Você provavelmente já se pegou cantarolando alguma canção melancólica, embalada por sintetizadores etéreos e guitarras envolventes, sem nem perceber que era do Terno Rei. E faz sentido – a banda paulistana é uma das maiores referências da cena alternativa brasileira, com uma trajetória sólida que acaba de atingir um novo ápice.
Formado por Ale Sater (voz e baixo), Bruno Paschoal (guitarra e sintetizadores), Greg Maya (guitarra) e Luis Cardoso (bateria), o Terno Rei acaba de lançar Nenhuma Estrela, seu quinto álbum de estúdio – e talvez o mais ambicioso e maduro até agora. O disco combina sofisticação estética com uma honestidade emocional rara. Melancólico, dançante, atemporal e confessional: tudo isso junto e costurado com precisão milimétrica.
Na estrada há 15 anos, o grupo vive sua melhor fase — e eles próprios reconhecem isso. Aclamado como “clássico instantâneo”, Nenhuma Estrela também marca o início de uma nova turnê que já passou pelo palco do Lollapalooza Brasil e deve rodar o país (e outras partes do planeta) ao longo do tempo.
Aproveitando esse momento de sintonia total entre os integrantes e a consagração da nova fase, nós do TMDQA! batemos um papo com a banda sobre o processo criativo do novo disco, influências, amadurecimento e, claro, o que vem por aí. Cola com a gente nessa conversa com o Terno Rei – mais forte, inspirado e relevante do que nunca!
TMDQA! Entrevista Terno Rei
TMDQA!: Fala pessoal! Um prazer imenso em conversar com vocês. Primeiramente, queria parabenizá-los pelo álbum, ficou espetacular. A banda foi formada em 2010, e desde então, vocês se tornaram referência na música alternativa brasileira e independente brasileira contemporânea. O que Nenhuma Estrela marca de tão especial, sendo considerado o mais maduro e favorito da banda?
Ale Sater: Eu não sei se a palavra correta é “ápice”, mas a gente atingiu um lugar que a gente nunca tinha atingido dentro das nossas características, conseguimos continuar evoluindo dentro do que a gente faz, sem perder a essência né? Continua sendo o Loobas tocando batera, eu cantando melancólico, introspectivo… Aquela coisa de guitarrinhas safadas e arranjos distintos com algumas coisinhas a mais.
Eu acho que como você falou, é um disco que reflete a nossa maturidade como grupo e como músicos, e eu tô muito feliz pelo lançamento!
TMDQA!: Poderiam comentar como foi trabalhar novamente com Gustavo Schirmer e contarem com a mixagem de Nicolas Vernhes para um trabalho final tão límpido e único?
Bruno Paschoal: Cara, trabalhar com o Schirmer é sempre muito gostoso, a gente tem muita intimidade. Acho que foi a vez que fluiu mais fácil, obviamente melhor, seu terceiro disco. Sempre muito legal, a gente se dá muito bem.
E com o Nicolas foi uma experiência totalmente nova, sabe? Ele teve um papel super importante na mixagem do disco, conseguiu dar um corpo pro som, deixar tudo batendo forte, dar tanto às vozes quanto aos instrumentais. Além disso, uma experiência totalmente nova e pessoal em trabalhar com alguém de outro país, super rico, um aprendizado enorme que não havíamos tido ainda. Foi bem importante!
TMDQA!: Seja por conceito e temática, amadurecimento e identidade, as faixas estão mais robustas em sonoridade e composição. Em que medida as influências dos anos 80/90 e a essência do grupo acabam impactando pessoalmente na vida de vocês?
Ale Sater: A palavra certa é essa. Assim, as faixas estão mais robustas, e isso significa as três partes do processo, né? A primeira parte, sobre composição, tem muito haver com o nosso momento pessoal de idade e experiência, muitos anos viajando juntos e tal. A segunda parte, em produção, tem o detalhe em ser a terceira vez que trabalhamos com o Schirmer, e nós cada vez mais temos a noção de sabermos o que queremos para o trabalho e ele ter a mesma percepção – é muito bonito ver ele trampar.
E você também citou aí a mixagem do Nicolas Vernhes, né? O Bruno falou sobre, e com certeza as nossas influências estão centradas ali nos anos 80/90, uns 90% ali. Claro que a gente nunca quer soar uma coisa emulada, nunca quer soar uma coisa datada, mas com certeza no disco dá para você ouvir na primeira faixa em “Peito“, você tem vários synths misturados com sopros que é uma coisa super oitentista. Na faixa “Programação Normal“, a oitava faixa, você vê aquelas aqueles riffs de guitarra com o violão mais cristalino, a baterona na frente que é uma coisa dos super-final dos anos 90. Bem dentro dessa questão da construção do disco, tal como comentado.
TMDQA!: Definitivamente, um dos destaques do trabalho é a participação especial de Lô Borges em “Relógio”. Entretanto, uma surpresa muito agradável foi a presença de Clara Borges, parceira de selo e integrante da Paira, nos vocais em “Tempo”, uma faixa dançante e que surpreende no vasto repertório do Terno Rei. Como surgiu essa ideia e o convite para Clara contribuir nessa canção?
Ale Sater: A gente tava trabalhando na canção e eu imaginava um toque mais sutil, mais doce pro som. Eu ainda não conhecia a Clara pessoalmente, conhecia só pelas músicas, apesar de estarmos no mesmo selo. Havia ouvido umas duas, três faixas do EP da Paira e achei muito bom, aí eu chamei ela, a Clara se se amarrou na ideia!
Um dia, ela tava em São Paulo e acabou gravando lá na casa dos meninos e deu bom. A voz dela tá tá linda na música, e justamente dá esse contraste, né? Em muitos momentos a minha voz tá meio grossa ali, e a voz dela é super suave. Ela até trouxe umas harmonias a mais para a música, mandou super bem. E como curiosidade, ela é de BH também e também é Borges, né? [risos] Então é Lô Borges e Clara Borges. Bem curioso!
TMDQA!: Nenhuma Estrela traz uma proposta tanto introspectiva quanto expansiva: como vocês construíram o conceito do álbum, especialmente na junção dos elementos melancólicos e das inovações sonoras? O trabalho solo de integrantes tipo o do Ale ou do Greg influenciou nessas tomadas de rumos?
Ale Sater: Eu acho que o lance de fazer os projetos solos é só uma vontade criativa, né? Uma força que a gente acaba querendo aproveitar porque a onda tá boa, muito gás em escrever e produzir as músicas. É sempre muito gostoso fazer todo esse processo de gravar, mixar, fazer clipe… A parte mais difícil é divulgar, para falar a verdade. O resto é muito legal. Foi muito bom ver o Greg lançando o dele!
E aí, você falou uma coisa que acho que tem tudo a ver, que o disco é expansivo e introspectivo ao mesmo tempo, e velho, eu acho que a primeira coisa que a gente conversou antes de fazer as músicas até é que a gente imaginava um disco um pouco mais dark, um pouco mais escuro, que a gente queria fazer uma capa escura. Aí a gente foi fazendo o disco e eu acho que ele tá bem mesclado assim em relação aos nossos últimos discos. Tem coisas que você ouve do Essa Noite Bateu Com Um Sonho, muitas coisas do Violeta, coisas que você ouve do Gêmeos também… Então, por isso que a capa é preta, mas tem esses pontos de de cor, sabe? E eu acho que essa sensação também vem muito da mix que é muito boa, cara!
Sei lá, na música “32“, você consegue ouvir cada detalhe, minha voz surgindo pela esquerda, outra voz pela direita, outras vozes que vem juntas. É bem especial assim. Na faixa “Pega“, você vê uma bateria super à frente, uma escolha ousada e e os synths super suaves, né? Tipo, tem muita coisa que que acaba ficando expansivo, que talvez na composição fosse introspectivo, se você pensar só em melodia e harmonia. A mix e a produção deram essa expandida nas músicas, traz essa sensação que é muito boa, que eu gosto muito.
TMDQA!: Algumas faixas, como “Próxima Parada” e “32” dialogam com momentos de transição e autoconhecimento. Como esses temas refletem o momento atual do grupo e de cada um dos integrantes?
Ale Sater: Eu fiz na semana passada uma entrevista super longa, um faixa a faixa do álbum, e aí fui pensando nas letras e eu não tinha feito essa conexão de que além da gente sempre falar que é um disco que marca uma fase madura pra banda, também tem as letras falando sobre maturidade, né? A música “32” fala bem sobre isso, tipo, sobre o fato de que agora você não é mais “café com leite”. Chegou a hora de você mostrar a real e fazer as coisas por você mesmo, tá ligado?
E esse sentimento passa por outros vários momentos do disco com outras frases, outras letras e tal, acredito que isso reflete muito a nossa idade atual. A gente tem aí entre 35 e 37 anos e como você falou, a gente já tem 15 anos de banda. A gente tá super feliz, super unido, mas ao mesmo tempo, os nossos sonhos mudaram. Hoje é outra coisa, hoje é um trabalho, tem outras coisas que a gente pensa sobre a vida também, né? Acho que acaba que a temática passa muito por isso de maturidade. O que eu sou a partir de agora e também o que eu não posso ser a partir de agora.
TMDQA!: Vocês já marcaram presença em grandes palcos ao redor do globo, e a turnê deste atual projeto teve um pontapé mais do que especial no Lollapalooza Brasil, onde estivemos presentes e vimos vocês entregarem um show especial que emocionou fãs e amigos do grupo. O que podemos esperar das próximas apresentações marcadas pelo país?
Bruno Paschoal: A gente tá montando o show novo ainda! Fizemos o Lolla e tal, mas tinha só as duas músicas novas que a gente tinha lançado. Então, a gente vai preparar um show bem bonito, né? A gente precisa subir o show de patamar, precisa entregar uma coisa mais bonita. Tem várias datas sendo marcadas e cidades que estavam faltando. Então, acho que vocês podem esperar aí algo bem legal mesmo, algo bem completo que a gente vai vai estar entregando. [risos]
TMDQA!: Com tantas conquistas e glórias em uma trajetória tão respeitosa e cheia de música, vocês tem algum sonho/meta que ainda desejam atingir com a banda? E caso não tenham, conseguem pensar em alguma coisa que seria mágica?
Luis (Loobas): Tocar no Japão. [risos]
Ale Sater: Já que é pra falar em sonho, eu ia falar a mesma coisa! [risos]
Loobas: Sonhar é de graça!
TMDQA!: O que vocês têm ouvido que possa influenciar no processo criativo do grupo (ou então, que vocês só estejam viciados mesmo)?
Bruno Paschoal: Eu vou dar uma olhada nas minhas faixas curtidas!
Ale Sater: Eu tenho dado bastante chance para o shuffle do Spotify e acabando conhecendo muita coisa nova, velho! Tem essa artista aqui, Mrs. Ray… Acopia também que é muito legal! Elliot Smith de sempre, Simply Red que agora rolou o show…
Bruno Paschoal: Eu tô ouvindo bastante coisa mais antiga que eu já ouvia mesmo. The Amps, que é da Kim Deal (Breeders), Sparklehorse, Steely Dan e bastante coisa do shuffle, artistas que eu nem sei pronunciar o nome [risos] Mas tem sido uma época boa de música!
Luis (Loobas): Eu abri meus liked songs e nem consigo te falar de tão “salada” que tá o negócio, velho! [risos] Mas tem bastante coisa dos anos 80, hip-hop, rap nacional.. Um Racionais MC’s… Puta, muita coisa, cara.
Tem essas bandas desconhecidas que não sei nem falar o nome também, várias outras paradas. Uns rockzinho bom, várias coisas.
Greg Maya: Cara, eu tenho escutada uma banda meio nova da Austrália chamada Armlock! Tenho voltado a escutar Bloc Party, o filho do John Lennon (Sean Lennon), Placebo… E claro, o novo do terraplana! Várias coisas por aqui também.
TMDQA!: Normalmente, tenho o costume de finalizar minhas entrevistas com essa pergunta: considerando o nome do nosso veículo, vocês acreditam ter mais discos do que amigos? E se pudessem escolher um álbum para que as pessoas pudessem conhecer vocês (não necessariamente enquanto artistas), qual seria?
Bruno Paschoal: Olha, se for disco de vinil, eu não tenho quase nenhum. Mas CDs por outro lado… [risos] E cara, sobre a segunda pergunta, podem ir falando quem quiser, vou pensar aqui.
Ale Sater: Eu voltei a ouvir bastante Nick Drake! Por mim, pode ser o Five Leaves Left dele… Bem calmo, sereno.
E eu não tenho muitos discos também, mas sinto que tenho mais discos que amigos! Sou muito “pão duro” pra isso. [risos]
Bruno Paschoal: Pensei aqui, e por mim, pode ser o Figure 8 do Elliot Smith!
Greg Maya: Eu com certeza tenho mais álbuns que eu goste do que amigos! E pô, sobre a segunda pergunta.. Cara, não sei, eu sempre falo um disco que eu acho perfeito assim, que é o In Rainbows do Radiohead.
É um disco que eu ouvi quando saiu e fiquei piradão, acho bonito até hoje.
Luis (Loobas): Eu tenho mais discos que amigos, com certeza. E um disco que tenho ouvido bastante assim, que é um compilado na real, é o deluxe do Aeroplane Flies High do The Smashing Pumpkins!
TMDQA!: Muito obrigado pela conversa, galera! Espero que a gente se encontre logo logo. Aproveitem esse momento com o disco na boca da galera e vida longa pra banda!
Terno Rei: Obrigado, valeu! Te vemos nos shows!
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Você provavelmente já se pegou cantarolando alguma canção melancólica, embalada por sintetizadores etéreos e guitarras envolventes, sem nem perceber que era do Terno Rei. E faz sentido – a banda paulistana é uma das maiores referências da cena alternativa brasileira, com uma trajetória sólida que acaba de atingir um novo ápice.
Formado por Ale Sater (voz e baixo), Bruno Paschoal (guitarra e sintetizadores), Greg Maya (guitarra) e Luis Cardoso (bateria), o Terno Rei acaba de lançar Nenhuma Estrela, seu quinto álbum de estúdio – e talvez o mais ambicioso e maduro até agora. O disco combina sofisticação estética com uma honestidade emocional rara. Melancólico, dançante, atemporal e confessional: tudo isso junto e costurado com precisão milimétrica.
Na estrada há 15 anos, o grupo vive sua melhor fase — e eles próprios reconhecem isso. Aclamado como “clássico instantâneo”, Nenhuma Estrela também marca o início de uma nova turnê que já passou pelo palco do Lollapalooza Brasil e deve rodar o país (e outras partes do planeta) ao longo do tempo.
Aproveitando esse momento de sintonia total entre os integrantes e a consagração da nova fase, nós do TMDQA! batemos um papo com a banda sobre o processo criativo do novo disco, influências, amadurecimento e, claro, o que vem por aí. Cola com a gente nessa conversa com o Terno Rei – mais forte, inspirado e relevante do que nunca!
TMDQA! Entrevista Terno Rei
TMDQA!: Fala pessoal! Um prazer imenso em conversar com vocês. Primeiramente, queria parabenizá-los pelo álbum, ficou espetacular. A banda foi formada em 2010, e desde então, vocês se tornaram referência na música alternativa brasileira e independente brasileira contemporânea. O que Nenhuma Estrela marca de tão especial, sendo considerado o mais maduro e favorito da banda?
Ale Sater: Eu não sei se a palavra correta é “ápice”, mas a gente atingiu um lugar que a gente nunca tinha atingido dentro das nossas características, conseguimos continuar evoluindo dentro do que a gente faz, sem perder a essência né? Continua sendo o Loobas tocando batera, eu cantando melancólico, introspectivo… Aquela coisa de guitarrinhas safadas e arranjos distintos com algumas coisinhas a mais.
Eu acho que como você falou, é um disco que reflete a nossa maturidade como grupo e como músicos, e eu tô muito feliz pelo lançamento!
TMDQA!: Poderiam comentar como foi trabalhar novamente com Gustavo Schirmer e contarem com a mixagem de Nicolas Vernhes para um trabalho final tão límpido e único?
Bruno Paschoal: Cara, trabalhar com o Schirmer é sempre muito gostoso, a gente tem muita intimidade. Acho que foi a vez que fluiu mais fácil, obviamente melhor, seu terceiro disco. Sempre muito legal, a gente se dá muito bem.
E com o Nicolas foi uma experiência totalmente nova, sabe? Ele teve um papel super importante na mixagem do disco, conseguiu dar um corpo pro som, deixar tudo batendo forte, dar tanto às vozes quanto aos instrumentais. Além disso, uma experiência totalmente nova e pessoal em trabalhar com alguém de outro país, super rico, um aprendizado enorme que não havíamos tido ainda. Foi bem importante!
TMDQA!: Seja por conceito e temática, amadurecimento e identidade, as faixas estão mais robustas em sonoridade e composição. Em que medida as influências dos anos 80/90 e a essência do grupo acabam impactando pessoalmente na vida de vocês?
Ale Sater: A palavra certa é essa. Assim, as faixas estão mais robustas, e isso significa as três partes do processo, né? A primeira parte, sobre composição, tem muito haver com o nosso momento pessoal de idade e experiência, muitos anos viajando juntos e tal. A segunda parte, em produção, tem o detalhe em ser a terceira vez que trabalhamos com o Schirmer, e nós cada vez mais temos a noção de sabermos o que queremos para o trabalho e ele ter a mesma percepção – é muito bonito ver ele trampar.
E você também citou aí a mixagem do Nicolas Vernhes, né? O Bruno falou sobre, e com certeza as nossas influências estão centradas ali nos anos 80/90, uns 90% ali. Claro que a gente nunca quer soar uma coisa emulada, nunca quer soar uma coisa datada, mas com certeza no disco dá para você ouvir na primeira faixa em “Peito“, você tem vários synths misturados com sopros que é uma coisa super oitentista. Na faixa “Programação Normal“, a oitava faixa, você vê aquelas aqueles riffs de guitarra com o violão mais cristalino, a baterona na frente que é uma coisa dos super-final dos anos 90. Bem dentro dessa questão da construção do disco, tal como comentado.
TMDQA!: Definitivamente, um dos destaques do trabalho é a participação especial de Lô Borges em “Relógio”. Entretanto, uma surpresa muito agradável foi a presença de Clara Borges, parceira de selo e integrante da Paira, nos vocais em “Tempo”, uma faixa dançante e que surpreende no vasto repertório do Terno Rei. Como surgiu essa ideia e o convite para Clara contribuir nessa canção?
Ale Sater: A gente tava trabalhando na canção e eu imaginava um toque mais sutil, mais doce pro som. Eu ainda não conhecia a Clara pessoalmente, conhecia só pelas músicas, apesar de estarmos no mesmo selo. Havia ouvido umas duas, três faixas do EP da Paira e achei muito bom, aí eu chamei ela, a Clara se se amarrou na ideia!
Um dia, ela tava em São Paulo e acabou gravando lá na casa dos meninos e deu bom. A voz dela tá tá linda na música, e justamente dá esse contraste, né? Em muitos momentos a minha voz tá meio grossa ali, e a voz dela é super suave. Ela até trouxe umas harmonias a mais para a música, mandou super bem. E como curiosidade, ela é de BH também e também é Borges, né? [risos] Então é Lô Borges e Clara Borges. Bem curioso!
TMDQA!: Nenhuma Estrela traz uma proposta tanto introspectiva quanto expansiva: como vocês construíram o conceito do álbum, especialmente na junção dos elementos melancólicos e das inovações sonoras? O trabalho solo de integrantes tipo o do Ale ou do Greg influenciou nessas tomadas de rumos?
Ale Sater: Eu acho que o lance de fazer os projetos solos é só uma vontade criativa, né? Uma força que a gente acaba querendo aproveitar porque a onda tá boa, muito gás em escrever e produzir as músicas. É sempre muito gostoso fazer todo esse processo de gravar, mixar, fazer clipe… A parte mais difícil é divulgar, para falar a verdade. O resto é muito legal. Foi muito bom ver o Greg lançando o dele!
E aí, você falou uma coisa que acho que tem tudo a ver, que o disco é expansivo e introspectivo ao mesmo tempo, e velho, eu acho que a primeira coisa que a gente conversou antes de fazer as músicas até é que a gente imaginava um disco um pouco mais dark, um pouco mais escuro, que a gente queria fazer uma capa escura. Aí a gente foi fazendo o disco e eu acho que ele tá bem mesclado assim em relação aos nossos últimos discos. Tem coisas que você ouve do Essa Noite Bateu Com Um Sonho, muitas coisas do Violeta, coisas que você ouve do Gêmeos também… Então, por isso que a capa é preta, mas tem esses pontos de de cor, sabe? E eu acho que essa sensação também vem muito da mix que é muito boa, cara!
Sei lá, na música “32“, você consegue ouvir cada detalhe, minha voz surgindo pela esquerda, outra voz pela direita, outras vozes que vem juntas. É bem especial assim. Na faixa “Pega“, você vê uma bateria super à frente, uma escolha ousada e e os synths super suaves, né? Tipo, tem muita coisa que que acaba ficando expansivo, que talvez na composição fosse introspectivo, se você pensar só em melodia e harmonia. A mix e a produção deram essa expandida nas músicas, traz essa sensação que é muito boa, que eu gosto muito.
TMDQA!: Algumas faixas, como “Próxima Parada” e “32” dialogam com momentos de transição e autoconhecimento. Como esses temas refletem o momento atual do grupo e de cada um dos integrantes?
Ale Sater: Eu fiz na semana passada uma entrevista super longa, um faixa a faixa do álbum, e aí fui pensando nas letras e eu não tinha feito essa conexão de que além da gente sempre falar que é um disco que marca uma fase madura pra banda, também tem as letras falando sobre maturidade, né? A música “32” fala bem sobre isso, tipo, sobre o fato de que agora você não é mais “café com leite”. Chegou a hora de você mostrar a real e fazer as coisas por você mesmo, tá ligado?
E esse sentimento passa por outros vários momentos do disco com outras frases, outras letras e tal, acredito que isso reflete muito a nossa idade atual. A gente tem aí entre 35 e 37 anos e como você falou, a gente já tem 15 anos de banda. A gente tá super feliz, super unido, mas ao mesmo tempo, os nossos sonhos mudaram. Hoje é outra coisa, hoje é um trabalho, tem outras coisas que a gente pensa sobre a vida também, né? Acho que acaba que a temática passa muito por isso de maturidade. O que eu sou a partir de agora e também o que eu não posso ser a partir de agora.
TMDQA!: Vocês já marcaram presença em grandes palcos ao redor do globo, e a turnê deste atual projeto teve um pontapé mais do que especial no Lollapalooza Brasil, onde estivemos presentes e vimos vocês entregarem um show especial que emocionou fãs e amigos do grupo. O que podemos esperar das próximas apresentações marcadas pelo país?
Bruno Paschoal: A gente tá montando o show novo ainda! Fizemos o Lolla e tal, mas tinha só as duas músicas novas que a gente tinha lançado. Então, a gente vai preparar um show bem bonito, né? A gente precisa subir o show de patamar, precisa entregar uma coisa mais bonita. Tem várias datas sendo marcadas e cidades que estavam faltando. Então, acho que vocês podem esperar aí algo bem legal mesmo, algo bem completo que a gente vai vai estar entregando. [risos]
TMDQA!: Com tantas conquistas e glórias em uma trajetória tão respeitosa e cheia de música, vocês tem algum sonho/meta que ainda desejam atingir com a banda? E caso não tenham, conseguem pensar em alguma coisa que seria mágica?
Luis (Loobas): Tocar no Japão. [risos]
Ale Sater: Já que é pra falar em sonho, eu ia falar a mesma coisa! [risos]
Loobas: Sonhar é de graça!
TMDQA!: O que vocês têm ouvido que possa influenciar no processo criativo do grupo (ou então, que vocês só estejam viciados mesmo)?
Bruno Paschoal: Eu vou dar uma olhada nas minhas faixas curtidas!
Ale Sater: Eu tenho dado bastante chance para o shuffle do Spotify e acabando conhecendo muita coisa nova, velho! Tem essa artista aqui, Mrs. Ray… Acopia também que é muito legal! Elliot Smith de sempre, Simply Red que agora rolou o show…
Bruno Paschoal: Eu tô ouvindo bastante coisa mais antiga que eu já ouvia mesmo. The Amps, que é da Kim Deal (Breeders), Sparklehorse, Steely Dan e bastante coisa do shuffle, artistas que eu nem sei pronunciar o nome [risos] Mas tem sido uma época boa de música!
Luis (Loobas): Eu abri meus liked songs e nem consigo te falar de tão “salada” que tá o negócio, velho! [risos] Mas tem bastante coisa dos anos 80, hip-hop, rap nacional.. Um Racionais MC’s… Puta, muita coisa, cara.
Tem essas bandas desconhecidas que não sei nem falar o nome também, várias outras paradas. Uns rockzinho bom, várias coisas.
Greg Maya: Cara, eu tenho escutada uma banda meio nova da Austrália chamada Armlock! Tenho voltado a escutar Bloc Party, o filho do John Lennon (Sean Lennon), Placebo… E claro, o novo do terraplana! Várias coisas por aqui também.
TMDQA!: Normalmente, tenho o costume de finalizar minhas entrevistas com essa pergunta: considerando o nome do nosso veículo, vocês acreditam ter mais discos do que amigos? E se pudessem escolher um álbum para que as pessoas pudessem conhecer vocês (não necessariamente enquanto artistas), qual seria?
Bruno Paschoal: Olha, se for disco de vinil, eu não tenho quase nenhum. Mas CDs por outro lado… [risos] E cara, sobre a segunda pergunta, podem ir falando quem quiser, vou pensar aqui.
Ale Sater: Eu voltei a ouvir bastante Nick Drake! Por mim, pode ser o Five Leaves Left dele… Bem calmo, sereno.
E eu não tenho muitos discos também, mas sinto que tenho mais discos que amigos! Sou muito “pão duro” pra isso. [risos]
Bruno Paschoal: Pensei aqui, e por mim, pode ser o Figure 8 do Elliot Smith!
Greg Maya: Eu com certeza tenho mais álbuns que eu goste do que amigos! E pô, sobre a segunda pergunta.. Cara, não sei, eu sempre falo um disco que eu acho perfeito assim, que é o In Rainbows do Radiohead.
É um disco que eu ouvi quando saiu e fiquei piradão, acho bonito até hoje.
Luis (Loobas): Eu tenho mais discos que amigos, com certeza. E um disco que tenho ouvido bastante assim, que é um compilado na real, é o deluxe do Aeroplane Flies High do The Smashing Pumpkins!
TMDQA!: Muito obrigado pela conversa, galera! Espero que a gente se encontre logo logo. Aproveitem esse momento com o disco na boca da galera e vida longa pra banda!
Terno Rei: Obrigado, valeu! Te vemos nos shows!
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Música brasileira de primeira: MPB, Indie, Rock Nacional, Rap e mais: o melhor das bandas e artistas brasileiros na Playlist TMDQA! Brasil para você ouvir e conhecer agora mesmo. Siga o TMDQA! no Spotify!