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19 Apr 2025, Sat

China restringe terras raras e coloca Estados Unidos em xeque na guerra comercial

O neurocirurgião Michael Groff com a filha, Karenna Groff; a mulher, a cirurgiã Joy Saini; e o genro, James Santoro — Foto: Courtesy John Santoro


A decisão da China de suspender a exportação de terras raras para os Estados Unidos, anunciada no início de abril de 2025, intensificou a guerra comercial entre as duas potências econômicas. Esses minerais, essenciais para a fabricação de produtos de alta tecnologia, como smartphones, veículos elétricos e equipamentos militares, são dominados pela produção chinesa, que controla cerca de 61% da extração global e 92% do processamento. A medida expôs a vulnerabilidade americana, que depende de importações chinesas para 70% de suas necessidades de terras raras entre 2020 e 2023. Com a restrição, indústrias cruciais, como defesa e tecnologia, enfrentam riscos de escassez, aumento de preços e atrasos na produção, enquanto Washington busca alternativas para reduzir sua dependência.

A suspensão das exportações não é apenas uma resposta às tarifas impostas pelo governo de Donald Trump, mas também uma demonstração de poder estratégico. As terras raras, um grupo de 17 elementos químicos, são indispensáveis para a economia moderna. Desde a década de 1990, a China investiu pesadamente na mineração e refino desses minerais, construindo uma cadeia de fornecimento que hoje é quase monopolística. Enquanto isso, os Estados Unidos, que já foram líderes na produção até os anos 1980, perderam competitividade devido aos altos custos e preocupações ambientais.

O impacto da decisão chinesa vai além da economia, alcançando a segurança nacional americana. Equipamentos militares, como os jatos F-35 e mísseis Tomahawk, dependem de terras raras pesadas, que são mais raras e difíceis de processar. Sem acesso a esses minerais, a capacidade de produção de defesa dos EUA pode ser comprometida, especialmente em um momento em que a China acelera sua própria fabricação de armamentos.

O que são terras raras e por que importam

As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos, incluindo neodímio, ítrio e európio, que possuem propriedades únicas para a fabricação de tecnologias avançadas. Apesar de serem relativamente abundantes na crosta terrestre, sua extração e refino são complexos, caros e ambientalmente desafiadores, devido à presença de elementos radioativos. Esses minerais são usados em uma ampla gama de produtos, desde ímãs de alta potência até telas de dispositivos eletrônicos.

Por exemplo, o neodímio é essencial para ímãs permanentes em motores de veículos elétricos e turbinas eólicas, enquanto o ítrio melhora a qualidade de cores em monitores. Na medicina, terras raras são empregadas em equipamentos de ressonância magnética e lasers cirúrgicos. No setor de defesa, elas são indispensáveis para sistemas de radar, mísseis guiados e drones. A dependência global desses minerais tornou a China, com sua capacidade de produção dominante, um player central na economia moderna.

A relevância das terras raras vai além da funcionalidade técnica. Elas representam um ativo estratégico em disputas geopolíticas. A China, ciente de sua posição, utiliza o controle sobre esses minerais como uma ferramenta de influência, especialmente em momentos de tensão comercial. A decisão de abril de 2025 reforça essa estratégia, colocando pressão sobre os Estados Unidos em um contexto de crescente rivalidade.

Eua e China
Eua e China – Foto: icedmocha/Shutterstock.com
  • Principais usos das terras raras:
    • Ímãs para motores de veículos elétricos e turbinas eólicas.
    • Telas de smartphones, TVs e monitores de computador.
    • Equipamentos médicos, como máquinas de ressonância magnética.
    • Tecnologias de defesa, incluindo mísseis, radares e drones.

A dominância chinesa no mercado global

A liderança da China no mercado de terras raras é resultado de décadas de planejamento estratégico. Desde os anos 1990, o governo chinês priorizou investimentos em mineração e refino, muitas vezes a custos trabalhistas e ambientais mais baixos do que em outros países. A declaração de Deng Xiaoping em 1992, comparando as terras raras ao petróleo do Oriente Médio, marcou o início de uma política agressiva para dominar esse setor.

Hoje, a China não apenas extrai a maior parte das terras raras, mas também controla o refino, um processo que separa os minerais de outros elementos. Esse domínio dá ao país o poder de decidir quem terá acesso a esses recursos. Outras nações, como os membros da União Europeia, evitam a produção em larga escala devido aos riscos ambientais, já que os resíduos radioativos exigem descarte seguro e permanente.

A capacidade chinesa de controlar a cadeia de fornecimento foi reforçada por políticas que incentivam a exportação de produtos acabados, como ímãs, em vez de matérias-primas brutas. Isso aumenta a dependência global de suas instalações e torna difícil para outros países desenvolverem cadeias alternativas. A decisão de restringir exportações em 2025, especialmente de terras raras pesadas, explora essa vantagem, atingindo diretamente as indústrias americanas.

Como a China implementou as restrições

Em 4 de abril de 2025, a China anunciou controles rigorosos sobre a exportação de sete terras raras, com foco nas chamadas terras raras pesadas, como disprosio e térbio. Essas substâncias, menos comuns e mais difíceis de processar, são cruciais para aplicações de alta tecnologia e defesa. A medida exige que empresas obtenham licenças especiais para exportar esses minerais, dificultando o acesso de compradores americanos.

A justificativa oficial está vinculada ao Tratado Internacional de Não Proliferação de Armas Nucleares, que permite à China regular produtos de “duplo uso” – aqueles com aplicações civis e militares. Na prática, a restrição é uma retaliação às tarifas impostas pelos Estados Unidos, que elevaram os custos de produtos chineses no mercado americano. A decisão também reflete a crescente assertividade de Pequim em usar recursos estratégicos como alavanca em negociações internacionais.

O impacto imediato foi sentido nos mercados globais, com previsões de aumento nos preços de terras raras e seus derivados. Fabricantes americanos, especialmente nos setores de tecnologia e defesa, enfrentam a possibilidade de interrupções na cadeia de suprimentos, já que os estoques existentes são limitados. A medida também expôs a falta de capacidade doméstica dos EUA para processar terras raras pesadas, um gargalo que pode levar anos para ser superado.

Impactos econômicos e estratégicos nos EUA

A suspensão das exportações chinesas representa um desafio significativo para a economia americana. Entre 2020 e 2023, 70% das importações de terras raras dos Estados Unidos vieram da China, segundo dados geológicos. Sem acesso a esses minerais, indústrias cruciais enfrentam riscos de escassez e aumento de custos, o que pode levar a atrasos na produção de produtos como smartphones, veículos elétricos e equipamentos militares.

No setor de defesa, a dependência é particularmente preocupante. Tecnologias como os jatos F-35, mísseis Tomahawk e drones Predator requerem terras raras pesadas para componentes como ímãs permanentes e sistemas de orientação. A incapacidade de obter esses minerais pode comprometer a prontidão militar americana, especialmente em um momento em que a China intensifica sua produção de armamentos a uma velocidade cinco a seis vezes maior.

Além disso, a medida chinesa pode frustrar os planos de Donald Trump de revitalizar a manufatura americana. As tarifas impostas pelo presidente visavam proteger a indústria doméstica, mas a falta de terras raras pode aumentar os custos de produção, reduzindo a competitividade das empresas americanas. A situação também destaca a necessidade de investimentos em cadeias de fornecimento alternativas, um processo que exige tempo, recursos e avanços tecnológicos significativos.

  • Setores mais afetados nos EUA:
    • Defesa: produção de mísseis, radares e veículos aéreos.
    • Tecnologia: fabricação de smartphones, computadores e telas.
    • Energia renovável: motores de turbinas eólicas e veículos elétricos.
    • Saúde: equipamentos de diagnóstico e lasers médicos.

A resposta americana à crise

Diante da restrição chinesa, o governo americano intensificou esforços para reduzir sua dependência de terras raras importadas. Em abril de 2025, Donald Trump ordenou que o Departamento do Comércio investigasse formas de expandir a produção doméstica de minerais críticos. A ordem reconhece que a dependência de fornecedores estrangeiros representa um risco à segurança nacional e à inovação tecnológica.

Os Estados Unidos possuem uma mina de terras raras em operação, localizada em Mountain Pass, na Califórnia. No entanto, o país carece de capacidade para refinar terras raras pesadas, enviando grande parte do minério bruto para a China. Até os anos 1980, os EUA lideravam a produção global, mas perderam espaço devido à concorrência chinesa e às preocupações ambientais associadas ao processamento.

Trump também explorou parcerias internacionais para diversificar as fontes de fornecimento. A Ucrânia, com reservas significativas de terras raras, emergiu como um possível aliado, com negociações para um acordo de minerais. Outro alvo é a Groenlândia, que possui a oitava maior reserva global do mineral. No entanto, as tensões diplomáticas geradas pela postura agressiva de Trump em relação a esses territórios podem complicar as negociações.

Desafios para diversificar a cadeia de fornecimento

Construir uma cadeia de fornecimento independente de terras raras é uma tarefa complexa. O processamento desses minerais exige tecnologias avançadas e instalações especializadas, além de lidar com os resíduos radioativos gerados. Países como Austrália e Canadá possuem reservas, mas ainda dependem da China para o refino. Investir em capacidade doméstica nos EUA exigiria bilhões de dólares e vários anos, mesmo com apoio governamental.

Além disso, a dominância chinesa no mercado de produtos acabados, como ímãs de neodímio, dificulta a competição. A China não apenas fornece matérias-primas, mas também componentes prontos, o que reduz os custos para fabricantes globais. Substituir essa infraestrutura exigiria coordenação entre governo, indústria e aliados internacionais, algo que os EUA ainda não conseguiram implementar em larga escala.

A situação é agravada pela postura comercial de Trump, que impôs tarifas a aliados como Canadá e União Europeia. Essas tensões podem limitar a cooperação necessária para desenvolver fontes alternativas de terras raras. Enquanto isso, a China continua a fortalecer sua posição, investindo em tecnologias de reciclagem e parcerias com outros países ricos em minerais.

Contexto histórico da dominância chinesa

A ascensão da China como potência em terras raras começou no final do século 20, quando o país identificou o potencial estratégico desses minerais. Durante os anos 1980, os Estados Unidos dominavam a produção, com empresas como a Molycorp operando a mina de Mountain Pass. No entanto, a concorrência chinesa, aliada a custos mais baixos e regulamentações ambientais menos rigorosas, levou ao declínio da indústria americana.

Na década de 1990, a China implementou políticas de subsídios e incentivos fiscais para atrair investimentos no setor. A região da Mongólia Interior, rica em depósitos de terras raras, tornou-se um centro de produção. A estratégia foi complementada por restrições graduais às exportações de matérias-primas, forçando empresas estrangeiras a estabelecer fábricas na China para acessar os minerais.

Essa abordagem culminou na quase monopolização do mercado. Hoje, a China não apenas extrai e refina terras raras, mas também lidera a fabricação de produtos derivados, como ímãs e componentes eletrônicos. Essa integração vertical torna o país indispensável para a economia global, enquanto outros países lutam para recuperar o atraso.

Impactos globais da decisão chinesa

Embora os Estados Unidos sejam o principal alvo das restrições, a decisão da China tem implicações globais. Outros países dependentes de terras raras chinesas, como Japão e Coreia do Sul, também enfrentam incertezas. Esses mercados, que competem por tecnologias de ponta, podem buscar fontes alternativas ou investir em reciclagem de minerais, mas essas soluções ainda estão em estágios iniciais.

A alta nos preços de terras raras, prevista para os próximos meses, pode afetar consumidores finais. Produtos como smartphones, laptops e veículos elétricos podem ficar mais caros, impactando cadeias de suprimento globais. Além disso, a medida reforça a importância de diversificar fontes de minerais críticos, uma prioridade que ganhou destaque em fóruns internacionais como o G7.

A China, por sua vez, está expandindo sua influência em outros países ricos em terras raras, como Austrália e África do Sul, por meio de acordos comerciais. Essas parcerias garantem acesso a recursos adicionais, enquanto Pequim mantém o controle sobre o processamento. A estratégia reforça a posição da China como líder incontestável no setor, desafiando esforços globais para reduzir sua influência.

  • Países impactados pelas restrições:
    • Estados Unidos: dependência de 70% das importações chinesas.
    • Japão: grande consumidor de terras raras para eletrônicos.
    • Coreia do Sul: indústria de semicondutores e baterias afetada.
    • União Europeia: limitada por restrições ambientais na produção.

Esforços globais para contrapor a China

A crise desencadeada pelas restrições chinesas acelerou iniciativas globais para diversificar o fornecimento de terras raras. A Austrália, que possui a segunda maior reserva mundial, está expandindo sua capacidade de mineração, com empresas como a Lynas Corporation investindo em novas instalações. O Canadá também emergiu como um player promissor, com projetos em Saskatchewan e Quebec.

Além disso, tecnologias de reciclagem estão ganhando atenção. Empresas na Europa e no Japão estão desenvolvendo métodos para extrair terras raras de produtos descartados, como baterias e eletrônicos. Embora promissoras, essas iniciativas ainda não conseguem atender à demanda global, que deve crescer com a transição para energias renováveis e mobilidade elétrica.

Os Estados Unidos, por sua vez, estão explorando parcerias com aliados. O Quad, grupo formado por EUA, Japão, Austrália e Índia, discutiu a criação de uma cadeia de fornecimento alternativa para minerais críticos. No entanto, a implementação enfrenta obstáculos, incluindo diferenças políticas e a necessidade de investimentos maciços.

Cronograma das restrições chinesas

A decisão de abril de 2025 não foi um evento isolado, mas parte de uma série de medidas adotadas pela China para consolidar seu controle sobre terras raras. Abaixo, um resumo dos principais marcos:

  • 1992: Deng Xiaoping destaca a importância das terras raras, comparando-as ao petróleo.
  • Anos 2000: China implementa restrições graduais às exportações de minerais brutos.
  • 2010: Pequim corta exportações para o Japão em disputa territorial, gerando alarme global.
  • 2020-2023: EUA importam 70% de suas terras raras da China.
  • Abril 2025: China suspende exportação de sete terras raras pesadas, exigindo licenças especiais.

Perspectivas para o futuro

A restrição chinesa expôs as fragilidades da cadeia de fornecimento global e a dependência de um único país para minerais críticos. Nos Estados Unidos, a crise impulsionou debates sobre a necessidade de políticas industriais mais robustas, incluindo incentivos para a mineração doméstica e o desenvolvimento de tecnologias de refino. Projetos como a reativação da mina de Mountain Pass e a construção de novas instalações de processamento estão em andamento, mas os resultados levarão anos para se materializar.

Enquanto isso, a China continua a fortalecer sua posição, investindo em inovação e parcerias estratégicas. A capacidade do país de ditar os termos do mercado de terras raras reforça sua influência geopolítica, especialmente em um momento de tensões crescentes com o Ocidente. Para os Estados Unidos, a busca por autossuficiência será um teste de sua capacidade de mobilizar recursos e coordenar esforços com aliados.

A situação também destaca a importância de tecnologias alternativas. Pesquisas para reduzir a dependência de terras raras em ímãs e eletrônicos estão em curso, mas ainda não alcançaram escala comercial. Até que essas inovações se tornem viáveis, os minerais continuarão a desempenhar um papel central na economia global, com a China no comando.

A decisão da China de suspender a exportação de terras raras para os Estados Unidos, anunciada no início de abril de 2025, intensificou a guerra comercial entre as duas potências econômicas. Esses minerais, essenciais para a fabricação de produtos de alta tecnologia, como smartphones, veículos elétricos e equipamentos militares, são dominados pela produção chinesa, que controla cerca de 61% da extração global e 92% do processamento. A medida expôs a vulnerabilidade americana, que depende de importações chinesas para 70% de suas necessidades de terras raras entre 2020 e 2023. Com a restrição, indústrias cruciais, como defesa e tecnologia, enfrentam riscos de escassez, aumento de preços e atrasos na produção, enquanto Washington busca alternativas para reduzir sua dependência.

A suspensão das exportações não é apenas uma resposta às tarifas impostas pelo governo de Donald Trump, mas também uma demonstração de poder estratégico. As terras raras, um grupo de 17 elementos químicos, são indispensáveis para a economia moderna. Desde a década de 1990, a China investiu pesadamente na mineração e refino desses minerais, construindo uma cadeia de fornecimento que hoje é quase monopolística. Enquanto isso, os Estados Unidos, que já foram líderes na produção até os anos 1980, perderam competitividade devido aos altos custos e preocupações ambientais.

O impacto da decisão chinesa vai além da economia, alcançando a segurança nacional americana. Equipamentos militares, como os jatos F-35 e mísseis Tomahawk, dependem de terras raras pesadas, que são mais raras e difíceis de processar. Sem acesso a esses minerais, a capacidade de produção de defesa dos EUA pode ser comprometida, especialmente em um momento em que a China acelera sua própria fabricação de armamentos.

O que são terras raras e por que importam

As terras raras são um conjunto de 17 elementos químicos, incluindo neodímio, ítrio e európio, que possuem propriedades únicas para a fabricação de tecnologias avançadas. Apesar de serem relativamente abundantes na crosta terrestre, sua extração e refino são complexos, caros e ambientalmente desafiadores, devido à presença de elementos radioativos. Esses minerais são usados em uma ampla gama de produtos, desde ímãs de alta potência até telas de dispositivos eletrônicos.

Por exemplo, o neodímio é essencial para ímãs permanentes em motores de veículos elétricos e turbinas eólicas, enquanto o ítrio melhora a qualidade de cores em monitores. Na medicina, terras raras são empregadas em equipamentos de ressonância magnética e lasers cirúrgicos. No setor de defesa, elas são indispensáveis para sistemas de radar, mísseis guiados e drones. A dependência global desses minerais tornou a China, com sua capacidade de produção dominante, um player central na economia moderna.

A relevância das terras raras vai além da funcionalidade técnica. Elas representam um ativo estratégico em disputas geopolíticas. A China, ciente de sua posição, utiliza o controle sobre esses minerais como uma ferramenta de influência, especialmente em momentos de tensão comercial. A decisão de abril de 2025 reforça essa estratégia, colocando pressão sobre os Estados Unidos em um contexto de crescente rivalidade.

Eua e China
Eua e China – Foto: icedmocha/Shutterstock.com
  • Principais usos das terras raras:
    • Ímãs para motores de veículos elétricos e turbinas eólicas.
    • Telas de smartphones, TVs e monitores de computador.
    • Equipamentos médicos, como máquinas de ressonância magnética.
    • Tecnologias de defesa, incluindo mísseis, radares e drones.

A dominância chinesa no mercado global

A liderança da China no mercado de terras raras é resultado de décadas de planejamento estratégico. Desde os anos 1990, o governo chinês priorizou investimentos em mineração e refino, muitas vezes a custos trabalhistas e ambientais mais baixos do que em outros países. A declaração de Deng Xiaoping em 1992, comparando as terras raras ao petróleo do Oriente Médio, marcou o início de uma política agressiva para dominar esse setor.

Hoje, a China não apenas extrai a maior parte das terras raras, mas também controla o refino, um processo que separa os minerais de outros elementos. Esse domínio dá ao país o poder de decidir quem terá acesso a esses recursos. Outras nações, como os membros da União Europeia, evitam a produção em larga escala devido aos riscos ambientais, já que os resíduos radioativos exigem descarte seguro e permanente.

A capacidade chinesa de controlar a cadeia de fornecimento foi reforçada por políticas que incentivam a exportação de produtos acabados, como ímãs, em vez de matérias-primas brutas. Isso aumenta a dependência global de suas instalações e torna difícil para outros países desenvolverem cadeias alternativas. A decisão de restringir exportações em 2025, especialmente de terras raras pesadas, explora essa vantagem, atingindo diretamente as indústrias americanas.

Como a China implementou as restrições

Em 4 de abril de 2025, a China anunciou controles rigorosos sobre a exportação de sete terras raras, com foco nas chamadas terras raras pesadas, como disprosio e térbio. Essas substâncias, menos comuns e mais difíceis de processar, são cruciais para aplicações de alta tecnologia e defesa. A medida exige que empresas obtenham licenças especiais para exportar esses minerais, dificultando o acesso de compradores americanos.

A justificativa oficial está vinculada ao Tratado Internacional de Não Proliferação de Armas Nucleares, que permite à China regular produtos de “duplo uso” – aqueles com aplicações civis e militares. Na prática, a restrição é uma retaliação às tarifas impostas pelos Estados Unidos, que elevaram os custos de produtos chineses no mercado americano. A decisão também reflete a crescente assertividade de Pequim em usar recursos estratégicos como alavanca em negociações internacionais.

O impacto imediato foi sentido nos mercados globais, com previsões de aumento nos preços de terras raras e seus derivados. Fabricantes americanos, especialmente nos setores de tecnologia e defesa, enfrentam a possibilidade de interrupções na cadeia de suprimentos, já que os estoques existentes são limitados. A medida também expôs a falta de capacidade doméstica dos EUA para processar terras raras pesadas, um gargalo que pode levar anos para ser superado.

Impactos econômicos e estratégicos nos EUA

A suspensão das exportações chinesas representa um desafio significativo para a economia americana. Entre 2020 e 2023, 70% das importações de terras raras dos Estados Unidos vieram da China, segundo dados geológicos. Sem acesso a esses minerais, indústrias cruciais enfrentam riscos de escassez e aumento de custos, o que pode levar a atrasos na produção de produtos como smartphones, veículos elétricos e equipamentos militares.

No setor de defesa, a dependência é particularmente preocupante. Tecnologias como os jatos F-35, mísseis Tomahawk e drones Predator requerem terras raras pesadas para componentes como ímãs permanentes e sistemas de orientação. A incapacidade de obter esses minerais pode comprometer a prontidão militar americana, especialmente em um momento em que a China intensifica sua produção de armamentos a uma velocidade cinco a seis vezes maior.

Além disso, a medida chinesa pode frustrar os planos de Donald Trump de revitalizar a manufatura americana. As tarifas impostas pelo presidente visavam proteger a indústria doméstica, mas a falta de terras raras pode aumentar os custos de produção, reduzindo a competitividade das empresas americanas. A situação também destaca a necessidade de investimentos em cadeias de fornecimento alternativas, um processo que exige tempo, recursos e avanços tecnológicos significativos.

  • Setores mais afetados nos EUA:
    • Defesa: produção de mísseis, radares e veículos aéreos.
    • Tecnologia: fabricação de smartphones, computadores e telas.
    • Energia renovável: motores de turbinas eólicas e veículos elétricos.
    • Saúde: equipamentos de diagnóstico e lasers médicos.

A resposta americana à crise

Diante da restrição chinesa, o governo americano intensificou esforços para reduzir sua dependência de terras raras importadas. Em abril de 2025, Donald Trump ordenou que o Departamento do Comércio investigasse formas de expandir a produção doméstica de minerais críticos. A ordem reconhece que a dependência de fornecedores estrangeiros representa um risco à segurança nacional e à inovação tecnológica.

Os Estados Unidos possuem uma mina de terras raras em operação, localizada em Mountain Pass, na Califórnia. No entanto, o país carece de capacidade para refinar terras raras pesadas, enviando grande parte do minério bruto para a China. Até os anos 1980, os EUA lideravam a produção global, mas perderam espaço devido à concorrência chinesa e às preocupações ambientais associadas ao processamento.

Trump também explorou parcerias internacionais para diversificar as fontes de fornecimento. A Ucrânia, com reservas significativas de terras raras, emergiu como um possível aliado, com negociações para um acordo de minerais. Outro alvo é a Groenlândia, que possui a oitava maior reserva global do mineral. No entanto, as tensões diplomáticas geradas pela postura agressiva de Trump em relação a esses territórios podem complicar as negociações.

Desafios para diversificar a cadeia de fornecimento

Construir uma cadeia de fornecimento independente de terras raras é uma tarefa complexa. O processamento desses minerais exige tecnologias avançadas e instalações especializadas, além de lidar com os resíduos radioativos gerados. Países como Austrália e Canadá possuem reservas, mas ainda dependem da China para o refino. Investir em capacidade doméstica nos EUA exigiria bilhões de dólares e vários anos, mesmo com apoio governamental.

Além disso, a dominância chinesa no mercado de produtos acabados, como ímãs de neodímio, dificulta a competição. A China não apenas fornece matérias-primas, mas também componentes prontos, o que reduz os custos para fabricantes globais. Substituir essa infraestrutura exigiria coordenação entre governo, indústria e aliados internacionais, algo que os EUA ainda não conseguiram implementar em larga escala.

A situação é agravada pela postura comercial de Trump, que impôs tarifas a aliados como Canadá e União Europeia. Essas tensões podem limitar a cooperação necessária para desenvolver fontes alternativas de terras raras. Enquanto isso, a China continua a fortalecer sua posição, investindo em tecnologias de reciclagem e parcerias com outros países ricos em minerais.

Contexto histórico da dominância chinesa

A ascensão da China como potência em terras raras começou no final do século 20, quando o país identificou o potencial estratégico desses minerais. Durante os anos 1980, os Estados Unidos dominavam a produção, com empresas como a Molycorp operando a mina de Mountain Pass. No entanto, a concorrência chinesa, aliada a custos mais baixos e regulamentações ambientais menos rigorosas, levou ao declínio da indústria americana.

Na década de 1990, a China implementou políticas de subsídios e incentivos fiscais para atrair investimentos no setor. A região da Mongólia Interior, rica em depósitos de terras raras, tornou-se um centro de produção. A estratégia foi complementada por restrições graduais às exportações de matérias-primas, forçando empresas estrangeiras a estabelecer fábricas na China para acessar os minerais.

Essa abordagem culminou na quase monopolização do mercado. Hoje, a China não apenas extrai e refina terras raras, mas também lidera a fabricação de produtos derivados, como ímãs e componentes eletrônicos. Essa integração vertical torna o país indispensável para a economia global, enquanto outros países lutam para recuperar o atraso.

Impactos globais da decisão chinesa

Embora os Estados Unidos sejam o principal alvo das restrições, a decisão da China tem implicações globais. Outros países dependentes de terras raras chinesas, como Japão e Coreia do Sul, também enfrentam incertezas. Esses mercados, que competem por tecnologias de ponta, podem buscar fontes alternativas ou investir em reciclagem de minerais, mas essas soluções ainda estão em estágios iniciais.

A alta nos preços de terras raras, prevista para os próximos meses, pode afetar consumidores finais. Produtos como smartphones, laptops e veículos elétricos podem ficar mais caros, impactando cadeias de suprimento globais. Além disso, a medida reforça a importância de diversificar fontes de minerais críticos, uma prioridade que ganhou destaque em fóruns internacionais como o G7.

A China, por sua vez, está expandindo sua influência em outros países ricos em terras raras, como Austrália e África do Sul, por meio de acordos comerciais. Essas parcerias garantem acesso a recursos adicionais, enquanto Pequim mantém o controle sobre o processamento. A estratégia reforça a posição da China como líder incontestável no setor, desafiando esforços globais para reduzir sua influência.

  • Países impactados pelas restrições:
    • Estados Unidos: dependência de 70% das importações chinesas.
    • Japão: grande consumidor de terras raras para eletrônicos.
    • Coreia do Sul: indústria de semicondutores e baterias afetada.
    • União Europeia: limitada por restrições ambientais na produção.

Esforços globais para contrapor a China

A crise desencadeada pelas restrições chinesas acelerou iniciativas globais para diversificar o fornecimento de terras raras. A Austrália, que possui a segunda maior reserva mundial, está expandindo sua capacidade de mineração, com empresas como a Lynas Corporation investindo em novas instalações. O Canadá também emergiu como um player promissor, com projetos em Saskatchewan e Quebec.

Além disso, tecnologias de reciclagem estão ganhando atenção. Empresas na Europa e no Japão estão desenvolvendo métodos para extrair terras raras de produtos descartados, como baterias e eletrônicos. Embora promissoras, essas iniciativas ainda não conseguem atender à demanda global, que deve crescer com a transição para energias renováveis e mobilidade elétrica.

Os Estados Unidos, por sua vez, estão explorando parcerias com aliados. O Quad, grupo formado por EUA, Japão, Austrália e Índia, discutiu a criação de uma cadeia de fornecimento alternativa para minerais críticos. No entanto, a implementação enfrenta obstáculos, incluindo diferenças políticas e a necessidade de investimentos maciços.

Cronograma das restrições chinesas

A decisão de abril de 2025 não foi um evento isolado, mas parte de uma série de medidas adotadas pela China para consolidar seu controle sobre terras raras. Abaixo, um resumo dos principais marcos:

  • 1992: Deng Xiaoping destaca a importância das terras raras, comparando-as ao petróleo.
  • Anos 2000: China implementa restrições graduais às exportações de minerais brutos.
  • 2010: Pequim corta exportações para o Japão em disputa territorial, gerando alarme global.
  • 2020-2023: EUA importam 70% de suas terras raras da China.
  • Abril 2025: China suspende exportação de sete terras raras pesadas, exigindo licenças especiais.

Perspectivas para o futuro

A restrição chinesa expôs as fragilidades da cadeia de fornecimento global e a dependência de um único país para minerais críticos. Nos Estados Unidos, a crise impulsionou debates sobre a necessidade de políticas industriais mais robustas, incluindo incentivos para a mineração doméstica e o desenvolvimento de tecnologias de refino. Projetos como a reativação da mina de Mountain Pass e a construção de novas instalações de processamento estão em andamento, mas os resultados levarão anos para se materializar.

Enquanto isso, a China continua a fortalecer sua posição, investindo em inovação e parcerias estratégicas. A capacidade do país de ditar os termos do mercado de terras raras reforça sua influência geopolítica, especialmente em um momento de tensões crescentes com o Ocidente. Para os Estados Unidos, a busca por autossuficiência será um teste de sua capacidade de mobilizar recursos e coordenar esforços com aliados.

A situação também destaca a importância de tecnologias alternativas. Pesquisas para reduzir a dependência de terras raras em ímãs e eletrônicos estão em curso, mas ainda não alcançaram escala comercial. Até que essas inovações se tornem viáveis, os minerais continuarão a desempenhar um papel central na economia global, com a China no comando.

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