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24 Apr 2025, Thu

Dudu Azevedo: 'Quando a gente diz não, é uma atitude em benefício da própria saúde'




Ator 46 anos diz rótulo de galã é um fardo, diz que amadurecer é uma dádiva e conta como divide a criação do único filho, de 7 anos, com a ex-mulher Dudu Azevedo já foi Jesus na televisão, lutador de MMA no streaming, baterista da vida real no cinema, e outras dezenas de papeis, mas só em 2024, com três décadas de carreira, estreou no teatro com O Cravo e a Rosa. O trabalho rendeu ao ator de 46 anos uma indicação de Melhor Performance no Prêmio Prio do Humor, de Fábio Porchat, mas seu significado foi além. “O teatro me trouxe de volta uma sensação de pertencimento que a vida adulta aos poucos foi me tirando e que eu nem sabia que sentia falta”, confessa Dudu.
A guinada para os palcos coincidiu com uma virada na carreira do ator, que começou quando ainda estava na escola, em Confissões de Adolescente, a série de sucesso dos anos 1990, e largou a faculdade de Direito ao ser escalado para viver Guto Goffi (o baterista da vida real), em Cazuza, o Tempo Não Para. Em 2021 deixou a Record, onde foi Jesus em algumas produções, para se lançar em projetos autônomos.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
“Prefiro enfrentar o risco da escassez de trabalho do que me tornar um burocrata da minha profissão”, diz Dudu, que se viu “completamente engessado” e com “horizonte encurtado”, como contou em conversa com Quem por videochamada. Ele não tem medo das fases mais duras. “A profissão de ator é cíclica, é impossível estar no topo o tempo inteiro (…). O ator precisa estar inquieto, produzir o tempo inteiro, ter ideias, boas parcerias e estar feliz com o que está fazendo. Se não, cai naquele lugar de trabalhar só para ganhar dinheiro. Nas fases difíceis você se redescobre, muda a rota”, ensina.
A profissão, ele conta, mudou. “Antigamente, a sensação que eu tenho é que as coisas eram calcadas em um bom resultado no trabalho. Se você é um bom ator, vai ter oportunidade. Se faz um bom teste, tem muita chance de passar”, explica. “Mas hoje, mais do que nunca, existem outros coeficientes, como seu nível de relevância na internet”, diz Dudu, que tem 1,8 milhão de seguidores no Instagram, e avisa que, apesar de se adaptar aos novos tempos, não se sente obrigado a nada. “Se eu tiver afim de dançar no TikTok, eu danço. Se eu não tiver, eu não vou dançar”, diz, garantindo que não medo de cancelamento.
Dudu já sofreu assédio moral e sexual (“Apesar de ser homem, hétero, não estou livre disso, nem eu e nem ninguém”) e afirma que envelhecer é motivo de celebração. “Amadurece quem está vivo, e a vida é para ser celebrada todos os dias. Não tenho o menor problema em ver meu tempo passar”, garante o ator, que diz gostar do que vê no espelho. “Ser belo não é um fardo, mas a beleza é relativa, e rótulo de galã te reduz. Quem adora estar neste lugar está se contentando com pouco”, avisa.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Com planos de uma nova peça, Dudu filma Álibi e no segundo semestre estreia Agentes Especiais, longa de Marcos Majella que era uma parceria dele com Paulo Gustavo. Tem outras três produções na fila, inclusive uma nova sobre Rodrigo Minotauro, o lutador que fez em Anderson Spider Silva. Ele não descarta a volta à televisão aberta. “As pessoas ficam meio órfãs dos artistas de TV quando eles somem da TV”, aponta.
Entre um projeto e outro, se dedica a Joaquim, de 7 anos, que teve com a ex-mulher, a médica Fernanda Mader. Foi com Pedro e Manuela, de um casamento anterior dela, que Dudu começou a exercer a paternidade. O ator, que despista quando o assunto é a vida amorosa, mas conta que quer ter mais filhos e que baseia a educação de Joaquim no exemplo.
“A palavra até educa, mas o exemplo arrasta. Me preocupo em ser um grande exemplo para o meu filho, e não me colocar como um cara perfeito. Joaquim vai saber que o pai dele erra e que é capaz de pedir desculpa. Vai saber que o pai dele chora porque qualquer pessoa pode chorar”, pontua. “Também não tenho a menor dúvida de que eu preciso frustrar o meu filho para que ele aprenda a ser uma pessoa decente e um cidadão do mundo capaz de lidar com a complexidade da vida”, frisa.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Confira a entrevista completa a seguir.
Quem: Você já completou três décadas como ator. Quando olha para trás, o que pensa?
Dudu Azevedo: Comecei no início da minha adolescência, com 13, 14 anos, e o o que eu percebo é que mais difícil do que entrar, é permanecer. Talvez esse seja o maior desafio: perdurar na profissão. Lembro que tudo que eu acreditava que precisava era de uma oportunidade. Mas a gente tem que acertar muito e ter muita fé na história para conseguir avançar e não desistir com tantos percalços que essa profissão traz. Ainda assim, confesso que nunca me passou pela cabeça largar. Esse é o meu trabalho, acho que fui escolhido para ele e me vejo totalmente investido nessa missão desde o início. Nunca me imaginei fora disso.
Que papel que representou essa oportunidade?
Meu primeiro trabalho, Confissões de Adolescente, foi de fato uma passagem. Fui dirigido pelo Daniel Filho, contracenei com Leandra Leal, Deborah Secco, Georgiana Góes, Danielle Valente. Guardo tantas memórias daquele elenco. E o Daniel Filho quando me encontra se orgulha de dizer que foi ele que me descobriu. Atravessei o portal ali. Dali em diante, nunca foi fácil, sempre foi difícil. Passei momentos de falta de trabalho, de dificuldade financeira, dos quais nunca estive livre, porque muitas vezes a gente está bem e muitas vezes o trabalho fica escasso, a grana fica escassa. Mas quando você tem fé na história, você atravessa tudo, independentemente da complexidade.
Você já tinha certeza ali do que queria?
Eu vivi cada fase, e acho que quando eu era mais novo, talvez a carreira de ator não fosse uma coisa tão séria para mim. Na adolescência, foi como surfar uma onda. Eu experimentei e me diverti, mas não encarava de uma maneira tão pragmática e tão clara, como um trabalho de fato. Segui levando uma vida de adolescente, jogando bola, tocando música. Quando pintava trabalho, eu fazia e muitas vezes vieram trabalhos que eu não quis fazer. Muitos anos depois, quando fazia Direito, passei no teste para o filme do Cazuza. Ali abracei em definitivo o meu trabalho de ator e a minha história como artista. Decidi caminhar com isso para sempre.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Devido ao filme do Cazuza.
Então, eu não tinha interrompido a profissão, de vez em quando eu fazia teste, para novela, para filme. Mas passei por um hiato produtivo, até engrenar três filmes na sequência. Falei ‘tenho que assumir de vez que eu vou fazer isso da minha vida e largar o resto’. Virou, de fato, uma profissão com a qual firmei um compromisso ali por volta dos 20, 21 anos. Mas nunca nada está garantido. A gente não sabe o que vai acontecer. Depois do Cazuza, tive uma oportunidade na Globo, quando assinei um contrato longo e ganhei uma estabilidade financeira. Aí, sim, a coisa se configurou de uma maneira mais séria, instituída. Assinei com uma grande empresa, tinha um salário, autonomia financeira, uma relativa estabilidade e um fluxo de trabalho constante que me encaixava em um lugar de um profissional de certa forma estabelecido.
Quando você resolveu que ia largar a faculdade e ser ator, qual foi a reação da sua família?
É uma ruptura. Minha mãe durante a vida precisou lidar de maneira prática com todas as responsabilidades e viveu na perspectiva que ela tinha, que era um horizonte de certa forma restrito de uma dona de casa, mãe de quatro filhos. Para a cabeça dela, um filho artista talvez fosse uma coisa quase irreal. Minha mãe nunca teve esse exercício do lúdico na vida. Era a sobrevivência diária, o cotidiano.
Mas ele aceitou bem você largar o Direito?
Quando falei que ia largar a faculdade e acelerar meu passo nessa caminhada, ele virou para mim e me jogou a responsabilidade: ‘É isso? Então, beleza, a escolha é sua, você vai assumir essa escolha e as consequências dela’. Foi a melhor coisa que ele me fez, porque me gerou uma responsabilidade a partir de uma escolha. Apesar de ser um burocrata, meu pai também foi o meu entusiasta como artista.
E seu pai?
O meu pai era um burocrata, um contador, mas trabalhou em grandes empresas. A gente sempre foi uma família de classe média, média mesmo, que sempre viveu apertado, mas meu pai flertava com o mundo lá fora de uma maneira diferente da minha mãe. Ele, de certa forma, foi um entusiasta dessa possibilidade de eu viver para isso [arte]. Meu pai foi o cara que resistiu, mas que me deu uma bateria, um violão, um contrabaixo. Deu porque eu pedi, mas me deu. Ele me permitiu expandir a minha cabeça e as minhas possibilidades.
Qual foi, na sua opinião, a maior mudança na sua profissão nestes seus 30 anos de carreira?
Olha, mudou muito mesmo. Antigamente, a sensação que eu tenho é que as coisas eram calcadas em um bom resultado no trabalho. Se você é um bom ator, vai ter oportunidade. Se faz um bom teste, tem muita chance de passar. Hoje, um bom teste e um bom trabalho são um pouco menos relevantes. Ter um bom relacionamento com diretores, autores, circular e se mostrar não só interessado, mas presente e capaz, sempre foi importante.
Hoje, um bom teste e um bom trabalho são um pouco menos relevantes (…) Existem outros coeficientes, como seu nível de relevância na internet.
Mas hoje, mais do que nunca, existem outros coeficientes, como seu nível de relevância na internet. A forma como você pratica o seu networking é mais do que nunca fundamental. Você, o tempo inteiro, tem que estar atualizando a sua forma de articular o trabalho e de exercer o trabalho propriamente. Eu procuro me manter pelo menos ciente das mudanças e estar apto a jogar o jogo. Mas de uma forma que não me machuque tanto e não distorça tão drasticamente a minha essência como ser humano e como artista também.
De que forma?
Eu encontrei o refúgio no teatro, e tento manobrar as coisas de uma maneira que eu consiga sobreviver e escolher trabalhos em que acredito. Hoje, para mim, o luxo é isso: conseguir pagar minhas contas e acreditar nos trabalhos que eu escolho fazer.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Muitos atores reclamam da obrigação de entregar conteúdo nas redes com regularidade. Também se vê pensando assim?
Sim. Eu não consigo ser constante sempre. A minha ordem de prioridades é fazer meu trabalho bem feito, cumprir com as minhas responsabilidades. A forma como eu atuo na minha rede social, no meu Instagram, já está abaixo dessa responsabilidade. Eu não sou um influenciador, eu sou um artista. A minha profissão é a minha prioridade. Mas a internet é um utensílio fundamental do fomento da minha arte e da minha relevância no próprio mercado de trabalho. Queira ou não, eu preciso me adaptar a essa realidade.
Como é saber que quase 2 milhões de pessoas ‘consomem’ você?
Entendo que cada atitude e cada palavra minha têm um impacto e eu tenho que me responsabilizar sobre esse impacto. Procuro ser responsável com o que eu posto, de uma maneira ampla e também comigo mesmo. Preciso acreditar naquilo e pensar de que forma pode reverberar e, se eu me arrepender, pode ser que eu venha me retratar publicamente. Existem pessoas assistindo, muitas crianças me seguem. Antes de ser uma pessoa pública, eu sou pai do meu filho, e um cidadão com uma noção de civilidade e das minhas responsabilidades. Mas tudo isso sem neurose, sem deixar de ser espontâneo, sem deixar de ser honesto.
Eu não sou um influenciador, eu sou um artista. A minha profissão é a minha prioridade.
Você tem medo do cancelamento?
Na internet, você entende que muitas vezes vão discordar de você e que vão deixar de simpatizar com você. Assim a vida é. Quem vive para agradar todo mundo, o tempo inteiro, no mínimo está se distorcendo, se torturando, abrindo mão de ser quem é. Se eu tiver a sensação de que posso estar me arriscando nesse lugar de ser cancelado, eu vou avaliar.
Mas eu não poderia deixar de assumir um posicionamento meu publicamente, se for algo muito importante. E vou assumir as consequências: que talvez não gostem, não vão me seguir mais, ou me ataquem. A internet é lugar de patrulhamento ideológico. O normal é que as pessoas venham apontar o dedo e tentar te corrigir, fazer uma crítica antes sequer de procurar entender qual é a essência do que você falou. E normalmente quem faz isso são pessoas que estão, desculpa a palavra, cagadas até a tampa. As pessoas que apontam o dedo, criticam e que são cruéis, normalmente, são as piores. Não têm empatia.
Tem algum papel que você se arrependa de ter deixado passar?
Não me arrependo das minhas escolhas, mas algumas me colocaram em determinadas situações que não foram fáceis. Vou dar um exemplo real: às vezes, você opta por não continuar trabalhando em uma empresa para poder ter a liberdade de experimentar, fazer outras coisas. Se você não tiver coragem de sair da bolha, não conhece [o lado de fora]. É preciso ter uma certa coragem, um certo desprendimento para fazer escolhas assim.
Eu fui contratado muito tempo de emissora, e isso, sem dúvida alguma, traz uma estabilidade financeira, fluxo de trabalho. A minha imagem está no ar, faço mais publicidade se estou em uma novela. Mas, muitas vezes, estar numa novela não é o melhor lugar para se estar. Se amo o que faço, mas opto por estar em um lugar onde eu me sinto completamente engessado, com horizonte encurtado, fazendo coisas parecidas ao longo dos anos, sem me emocionar, eu estou burocratizando uma atividade que a última coisa que pode se tornar é burocrática. Por causa do dinheiro, por causa do salário? Há um contrassenso nisso.
Você está falando da sua saída da Record?
Não, mas a Record faz parte disso também. Toda vez que você assina um contrato que te coloca dentro de uma perspectiva, você assume essa perspectiva e vai descobrir o que vai acontecer ali dentro. E eu não fiz isso só na Record, antes fiz na Globo. Não estou dizendo que eu não assinaria um contrato nunca mais. Se acreditar que será um período feliz da minha vida e que são trabalhos promissores, eu assino com toda certeza. Prefiro enfrentar o risco da escassez de trabalho do que me tornar um burocrata da minha profissão. A gente não pode deixar de lutar por esse lugar onde faz uma coisa em que acredita, pela qual vibra, e que justifica o que nos levou até ali. Eu procuro levar uma vida digna, conseguir pagar minhas contas, oferecer o melhor para o meu filho. Honrar com as minhas responsabilidades, meus compromissos e conciliar tudo isso com a minha felicidade no desempenho do meu ofício.
Se eu tiver afim de dançar no TikTok, eu danço. Se eu não tiver, eu não vou dançar. Não quero saber se alguém vai me julgar porque eu fiz Jesus Cristo, entendeu?
Você optou então por não se acomodar.
Sempre fui uma pessoa que procurou sair da concha, mesmo que isso representasse risco. Procurei ser um artista versátil o tempo inteiro, fazer comédia, drama, ação, contar uma história séria, outra divertida. O grande lance para mim é ser capaz de me transformar e não virar um escravo do dinheiro. Não virar um escravo das tendências da profissão, ‘ah, está todo mundo dançando no TikTok’. Se eu tiver afim de dançar no TikTok, eu danço. Se eu não tiver, eu não vou dançar. Não quero saber se alguém vai me julgar porque eu fiz Jesus Cristo, entendeu?
A sua liberdade fala mais alto?
É isso, é você não se tornar escravo de absolutamente nada nem de ninguém. Eu não quero nem ser escravo do meu filho. Eu tenho uma responsabilidade com a história do meu filho, meu compromisso como pai dele. Amo Joaquim, e ele merece meu apoio, tempo, educação, dedicação. Mas eu quero viver a minha história, o meu tempo, que não posso abandonar para viver a história de alguém, ou assinar um contrato e deixar uma empresa comprar o meu tempo a qualquer preço, me frustrar, me empobrecer artisticamente, viver infeliz. Pera lá, não! O meu tempo é meu patrimônio.
Você foi fazer teatro, que nunca tinha feito. Essa decisão fez parte também desse processo?
Eu fiz teatro amador, peças infantis em escolas, já fiz inclusive um balé. Tive convites antes, mas priorizei outras coisas. Agora foi minha estreia profissional, e o teatro me trouxe coisas que eu nem imaginava. Ali é onde o ator compreende de fato o que ele faz da vida. Não estou desmerecendo quem não faz teatro, é uma escolha. É difícil, teatro não paga conta, muitas vezes, você não consegue tirar um projeto do papel ou, quando consegue, ele tem vida curta.
Dudu Azevedo
Breno Mageste
O que essa experiência no teatro trouxe para você?
Teve minha reconexão com a essência do meu trabalho, a relação com o público da reposta imediata, a gargalhada instantânea. É uma experiência mágica. O teatro me trouxe de volta uma sensação de pertencimento que a vida adulta aos poucos foi me tirando e que eu nem sabia que sentia falta. A vida do adulto é muito prática, com responsabilidades grandes, a necessidade de correr atrás, fazer coisas acontecerem. O teatro para mim, como ser humano, me trouxe uma perspectiva muito diferente. Foi um experimento de vida, assim, divino.
O luxo é isso: conseguir pagar minhas contas e acreditar nos trabalhos que eu escolho fazer.
E com a idade a experiência de viver algo novo pela primeira vez vai diminuindo…
A verdade é que quando você está em cima do palco, abre a boca, e o teatro inteiro vem abaixo de gargalhada, é quase alucinógeno, é uma catarse, é extasiante. Claro que tem um lado burocrático, de cumprir demanda. Você não sai de casa todo dia no ‘bom dia, vou ensaiar, oba!’ (risos). Mas foi inesquecível para mim.
Você falou que teve momentos muito difíceis, inclusive financeiramente. O que fez com que perseverasse?
A profissão de ator é cíclica, é impossível estar no topo o tempo inteiro. Está muito enganado quem acha que que isso deve ser o objetivo, nosso caminho é de oscilações. As dificuldades fazem com que a gente se mexa, a mudança de padrão também muda a nossa disponibilidade para correr atrás, aprender, para se remontar. Todas essas curvas fizeram uma diferença muito grande para mim.
O ator, sobretudo o autônomo, precisa estar inquieto, produzir o tempo inteiro, ter ideias, boas parcerias e estar feliz com o que está fazendo. Se não, cai naquele lugar preguiça, de trabalhar só para ganhar dinheiro e com isso se despede do verdadeiro sentido do ofício que é compartilhar felicidade. Toda vez que eu me vi em uma fase de pouco trabalho, de falta de grana, consegui compreender ainda melhor que a nossa profissão é uma profissão de perseverar, que quem não persevera não consegue permanecer. Nas fases difíceis, você se redescobre, muda a rota. Foi que me levou para o teatro, me fez ser capaz de outras coisas, como me comunicar, falar melhor. Se não precisasse, não sei se eu teria de fato feito certas coisas.
Você falou que não queria ser escravo do seu filho. Como é o Dudu Azevedo pai?
Já pensava assim antes dele nascer, mas hoje posso dizer que tenho total certeza de que educar é muito mais por exemplo do que pela palavra. A palavra até educa, mas o exemplo arrasta. Joaquim é o eco, a resposta de cada ambiente em que ele vive e que reproduz em seu comportamento, sua forma de pensar e reagir. Em primeiro lugar, como pai, eu me preocupo em ser um grande exemplo para o meu filho, e não me colocar como como um cara perfeito, porque ninguém é perfeito e ele tem que saber disso desde sempre. Joaquim vai saber que o pai dele erra e que é capaz de pedir desculpa. Vai saber que o pai dele chora porque qualquer pessoa pode chorar, e vai saber que o pai dele ama, e se responsabiliza, e está atento a ele. Meu filho vai poder contar com o pai dele sempre que ele precisar.
Ser pai era um sonho?
Meu filho é o maior sonho da minha vida realizado. Eu quero ter mais filhos, com certeza. Como pai, procuro oferecer o melhor que eu tenho, a minha verdade como pessoa, ser um pai responsável, comprometido, que leva a sério, mas que também está aprendendo, porque eu aprendo muito com meu filho. Eu não subestimo a inteligência do Joaquim, pelo contrário, eu conto com a inteligência e a capacidade dele enxergar, aprender e realizar.
Na prática, como cria ele?
Olha, também não tenho a menor dúvida de que eu preciso frustrar o meu filho para que ele aprenda a ser uma pessoa decente e um cidadão do mundo capaz de lidar com a frustração, com a complexidade da vida. Eu quero criar uma pessoa capaz, forte e desejo que ele seja um grande ser humano. E para meu filho ser um grande ser humano justo, empático, honesto, eu tenho que ser esse exemplo para ele. E mais do que ‘ter que ser’, eu desejo ser esse exemplo. Joaquim me ensina muito, a experiência como pai é a melhor da minha vida. Eu me sinto muito realizado em tudo, como pessoa, como profissional.
Qual foi o maior choque de realidade que você teve com a paternidade?
Talvez tenha sido lidar de maneira prática com a realidade de que inicialmente eu queria caminhar ao lado do meu filho como uma família e, de repente, precisei caminhar separado da mãe dele, eu sendo pai aqui, e Fernanda sendo mãe lá. Eu continuo a respeitar, ser amigo e desejar as melhores coisas para ela, contando com sua colaboração e disposto 100% a colaborar com ela.
Esse foi meu maior desafio, mas eu soube lidar, e essa segurança faz toda a diferença para meu filho. Sou suspeito para falar, Joaquim tem 7 anos, é uma criança … Eu não consigo nem descrever, porque é claro que eu me sinto até meio abobalhado falando do meu filho pela paixão que eu sinto, mas ele é muito melhor do que eu sonhei que seria. Joaquim consegue me surpreender todos os dias e me mostrar que se eu já imaginava que seria uma coisa boa ser pai dele, na prática ele me prova que é melhor ainda.
Como você e a Fernanda fazem para conseguir essa sintonia na criação do filho de vocês?
Como dois adultos maduros, cientes da responsabilidade que é ter um filho e seguir a vida. Meu filho tem um pai e uma mãe – felizmente -, e eles são responsáveis, e lidam como é necessário com essa situação. Eu não sou o primeiro nem vou ser o último [pai separado]. É maravilhoso ter essa lucidez e capacidade de lidar de uma forma madura com essa situação, porque é uma realidade. Qual seria minha outra alternativa, né?
Dudu Azevedo
Breno Mageste
Dudu Azevedo
Breno Mageste
Então você tem uma relação boa com a Fernanda?
Ótima (ênfase).
Como é sua relação com os filhos da Fernanda, que foram seus enteados?
Tenho uma relação maravilhosa de amor, de carinho, e isso é importante para mim. Eles me ensinaram muito. Minha primeira experiência como pai foi por meio deles. Um olhar paternal, afetivo, responsável. Eu sou amigo do pai deles e tenho o maior respeito, maior consideração por ele. É um cara que eu admiro, que eu tenho carinho, então só sai coisa boa. Não pode ser diferente. A vida é o que que você tira de melhor de cada coisa. Segue em frente com isso.
Você disse que quer ter outros filhos. Está namorando?
Vamos deixar essa pauta quieta (risos).
Dudu Azevedo
Breno Mageste
Ok, mas o que uma pessoa precisa ter para te acompanhar na vida, nesse caminho que você traçou para você?
Não tenho uma lista de pré-requisitos, mas para estar com alguém você tem que querer estar junto. A felicidade tem que acontecer. Nada fala mais alto do que a forma como você se sente ao lado de alguém. Você pode até achar que aquela pessoa é ideal, mas se não se sente bem do lado dela, não consegue permanecer ali. Então é se sentir feliz, gostar da pessoa, admirar, gostar do que vê, do que sente quando está junto.
De que forma você encara a passagem do tempo?
Eu acho a maturidade um presente. Amadurece quem está vivo, e a vida é para ser celebrada todos os dias. Eu acordo com saúde para levantar da cama e fazer o que é preciso, e isso para mim já é um prêmio. Amadurecer é uma dádiva, pô. Eu não consigo enxergar de outra forma. Ter a oportunidade de estar vivo, de ver meu filho crescer, de ver as plantas que eu plantei crescendo na minha casa, desempenhar meu trabalho, ter orgulho do eu faço, do que eu digo. Para mim isso tudo é a minha história.
Gosta do que vê no espelho?
Eu me olho no espelho e adoro o que eu vejo. Não tenho o menor problema em ver a minha maturidade, meu tempo passar. Eu tenho orgulho da minha história. E amadurece quem quer, a gente está careca de ver aí homens de 65 anos de idade que são infantilizados, caras de 40, 50 anos que se comportam como moleques, e mulheres também que esbarram em dificuldades que aparentemente são mínimas e que ficam paradas nelas.
Dudu Azevedo
Breno Mageste
O que é a maturidade para você?
É viver com leveza, aceitar aquilo que você não pode mudar, aprender com as dificuldades, celebrar as coisas boas da vida, reconhecer o valor do tempo, de cada vitória e de cada derrota, de cada dificuldade. Acho que a maturidade é conseguir enxergar no tempo a importância que ele tem. Eu celebro o meu tempo, o meu dia, a minha saúde. Eu me sinto maduro, mas ainda tenho que aprender um monte de coisa. O principal é estar disponível, com olhar atento, coração e cabeça abertos para aprender, absorver, trocar, receber, dar. Estou aqui para isso, tenho muito tempo ainda para viver todas essas coisas.
Não tenho essa obsessão contemporânea de estar rasgado, sarado. A galera bota tudo que é veneno para dentro, toma um monte de produto para ficar forte, aí fica doente. Não faço parte dessa turma que quer ficar sarado a qualquer preço.
Quando você vai treinar, por exemplo, sua prioridade hoje é a saúde e não a estética?
A vaidade está lá, claro que preciso estar bem fisicamente para me sentir bem para minha própria cabeça e gostar do que vejo. Mas nunca foi uma obsessão, uma neurose. Eu tenho outras urgências, não vivo pautado nisso. Com certeza estar bem fisicamente é saúde, longevidade. Eu amo comer e não vou abrir mão disso, mas é saber dosar as coisas. Não tenho essa obsessão contemporânea de estar rasgado, sarado. A galera bota tudo que é veneno para dentro, toma um monte de produto para ficar forte, aí fica doente. Não faço parte dessa turma que quer ficar sarado a qualquer preço.
Muitos atores reclamam do rótulo de galã e dizem que a idade ajuda a sair dessa caixinha do “bonito”. Você também passou por isso?
Ser belo aos olhos das pessoas é um conforto. A beleza é uma carta na manga e, de alguma forma, é um lugar de poder. Mas a beleza é relativa, e rótulo de galã te reduz. Quem adora estar neste lugar está se contentando com pouco. Eu acho que a beleza é muito bem-vinda, ser belo não é um fardo. Mas só a beleza não me basta. Ser reduzido a um rótulo é um fardo, você se contentar com esse rótulo também. Não posso acreditar que sou só isso. Quero também me mostrar capaz de fazer outros personagens, o cômico, o derrotado, o feio, o estranho.
Sempre fui uma pessoa de fé, de fé em Deus, na vida, na história, fé no próximo, fé na ciência (…) Se eu viver sem acreditar, é quase que um saco vazio.
Você já contou que sofreu assédio moral e sexual no passado. Como vê isso hoje?
O assédio moral e o assédio sexual são coisas do cotidiano, infelizmente, e sobretudo praticados por quem está num lugar de poder. Apesar de ser homem, hétero, eu não estou livre disso, nem eu e nem ninguém. Quem é assediador moral, assediador sexual, abusador, precisa ser exposto. As medidas educativas que atendem esse tipo de atitude precisam ser praticadas, porque o assediador precisa ser posto no lugar dele.
Acredita que as coisas melhoraram?
Hoje em dia não é diferente. Claro que nas empresas existe o compliance e você pode denunciar, mas a verdade é que o empregador muitas vezes é um assediador, um abusador, só pelo fato de ser o pagador, de ser a estrutura. O assediador precisa ser repreendido. Se não aprende de uma maneira, ele precisa aprender de outra. O respeito é bom e conserva os dentes muitas vezes, sabe?
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Há quem só entende os mecanismos do assédio anos depois de ter sido vítima. Já se pegou pensando ‘aquilo não era só um sapo que eu tive que engolir’, por exemplo?
Engolir sapo nunca foi muito a especialidade da casa. Ao longo do tempo, aprendi a encontrar saídas inteligentes para todas as situações. É uma escala de recursos, muitas vezes você pode sair de uma situação com presença de espírito, dando uma resposta, ou uma risada, ou ouvindo, ficando sério e constrangendo de alguma forma a pessoa, colocando ela em seu lugar. Nunca fui um especialista em levar desaforo para casa, mas também nunca fui um idiota passional. Em cada situação você reage de maneira apropriada e inteligente; com silêncio, com uma resposta clara e direta, fazendo a pessoa entender que se passar daquele limite, está assumindo determinados riscos. São níveis de reação.
Se posicionar faz parte da vida saudável. Quando a gente dá limite, quando diz não, é uma atitude em benefício da própria saúde.
Como você já reagiu?
Já precisei falar ‘ dá licença, não, não chega perto, por favor’. Isso é cotidiano, existem abusadores [e tipos de abuso] em toda parte. [Em outro nível], por exemplo, quando você está sentado à mesa fazendo uma refeição e alguém vem pedir para tirar uma foto. Não acho que seja uma coisa inocente, eu acho que isso é um abuso. Uma pessoa que muitas vezes te constrange, ela está abusando de você. No lugar de constrangido, eu me sinto no dever de defender também. Se posicionar faz parte da vida saudável. Quando a gente dá limite, quando diz não, é uma atitude em benefício da própria saúde. Então se uma pessoa não entende por bem, vai ter que entender por mal.
Como você cuida da sua saúde mental? Faz terapia?
Neste momento, não, mas já fiz terapia e sou totalmente a favor. Cada um sabe quando precisa mais ou menos, mas a terapia é uma ferramenta de respeito, porque nem sempre estamos preparados para lidar com todas as coisas. Muitas vezes, quando contamos nossas questões para alguém, estamos falando para alguém ouvir e para a gente se ouvir também. E aí você se encontrando, digerindo, aprendendo e desenvolvendo. Terapia é um recurso precioso.
Você já viveu Jesus mais de uma vez. É um homem de fé?
Sempre fui uma pessoa de fé, de fé em Deus, na vida, na história, fé no próximo, fé na ciência. A fé me move e aumenta a minha responsabilidade, porque quando eu tenho fé hoje vai me levar para um lugar lá na frente, eu me torno uma pessoa melhor hoje. Acho que a fé é um exercício de evolução, inclusive. Se eu viver sem acreditar, é quase que um saco vazio. Eu acredito nas pessoas, acredito em mim. A minha fé me faz uma pessoa melhor.
Dudu Azevedo
Breno Mageste
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Ator 46 anos diz rótulo de galã é um fardo, diz que amadurecer é uma dádiva e conta como divide a criação do único filho, de 7 anos, com a ex-mulher Dudu Azevedo já foi Jesus na televisão, lutador de MMA no streaming, baterista da vida real no cinema, e outras dezenas de papeis, mas só em 2024, com três décadas de carreira, estreou no teatro com O Cravo e a Rosa. O trabalho rendeu ao ator de 46 anos uma indicação de Melhor Performance no Prêmio Prio do Humor, de Fábio Porchat, mas seu significado foi além. “O teatro me trouxe de volta uma sensação de pertencimento que a vida adulta aos poucos foi me tirando e que eu nem sabia que sentia falta”, confessa Dudu.
A guinada para os palcos coincidiu com uma virada na carreira do ator, que começou quando ainda estava na escola, em Confissões de Adolescente, a série de sucesso dos anos 1990, e largou a faculdade de Direito ao ser escalado para viver Guto Goffi (o baterista da vida real), em Cazuza, o Tempo Não Para. Em 2021 deixou a Record, onde foi Jesus em algumas produções, para se lançar em projetos autônomos.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
“Prefiro enfrentar o risco da escassez de trabalho do que me tornar um burocrata da minha profissão”, diz Dudu, que se viu “completamente engessado” e com “horizonte encurtado”, como contou em conversa com Quem por videochamada. Ele não tem medo das fases mais duras. “A profissão de ator é cíclica, é impossível estar no topo o tempo inteiro (…). O ator precisa estar inquieto, produzir o tempo inteiro, ter ideias, boas parcerias e estar feliz com o que está fazendo. Se não, cai naquele lugar de trabalhar só para ganhar dinheiro. Nas fases difíceis você se redescobre, muda a rota”, ensina.
A profissão, ele conta, mudou. “Antigamente, a sensação que eu tenho é que as coisas eram calcadas em um bom resultado no trabalho. Se você é um bom ator, vai ter oportunidade. Se faz um bom teste, tem muita chance de passar”, explica. “Mas hoje, mais do que nunca, existem outros coeficientes, como seu nível de relevância na internet”, diz Dudu, que tem 1,8 milhão de seguidores no Instagram, e avisa que, apesar de se adaptar aos novos tempos, não se sente obrigado a nada. “Se eu tiver afim de dançar no TikTok, eu danço. Se eu não tiver, eu não vou dançar”, diz, garantindo que não medo de cancelamento.
Dudu já sofreu assédio moral e sexual (“Apesar de ser homem, hétero, não estou livre disso, nem eu e nem ninguém”) e afirma que envelhecer é motivo de celebração. “Amadurece quem está vivo, e a vida é para ser celebrada todos os dias. Não tenho o menor problema em ver meu tempo passar”, garante o ator, que diz gostar do que vê no espelho. “Ser belo não é um fardo, mas a beleza é relativa, e rótulo de galã te reduz. Quem adora estar neste lugar está se contentando com pouco”, avisa.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Com planos de uma nova peça, Dudu filma Álibi e no segundo semestre estreia Agentes Especiais, longa de Marcos Majella que era uma parceria dele com Paulo Gustavo. Tem outras três produções na fila, inclusive uma nova sobre Rodrigo Minotauro, o lutador que fez em Anderson Spider Silva. Ele não descarta a volta à televisão aberta. “As pessoas ficam meio órfãs dos artistas de TV quando eles somem da TV”, aponta.
Entre um projeto e outro, se dedica a Joaquim, de 7 anos, que teve com a ex-mulher, a médica Fernanda Mader. Foi com Pedro e Manuela, de um casamento anterior dela, que Dudu começou a exercer a paternidade. O ator, que despista quando o assunto é a vida amorosa, mas conta que quer ter mais filhos e que baseia a educação de Joaquim no exemplo.
“A palavra até educa, mas o exemplo arrasta. Me preocupo em ser um grande exemplo para o meu filho, e não me colocar como um cara perfeito. Joaquim vai saber que o pai dele erra e que é capaz de pedir desculpa. Vai saber que o pai dele chora porque qualquer pessoa pode chorar”, pontua. “Também não tenho a menor dúvida de que eu preciso frustrar o meu filho para que ele aprenda a ser uma pessoa decente e um cidadão do mundo capaz de lidar com a complexidade da vida”, frisa.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Confira a entrevista completa a seguir.
Quem: Você já completou três décadas como ator. Quando olha para trás, o que pensa?
Dudu Azevedo: Comecei no início da minha adolescência, com 13, 14 anos, e o o que eu percebo é que mais difícil do que entrar, é permanecer. Talvez esse seja o maior desafio: perdurar na profissão. Lembro que tudo que eu acreditava que precisava era de uma oportunidade. Mas a gente tem que acertar muito e ter muita fé na história para conseguir avançar e não desistir com tantos percalços que essa profissão traz. Ainda assim, confesso que nunca me passou pela cabeça largar. Esse é o meu trabalho, acho que fui escolhido para ele e me vejo totalmente investido nessa missão desde o início. Nunca me imaginei fora disso.
Que papel que representou essa oportunidade?
Meu primeiro trabalho, Confissões de Adolescente, foi de fato uma passagem. Fui dirigido pelo Daniel Filho, contracenei com Leandra Leal, Deborah Secco, Georgiana Góes, Danielle Valente. Guardo tantas memórias daquele elenco. E o Daniel Filho quando me encontra se orgulha de dizer que foi ele que me descobriu. Atravessei o portal ali. Dali em diante, nunca foi fácil, sempre foi difícil. Passei momentos de falta de trabalho, de dificuldade financeira, dos quais nunca estive livre, porque muitas vezes a gente está bem e muitas vezes o trabalho fica escasso, a grana fica escassa. Mas quando você tem fé na história, você atravessa tudo, independentemente da complexidade.
Você já tinha certeza ali do que queria?
Eu vivi cada fase, e acho que quando eu era mais novo, talvez a carreira de ator não fosse uma coisa tão séria para mim. Na adolescência, foi como surfar uma onda. Eu experimentei e me diverti, mas não encarava de uma maneira tão pragmática e tão clara, como um trabalho de fato. Segui levando uma vida de adolescente, jogando bola, tocando música. Quando pintava trabalho, eu fazia e muitas vezes vieram trabalhos que eu não quis fazer. Muitos anos depois, quando fazia Direito, passei no teste para o filme do Cazuza. Ali abracei em definitivo o meu trabalho de ator e a minha história como artista. Decidi caminhar com isso para sempre.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Devido ao filme do Cazuza.
Então, eu não tinha interrompido a profissão, de vez em quando eu fazia teste, para novela, para filme. Mas passei por um hiato produtivo, até engrenar três filmes na sequência. Falei ‘tenho que assumir de vez que eu vou fazer isso da minha vida e largar o resto’. Virou, de fato, uma profissão com a qual firmei um compromisso ali por volta dos 20, 21 anos. Mas nunca nada está garantido. A gente não sabe o que vai acontecer. Depois do Cazuza, tive uma oportunidade na Globo, quando assinei um contrato longo e ganhei uma estabilidade financeira. Aí, sim, a coisa se configurou de uma maneira mais séria, instituída. Assinei com uma grande empresa, tinha um salário, autonomia financeira, uma relativa estabilidade e um fluxo de trabalho constante que me encaixava em um lugar de um profissional de certa forma estabelecido.
Quando você resolveu que ia largar a faculdade e ser ator, qual foi a reação da sua família?
É uma ruptura. Minha mãe durante a vida precisou lidar de maneira prática com todas as responsabilidades e viveu na perspectiva que ela tinha, que era um horizonte de certa forma restrito de uma dona de casa, mãe de quatro filhos. Para a cabeça dela, um filho artista talvez fosse uma coisa quase irreal. Minha mãe nunca teve esse exercício do lúdico na vida. Era a sobrevivência diária, o cotidiano.
Mas ele aceitou bem você largar o Direito?
Quando falei que ia largar a faculdade e acelerar meu passo nessa caminhada, ele virou para mim e me jogou a responsabilidade: ‘É isso? Então, beleza, a escolha é sua, você vai assumir essa escolha e as consequências dela’. Foi a melhor coisa que ele me fez, porque me gerou uma responsabilidade a partir de uma escolha. Apesar de ser um burocrata, meu pai também foi o meu entusiasta como artista.
E seu pai?
O meu pai era um burocrata, um contador, mas trabalhou em grandes empresas. A gente sempre foi uma família de classe média, média mesmo, que sempre viveu apertado, mas meu pai flertava com o mundo lá fora de uma maneira diferente da minha mãe. Ele, de certa forma, foi um entusiasta dessa possibilidade de eu viver para isso [arte]. Meu pai foi o cara que resistiu, mas que me deu uma bateria, um violão, um contrabaixo. Deu porque eu pedi, mas me deu. Ele me permitiu expandir a minha cabeça e as minhas possibilidades.
Qual foi, na sua opinião, a maior mudança na sua profissão nestes seus 30 anos de carreira?
Olha, mudou muito mesmo. Antigamente, a sensação que eu tenho é que as coisas eram calcadas em um bom resultado no trabalho. Se você é um bom ator, vai ter oportunidade. Se faz um bom teste, tem muita chance de passar. Hoje, um bom teste e um bom trabalho são um pouco menos relevantes. Ter um bom relacionamento com diretores, autores, circular e se mostrar não só interessado, mas presente e capaz, sempre foi importante.
Hoje, um bom teste e um bom trabalho são um pouco menos relevantes (…) Existem outros coeficientes, como seu nível de relevância na internet.
Mas hoje, mais do que nunca, existem outros coeficientes, como seu nível de relevância na internet. A forma como você pratica o seu networking é mais do que nunca fundamental. Você, o tempo inteiro, tem que estar atualizando a sua forma de articular o trabalho e de exercer o trabalho propriamente. Eu procuro me manter pelo menos ciente das mudanças e estar apto a jogar o jogo. Mas de uma forma que não me machuque tanto e não distorça tão drasticamente a minha essência como ser humano e como artista também.
De que forma?
Eu encontrei o refúgio no teatro, e tento manobrar as coisas de uma maneira que eu consiga sobreviver e escolher trabalhos em que acredito. Hoje, para mim, o luxo é isso: conseguir pagar minhas contas e acreditar nos trabalhos que eu escolho fazer.
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Muitos atores reclamam da obrigação de entregar conteúdo nas redes com regularidade. Também se vê pensando assim?
Sim. Eu não consigo ser constante sempre. A minha ordem de prioridades é fazer meu trabalho bem feito, cumprir com as minhas responsabilidades. A forma como eu atuo na minha rede social, no meu Instagram, já está abaixo dessa responsabilidade. Eu não sou um influenciador, eu sou um artista. A minha profissão é a minha prioridade. Mas a internet é um utensílio fundamental do fomento da minha arte e da minha relevância no próprio mercado de trabalho. Queira ou não, eu preciso me adaptar a essa realidade.
Como é saber que quase 2 milhões de pessoas ‘consomem’ você?
Entendo que cada atitude e cada palavra minha têm um impacto e eu tenho que me responsabilizar sobre esse impacto. Procuro ser responsável com o que eu posto, de uma maneira ampla e também comigo mesmo. Preciso acreditar naquilo e pensar de que forma pode reverberar e, se eu me arrepender, pode ser que eu venha me retratar publicamente. Existem pessoas assistindo, muitas crianças me seguem. Antes de ser uma pessoa pública, eu sou pai do meu filho, e um cidadão com uma noção de civilidade e das minhas responsabilidades. Mas tudo isso sem neurose, sem deixar de ser espontâneo, sem deixar de ser honesto.
Eu não sou um influenciador, eu sou um artista. A minha profissão é a minha prioridade.
Você tem medo do cancelamento?
Na internet, você entende que muitas vezes vão discordar de você e que vão deixar de simpatizar com você. Assim a vida é. Quem vive para agradar todo mundo, o tempo inteiro, no mínimo está se distorcendo, se torturando, abrindo mão de ser quem é. Se eu tiver a sensação de que posso estar me arriscando nesse lugar de ser cancelado, eu vou avaliar.
Mas eu não poderia deixar de assumir um posicionamento meu publicamente, se for algo muito importante. E vou assumir as consequências: que talvez não gostem, não vão me seguir mais, ou me ataquem. A internet é lugar de patrulhamento ideológico. O normal é que as pessoas venham apontar o dedo e tentar te corrigir, fazer uma crítica antes sequer de procurar entender qual é a essência do que você falou. E normalmente quem faz isso são pessoas que estão, desculpa a palavra, cagadas até a tampa. As pessoas que apontam o dedo, criticam e que são cruéis, normalmente, são as piores. Não têm empatia.
Tem algum papel que você se arrependa de ter deixado passar?
Não me arrependo das minhas escolhas, mas algumas me colocaram em determinadas situações que não foram fáceis. Vou dar um exemplo real: às vezes, você opta por não continuar trabalhando em uma empresa para poder ter a liberdade de experimentar, fazer outras coisas. Se você não tiver coragem de sair da bolha, não conhece [o lado de fora]. É preciso ter uma certa coragem, um certo desprendimento para fazer escolhas assim.
Eu fui contratado muito tempo de emissora, e isso, sem dúvida alguma, traz uma estabilidade financeira, fluxo de trabalho. A minha imagem está no ar, faço mais publicidade se estou em uma novela. Mas, muitas vezes, estar numa novela não é o melhor lugar para se estar. Se amo o que faço, mas opto por estar em um lugar onde eu me sinto completamente engessado, com horizonte encurtado, fazendo coisas parecidas ao longo dos anos, sem me emocionar, eu estou burocratizando uma atividade que a última coisa que pode se tornar é burocrática. Por causa do dinheiro, por causa do salário? Há um contrassenso nisso.
Você está falando da sua saída da Record?
Não, mas a Record faz parte disso também. Toda vez que você assina um contrato que te coloca dentro de uma perspectiva, você assume essa perspectiva e vai descobrir o que vai acontecer ali dentro. E eu não fiz isso só na Record, antes fiz na Globo. Não estou dizendo que eu não assinaria um contrato nunca mais. Se acreditar que será um período feliz da minha vida e que são trabalhos promissores, eu assino com toda certeza. Prefiro enfrentar o risco da escassez de trabalho do que me tornar um burocrata da minha profissão. A gente não pode deixar de lutar por esse lugar onde faz uma coisa em que acredita, pela qual vibra, e que justifica o que nos levou até ali. Eu procuro levar uma vida digna, conseguir pagar minhas contas, oferecer o melhor para o meu filho. Honrar com as minhas responsabilidades, meus compromissos e conciliar tudo isso com a minha felicidade no desempenho do meu ofício.
Se eu tiver afim de dançar no TikTok, eu danço. Se eu não tiver, eu não vou dançar. Não quero saber se alguém vai me julgar porque eu fiz Jesus Cristo, entendeu?
Você optou então por não se acomodar.
Sempre fui uma pessoa que procurou sair da concha, mesmo que isso representasse risco. Procurei ser um artista versátil o tempo inteiro, fazer comédia, drama, ação, contar uma história séria, outra divertida. O grande lance para mim é ser capaz de me transformar e não virar um escravo do dinheiro. Não virar um escravo das tendências da profissão, ‘ah, está todo mundo dançando no TikTok’. Se eu tiver afim de dançar no TikTok, eu danço. Se eu não tiver, eu não vou dançar. Não quero saber se alguém vai me julgar porque eu fiz Jesus Cristo, entendeu?
A sua liberdade fala mais alto?
É isso, é você não se tornar escravo de absolutamente nada nem de ninguém. Eu não quero nem ser escravo do meu filho. Eu tenho uma responsabilidade com a história do meu filho, meu compromisso como pai dele. Amo Joaquim, e ele merece meu apoio, tempo, educação, dedicação. Mas eu quero viver a minha história, o meu tempo, que não posso abandonar para viver a história de alguém, ou assinar um contrato e deixar uma empresa comprar o meu tempo a qualquer preço, me frustrar, me empobrecer artisticamente, viver infeliz. Pera lá, não! O meu tempo é meu patrimônio.
Você foi fazer teatro, que nunca tinha feito. Essa decisão fez parte também desse processo?
Eu fiz teatro amador, peças infantis em escolas, já fiz inclusive um balé. Tive convites antes, mas priorizei outras coisas. Agora foi minha estreia profissional, e o teatro me trouxe coisas que eu nem imaginava. Ali é onde o ator compreende de fato o que ele faz da vida. Não estou desmerecendo quem não faz teatro, é uma escolha. É difícil, teatro não paga conta, muitas vezes, você não consegue tirar um projeto do papel ou, quando consegue, ele tem vida curta.
Dudu Azevedo
Breno Mageste
O que essa experiência no teatro trouxe para você?
Teve minha reconexão com a essência do meu trabalho, a relação com o público da reposta imediata, a gargalhada instantânea. É uma experiência mágica. O teatro me trouxe de volta uma sensação de pertencimento que a vida adulta aos poucos foi me tirando e que eu nem sabia que sentia falta. A vida do adulto é muito prática, com responsabilidades grandes, a necessidade de correr atrás, fazer coisas acontecerem. O teatro para mim, como ser humano, me trouxe uma perspectiva muito diferente. Foi um experimento de vida, assim, divino.
O luxo é isso: conseguir pagar minhas contas e acreditar nos trabalhos que eu escolho fazer.
E com a idade a experiência de viver algo novo pela primeira vez vai diminuindo…
A verdade é que quando você está em cima do palco, abre a boca, e o teatro inteiro vem abaixo de gargalhada, é quase alucinógeno, é uma catarse, é extasiante. Claro que tem um lado burocrático, de cumprir demanda. Você não sai de casa todo dia no ‘bom dia, vou ensaiar, oba!’ (risos). Mas foi inesquecível para mim.
Você falou que teve momentos muito difíceis, inclusive financeiramente. O que fez com que perseverasse?
A profissão de ator é cíclica, é impossível estar no topo o tempo inteiro. Está muito enganado quem acha que que isso deve ser o objetivo, nosso caminho é de oscilações. As dificuldades fazem com que a gente se mexa, a mudança de padrão também muda a nossa disponibilidade para correr atrás, aprender, para se remontar. Todas essas curvas fizeram uma diferença muito grande para mim.
O ator, sobretudo o autônomo, precisa estar inquieto, produzir o tempo inteiro, ter ideias, boas parcerias e estar feliz com o que está fazendo. Se não, cai naquele lugar preguiça, de trabalhar só para ganhar dinheiro e com isso se despede do verdadeiro sentido do ofício que é compartilhar felicidade. Toda vez que eu me vi em uma fase de pouco trabalho, de falta de grana, consegui compreender ainda melhor que a nossa profissão é uma profissão de perseverar, que quem não persevera não consegue permanecer. Nas fases difíceis, você se redescobre, muda a rota. Foi que me levou para o teatro, me fez ser capaz de outras coisas, como me comunicar, falar melhor. Se não precisasse, não sei se eu teria de fato feito certas coisas.
Você falou que não queria ser escravo do seu filho. Como é o Dudu Azevedo pai?
Já pensava assim antes dele nascer, mas hoje posso dizer que tenho total certeza de que educar é muito mais por exemplo do que pela palavra. A palavra até educa, mas o exemplo arrasta. Joaquim é o eco, a resposta de cada ambiente em que ele vive e que reproduz em seu comportamento, sua forma de pensar e reagir. Em primeiro lugar, como pai, eu me preocupo em ser um grande exemplo para o meu filho, e não me colocar como como um cara perfeito, porque ninguém é perfeito e ele tem que saber disso desde sempre. Joaquim vai saber que o pai dele erra e que é capaz de pedir desculpa. Vai saber que o pai dele chora porque qualquer pessoa pode chorar, e vai saber que o pai dele ama, e se responsabiliza, e está atento a ele. Meu filho vai poder contar com o pai dele sempre que ele precisar.
Ser pai era um sonho?
Meu filho é o maior sonho da minha vida realizado. Eu quero ter mais filhos, com certeza. Como pai, procuro oferecer o melhor que eu tenho, a minha verdade como pessoa, ser um pai responsável, comprometido, que leva a sério, mas que também está aprendendo, porque eu aprendo muito com meu filho. Eu não subestimo a inteligência do Joaquim, pelo contrário, eu conto com a inteligência e a capacidade dele enxergar, aprender e realizar.
Na prática, como cria ele?
Olha, também não tenho a menor dúvida de que eu preciso frustrar o meu filho para que ele aprenda a ser uma pessoa decente e um cidadão do mundo capaz de lidar com a frustração, com a complexidade da vida. Eu quero criar uma pessoa capaz, forte e desejo que ele seja um grande ser humano. E para meu filho ser um grande ser humano justo, empático, honesto, eu tenho que ser esse exemplo para ele. E mais do que ‘ter que ser’, eu desejo ser esse exemplo. Joaquim me ensina muito, a experiência como pai é a melhor da minha vida. Eu me sinto muito realizado em tudo, como pessoa, como profissional.
Qual foi o maior choque de realidade que você teve com a paternidade?
Talvez tenha sido lidar de maneira prática com a realidade de que inicialmente eu queria caminhar ao lado do meu filho como uma família e, de repente, precisei caminhar separado da mãe dele, eu sendo pai aqui, e Fernanda sendo mãe lá. Eu continuo a respeitar, ser amigo e desejar as melhores coisas para ela, contando com sua colaboração e disposto 100% a colaborar com ela.
Esse foi meu maior desafio, mas eu soube lidar, e essa segurança faz toda a diferença para meu filho. Sou suspeito para falar, Joaquim tem 7 anos, é uma criança … Eu não consigo nem descrever, porque é claro que eu me sinto até meio abobalhado falando do meu filho pela paixão que eu sinto, mas ele é muito melhor do que eu sonhei que seria. Joaquim consegue me surpreender todos os dias e me mostrar que se eu já imaginava que seria uma coisa boa ser pai dele, na prática ele me prova que é melhor ainda.
Como você e a Fernanda fazem para conseguir essa sintonia na criação do filho de vocês?
Como dois adultos maduros, cientes da responsabilidade que é ter um filho e seguir a vida. Meu filho tem um pai e uma mãe – felizmente -, e eles são responsáveis, e lidam como é necessário com essa situação. Eu não sou o primeiro nem vou ser o último [pai separado]. É maravilhoso ter essa lucidez e capacidade de lidar de uma forma madura com essa situação, porque é uma realidade. Qual seria minha outra alternativa, né?
Dudu Azevedo
Breno Mageste
Dudu Azevedo
Breno Mageste
Então você tem uma relação boa com a Fernanda?
Ótima (ênfase).
Como é sua relação com os filhos da Fernanda, que foram seus enteados?
Tenho uma relação maravilhosa de amor, de carinho, e isso é importante para mim. Eles me ensinaram muito. Minha primeira experiência como pai foi por meio deles. Um olhar paternal, afetivo, responsável. Eu sou amigo do pai deles e tenho o maior respeito, maior consideração por ele. É um cara que eu admiro, que eu tenho carinho, então só sai coisa boa. Não pode ser diferente. A vida é o que que você tira de melhor de cada coisa. Segue em frente com isso.
Você disse que quer ter outros filhos. Está namorando?
Vamos deixar essa pauta quieta (risos).
Dudu Azevedo
Breno Mageste
Ok, mas o que uma pessoa precisa ter para te acompanhar na vida, nesse caminho que você traçou para você?
Não tenho uma lista de pré-requisitos, mas para estar com alguém você tem que querer estar junto. A felicidade tem que acontecer. Nada fala mais alto do que a forma como você se sente ao lado de alguém. Você pode até achar que aquela pessoa é ideal, mas se não se sente bem do lado dela, não consegue permanecer ali. Então é se sentir feliz, gostar da pessoa, admirar, gostar do que vê, do que sente quando está junto.
De que forma você encara a passagem do tempo?
Eu acho a maturidade um presente. Amadurece quem está vivo, e a vida é para ser celebrada todos os dias. Eu acordo com saúde para levantar da cama e fazer o que é preciso, e isso para mim já é um prêmio. Amadurecer é uma dádiva, pô. Eu não consigo enxergar de outra forma. Ter a oportunidade de estar vivo, de ver meu filho crescer, de ver as plantas que eu plantei crescendo na minha casa, desempenhar meu trabalho, ter orgulho do eu faço, do que eu digo. Para mim isso tudo é a minha história.
Gosta do que vê no espelho?
Eu me olho no espelho e adoro o que eu vejo. Não tenho o menor problema em ver a minha maturidade, meu tempo passar. Eu tenho orgulho da minha história. E amadurece quem quer, a gente está careca de ver aí homens de 65 anos de idade que são infantilizados, caras de 40, 50 anos que se comportam como moleques, e mulheres também que esbarram em dificuldades que aparentemente são mínimas e que ficam paradas nelas.
Dudu Azevedo
Breno Mageste
O que é a maturidade para você?
É viver com leveza, aceitar aquilo que você não pode mudar, aprender com as dificuldades, celebrar as coisas boas da vida, reconhecer o valor do tempo, de cada vitória e de cada derrota, de cada dificuldade. Acho que a maturidade é conseguir enxergar no tempo a importância que ele tem. Eu celebro o meu tempo, o meu dia, a minha saúde. Eu me sinto maduro, mas ainda tenho que aprender um monte de coisa. O principal é estar disponível, com olhar atento, coração e cabeça abertos para aprender, absorver, trocar, receber, dar. Estou aqui para isso, tenho muito tempo ainda para viver todas essas coisas.
Não tenho essa obsessão contemporânea de estar rasgado, sarado. A galera bota tudo que é veneno para dentro, toma um monte de produto para ficar forte, aí fica doente. Não faço parte dessa turma que quer ficar sarado a qualquer preço.
Quando você vai treinar, por exemplo, sua prioridade hoje é a saúde e não a estética?
A vaidade está lá, claro que preciso estar bem fisicamente para me sentir bem para minha própria cabeça e gostar do que vejo. Mas nunca foi uma obsessão, uma neurose. Eu tenho outras urgências, não vivo pautado nisso. Com certeza estar bem fisicamente é saúde, longevidade. Eu amo comer e não vou abrir mão disso, mas é saber dosar as coisas. Não tenho essa obsessão contemporânea de estar rasgado, sarado. A galera bota tudo que é veneno para dentro, toma um monte de produto para ficar forte, aí fica doente. Não faço parte dessa turma que quer ficar sarado a qualquer preço.
Muitos atores reclamam do rótulo de galã e dizem que a idade ajuda a sair dessa caixinha do “bonito”. Você também passou por isso?
Ser belo aos olhos das pessoas é um conforto. A beleza é uma carta na manga e, de alguma forma, é um lugar de poder. Mas a beleza é relativa, e rótulo de galã te reduz. Quem adora estar neste lugar está se contentando com pouco. Eu acho que a beleza é muito bem-vinda, ser belo não é um fardo. Mas só a beleza não me basta. Ser reduzido a um rótulo é um fardo, você se contentar com esse rótulo também. Não posso acreditar que sou só isso. Quero também me mostrar capaz de fazer outros personagens, o cômico, o derrotado, o feio, o estranho.
Sempre fui uma pessoa de fé, de fé em Deus, na vida, na história, fé no próximo, fé na ciência (…) Se eu viver sem acreditar, é quase que um saco vazio.
Você já contou que sofreu assédio moral e sexual no passado. Como vê isso hoje?
O assédio moral e o assédio sexual são coisas do cotidiano, infelizmente, e sobretudo praticados por quem está num lugar de poder. Apesar de ser homem, hétero, eu não estou livre disso, nem eu e nem ninguém. Quem é assediador moral, assediador sexual, abusador, precisa ser exposto. As medidas educativas que atendem esse tipo de atitude precisam ser praticadas, porque o assediador precisa ser posto no lugar dele.
Acredita que as coisas melhoraram?
Hoje em dia não é diferente. Claro que nas empresas existe o compliance e você pode denunciar, mas a verdade é que o empregador muitas vezes é um assediador, um abusador, só pelo fato de ser o pagador, de ser a estrutura. O assediador precisa ser repreendido. Se não aprende de uma maneira, ele precisa aprender de outra. O respeito é bom e conserva os dentes muitas vezes, sabe?
Dudu Azevedo
Rodrigo Melo
Há quem só entende os mecanismos do assédio anos depois de ter sido vítima. Já se pegou pensando ‘aquilo não era só um sapo que eu tive que engolir’, por exemplo?
Engolir sapo nunca foi muito a especialidade da casa. Ao longo do tempo, aprendi a encontrar saídas inteligentes para todas as situações. É uma escala de recursos, muitas vezes você pode sair de uma situação com presença de espírito, dando uma resposta, ou uma risada, ou ouvindo, ficando sério e constrangendo de alguma forma a pessoa, colocando ela em seu lugar. Nunca fui um especialista em levar desaforo para casa, mas também nunca fui um idiota passional. Em cada situação você reage de maneira apropriada e inteligente; com silêncio, com uma resposta clara e direta, fazendo a pessoa entender que se passar daquele limite, está assumindo determinados riscos. São níveis de reação.
Se posicionar faz parte da vida saudável. Quando a gente dá limite, quando diz não, é uma atitude em benefício da própria saúde.
Como você já reagiu?
Já precisei falar ‘ dá licença, não, não chega perto, por favor’. Isso é cotidiano, existem abusadores [e tipos de abuso] em toda parte. [Em outro nível], por exemplo, quando você está sentado à mesa fazendo uma refeição e alguém vem pedir para tirar uma foto. Não acho que seja uma coisa inocente, eu acho que isso é um abuso. Uma pessoa que muitas vezes te constrange, ela está abusando de você. No lugar de constrangido, eu me sinto no dever de defender também. Se posicionar faz parte da vida saudável. Quando a gente dá limite, quando diz não, é uma atitude em benefício da própria saúde. Então se uma pessoa não entende por bem, vai ter que entender por mal.
Como você cuida da sua saúde mental? Faz terapia?
Neste momento, não, mas já fiz terapia e sou totalmente a favor. Cada um sabe quando precisa mais ou menos, mas a terapia é uma ferramenta de respeito, porque nem sempre estamos preparados para lidar com todas as coisas. Muitas vezes, quando contamos nossas questões para alguém, estamos falando para alguém ouvir e para a gente se ouvir também. E aí você se encontrando, digerindo, aprendendo e desenvolvendo. Terapia é um recurso precioso.
Você já viveu Jesus mais de uma vez. É um homem de fé?
Sempre fui uma pessoa de fé, de fé em Deus, na vida, na história, fé no próximo, fé na ciência. A fé me move e aumenta a minha responsabilidade, porque quando eu tenho fé hoje vai me levar para um lugar lá na frente, eu me torno uma pessoa melhor hoje. Acho que a fé é um exercício de evolução, inclusive. Se eu viver sem acreditar, é quase que um saco vazio. Eu acredito nas pessoas, acredito em mim. A minha fé me faz uma pessoa melhor.
Dudu Azevedo
Breno Mageste
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