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19 Apr 2025, Sat




Sucesso com a reprise de ‘História de Amor’, atriz fala do desejo de voltar às novelas, recorda juventude, opina sobre casamento e maternidade e celebra amadurecimento: “Quero estar bem com a idade que tenho, sem querer ficar com cara de bebê” Desde que a reprise de História de Amor entrou no ar na Edição Especial da TV Globo, o trabalho de Carla Marins, de 56 anos de idade, tem sido aclamado nas redes sociais. Gravada há 30 anos, a novela conta com a atriz no papel da jovem protagonista Joyce, uma adolescente de 18 anos que engravida do namorado.
Saiba-mais taboola
Na época em que fez a novela, a atriz era quase dez anos mais velha que a personagem e acabava de voltar de uma temporada em Paris, na França. “Tinha, praticamente, 10 anos a mais que a Joyce. E ela tinha cada cena… Eu passava mal estudando. Joyce era muito cruel, tinha um temperamento muito forte. As atrizes, que já eram mães, me encontravam nos corredores e falavam: ‘Carla, eu falo para minha filha: não seja a Joyce’. A personagem era um exemplo a não ser seguido”, afirma a atriz, recordando que Joyce tinha muitas cenas de conflito com a mãe, Helena (Regina Duarte).
Enquanto a maternidade fez parte do universo de suas jovens personagens, Carla optou por ser mãe aos 40. “Nós, mulheres, somos sempre cobradas. Antes, era cobrada porque não casei, não fiz uma família… Aí, eu casei, tive filho e fiz uma família. Adivinha? Sou cobrada porque eu não estou trabalhando. Seremos sempre cobradas. Infelizmente, estamos expostas a isso”, afirma a atriz, que é mãe de Leon, de 16 anos, de seu casamento com o personal trainer Hugo Baltazar.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
Com a carreira iniciada ainda na infância, Carla ganhou notoriedade aos 17, quando se destacou como a Carola na novela Hipertensão (Globo, 1986). “Tive 20 anos ininterruptos de contrato com a Globo. Comecei a fazer muitos trabalhos — em teatro, cinema e televisão — e a minha formação tinha ficado em suspensão. Depois que entrei no mercado de trabalho, não consegui fazer faculdade. Resolvi fazer anos depois, aos 34 anos”, conta ela, enaltecendo a importância do estudo para a evolução profissional.
Ao recordar momentos de sua trajetória, Carla lembra como convenceu o diretor Paulo Ubiratan (1947-1998) de autorizá-la a fazer Tropicaliente (Globo, 1994) com os cabelos curtinhos, corte que adotou “por vontade própria” antes do início das gravações. “O Paulo Ubiratan quase me matou porque ele queria cabelão, sensualidade… Eu quis deixar a personagem mais moleca, afinal ela pescava com o pai. Quando viu meu cabelo, o diretor quase teve um treco, mas comprou a minha ideia.”
QUEM DISSE
Com uma rotina saudável de treinos, a atriz conta que o físico definido e os cuidados estéticos fazem parte do seu dia a dia, mas não se considera exageradamente vaidosa. “Eu não quero aparentar ter 20, 30 anos. Quero estar bem com os meus 50. Sem muita neurose, sem querer ficar com cara de bebê.”
Quem: História de Amor é um sucesso na Edição Especial da TV Globo. Muitos dos temas retratados na novela de 1995 seguem atuais hoje em dia. Você tem observado isso?
Carla Marins: Há 30 anos, a gente não tinha um olhar descortinado para todas essas questões. Acho interessante revisitar a trama com o olhar de hoje. Joyce e Caio viviam um relacionamento tóxico. Quem me chamou a atenção para isso foi o Angelo Paes Leme, que interpretou o Caio e é pai de um pré-adolescente. No primeiro capítulo, temos a cena em que a Joyce, grávida, é empurrada pelo namorado para fora do jipe. Ela cai e ele nem oferece apoio. Uma violência dessas era naturalizada. Nós, finalmente, despertamos para essa mácula, que é a violência masculina tão naturalizada nas relações afetivas. É uma tristeza. Eu tenho um filho de 16 anos, então esse é um tema muito caro para mim.
Assistir agora, como mãe de adolescente, traz um novo olhar?
Como mãe, tenho os olhos muito atentos para tudo o que está acontecendo e tento influenciá-lo positivamente. Meu filho adolesceu na pandemia. Isso foi um pouco difícil. Ele ficava muito na dele, isolado. Fiquei com a síndrome do ninho vazio com ele morando em casa (risos). Mas foi rápido, cerca de um ano. Depois, voltou a ter uma interação maior. A conexão que a gente teve com ele na infância foi muito forte. A entrada na adolescência é um período um pouco nebuloso, mas ele tinha a referência dessa nossa conexão. Então, foi fácil reativá-la. Uma adolescência tranquila é fruto de uma infância muito conectada. Mesmo trabalhando fora, pais e mães precisam tempo de qualidade com os filhos. É importante deixar de fazer algumas coisas de adulto e priorizar os filhos.
Com a volta de História de Amor, imagino que as pessoas te perguntem sobre o seu desejo em voltar a fazer televisão. Sente-se cobrada?
Nós, mulheres, somos muito cobradas, né? Vindo da geração que eu venho, era muito cobrada para casar e ter filho. Isso não era um foco para mim de início. Eu realmente me apaixonei por mim, me apaixonei pelo meu desejo, pela minha carreira. E tive uma mãe que não me cobrou isso.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
A cobrança não vinha de casa, então?
Minha minha mãe era viúva. Acho que ela gostaria de ver a filha numa relação estável, segura, mas me deixou muito livre, nunca me cobrou. Fiquei apaixonada por mim, pelo meu trabalho. Namorei, as pessoas vinham, mas passavam. Quando esbarrava no meu trabalho — há 20, 30 anos, os homens ainda eram mais machistas que hoje — eu afastava e mantinha o meu norte.
Esbarrava como? No sentido de querer te podar da profissão?
Isso! Se meter, querer me podar, interferir na minha trajetória. Não dá, né? Foquei em mim, na minha vida, no meu trabalho, nas minhas realizações e fui muito feliz. O foco realmente não era namorado. Eles existiram. Tive uma vida amorosa bacana durante esses anos, pessoas legais, mas chegava uma hora que o machismo entrava forte e eu mandava embora. Com 37 anos, conheci o Hugo, que é 11 anos mais novo que eu. Ele é um cara mais moderno, disposto, livre. Bateu seriamente uma paixão e foi quando eu também me senti preparada para ser mãe. Fui mãe aos 40. Estamos juntos há 18 anos e nosso filho tem 16. Agora, no fim da adolescência dele, eu voltei a ser cobrada.
Como?
“Carla, e o trabalho? Você deixou de ser atriz?”. Nós, mulheres, somos sempre cobradas. Antes, era cobrada porque não casei, não fiz uma família… Aí, eu casei, tive filho e fiz uma família. Adivinha? Sou cobrada porque eu não estou trabalhando. Seremos sempre cobradas. Infelizmente, estamos expostas a isso. Tenho muita tranquilidade porque quando botei foco na minha carreira, fui um muito feliz. Quando botei foco na maternidade e na minha relação afetiva, também fiquei muito feliz com essa decisão. Agora, o filhote está com 16 anos e a vontade de voltar a trabalhar está enorme. A ‘Carla atriz’ nunca se perdeu. A gente não deixa de ser artista. A arte permeia a minha vida e a minha existência em todos os sentidos. Nesses anos todos longe da televisão, eu me alimentei de arte, de cinema, de exposições, de estudo, de leitura e de vida também.
E a maternidade não te afastou por completo do trabalho. Você fez novelas no SBT, na Globo e na Record…
A última novela que eu fiz foi Gênesis, em 2021. Estou numa terceira fase da minha vida. Costumo brincar que vivi minha fase produtiva dos 17 aos 37. Dos 37 aos 57, tive a minha fase reprodutiva. A terceira fase da minha vida vai começar agora, aos 57, que completo em junho. Dos 57 aos 77, será uma nova jornada, como uma artista madura, uma mulher completa. Essa fase, da mulher aos 50, é muito interessante. Estou gostando muito dessa década.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
E existem muitos comentários sobre a sua jovialidade. Em História de Amor, por exemplo, sua personagem tinha 18 anos, mas você já era mais velha.
Eu já tinha 27 anos. Praticamente, 10 anos a mais que a Joyce. Quando recebi o convite para a novela, eu estava fazendo um curso em Paris e comendo muito chocolate (risos). Passei um período de seis a oito meses por lá. Quando teve o convite para a novela, eu estava mais cheinha… Quando soube que a personagem era uma adolescente que estava grávida, eu pensei: “Ótimo. Essa bochecha toda vai ser lucro”. Aproveitei o físico mais rechonchudinho para a Joyce. Ao longo da novela, eu fui emagrecendo. Terminei com uns 10 quilos a menos. Acho que tudo isso ajudou na composição da personagem — uma adolescente, grávida e cheia de embates.
Eram muitos embates, muitas cenas fortes…
Seja com o Caio, seja com a Helena, a Joyce tinha cada cena… Eu passava mal estudando. Ela era muito cruel, tinha um temperamento muito forte. As atrizes, que já eram mães, me encontravam nos corredores e falavam: “Carla, eu falo para minha filha: não seja a Joyce”. A personagem era um exemplo a não ser seguido. Todas vinham falar comigo apavoradas.
Entre seus vários trabalhos, História de Amor está entre os mais lembrados?
A Joyce foi realmente muito marcante. Acho que a relação de mãe e filha, mostrada em História de Amor, é atemporal e universal. Lembro que, anos depois da novela, viajei para uma ilha no Caribe. E a novela estava passando lá, dublada em francês. As pessoas vinham falar comigo no hotel.
Você tem 40 anos de carreira. Quais outros papéis você guarda com carinho?
Fui muito feliz fazendo as novelas do Aguinaldo Silva. Em Pedra sobre Pedra, eu era antagonista da Adriana Esteves. Em Porto dos Milagres, fiz a Dorinha, que era a mulher de um pescador, viúva, com um filho muito sofrida. Também amei fazer a Serafina Rosa, protagonista de Uma Rosa com Amor, no SBT. Era uma versão atualizada pelo clássico dos anos 1970, feito pela Marília Pêra. Ah, e não posso esquecer da Dalila, de Tropicaliente.
Carla Marins em ‘Hipertensão’ (1986), ‘Pedra sobre Pedra’ (1992), ‘Tropicaliente’ (1994), ‘História de Amor’ (1995), ‘Uma Rosa com Amor’ (2010) e ‘Gênesis’ (2021)
TV Globo, SBT e Record
Seu visual em Tropicaliente foi icônico, cabelo curtinho. É verdade que você cortou por vontade própria?
Sim, vontade própria! O Paulo Ubiratan (diretor) quase me matou porque ele queria cabelão, sensualidade… Eu quis deixar a personagem mais moleca, afinal ela pescava com o pai… Quando o Paulo Ubiratan viu meu cabelo, ele quase teve um treco, mas eu o convenci que não faria o normal, aquela menina brejeira de cabelo comprido na praia… E ele comprou a ideia.
Isso também mostra seu poder de argumentar. Sempre teve essa preocupação em estudar para compor a personagem?
Eu comecei muito nova. Nem todo mundo sabe, mas fui atriz mirim, né?
Você foi atriz mirim?
Sim, fui! Fiz alguns trabalhos na Globo ainda criança. Eu fiz teste, por exemplo, para fazer a filha da Regina Duarte, em Malu Mulher (risos) — nunca tinha comentado isso em entrevista. Quase fui finalista do teste. Perdi para a Narjara (Turetta). Uma das questões é que a trama precisava de uma menina também um pouquinho mais velha, quase uma pré-adolescente. O Fábio Sabag (diretor) gostou do meu teste e me encaminhou para o Departamento de Elenco da Globo para que eu fizesse uma ficha lá e disse que ainda iria trabalhar bastante com eles. Fiz a minha ficha e fui chamada para várias participações em novelas, em seriados… E assim segui entre os 9 e 14 anos.
A certeza pela profissão veio cedo, então?
Aos 17, fiz um curso com o Wolf Maya e ele, então, me convidou para fazer minha primeira novela, Hipertensão, com uma personagem maravilhosa, a Carola. O papel teve muita repercussão. Logo emendei com um segundo trabalho e segui na emissora. Foram 20 anos ininterruptos de contrato com a Globo. Comecei a fazer muitos trabalhos — em teatro, cinema e televisão — e a minha formação tinha ficado em suspensão. Depois que entrei no mercado de trabalho, não consegui fazer faculdade. Resolvi fazer anos depois, aos 34 anos. Estava sentindo o fato de uma base teórica maior. Fiz Teoria do Teatro, na UniRio. Demorei 10 anos para me formar, mas foi importante para mim e conheci pessoas incríveis. Mateus Solano e Fábio Porchat fizeram a UniRio na mesma época que eu. Não tem essa de idade para estudar. Continuo me desenvolvendo.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
Você também contou que passou um período morando na França. Foi para estudar?
Sim. Fiz escola de mímica, de máscaras balinesas, de dança. Isso dá um estofo para o ator. Eu prezo muito pela liberdade e pelo conhecimento, mas a liberdade podem tirar de você. O conhecimento não, ele é perene.
Considera que, hoje em dia, a nova geração esteja mais preocupada com números de seguidores do que com o conhecimento?
Tento não padronizar. Estamos no neoliberalismo, em que a gente é consumido e consome numa volatilidade muito maior, né? Acho que tem de tudo. A Grazi Massafera, por exemplo, veio de um BBB, caiu de paraquedas e está aí estudando, fazendo um belíssimo trabalho, ganhando prêmio, aproveitou as oportunidades… Acho uma pena quando você tem a chance e não aproveita, não se aprimora. Tento não padronizar: tem gente que vai estudar, tem gente que vai ficar só no oba-oba mesmo. No futuro, a gente vai ver quem vai ficar.
E a turminha do “oba-oba” também existia em gerações que antecederam as redes sociais, né?
Sim. E muitos acabaram ficando pelo meio do caminho. A gente sabe disso, né? Então, é realmente uma escolha, é individual.
Você citou que primeiro focou na sua vida profissional e, depois, na vida afetiva. Seu marido é 11 anos mais novo. Já foram alvo de etarismo?
Não, não. Até porque assim, ele também não aparenta ser tão novo. Acho que também não aparento ser tão mais velha. Acabamos nos equilibrando.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
Quando o Leon ainda era bebê, você veio trabalhar em São Paulo. Como foi essa equação para o casamento e para a maternidade?
Leon estava com 1 ano e 2 meses quando comecei a gravar Uma Rosa com Amor. Tive uma parceria com o Hugo bem legal nesta fase. Ele ficou no Rio. Em uma semana, o meu filho vinha para São Paulo. A minha mãe e uma babá vinham e ficavam comigo em um apart-hotel. Na outra semana, elas voltavam com meu filho para o Rio. Sabia que ele estava com o pai e ficava tranquila. Hugo é um homem muito especial, entendeu a paternidade e abraçou isso como uma missão. A logística foi realmente complexa, uma loucura. Foi bem cansativo, mas foi como a gente conseguiu fazer na época. Nunca trabalhei tanto na minha vida. Era protagonista de uma novela com um elenco enxuto. Tinha muita cena. Quando o casal tá alinhado, facilita tudo. Antes de entrar numa relação e ter filho, a gente tem que conversar os assuntos sérios, os assuntos importantes.
E já estão juntos há 18 anos!
Acho que o motivo disso são as afinidades. Você tem que ter afinidade com seu parceiro e tentar descobrir isso logo. Se perceber que essas afinidades não existem, caia fora porque as pessoas não mudam.
Hugo é personal trainer. Lembro de uma fase em que você era muito fotografada se exercitando na praia. Sua rotina de treinos mudou?
Na praia, eu gostava de correr. Malho todos os dias. Terças, quintas e sábados, eu corro. Como morava na frente de Praia da Barra, corria na areia e já dava um mergulho. Porém, eu me mudei para uma casa que é mais perto aqui da Floresta da Tijuca. Corro no condomínio, que tem ruas arborizadas e menos sol. Aos 50+, tenho preferido menos sol porque a pele não aguenta.
Quais seus cuidados regulares com o físico?
Exercício é fundamental. Gosto de fazer exercícios para pernas. Aos 50+, a gente precisa dessa musculatura muito fortalecida para evitar queda. Ter uma musculatura bem trabalhada é muito bom. Não sou muito neurótica, não, mas não dispenso o filtro solar, tenho uma boa endocrinologista, uma ótima dermatologista. Estou fazendo umas coisinhas aí (risos).
Quais coisinhas?
Umas coisinhas básicas, como bioestimulador, botox… Não sou contra, não. Quem sabe fazer um lifting. Tudo é possível, estou aberta.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
Você escuta muitos comentários sobre essa questão de você se manter tão jovem?
Eu escutava mais (risos). Escuto, mas escuto menos, não vou negar, não. Recentemente, teve uma questão com Alessandra Negrini e a Dona Delma, do BBB, por terem a mesma idade. A questão econômica e social atravessa a maneira como a gente vai aparentar a idade, né? Tudo interfere. Eu, Alessandra e outras tantas mulheres privilegiadas temos acesso financeiro, boa alimentação. Uma vida menos estressada gera uma resposta melhor. A gente não pode esquecer esse detalhe antes de comparar. Eu não quero aparentar ter 20, 30 anos. Eu vivi, fui feliz essa fase. E, agora, quero estar bem com os meus 50, quase 60. Sem muita neurose, sem querer ficar com cara de bebê.
Ao pensar nos próximos passos profissionais, tem personagens que você gostaria de interpretar?
As vilãs são sempre maravilhosas, afinal trazem conflitos, mexem com as tramas. Adoraria pegar uma supervilã de novela das 9. Já pensou? Quem sabe do Aguinaldo Silva? Também estou com muita vontade de fazer televisão e, concomitantemente, ter um bom texto de teatro para falar sobre a mulher, sobre as nossas questões. eu me entendo como uma feminista. Hoje em dia, não quero nem mais saber de esquerda e de direita. Nem a esquerda, nem a direita olham para questão da mulher como deveriam. Meu partido é o feminismo. Meu partido é pró-mulheres.
Boa colocação. Afinal, ainda há diferenças entre homens e mulheres na sociedade.
Ganhamos menos, nos matam, querem nos dominar de todo custo. São muitas questões. Quero muito fazer um trabalho onde eu possa falar e que a gente possa ter uma rede de apoio cada vez maior.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
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Sucesso com a reprise de ‘História de Amor’, atriz fala do desejo de voltar às novelas, recorda juventude, opina sobre casamento e maternidade e celebra amadurecimento: “Quero estar bem com a idade que tenho, sem querer ficar com cara de bebê” Desde que a reprise de História de Amor entrou no ar na Edição Especial da TV Globo, o trabalho de Carla Marins, de 56 anos de idade, tem sido aclamado nas redes sociais. Gravada há 30 anos, a novela conta com a atriz no papel da jovem protagonista Joyce, uma adolescente de 18 anos que engravida do namorado.
Saiba-mais taboola
Na época em que fez a novela, a atriz era quase dez anos mais velha que a personagem e acabava de voltar de uma temporada em Paris, na França. “Tinha, praticamente, 10 anos a mais que a Joyce. E ela tinha cada cena… Eu passava mal estudando. Joyce era muito cruel, tinha um temperamento muito forte. As atrizes, que já eram mães, me encontravam nos corredores e falavam: ‘Carla, eu falo para minha filha: não seja a Joyce’. A personagem era um exemplo a não ser seguido”, afirma a atriz, recordando que Joyce tinha muitas cenas de conflito com a mãe, Helena (Regina Duarte).
Enquanto a maternidade fez parte do universo de suas jovens personagens, Carla optou por ser mãe aos 40. “Nós, mulheres, somos sempre cobradas. Antes, era cobrada porque não casei, não fiz uma família… Aí, eu casei, tive filho e fiz uma família. Adivinha? Sou cobrada porque eu não estou trabalhando. Seremos sempre cobradas. Infelizmente, estamos expostas a isso”, afirma a atriz, que é mãe de Leon, de 16 anos, de seu casamento com o personal trainer Hugo Baltazar.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
Com a carreira iniciada ainda na infância, Carla ganhou notoriedade aos 17, quando se destacou como a Carola na novela Hipertensão (Globo, 1986). “Tive 20 anos ininterruptos de contrato com a Globo. Comecei a fazer muitos trabalhos — em teatro, cinema e televisão — e a minha formação tinha ficado em suspensão. Depois que entrei no mercado de trabalho, não consegui fazer faculdade. Resolvi fazer anos depois, aos 34 anos”, conta ela, enaltecendo a importância do estudo para a evolução profissional.
Ao recordar momentos de sua trajetória, Carla lembra como convenceu o diretor Paulo Ubiratan (1947-1998) de autorizá-la a fazer Tropicaliente (Globo, 1994) com os cabelos curtinhos, corte que adotou “por vontade própria” antes do início das gravações. “O Paulo Ubiratan quase me matou porque ele queria cabelão, sensualidade… Eu quis deixar a personagem mais moleca, afinal ela pescava com o pai. Quando viu meu cabelo, o diretor quase teve um treco, mas comprou a minha ideia.”
QUEM DISSE
Com uma rotina saudável de treinos, a atriz conta que o físico definido e os cuidados estéticos fazem parte do seu dia a dia, mas não se considera exageradamente vaidosa. “Eu não quero aparentar ter 20, 30 anos. Quero estar bem com os meus 50. Sem muita neurose, sem querer ficar com cara de bebê.”
Quem: História de Amor é um sucesso na Edição Especial da TV Globo. Muitos dos temas retratados na novela de 1995 seguem atuais hoje em dia. Você tem observado isso?
Carla Marins: Há 30 anos, a gente não tinha um olhar descortinado para todas essas questões. Acho interessante revisitar a trama com o olhar de hoje. Joyce e Caio viviam um relacionamento tóxico. Quem me chamou a atenção para isso foi o Angelo Paes Leme, que interpretou o Caio e é pai de um pré-adolescente. No primeiro capítulo, temos a cena em que a Joyce, grávida, é empurrada pelo namorado para fora do jipe. Ela cai e ele nem oferece apoio. Uma violência dessas era naturalizada. Nós, finalmente, despertamos para essa mácula, que é a violência masculina tão naturalizada nas relações afetivas. É uma tristeza. Eu tenho um filho de 16 anos, então esse é um tema muito caro para mim.
Assistir agora, como mãe de adolescente, traz um novo olhar?
Como mãe, tenho os olhos muito atentos para tudo o que está acontecendo e tento influenciá-lo positivamente. Meu filho adolesceu na pandemia. Isso foi um pouco difícil. Ele ficava muito na dele, isolado. Fiquei com a síndrome do ninho vazio com ele morando em casa (risos). Mas foi rápido, cerca de um ano. Depois, voltou a ter uma interação maior. A conexão que a gente teve com ele na infância foi muito forte. A entrada na adolescência é um período um pouco nebuloso, mas ele tinha a referência dessa nossa conexão. Então, foi fácil reativá-la. Uma adolescência tranquila é fruto de uma infância muito conectada. Mesmo trabalhando fora, pais e mães precisam tempo de qualidade com os filhos. É importante deixar de fazer algumas coisas de adulto e priorizar os filhos.
Com a volta de História de Amor, imagino que as pessoas te perguntem sobre o seu desejo em voltar a fazer televisão. Sente-se cobrada?
Nós, mulheres, somos muito cobradas, né? Vindo da geração que eu venho, era muito cobrada para casar e ter filho. Isso não era um foco para mim de início. Eu realmente me apaixonei por mim, me apaixonei pelo meu desejo, pela minha carreira. E tive uma mãe que não me cobrou isso.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
A cobrança não vinha de casa, então?
Minha minha mãe era viúva. Acho que ela gostaria de ver a filha numa relação estável, segura, mas me deixou muito livre, nunca me cobrou. Fiquei apaixonada por mim, pelo meu trabalho. Namorei, as pessoas vinham, mas passavam. Quando esbarrava no meu trabalho — há 20, 30 anos, os homens ainda eram mais machistas que hoje — eu afastava e mantinha o meu norte.
Esbarrava como? No sentido de querer te podar da profissão?
Isso! Se meter, querer me podar, interferir na minha trajetória. Não dá, né? Foquei em mim, na minha vida, no meu trabalho, nas minhas realizações e fui muito feliz. O foco realmente não era namorado. Eles existiram. Tive uma vida amorosa bacana durante esses anos, pessoas legais, mas chegava uma hora que o machismo entrava forte e eu mandava embora. Com 37 anos, conheci o Hugo, que é 11 anos mais novo que eu. Ele é um cara mais moderno, disposto, livre. Bateu seriamente uma paixão e foi quando eu também me senti preparada para ser mãe. Fui mãe aos 40. Estamos juntos há 18 anos e nosso filho tem 16. Agora, no fim da adolescência dele, eu voltei a ser cobrada.
Como?
“Carla, e o trabalho? Você deixou de ser atriz?”. Nós, mulheres, somos sempre cobradas. Antes, era cobrada porque não casei, não fiz uma família… Aí, eu casei, tive filho e fiz uma família. Adivinha? Sou cobrada porque eu não estou trabalhando. Seremos sempre cobradas. Infelizmente, estamos expostas a isso. Tenho muita tranquilidade porque quando botei foco na minha carreira, fui um muito feliz. Quando botei foco na maternidade e na minha relação afetiva, também fiquei muito feliz com essa decisão. Agora, o filhote está com 16 anos e a vontade de voltar a trabalhar está enorme. A ‘Carla atriz’ nunca se perdeu. A gente não deixa de ser artista. A arte permeia a minha vida e a minha existência em todos os sentidos. Nesses anos todos longe da televisão, eu me alimentei de arte, de cinema, de exposições, de estudo, de leitura e de vida também.
E a maternidade não te afastou por completo do trabalho. Você fez novelas no SBT, na Globo e na Record…
A última novela que eu fiz foi Gênesis, em 2021. Estou numa terceira fase da minha vida. Costumo brincar que vivi minha fase produtiva dos 17 aos 37. Dos 37 aos 57, tive a minha fase reprodutiva. A terceira fase da minha vida vai começar agora, aos 57, que completo em junho. Dos 57 aos 77, será uma nova jornada, como uma artista madura, uma mulher completa. Essa fase, da mulher aos 50, é muito interessante. Estou gostando muito dessa década.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
E existem muitos comentários sobre a sua jovialidade. Em História de Amor, por exemplo, sua personagem tinha 18 anos, mas você já era mais velha.
Eu já tinha 27 anos. Praticamente, 10 anos a mais que a Joyce. Quando recebi o convite para a novela, eu estava fazendo um curso em Paris e comendo muito chocolate (risos). Passei um período de seis a oito meses por lá. Quando teve o convite para a novela, eu estava mais cheinha… Quando soube que a personagem era uma adolescente que estava grávida, eu pensei: “Ótimo. Essa bochecha toda vai ser lucro”. Aproveitei o físico mais rechonchudinho para a Joyce. Ao longo da novela, eu fui emagrecendo. Terminei com uns 10 quilos a menos. Acho que tudo isso ajudou na composição da personagem — uma adolescente, grávida e cheia de embates.
Eram muitos embates, muitas cenas fortes…
Seja com o Caio, seja com a Helena, a Joyce tinha cada cena… Eu passava mal estudando. Ela era muito cruel, tinha um temperamento muito forte. As atrizes, que já eram mães, me encontravam nos corredores e falavam: “Carla, eu falo para minha filha: não seja a Joyce”. A personagem era um exemplo a não ser seguido. Todas vinham falar comigo apavoradas.
Entre seus vários trabalhos, História de Amor está entre os mais lembrados?
A Joyce foi realmente muito marcante. Acho que a relação de mãe e filha, mostrada em História de Amor, é atemporal e universal. Lembro que, anos depois da novela, viajei para uma ilha no Caribe. E a novela estava passando lá, dublada em francês. As pessoas vinham falar comigo no hotel.
Você tem 40 anos de carreira. Quais outros papéis você guarda com carinho?
Fui muito feliz fazendo as novelas do Aguinaldo Silva. Em Pedra sobre Pedra, eu era antagonista da Adriana Esteves. Em Porto dos Milagres, fiz a Dorinha, que era a mulher de um pescador, viúva, com um filho muito sofrida. Também amei fazer a Serafina Rosa, protagonista de Uma Rosa com Amor, no SBT. Era uma versão atualizada pelo clássico dos anos 1970, feito pela Marília Pêra. Ah, e não posso esquecer da Dalila, de Tropicaliente.
Carla Marins em ‘Hipertensão’ (1986), ‘Pedra sobre Pedra’ (1992), ‘Tropicaliente’ (1994), ‘História de Amor’ (1995), ‘Uma Rosa com Amor’ (2010) e ‘Gênesis’ (2021)
TV Globo, SBT e Record
Seu visual em Tropicaliente foi icônico, cabelo curtinho. É verdade que você cortou por vontade própria?
Sim, vontade própria! O Paulo Ubiratan (diretor) quase me matou porque ele queria cabelão, sensualidade… Eu quis deixar a personagem mais moleca, afinal ela pescava com o pai… Quando o Paulo Ubiratan viu meu cabelo, ele quase teve um treco, mas eu o convenci que não faria o normal, aquela menina brejeira de cabelo comprido na praia… E ele comprou a ideia.
Isso também mostra seu poder de argumentar. Sempre teve essa preocupação em estudar para compor a personagem?
Eu comecei muito nova. Nem todo mundo sabe, mas fui atriz mirim, né?
Você foi atriz mirim?
Sim, fui! Fiz alguns trabalhos na Globo ainda criança. Eu fiz teste, por exemplo, para fazer a filha da Regina Duarte, em Malu Mulher (risos) — nunca tinha comentado isso em entrevista. Quase fui finalista do teste. Perdi para a Narjara (Turetta). Uma das questões é que a trama precisava de uma menina também um pouquinho mais velha, quase uma pré-adolescente. O Fábio Sabag (diretor) gostou do meu teste e me encaminhou para o Departamento de Elenco da Globo para que eu fizesse uma ficha lá e disse que ainda iria trabalhar bastante com eles. Fiz a minha ficha e fui chamada para várias participações em novelas, em seriados… E assim segui entre os 9 e 14 anos.
A certeza pela profissão veio cedo, então?
Aos 17, fiz um curso com o Wolf Maya e ele, então, me convidou para fazer minha primeira novela, Hipertensão, com uma personagem maravilhosa, a Carola. O papel teve muita repercussão. Logo emendei com um segundo trabalho e segui na emissora. Foram 20 anos ininterruptos de contrato com a Globo. Comecei a fazer muitos trabalhos — em teatro, cinema e televisão — e a minha formação tinha ficado em suspensão. Depois que entrei no mercado de trabalho, não consegui fazer faculdade. Resolvi fazer anos depois, aos 34 anos. Estava sentindo o fato de uma base teórica maior. Fiz Teoria do Teatro, na UniRio. Demorei 10 anos para me formar, mas foi importante para mim e conheci pessoas incríveis. Mateus Solano e Fábio Porchat fizeram a UniRio na mesma época que eu. Não tem essa de idade para estudar. Continuo me desenvolvendo.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
Você também contou que passou um período morando na França. Foi para estudar?
Sim. Fiz escola de mímica, de máscaras balinesas, de dança. Isso dá um estofo para o ator. Eu prezo muito pela liberdade e pelo conhecimento, mas a liberdade podem tirar de você. O conhecimento não, ele é perene.
Considera que, hoje em dia, a nova geração esteja mais preocupada com números de seguidores do que com o conhecimento?
Tento não padronizar. Estamos no neoliberalismo, em que a gente é consumido e consome numa volatilidade muito maior, né? Acho que tem de tudo. A Grazi Massafera, por exemplo, veio de um BBB, caiu de paraquedas e está aí estudando, fazendo um belíssimo trabalho, ganhando prêmio, aproveitou as oportunidades… Acho uma pena quando você tem a chance e não aproveita, não se aprimora. Tento não padronizar: tem gente que vai estudar, tem gente que vai ficar só no oba-oba mesmo. No futuro, a gente vai ver quem vai ficar.
E a turminha do “oba-oba” também existia em gerações que antecederam as redes sociais, né?
Sim. E muitos acabaram ficando pelo meio do caminho. A gente sabe disso, né? Então, é realmente uma escolha, é individual.
Você citou que primeiro focou na sua vida profissional e, depois, na vida afetiva. Seu marido é 11 anos mais novo. Já foram alvo de etarismo?
Não, não. Até porque assim, ele também não aparenta ser tão novo. Acho que também não aparento ser tão mais velha. Acabamos nos equilibrando.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
Quando o Leon ainda era bebê, você veio trabalhar em São Paulo. Como foi essa equação para o casamento e para a maternidade?
Leon estava com 1 ano e 2 meses quando comecei a gravar Uma Rosa com Amor. Tive uma parceria com o Hugo bem legal nesta fase. Ele ficou no Rio. Em uma semana, o meu filho vinha para São Paulo. A minha mãe e uma babá vinham e ficavam comigo em um apart-hotel. Na outra semana, elas voltavam com meu filho para o Rio. Sabia que ele estava com o pai e ficava tranquila. Hugo é um homem muito especial, entendeu a paternidade e abraçou isso como uma missão. A logística foi realmente complexa, uma loucura. Foi bem cansativo, mas foi como a gente conseguiu fazer na época. Nunca trabalhei tanto na minha vida. Era protagonista de uma novela com um elenco enxuto. Tinha muita cena. Quando o casal tá alinhado, facilita tudo. Antes de entrar numa relação e ter filho, a gente tem que conversar os assuntos sérios, os assuntos importantes.
E já estão juntos há 18 anos!
Acho que o motivo disso são as afinidades. Você tem que ter afinidade com seu parceiro e tentar descobrir isso logo. Se perceber que essas afinidades não existem, caia fora porque as pessoas não mudam.
Hugo é personal trainer. Lembro de uma fase em que você era muito fotografada se exercitando na praia. Sua rotina de treinos mudou?
Na praia, eu gostava de correr. Malho todos os dias. Terças, quintas e sábados, eu corro. Como morava na frente de Praia da Barra, corria na areia e já dava um mergulho. Porém, eu me mudei para uma casa que é mais perto aqui da Floresta da Tijuca. Corro no condomínio, que tem ruas arborizadas e menos sol. Aos 50+, tenho preferido menos sol porque a pele não aguenta.
Quais seus cuidados regulares com o físico?
Exercício é fundamental. Gosto de fazer exercícios para pernas. Aos 50+, a gente precisa dessa musculatura muito fortalecida para evitar queda. Ter uma musculatura bem trabalhada é muito bom. Não sou muito neurótica, não, mas não dispenso o filtro solar, tenho uma boa endocrinologista, uma ótima dermatologista. Estou fazendo umas coisinhas aí (risos).
Quais coisinhas?
Umas coisinhas básicas, como bioestimulador, botox… Não sou contra, não. Quem sabe fazer um lifting. Tudo é possível, estou aberta.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
Você escuta muitos comentários sobre essa questão de você se manter tão jovem?
Eu escutava mais (risos). Escuto, mas escuto menos, não vou negar, não. Recentemente, teve uma questão com Alessandra Negrini e a Dona Delma, do BBB, por terem a mesma idade. A questão econômica e social atravessa a maneira como a gente vai aparentar a idade, né? Tudo interfere. Eu, Alessandra e outras tantas mulheres privilegiadas temos acesso financeiro, boa alimentação. Uma vida menos estressada gera uma resposta melhor. A gente não pode esquecer esse detalhe antes de comparar. Eu não quero aparentar ter 20, 30 anos. Eu vivi, fui feliz essa fase. E, agora, quero estar bem com os meus 50, quase 60. Sem muita neurose, sem querer ficar com cara de bebê.
Ao pensar nos próximos passos profissionais, tem personagens que você gostaria de interpretar?
As vilãs são sempre maravilhosas, afinal trazem conflitos, mexem com as tramas. Adoraria pegar uma supervilã de novela das 9. Já pensou? Quem sabe do Aguinaldo Silva? Também estou com muita vontade de fazer televisão e, concomitantemente, ter um bom texto de teatro para falar sobre a mulher, sobre as nossas questões. eu me entendo como uma feminista. Hoje em dia, não quero nem mais saber de esquerda e de direita. Nem a esquerda, nem a direita olham para questão da mulher como deveriam. Meu partido é o feminismo. Meu partido é pró-mulheres.
Boa colocação. Afinal, ainda há diferenças entre homens e mulheres na sociedade.
Ganhamos menos, nos matam, querem nos dominar de todo custo. São muitas questões. Quero muito fazer um trabalho onde eu possa falar e que a gente possa ter uma rede de apoio cada vez maior.
Carla Marins
Rodrigo Lopes
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