Giovanni Angelo Becciu, cardeal de 76 anos, tornou-se uma figura central nas manchetes do Vaticano ao desafiar a decisão do falecido Papa Francisco de restringir seus direitos cardinais. Condenado em 2023 a cinco anos e meio de prisão por crimes financeiros, Becciu reivindica o direito de participar do conclave que elegerá o próximo Papa, previsto para iniciar após a morte de Francisco em abril de 2025. A controvérsia, marcada por acusações de corrupção, nepotismo e desvio de fundos, expõe tensões internas na Igreja Católica e levanta questões sobre a governança do Vaticano.
Nascido na Sardenha, Becciu construiu uma carreira de destaque no serviço diplomático da Santa Sé, atuando em países como Angola, Cuba e Estados Unidos. Sua trajetória, que incluiu cargos de alto escalão sob três papas, foi abalada por um escândalo envolvendo o uso indevido do Óbulo de São Pedro, fundo destinado à caridade. Apesar da condenação, o cardeal mantém sua inocência e argumenta que a manutenção de seu título cardinalício por Francisco lhe garante o direito de votar no conclave.
A insistência de Becciu em participar do processo sucessório ocorre em um momento delicado para a Igreja, que enfrenta o luto pela perda de Francisco e debates sobre o futuro da instituição. Sua presença nas Congregações Gerais, reuniões preparatórias ao conclave, já gerou desconforto entre cardeais, especialmente aqueles alinhados à linha reformista de Bergoglio. A decisão sobre sua participação será um teste para a autoridade do Colégio Cardinalício e para a capacidade do Vaticano de lidar com crises internas.
- Escândalo financeiro: Becciu foi acusado de desviar fundos do Óbulo de São Pedro para investimentos imobiliários em Londres.
- Condenação histórica: Ele é o mais alto funcionário do Vaticano a ser julgado e condenado pela justiça da Cidade-Estado.
- Disputa no conclave: Sua tentativa de votar desafia as restrições impostas por Francisco em 2020.
Uma carreira marcada por ascensão e queda
A trajetória de Giovanni Angelo Becciu no Vaticano reflete tanto a excelência diplomática quanto as controvérsias que abalaram sua reputação. Ordenado padre em 1972, ele ingressou no serviço diplomático da Santa Sé em 1984, servindo em missões na África, Oceania, Europa e Américas. Sua habilidade em lidar com contextos complexos o levou a ser nomeado núncio apostólico em Angola e São Tomé e Príncipe, sob João Paulo II, e posteriormente em Cuba, durante o pontificado de Bento XVI.
Em 2011, Becciu assumiu o cargo de substituto da Secretaria de Estado, uma posição de grande influência, equivalente a um chefe de gabinete. Sob Francisco, ele continuou no posto até 2018, quando foi elevado a cardeal e nomeado prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Sua proximidade com o Papa argentino, no entanto, foi abalada pelas denúncias de má gestão financeira, que culminaram em sua renúncia aos direitos cardinais em 2020, embora tenha mantido o título honorífico.
O escândalo que envolveu Becciu não apenas manchou sua carreira, mas também expôs falhas na administração financeira do Vaticano. A compra de um edifício em Londres, no valor de 200 milhões de euros, foi apontada como uma operação marcada por irregularidades, incluindo pagamentos a intermediários e falta de transparência. O caso, investigado por anos, revelou uma rede de relações que incluía consultores externos e até familiares do cardeal.
O escândalo do Óbulo de São Pedro
No centro das acusações contra Becciu está o uso indevido do Óbulo de São Pedro, um fundo alimentado por doações de fiéis para obras de caridade e manutenção da Igreja. Entre 2013 e 2018, durante sua gestão na Secretaria de Estado, Becciu teria autorizado o investimento de parte desses recursos na compra de um prédio no bairro londrino de Chelsea. A operação, conduzida por meio de fundos offshore e intermediários, resultou em perdas significativas para o Vaticano.
O julgamento, iniciado em julho de 2021, foi um marco na história da justiça vaticana. Durante 86 audiências, promotores detalharam como Becciu e outros envolvidos, incluindo a consultora Cecilia Marogna, teriam desviado milhões de euros. Marogna, contratada como “especialista em segurança”, recebeu 575 mil euros, parte dos quais gastos em artigos de luxo e viagens, em vez de ações humanitárias, como a libertação de reféns.
Becciu nega todas as acusações, alegando que as movimentações financeiras foram autorizadas por Francisco e destinadas a causas legítimas, como o resgate de uma freira colombiana sequestrada no Mali. Uma gravação telefônica, feita sem o consentimento do Papa em 2021, revelou Becciu pressionando Francisco para confirmar sua aprovação às operações. A transcrição, publicada pela imprensa italiana, mostrou um Papa hesitante, que pediu esclarecimentos por escrito.
- Perdas financeiras: O Vaticano perdeu cerca de 140 milhões de euros no investimento em Londres.
- Consultoria controversa: Cecilia Marogna gastou parte dos fundos em hotéis de luxo e bolsas de grife.
- Gravação polêmica: Becciu tentou usar uma conversa com Francisco para se defender no tribunal.
A gravação que chocou o Vaticano
A divulgação de uma conversa telefônica entre Becciu e Francisco, gravada às vésperas do julgamento, intensificou a controvérsia. Na ligação, realizada em 24 de julho de 2021, Becciu questiona o Papa sobre a autorização para o pagamento de 500 mil euros como resgate de uma religiosa no Mali. Francisco, ainda em recuperação de uma cirurgia, responde de forma vaga, demonstrando desconforto com a abordagem.
A gravação, feita por uma pessoa próxima ao cardeal, foi considerada uma quebra de confiança e ética. O tribunal do Vaticano utilizou o áudio como evidência da tentativa de Becciu de manipular a narrativa em seu favor. A imprensa italiana, ao publicar trechos da transcrição, destacou a tensão entre o cardeal e o Pontífice, que já enfrentava críticas por sua gestão de escândalos financeiros.
O incidente não apenas prejudicou a defesa de Becciu, mas também levantou questões sobre a privacidade das comunicações no Vaticano. Cardeais próximos a Francisco expressaram indignação, enquanto setores conservadores da Igreja usaram o caso para criticar a liderança de Bergoglio. A gravação tornou-se um símbolo das divisões internas que continuam a desafiar a unidade da Santa Sé.
O julgamento histórico no Vaticano
O processo contra Becciu, que durou mais de dois anos, foi um marco na história do Vaticano. Pela primeira vez, um cardeal de alto escalão enfrentou a justiça civil da Cidade-Estado, em um tribunal presidido por juízes leigos. As acusações incluíam fraude, abuso de poder, lavagem de dinheiro e corrupção, com um total de dez réus, entre clérigos e laicos.
A condenação de Becciu, anunciada em dezembro de 2023, incluiu uma pena de cinco anos e meio de prisão, uma multa de 8 mil euros e a proibição de ocupar cargos públicos. Outros envolvidos, como Cecilia Marogna, também foram condenados, enquanto alguns réus receberam penas menores ou foram absolvidos. O cardeal anunciou que recorrerá da decisão, mantendo sua narrativa de inocência.
O julgamento expôs vulnerabilidades na gestão financeira do Vaticano, levando Francisco a implementar reformas, como a criação de um órgão de auditoria independente e a centralização dos investimentos sob a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica. Apesar disso, o caso Becciu continua a gerar debates sobre transparência e responsabilidade na Igreja.
- Réus no processo: Dez pessoas, incluindo clérigos e consultores, foram julgadas.
- Reformas financeiras: Francisco criou novas regras para evitar desvios de fundos.
- Impacto na Igreja: O caso abalou a confiança em instituições vaticanas.
A reivindicação de Becciu pelo conclave
Com a morte de Francisco, Becciu viu uma oportunidade de retomar seu papel no Vaticano. Convidado para as Congregações Gerais, ele agora insiste em participar do conclave, argumentando que a manutenção de seu título cardinalício lhe confere esse direito. A reivindicação, feita em entrevista ao jornal Unione Sarda, desafia a decisão de Francisco de 2020, que restringiu seus privilégios cardinais.
A participação de Becciu no conclave seria um evento sem precedentes, dado seu status de condenado. Cardeais reformistas, alinhados à visão de Francisco, temem que sua presença fortaleça setores conservadores do Sacro Colégio, que criticam as reformas de Bergoglio. A Congregação Geral, iniciada em abril de 2025, terá a tarefa de decidir sobre o caso, em um processo que promete ser tenso.
A determinação de Becciu reflete sua convicção de que foi injustiçado. Ele aponta para gestos de Francisco, como a celebração de uma missa em sua capela privada em 2021, como sinais de um “indulto” implícito. No entanto, a resistência de outros cardeais e a gravidade das acusações contra ele tornam sua participação improvável, embora o debate já esteja gerando divisões.
Impactos no futuro da Igreja
A controvérsia envolvendo Becciu ocorre em um momento crucial para a Igreja Católica. A morte de Francisco, que liderou a instituição por 12 anos, deixa um legado de reformas, mas também de desafios não resolvidos. O conclave de 2025 será decisivo para definir se a Igreja manterá a linha progressista de Bergoglio ou adotará uma abordagem mais conservadora, como defendem alguns cardeais.
A presença de Becciu, mesmo que apenas nas discussões pré-conclave, pode influenciar o equilíbrio de forças. Setores conservadores, que veem no cardeal uma vítima de perseguição, podem usar sua causa para mobilizar apoio. Já os reformistas temem que o escândalo financeiro reapareça nas manchetes, desviando o foco das prioridades da Igreja, como a evangelização e a luta contra a pobreza.
O caso também reacende debates sobre a necessidade de maior transparência no Vaticano. A condenação de Becciu foi um passo em direção à accountability, mas a insistência do cardeal em manter influência sugere que as tensões entre poder e justiça persistem. A decisão sobre sua participação será um termômetro da capacidade da Igreja de lidar com suas contradições internas.
- Divisão no Colégio Cardinalício: A disputa reflete tensões entre reformistas e conservadores.
- Legado de Francisco: Reformas financeiras e pastorais estão em jogo no conclave.
- Transparência: O caso Becciu reforça a necessidade de auditorias rigorosas.
Cronologia do caso Becciu
A trajetória de Becciu e o escândalo financeiro que o envolveu podem ser resumidos em eventos-chave:
- 1972: Giovanni Angelo Becciu é ordenado padre na Sardenha.
- 1984: Ingressa no serviço diplomático da Santa Sé.
- 2001-2009: Serve como núncio apostólico em Angola e São Tomé e Príncipe.
- 2011: Assume como substituto da Secretaria de Estado.
- 2018: É nomeado cardeal e prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
- 2020: Renuncia aos direitos cardinais após denúncias de corrupção.
- 2021: Início do julgamento no Vaticano; gravação de conversa com Francisco é revelada.
- 2023: Becciu é condenado a cinco anos e meio de prisão.
- 2025: Após a morte de Francisco, reivindica participação no conclave.
O que está em jogo no conclave
O conclave de 2025 será um marco na história da Igreja Católica, não apenas pela escolha do novo Papa, mas também pelo contexto de crise que o cerca. A reivindicação de Becciu, embora improvável de ser aceita, já provoca debates sobre os critérios para participação no processo sucessório. A Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, que regula o conclave, não prevê explicitamente a exclusão de cardeais condenados, mas a decisão caberá ao Colégio Cardinalício.
Além disso, o caso destaca a complexidade da governança vaticana. A justiça da Cidade-Estado, embora independente, opera em um contexto onde política e espiritualidade se entrelaçam. A condenação de Becciu foi vista como um avanço na luta contra a corrupção, mas sua tentativa de retornar ao centro do poder sugere que as reformas de Francisco ainda enfrentam resistência.
A atenção da mídia global está voltada para o Vaticano, com especulações sobre o impacto de Becciu no conclave. Sua presença, mesmo que limitada às reuniões preparatórias, já é suficiente para reacender polêmicas e testar a unidade da Igreja. O desfecho do caso será um indicativo de como a Santa Sé pretende enfrentar os desafios do século XXI.
- Regulamento do conclave: A Universi Dominici Gregis dá poder ao Colégio Cardinalício para decidir sobre exclusões.
- Justiça vaticana: O sistema judicial da Cidade-Estado enfrenta escrutínio internacional.
- Crise de imagem: O escândalo pode afetar a credibilidade da Igreja em um momento de transição.

Giovanni Angelo Becciu, cardeal de 76 anos, tornou-se uma figura central nas manchetes do Vaticano ao desafiar a decisão do falecido Papa Francisco de restringir seus direitos cardinais. Condenado em 2023 a cinco anos e meio de prisão por crimes financeiros, Becciu reivindica o direito de participar do conclave que elegerá o próximo Papa, previsto para iniciar após a morte de Francisco em abril de 2025. A controvérsia, marcada por acusações de corrupção, nepotismo e desvio de fundos, expõe tensões internas na Igreja Católica e levanta questões sobre a governança do Vaticano.
Nascido na Sardenha, Becciu construiu uma carreira de destaque no serviço diplomático da Santa Sé, atuando em países como Angola, Cuba e Estados Unidos. Sua trajetória, que incluiu cargos de alto escalão sob três papas, foi abalada por um escândalo envolvendo o uso indevido do Óbulo de São Pedro, fundo destinado à caridade. Apesar da condenação, o cardeal mantém sua inocência e argumenta que a manutenção de seu título cardinalício por Francisco lhe garante o direito de votar no conclave.
A insistência de Becciu em participar do processo sucessório ocorre em um momento delicado para a Igreja, que enfrenta o luto pela perda de Francisco e debates sobre o futuro da instituição. Sua presença nas Congregações Gerais, reuniões preparatórias ao conclave, já gerou desconforto entre cardeais, especialmente aqueles alinhados à linha reformista de Bergoglio. A decisão sobre sua participação será um teste para a autoridade do Colégio Cardinalício e para a capacidade do Vaticano de lidar com crises internas.
- Escândalo financeiro: Becciu foi acusado de desviar fundos do Óbulo de São Pedro para investimentos imobiliários em Londres.
- Condenação histórica: Ele é o mais alto funcionário do Vaticano a ser julgado e condenado pela justiça da Cidade-Estado.
- Disputa no conclave: Sua tentativa de votar desafia as restrições impostas por Francisco em 2020.
Uma carreira marcada por ascensão e queda
A trajetória de Giovanni Angelo Becciu no Vaticano reflete tanto a excelência diplomática quanto as controvérsias que abalaram sua reputação. Ordenado padre em 1972, ele ingressou no serviço diplomático da Santa Sé em 1984, servindo em missões na África, Oceania, Europa e Américas. Sua habilidade em lidar com contextos complexos o levou a ser nomeado núncio apostólico em Angola e São Tomé e Príncipe, sob João Paulo II, e posteriormente em Cuba, durante o pontificado de Bento XVI.
Em 2011, Becciu assumiu o cargo de substituto da Secretaria de Estado, uma posição de grande influência, equivalente a um chefe de gabinete. Sob Francisco, ele continuou no posto até 2018, quando foi elevado a cardeal e nomeado prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Sua proximidade com o Papa argentino, no entanto, foi abalada pelas denúncias de má gestão financeira, que culminaram em sua renúncia aos direitos cardinais em 2020, embora tenha mantido o título honorífico.
O escândalo que envolveu Becciu não apenas manchou sua carreira, mas também expôs falhas na administração financeira do Vaticano. A compra de um edifício em Londres, no valor de 200 milhões de euros, foi apontada como uma operação marcada por irregularidades, incluindo pagamentos a intermediários e falta de transparência. O caso, investigado por anos, revelou uma rede de relações que incluía consultores externos e até familiares do cardeal.
O escândalo do Óbulo de São Pedro
No centro das acusações contra Becciu está o uso indevido do Óbulo de São Pedro, um fundo alimentado por doações de fiéis para obras de caridade e manutenção da Igreja. Entre 2013 e 2018, durante sua gestão na Secretaria de Estado, Becciu teria autorizado o investimento de parte desses recursos na compra de um prédio no bairro londrino de Chelsea. A operação, conduzida por meio de fundos offshore e intermediários, resultou em perdas significativas para o Vaticano.
O julgamento, iniciado em julho de 2021, foi um marco na história da justiça vaticana. Durante 86 audiências, promotores detalharam como Becciu e outros envolvidos, incluindo a consultora Cecilia Marogna, teriam desviado milhões de euros. Marogna, contratada como “especialista em segurança”, recebeu 575 mil euros, parte dos quais gastos em artigos de luxo e viagens, em vez de ações humanitárias, como a libertação de reféns.
Becciu nega todas as acusações, alegando que as movimentações financeiras foram autorizadas por Francisco e destinadas a causas legítimas, como o resgate de uma freira colombiana sequestrada no Mali. Uma gravação telefônica, feita sem o consentimento do Papa em 2021, revelou Becciu pressionando Francisco para confirmar sua aprovação às operações. A transcrição, publicada pela imprensa italiana, mostrou um Papa hesitante, que pediu esclarecimentos por escrito.
- Perdas financeiras: O Vaticano perdeu cerca de 140 milhões de euros no investimento em Londres.
- Consultoria controversa: Cecilia Marogna gastou parte dos fundos em hotéis de luxo e bolsas de grife.
- Gravação polêmica: Becciu tentou usar uma conversa com Francisco para se defender no tribunal.
A gravação que chocou o Vaticano
A divulgação de uma conversa telefônica entre Becciu e Francisco, gravada às vésperas do julgamento, intensificou a controvérsia. Na ligação, realizada em 24 de julho de 2021, Becciu questiona o Papa sobre a autorização para o pagamento de 500 mil euros como resgate de uma religiosa no Mali. Francisco, ainda em recuperação de uma cirurgia, responde de forma vaga, demonstrando desconforto com a abordagem.
A gravação, feita por uma pessoa próxima ao cardeal, foi considerada uma quebra de confiança e ética. O tribunal do Vaticano utilizou o áudio como evidência da tentativa de Becciu de manipular a narrativa em seu favor. A imprensa italiana, ao publicar trechos da transcrição, destacou a tensão entre o cardeal e o Pontífice, que já enfrentava críticas por sua gestão de escândalos financeiros.
O incidente não apenas prejudicou a defesa de Becciu, mas também levantou questões sobre a privacidade das comunicações no Vaticano. Cardeais próximos a Francisco expressaram indignação, enquanto setores conservadores da Igreja usaram o caso para criticar a liderança de Bergoglio. A gravação tornou-se um símbolo das divisões internas que continuam a desafiar a unidade da Santa Sé.
O julgamento histórico no Vaticano
O processo contra Becciu, que durou mais de dois anos, foi um marco na história do Vaticano. Pela primeira vez, um cardeal de alto escalão enfrentou a justiça civil da Cidade-Estado, em um tribunal presidido por juízes leigos. As acusações incluíam fraude, abuso de poder, lavagem de dinheiro e corrupção, com um total de dez réus, entre clérigos e laicos.
A condenação de Becciu, anunciada em dezembro de 2023, incluiu uma pena de cinco anos e meio de prisão, uma multa de 8 mil euros e a proibição de ocupar cargos públicos. Outros envolvidos, como Cecilia Marogna, também foram condenados, enquanto alguns réus receberam penas menores ou foram absolvidos. O cardeal anunciou que recorrerá da decisão, mantendo sua narrativa de inocência.
O julgamento expôs vulnerabilidades na gestão financeira do Vaticano, levando Francisco a implementar reformas, como a criação de um órgão de auditoria independente e a centralização dos investimentos sob a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica. Apesar disso, o caso Becciu continua a gerar debates sobre transparência e responsabilidade na Igreja.
- Réus no processo: Dez pessoas, incluindo clérigos e consultores, foram julgadas.
- Reformas financeiras: Francisco criou novas regras para evitar desvios de fundos.
- Impacto na Igreja: O caso abalou a confiança em instituições vaticanas.
A reivindicação de Becciu pelo conclave
Com a morte de Francisco, Becciu viu uma oportunidade de retomar seu papel no Vaticano. Convidado para as Congregações Gerais, ele agora insiste em participar do conclave, argumentando que a manutenção de seu título cardinalício lhe confere esse direito. A reivindicação, feita em entrevista ao jornal Unione Sarda, desafia a decisão de Francisco de 2020, que restringiu seus privilégios cardinais.
A participação de Becciu no conclave seria um evento sem precedentes, dado seu status de condenado. Cardeais reformistas, alinhados à visão de Francisco, temem que sua presença fortaleça setores conservadores do Sacro Colégio, que criticam as reformas de Bergoglio. A Congregação Geral, iniciada em abril de 2025, terá a tarefa de decidir sobre o caso, em um processo que promete ser tenso.
A determinação de Becciu reflete sua convicção de que foi injustiçado. Ele aponta para gestos de Francisco, como a celebração de uma missa em sua capela privada em 2021, como sinais de um “indulto” implícito. No entanto, a resistência de outros cardeais e a gravidade das acusações contra ele tornam sua participação improvável, embora o debate já esteja gerando divisões.
Impactos no futuro da Igreja
A controvérsia envolvendo Becciu ocorre em um momento crucial para a Igreja Católica. A morte de Francisco, que liderou a instituição por 12 anos, deixa um legado de reformas, mas também de desafios não resolvidos. O conclave de 2025 será decisivo para definir se a Igreja manterá a linha progressista de Bergoglio ou adotará uma abordagem mais conservadora, como defendem alguns cardeais.
A presença de Becciu, mesmo que apenas nas discussões pré-conclave, pode influenciar o equilíbrio de forças. Setores conservadores, que veem no cardeal uma vítima de perseguição, podem usar sua causa para mobilizar apoio. Já os reformistas temem que o escândalo financeiro reapareça nas manchetes, desviando o foco das prioridades da Igreja, como a evangelização e a luta contra a pobreza.
O caso também reacende debates sobre a necessidade de maior transparência no Vaticano. A condenação de Becciu foi um passo em direção à accountability, mas a insistência do cardeal em manter influência sugere que as tensões entre poder e justiça persistem. A decisão sobre sua participação será um termômetro da capacidade da Igreja de lidar com suas contradições internas.
- Divisão no Colégio Cardinalício: A disputa reflete tensões entre reformistas e conservadores.
- Legado de Francisco: Reformas financeiras e pastorais estão em jogo no conclave.
- Transparência: O caso Becciu reforça a necessidade de auditorias rigorosas.
Cronologia do caso Becciu
A trajetória de Becciu e o escândalo financeiro que o envolveu podem ser resumidos em eventos-chave:
- 1972: Giovanni Angelo Becciu é ordenado padre na Sardenha.
- 1984: Ingressa no serviço diplomático da Santa Sé.
- 2001-2009: Serve como núncio apostólico em Angola e São Tomé e Príncipe.
- 2011: Assume como substituto da Secretaria de Estado.
- 2018: É nomeado cardeal e prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
- 2020: Renuncia aos direitos cardinais após denúncias de corrupção.
- 2021: Início do julgamento no Vaticano; gravação de conversa com Francisco é revelada.
- 2023: Becciu é condenado a cinco anos e meio de prisão.
- 2025: Após a morte de Francisco, reivindica participação no conclave.
O que está em jogo no conclave
O conclave de 2025 será um marco na história da Igreja Católica, não apenas pela escolha do novo Papa, mas também pelo contexto de crise que o cerca. A reivindicação de Becciu, embora improvável de ser aceita, já provoca debates sobre os critérios para participação no processo sucessório. A Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, que regula o conclave, não prevê explicitamente a exclusão de cardeais condenados, mas a decisão caberá ao Colégio Cardinalício.
Além disso, o caso destaca a complexidade da governança vaticana. A justiça da Cidade-Estado, embora independente, opera em um contexto onde política e espiritualidade se entrelaçam. A condenação de Becciu foi vista como um avanço na luta contra a corrupção, mas sua tentativa de retornar ao centro do poder sugere que as reformas de Francisco ainda enfrentam resistência.
A atenção da mídia global está voltada para o Vaticano, com especulações sobre o impacto de Becciu no conclave. Sua presença, mesmo que limitada às reuniões preparatórias, já é suficiente para reacender polêmicas e testar a unidade da Igreja. O desfecho do caso será um indicativo de como a Santa Sé pretende enfrentar os desafios do século XXI.
- Regulamento do conclave: A Universi Dominici Gregis dá poder ao Colégio Cardinalício para decidir sobre exclusões.
- Justiça vaticana: O sistema judicial da Cidade-Estado enfrenta escrutínio internacional.
- Crise de imagem: O escândalo pode afetar a credibilidade da Igreja em um momento de transição.
