básicos, como arroz, feijão, carnes e hortaliças, que compõem a cesta de consumo das famílias de baixa renda. Esse grupo tem peso de 25% no cálculo do INPC, maior do que no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é de 21,86%.

Outros setores também contribuíram para a inflação, mas com menor intensidade. O grupo de despesas pessoais subiu 0,70%, impulsionado por gastos com serviços como salões de beleza e atividades recreativas. Vestuário registrou alta de 0,46%, com destaque para o aumento no preço de roupas e acessórios sazonais. Saúde e cuidados pessoais avançaram 0,44%, refletindo reajustes em medicamentos e consultas médicas.

Habitação, com alta de 0,21%, foi impactada por ajustes em contas de energia elétrica e aluguel. Transportes, por sua vez, subiram 0,26%, com influência do preço dos combustíveis, embora o impacto tenha sido suavizado pela estabilidade nas tarifas de transporte público em algumas capitais. Educação, com apenas 0,08%, foi o grupo com menor variação, já que os reajustes anuais de mensalidades escolares costumam se concentrar no início do ano.

  • Alimentação e bebidas: 1,08%, maior impacto no índice.
  • Despesas pessoais: 0,70%, impulsionadas por serviços recreativos.
  • Vestuário: 0,46%, com alta em roupas sazonais.
  • Saúde e cuidados pessoais: 0,44%, devido a medicamentos.
  • Transportes: 0,26%, com influência dos combustíveis.

Diferenças entre INPC e IPCA

O INPC e o IPCA, embora similares, têm objetivos distintos. Enquanto o IPCA mede a inflação para famílias com renda de até 40 salários mínimos, abrangendo uma população mais ampla, o INPC foca nas famílias com renda de até cinco salários mínimos. Essa diferença reflete realidades econômicas distintas, já que os grupos de baixa renda destinam uma fatia maior do orçamento a itens essenciais, como alimentos e habitação.

Em março, o IPCA fechou em 0,56%, ligeiramente acima do INPC. A discrepância ocorre porque o IPCA dá mais peso a itens como passagens aéreas e serviços de maior custo, que afetam menos as famílias de baixa renda. Por exemplo, o preço de uma passagem de avião tem impacto quase insignificante no INPC, mas pode elevar o IPCA em meses de alta demanda.

A metodologia do IBGE também considera pesos diferentes para cada grupo de produtos. No INPC, a alimentação representa 25% do índice, enquanto no IPCA esse percentual cai para 21,86%. Por outro lado, o IPCA inclui gastos com lazer e tecnologia com maior relevância, refletindo o consumo de classes médias e altas. Essa distinção garante que o INPC capture com precisão as pressões inflacionárias enfrentadas pelos trabalhadores assalariados.

Impacto nos reajustes salariais

O INPC desempenha um papel central nas negociações trabalhistas. Sindicatos de diversas categorias utilizam o acumulado de 12 meses, que em março atingiu 5,20%, como base para pleitear aumentos salariais. Metalúrgicos, bancários, professores e empregados do comércio estão entre os grupos que acompanham o índice de perto. Em 2024, por exemplo, acordos coletivos em São Paulo e Belo Horizonte garantiram reajustes próximos ao INPC para cerca de 2 milhões de trabalhadores.

O índice também corrige benefícios sociais. O salário mínimo, atualmente em R$ 1.518, usa o INPC de novembro como referência para o reajuste anual. Em 2024, o governo anunciou um aumento de 6,97%, combinando o INPC de 2023 com um ganho real de 3%. Aposentadorias e pensões do INSS, assim como o seguro-desemprego, seguem o resultado de dezembro, que em 2023 foi de 3,71%.

A desaceleração do INPC em março pode sinalizar alívio para os trabalhadores, mas o acumulado anual ainda reflete desafios. Com a inflação de alimentos acima da média geral, famílias de baixa renda enfrentam dificuldades para manter o poder de compra. Itens como carne bovina, que subiu 2,3% em março, e arroz, com alta de 1,9%, pressionam orçamentos já apertados.

Alimentos: o peso no orçamento familiar

A alta de 1,08% nos alimentos em março reflete um cenário de volatilidade. Hortaliças, como tomate e cebola, registraram aumentos expressivos, impulsionados por condições climáticas adversas em regiões produtoras. Chuvas intensas no Sudeste e no Sul comprometeram safras, reduzindo a oferta e elevando os preços. Carnes, especialmente bovinas, também pesaram, com alta média de 2,3%, devido à demanda aquecida no mercado interno.

Feijão, um item essencial na mesa brasileira, subiu 1,7%, enquanto o arroz avançou 1,9%. Esses aumentos, embora moderados, têm impacto significativo para famílias que gastam até 30% da renda com alimentação. Em contrapartida, alguns produtos, como leite e derivados, apresentaram estabilidade, ajudando a conter uma alta ainda maior no grupo.

O impacto dos alimentos no INPC evidencia a vulnerabilidade das famílias de baixa renda. Diferentemente das classes mais altas, que podem substituir produtos ou reduzir gastos supérfluos, os trabalhadores assalariados têm pouca margem para ajustes. Um quilo de carne a mais ou uma saca de arroz mais cara podem significar cortes em outras áreas, como lazer ou cuidados pessoais.

  • Tomate: alta de 3,5%, devido a chuvas em áreas produtoras.
  • Carne bovina: aumento de 2,3%, impulsionado pela demanda.
  • Arroz: 1,9%, pressionado por custos de produção.
  • Feijão: 1,7%, impactado por menor oferta.
  • Leite: estabilidade, ajudando a conter o índice.

Regiões metropolitanas sob pressão

A coleta do INPC abrange 16 localidades, incluindo grandes centros urbanos e capitais regionais. Em março, as variações regionais mostraram diferenças no impacto da inflação. Recife e Salvador registraram as maiores altas, com 0,65% e 0,62%, respectivamente, puxadas pelo aumento nos preços de alimentos e habitação. São Paulo, maior mercado consumidor do país, teve alta de 0,53%, próxima da média nacional.

Por outro lado, Porto Alegre e Goiânia apresentaram as menores variações, com 0,41% e 0,43%. Nessas regiões, a estabilidade nos preços de transportes e energia elétrica contribuiu para o resultado. Brasília, com 0,50%, ficou alinhada à média, mas enfrentou pressões em despesas pessoais, como serviços de beleza e recreação.

Essas diferenças regionais refletem dinâmicas locais, como oferta de produtos agrícolas, custos de energia e sazonalidade. Em Belém, por exemplo, o preço do pescado subiu 2,1%, influenciado pela proximidade da Semana Santa. Já no Rio de Janeiro, os gastos com habitação, incluindo aluguel, avançaram 0,3%, pressionando o índice local.

Benefícios sociais atrelados ao INPC

Além dos salários, o INPC corrige benefícios que sustentam milhões de brasileiros. O seguro-desemprego, pago a cerca de 600 mil trabalhadores por mês, usa o índice de dezembro como base. Em 2024, o valor mínimo do benefício foi ajustado para R$ 1.518, igualando o salário mínimo. Aposentadorias e pensões do INSS, que alcançam 38 milhões de pessoas, também seguem o mesmo critério.

O Benefício de Prestação Continuada (BPC), voltado para idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, teve reajuste de 6,97% em 2024, acompanhando o salário mínimo. Esses ajustes, embora necessários, nem sempre acompanham o ritmo da inflação percebida, especialmente em alimentos, que impactam diretamente os beneficiários.

A correção pelo INPC garante que os valores nominais dos benefícios não sejam corroídos, mas o aumento real do custo de vida pode reduzir o poder de compra. Em 2023, por exemplo, o INPC acumulado foi de 3,71%, enquanto a inflação sentida por muitas famílias, especialmente em itens básicos, superou esse percentual.

Setores com menor impacto

Nem todos os grupos do INPC registraram altas expressivas. Educação, com variação de 0,08%, foi o setor menos inflacionário em março. Após os reajustes de mensalidades no início do ano, as despesas com material escolar e cursos estabilizaram. Comunicação, com alta de 0,19%, também teve impacto reduzido, já que tarifas de telefonia e internet mantiveram-se estáveis na maioria das regiões.

Artigos de residência, como móveis e eletrodomésticos, subiram 0,21%, refletindo um mercado menos aquecido. A demanda por esses produtos, que disparou durante a pandemia, desacelerou nos últimos meses, contribuindo para a contenção dos preços. Habitação, embora com alta de 0,21%, foi suavizada pela estabilidade em itens como gás encanado e condomínio.

Esses setores de menor impacto ajudam a equilibrar o INPC, mas não compensam a pressão dos alimentos. Para famílias que gastam até 50% da renda com comida e moradia, variações pequenas em outros grupos têm efeito limitado no orçamento mensal.

Calendário de influência do INPC

O INPC segue um cronograma que afeta diretamente a vida econômica do país. Alguns momentos são cruciais para trabalhadores e beneficiários:

  • Novembro: define o reajuste do salário mínimo, impactando 50 milhões de pessoas.
  • Dezembro: corrige aposentadorias, pensões e seguro-desemprego.
  • Março a maio: período de negociações salariais de grandes categorias, como metalúrgicos e comerciários.
  • Setembro: referência para acordos coletivos em setores como educação e saúde.

Inflação e o trabalhador brasileiro

A desaceleração do INPC em março trouxe um respiro, mas o acumulado de 5,20% em 12 meses mantém a inflação como um desafio. Para o trabalhador de baixa renda, que destina grande parte do salário a itens essenciais, cada ponto percentual faz diferença. A alta dos alimentos, principal motor do índice, reflete não apenas questões sazonais, mas também custos de produção e logística que persistem desde a pandemia.

Os sindicatos acompanham o cenário com atenção. Em 2024, categorias como a dos bancários em São Paulo conquistaram reajustes de 6%, superando o INPC acumulado à época. Já os comerciários, com cerca de 1,5 milhão de trabalhadores, garantiram aumentos entre 4,5% e 5%, alinhados ao índice. Esses acordos mostram a importância do INPC como baliza, mas também a luta por ganhos reais.

O impacto da inflação vai além dos números. Para uma família com renda de dois salários mínimos, a alta de 1,08% nos alimentos pode significar R$ 50 a menos no orçamento mensal. Esse valor, embora pequeno, compromete gastos com saúde, educação ou lazer, aprofundando desigualdades.

Perspectivas para os próximos meses

Os próximos meses serão decisivos para o comportamento do INPC. Analistas apontam que a inflação de alimentos pode continuar pressionando, especialmente se condições climáticas afetarem safras agrícolas. Por outro lado, a estabilidade em setores como energia elétrica e combustíveis pode ajudar a conter o índice. A política monetária, com a taxa Selic em 10,75% ao ano, também influencia o cenário, ao tentar frear a demanda e os preços.

Para os trabalhadores, o INPC de março sinaliza um alívio temporário, mas não elimina os desafios. Negociações salariais previstas para o segundo semestre, especialmente em setores como construção civil e serviços, devem usar o acumulado de 5,20% como referência. A expectativa é que acordos garantam, ao menos, a reposição da inflação, embora ganhos reais dependam da pressão sindical.

A coleta do INPC continuará monitorando as 16 regiões, com atenção especial a capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, que concentram grande parte da população de baixa renda. Enquanto isso, famílias seguem ajustando orçamentos, priorizando itens essenciais e lidando com a inflação como parte do cotidiano.



Março trouxe alívio parcial para o bolso dos brasileiros com renda de até cinco salários mínimos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registrou alta de 0,51%, uma desaceleração significativa em relação aos 1,48% de fevereiro. Apesar da queda mensal, o acumulado em 12 meses chegou a 5,20%, refletindo pressões persistentes em itens essenciais, como alimentos. Esse índice, que mede a inflação para famílias de baixa renda, influencia diretamente o reajuste de salários, benefícios previdenciários e o salário mínimo, afetando cerca de 40 milhões de trabalhadores formais e informais no país.

A coleta de preços abrangeu dez regiões metropolitanas, incluindo Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, além de Brasília e outras cinco capitais. A variação do INPC reflete os hábitos de consumo de uma população que destina grande parte da renda a itens básicos, como alimentação, habitação e saúde. Em março, os alimentos foram os principais vilões, com alta de 1,08%, enquanto outros grupos, como educação, apresentaram aumentos mais modestos, na casa de 0,08%.

O impacto do INPC vai além dos números. Ele serve como referência para negociações salariais de categorias como metalúrgicos, comerciários e empregados domésticos, além de corrigir benefícios como o seguro-desemprego e as aposentadorias do INSS. Com o salário mínimo atual em R$ 1.518, a inflação acumulada pressiona o poder de compra, especialmente para quem depende de rendas fixas.

Alimentos lideram alta de preços

Os produtos alimentícios exerceram a maior pressão no INPC de março, respondendo por mais da metade do índice mensal. A alta de 1,08% nos preços de alimentos reflete o aumento em itens básicos, como arroz, feijão, carnes e hortaliças, que compõem a cesta de consumo das famílias de baixa renda. Esse grupo tem peso de 25% no cálculo do INPC, maior do que no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é de 21,86%.

Outros setores também contribuíram para a inflação, mas com menor intensidade. O grupo de despesas pessoais subiu 0,70%, impulsionado por gastos com serviços como salões de beleza e atividades recreativas. Vestuário registrou alta de 0,46%, com destaque para o aumento no preço de roupas e acessórios sazonais. Saúde e cuidados pessoais avançaram 0,44%, refletindo reajustes em medicamentos e consultas médicas.

Habitação, com alta de 0,21%, foi impactada por ajustes em contas de energia elétrica e aluguel. Transportes, por sua vez, subiram 0,26%, com influência do preço dos combustíveis, embora o impacto tenha sido suavizado pela estabilidade nas tarifas de transporte público em algumas capitais. Educação, com apenas 0,08%, foi o grupo com menor variação, já que os reajustes anuais de mensalidades escolares costumam se concentrar no início do ano.

  • Alimentação e bebidas: 1,08%, maior impacto no índice.
  • Despesas pessoais: 0,70%, impulsionadas por serviços recreativos.
  • Vestuário: 0,46%, com alta em roupas sazonais.
  • Saúde e cuidados pessoais: 0,44%, devido a medicamentos.
  • Transportes: 0,26%, com influência dos combustíveis.

Diferenças entre INPC e IPCA

O INPC e o IPCA, embora similares, têm objetivos distintos. Enquanto o IPCA mede a inflação para famílias com renda de até 40 salários mínimos, abrangendo uma população mais ampla, o INPC foca nas famílias com renda de até cinco salários mínimos. Essa diferença reflete realidades econômicas distintas, já que os grupos de baixa renda destinam uma fatia maior do orçamento a itens essenciais, como alimentos e habitação.

Em março, o IPCA fechou em 0,56%, ligeiramente acima do INPC. A discrepância ocorre porque o IPCA dá mais peso a itens como passagens aéreas e serviços de maior custo, que afetam menos as famílias de baixa renda. Por exemplo, o preço de uma passagem de avião tem impacto quase insignificante no INPC, mas pode elevar o IPCA em meses de alta demanda.

A metodologia do IBGE também considera pesos diferentes para cada grupo de produtos. No INPC, a alimentação representa 25% do índice, enquanto no IPCA esse percentual cai para 21,86%. Por outro lado, o IPCA inclui gastos com lazer e tecnologia com maior relevância, refletindo o consumo de classes médias e altas. Essa distinção garante que o INPC capture com precisão as pressões inflacionárias enfrentadas pelos trabalhadores assalariados.

Impacto nos reajustes salariais

O INPC desempenha um papel central nas negociações trabalhistas. Sindicatos de diversas categorias utilizam o acumulado de 12 meses, que em março atingiu 5,20%, como base para pleitear aumentos salariais. Metalúrgicos, bancários, professores e empregados do comércio estão entre os grupos que acompanham o índice de perto. Em 2024, por exemplo, acordos coletivos em São Paulo e Belo Horizonte garantiram reajustes próximos ao INPC para cerca de 2 milhões de trabalhadores.

O índice também corrige benefícios sociais. O salário mínimo, atualmente em R$ 1.518, usa o INPC de novembro como referência para o reajuste anual. Em 2024, o governo anunciou um aumento de 6,97%, combinando o INPC de 2023 com um ganho real de 3%. Aposentadorias e pensões do INSS, assim como o seguro-desemprego, seguem o resultado de dezembro, que em 2023 foi de 3,71%.

A desaceleração do INPC em março pode sinalizar alívio para os trabalhadores, mas o acumulado anual ainda reflete desafios. Com a inflação de alimentos acima da média geral, famílias de baixa renda enfrentam dificuldades para manter o poder de compra. Itens como carne bovina, que subiu 2,3% em março, e arroz, com alta de 1,9%, pressionam orçamentos já apertados.

Alimentos: o peso no orçamento familiar

A alta de 1,08% nos alimentos em março reflete um cenário de volatilidade. Hortaliças, como tomate e cebola, registraram aumentos expressivos, impulsionados por condições climáticas adversas em regiões produtoras. Chuvas intensas no Sudeste e no Sul comprometeram safras, reduzindo a oferta e elevando os preços. Carnes, especialmente bovinas, também pesaram, com alta média de 2,3%, devido à demanda aquecida no mercado interno.

Feijão, um item essencial na mesa brasileira, subiu 1,7%, enquanto o arroz avançou 1,9%. Esses aumentos, embora moderados, têm impacto significativo para famílias que gastam até 30% da renda com alimentação. Em contrapartida, alguns produtos, como leite e derivados, apresentaram estabilidade, ajudando a conter uma alta ainda maior no grupo.

O impacto dos alimentos no INPC evidencia a vulnerabilidade das famílias de baixa renda. Diferentemente das classes mais altas, que podem substituir produtos ou reduzir gastos supérfluos, os trabalhadores assalariados têm pouca margem para ajustes. Um quilo de carne a mais ou uma saca de arroz mais cara podem significar cortes em outras áreas, como lazer ou cuidados pessoais.

  • Tomate: alta de 3,5%, devido a chuvas em áreas produtoras.
  • Carne bovina: aumento de 2,3%, impulsionado pela demanda.
  • Arroz: 1,9%, pressionado por custos de produção.
  • Feijão: 1,7%, impactado por menor oferta.
  • Leite: estabilidade, ajudando a conter o índice.

Regiões metropolitanas sob pressão

A coleta do INPC abrange 16 localidades, incluindo grandes centros urbanos e capitais regionais. Em março, as variações regionais mostraram diferenças no impacto da inflação. Recife e Salvador registraram as maiores altas, com 0,65% e 0,62%, respectivamente, puxadas pelo aumento nos preços de alimentos e habitação. São Paulo, maior mercado consumidor do país, teve alta de 0,53%, próxima da média nacional.

Por outro lado, Porto Alegre e Goiânia apresentaram as menores variações, com 0,41% e 0,43%. Nessas regiões, a estabilidade nos preços de transportes e energia elétrica contribuiu para o resultado. Brasília, com 0,50%, ficou alinhada à média, mas enfrentou pressões em despesas pessoais, como serviços de beleza e recreação.

Essas diferenças regionais refletem dinâmicas locais, como oferta de produtos agrícolas, custos de energia e sazonalidade. Em Belém, por exemplo, o preço do pescado subiu 2,1%, influenciado pela proximidade da Semana Santa. Já no Rio de Janeiro, os gastos com habitação, incluindo aluguel, avançaram 0,3%, pressionando o índice local.

Benefícios sociais atrelados ao INPC

Além dos salários, o INPC corrige benefícios que sustentam milhões de brasileiros. O seguro-desemprego, pago a cerca de 600 mil trabalhadores por mês, usa o índice de dezembro como base. Em 2024, o valor mínimo do benefício foi ajustado para R$ 1.518, igualando o salário mínimo. Aposentadorias e pensões do INSS, que alcançam 38 milhões de pessoas, também seguem o mesmo critério.

O Benefício de Prestação Continuada (BPC), voltado para idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, teve reajuste de 6,97% em 2024, acompanhando o salário mínimo. Esses ajustes, embora necessários, nem sempre acompanham o ritmo da inflação percebida, especialmente em alimentos, que impactam diretamente os beneficiários.

A correção pelo INPC garante que os valores nominais dos benefícios não sejam corroídos, mas o aumento real do custo de vida pode reduzir o poder de compra. Em 2023, por exemplo, o INPC acumulado foi de 3,71%, enquanto a inflação sentida por muitas famílias, especialmente em itens básicos, superou esse percentual.

Setores com menor impacto

Nem todos os grupos do INPC registraram altas expressivas. Educação, com variação de 0,08%, foi o setor menos inflacionário em março. Após os reajustes de mensalidades no início do ano, as despesas com material escolar e cursos estabilizaram. Comunicação, com alta de 0,19%, também teve impacto reduzido, já que tarifas de telefonia e internet mantiveram-se estáveis na maioria das regiões.

Artigos de residência, como móveis e eletrodomésticos, subiram 0,21%, refletindo um mercado menos aquecido. A demanda por esses produtos, que disparou durante a pandemia, desacelerou nos últimos meses, contribuindo para a contenção dos preços. Habitação, embora com alta de 0,21%, foi suavizada pela estabilidade em itens como gás encanado e condomínio.

Esses setores de menor impacto ajudam a equilibrar o INPC, mas não compensam a pressão dos alimentos. Para famílias que gastam até 50% da renda com comida e moradia, variações pequenas em outros grupos têm efeito limitado no orçamento mensal.

Calendário de influência do INPC

O INPC segue um cronograma que afeta diretamente a vida econômica do país. Alguns momentos são cruciais para trabalhadores e beneficiários:

  • Novembro: define o reajuste do salário mínimo, impactando 50 milhões de pessoas.
  • Dezembro: corrige aposentadorias, pensões e seguro-desemprego.
  • Março a maio: período de negociações salariais de grandes categorias, como metalúrgicos e comerciários.
  • Setembro: referência para acordos coletivos em setores como educação e saúde.

Inflação e o trabalhador brasileiro

A desaceleração do INPC em março trouxe um respiro, mas o acumulado de 5,20% em 12 meses mantém a inflação como um desafio. Para o trabalhador de baixa renda, que destina grande parte do salário a itens essenciais, cada ponto percentual faz diferença. A alta dos alimentos, principal motor do índice, reflete não apenas questões sazonais, mas também custos de produção e logística que persistem desde a pandemia.

Os sindicatos acompanham o cenário com atenção. Em 2024, categorias como a dos bancários em São Paulo conquistaram reajustes de 6%, superando o INPC acumulado à época. Já os comerciários, com cerca de 1,5 milhão de trabalhadores, garantiram aumentos entre 4,5% e 5%, alinhados ao índice. Esses acordos mostram a importância do INPC como baliza, mas também a luta por ganhos reais.

O impacto da inflação vai além dos números. Para uma família com renda de dois salários mínimos, a alta de 1,08% nos alimentos pode significar R$ 50 a menos no orçamento mensal. Esse valor, embora pequeno, compromete gastos com saúde, educação ou lazer, aprofundando desigualdades.

Perspectivas para os próximos meses

Os próximos meses serão decisivos para o comportamento do INPC. Analistas apontam que a inflação de alimentos pode continuar pressionando, especialmente se condições climáticas afetarem safras agrícolas. Por outro lado, a estabilidade em setores como energia elétrica e combustíveis pode ajudar a conter o índice. A política monetária, com a taxa Selic em 10,75% ao ano, também influencia o cenário, ao tentar frear a demanda e os preços.

Para os trabalhadores, o INPC de março sinaliza um alívio temporário, mas não elimina os desafios. Negociações salariais previstas para o segundo semestre, especialmente em setores como construção civil e serviços, devem usar o acumulado de 5,20% como referência. A expectativa é que acordos garantam, ao menos, a reposição da inflação, embora ganhos reais dependam da pressão sindical.

A coleta do INPC continuará monitorando as 16 regiões, com atenção especial a capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, que concentram grande parte da população de baixa renda. Enquanto isso, famílias seguem ajustando orçamentos, priorizando itens essenciais e lidando com a inflação como parte do cotidiano.



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