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29 Apr 2025, Tue

PF prende suspeitos e afasta cúpula do instituto

Previdência Social INSS


Uma megaoperação deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União revelou um esquema de fraudes que desviou até R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social entre 2019 e 2024. Batizada de Operação Sem Desconto, a ação expôs uma rede complexa de corrupção envolvendo associações de fachada, servidores públicos e operadores financeiros que lucravam com descontos indevidos em benefícios previdenciários. O escândalo culminou na demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e no afastamento de outros cinco servidores de alto escalão, além da prisão de seis suspeitos ligados a entidades investigadas. A investigação, que mobilizou centenas de agentes em 13 estados e no Distrito Federal, trouxe à tona práticas como propinas, falsificação de documentos e uso de laranjas para viabilizar o esquema.

O impacto da fraude vai além dos números astronômicos. Milhares de aposentados, muitos em situação de vulnerabilidade, tiveram suas aposentadorias e pensões descontadas sem consentimento, com mensalidades repassadas a associações que, em grande parte, não possuíam estrutura para oferecer os serviços prometidos, como planos de saúde, assistência jurídica ou descontos em academias. A operação, iniciada após denúncias em 2023, revelou falhas graves nos controles internos do INSS, que permitiram a liberação de descontos em lote sem a devida autorização dos beneficiários. O caso gerou indignação pública e colocou em xeque a gestão do instituto, levantando debates sobre a necessidade de reformas estruturais para proteger os segurados.

A gravidade do esquema foi destacada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que classificou as fraudes como um ataque direto aos direitos de idosos e pensionistas. A operação resultou na suspensão de acordos com 51 entidades suspeitas e no bloqueio de mais de R$ 1 bilhão em bens dos investigados, incluindo carros de luxo, joias e dinheiro em espécie. Enquanto o governo promete devolver os valores cobrados indevidamente, a investigação segue em andamento, com a expectativa de novos desdobramentos que podem revelar ainda mais detalhes sobre a rede criminosa.

  • Principais pontos do escândalo:
    • Desvios estimados em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
    • Envolvimento de 11 entidades associativas suspeitas.
    • Afastamento de seis servidores, incluindo o presidente do INSS.
    • Prisão de seis suspeitos ligados a associações em Sergipe.
    • Apreensão de bens avaliados em mais de R$ 1 bilhão.

Estrutura da fraude: propinas e laranjas

O esquema desmantelado pela Polícia Federal operava com uma estrutura sofisticada, que combinava corrupção ativa e passiva, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro. Associações criadas com o único propósito de desviar recursos de aposentados e pensionistas cadastravam beneficiários sem autorização, utilizando assinaturas falsas para justificar descontos mensais em contracheques. Essas entidades, muitas vezes presididas por idosos, pessoas de baixa renda ou aposentados por incapacidade, funcionavam como fachadas para movimentar milhões de reais. Em Fortaleza, no Ceará, duas associações investigadas operaram no mesmo endereço por mais de quatro anos, compartilhando a mesma dirigente, Cecília Rodrigues Mota, que realizou 33 viagens internacionais em menos de um ano, incluindo destinos como Dubai e Paris.

A liberação de descontos em lote pelo INSS foi um dos fatores que facilitaram a explosão das fraudes. Diferentemente do procedimento padrão, que exige autorização individual de cada beneficiário, o instituto permitiu que entidades processassem milhares de descontos sem verificar a autenticidade das adesões. Servidores do INSS, incluindo membros da cúpula, teriam recebido propinas para fornecer dados cadastrais de aposentados e facilitar a inclusão dos descontos. A investigação também apontou o uso de empresas de fachada para lavar o dinheiro desviado, com transferências milionárias para contas de operadores financeiros e seus familiares.

A figura central do esquema, segundo a Polícia Federal, é Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”. Apontado como lobista, ele articulava repasses de valores para servidores e ex-servidores do instituto, além de movimentar recursos por meio de 21 empresas, 19 delas criadas a partir de 2022. Em menos de cinco meses, Antunes gastou R$ 14 milhões na compra de imóveis, incluindo uma casa de R$ 3 milhões no Lago Sul, em Brasília, e quatro propriedades adquiridas por uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas, avaliadas em R$ 11 milhões. A investigação revelou que ele repassou valores a pessoas próximas a servidores do INSS, incluindo Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do procurador-geral Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, e Eric Douglas Martins Fidelis, filho do ex-diretor André Paulo Félix Fidelis.

  • Como o esquema funcionava:
    • Associações cadastravam aposentados sem consentimento.
    • Descontos eram liberados em lote pelo INSS.
    • Propinas garantiam acesso a dados de beneficiários.
    • Empresas de fachada lavavam o dinheiro desviado.

Escala do prejuízo e impacto nos aposentados

A dimensão da fraude no INSS é impressionante. Entre 2019 e 2024, cerca de R$ 6,3 bilhões foram descontados de aposentados e pensionistas, grande parte sem autorização. Um relatório da Controladoria-Geral da União, baseado em entrevistas com 1.273 beneficiários, revelou que 97,6% deles não autorizaram os descontos, e 95,9% sequer sabiam que estavam filiados a alguma associação. Em muitos casos, aposentados foram associados a mais de uma entidade no mesmo dia, com erros idênticos nas fichas de adesão, indicando falsificações em massa.

As cidades com maior concentração de descontos indevidos incluem Fortaleza, São Paulo, Brasília e Aracaju. Em Sergipe, seis pessoas ligadas a entidades associativas foram presas preventivamente, mas os nomes não foram divulgados. A operação abrangeu 34 municípios em 13 estados, além do Distrito Federal, com o cumprimento de 211 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão temporária. Entre os itens apreendidos estão carros de luxo, como Ferraris e um Rolls-Royce avaliados em até R$ 15 milhões, joias e mais de US$ 200 mil em espécie.

O impacto sobre os aposentados é devastador. Muitos beneficiários, especialmente idosos em situação de vulnerabilidade, tiveram seus benefícios reduzidos por mensalidades que variavam de R$ 45 a R$ 77, sem receber nenhum serviço em troca. A falta de transparência nos processos do INSS permitiu que as fraudes passassem despercebidas por anos, enquanto as entidades investigadas acumulavam fortunas. O governo anunciou a suspensão de todos os descontos associativos e a criação de um grupo especial pela Advocacia-Geral da União para reparar os danos, mas a devolução dos valores ainda depende de um plano detalhado.

Ações da Polícia Federal e da Justiça

A Operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril de 2025, mobilizou cerca de 700 policiais federais e 80 servidores da Controladoria-Geral da União. A ação teve como objetivo desarticular a rede criminosa responsável pelos descontos indevidos e identificar o grau de envolvimento de cada suspeito. A Justiça Federal determinou o afastamento cautelar de seis servidores públicos, incluindo Alessandro Stefanutto, presidente do INSS, que foi demitido horas após a operação. Os outros afastados são Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, Giovani Batista Fassarella Spiecker, Vanderlei Barbosa dos Santos, Jacimar Fonseca da Silva e um policial federal lotado no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, acusado de prestar suporte ao grupo.

Além dos afastamentos, a Justiça autorizou o sequestro de bens no valor de mais de R$ 1 bilhão, uma medida que visa garantir a reparação dos prejuízos causados aos aposentados. A Polícia Federal abriu 12 inquéritos para investigar as fraudes, e a expectativa é que novas prisões e apreensões ocorram nos próximos meses. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que a operação é apenas o primeiro passo de uma investigação complexa, que deve trazer desdobramentos significativos. Ele destacou a importância de punir os responsáveis e reforçar os mecanismos de controle no INSS para evitar novos casos.

  • Medidas tomadas pela Justiça:
    • Afastamento de seis servidores públicos.
    • Sequestro de bens avaliados em mais de R$ 1 bilhão.
    • Cumprimento de 211 mandados de busca e apreensão.
    • Autorização de seis prisões temporárias.

Quem são os suspeitos envolvidos

O esquema de fraudes no INSS envolveu uma rede de suspeitos que inclui servidores públicos, operadores financeiros e dirigentes de associações. Alessandro Stefanutto, presidente do INSS desde julho de 2023, foi demitido após ser afastado pela Justiça. Filiado ao PDT e indicado pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, ele é acusado de autorizar descontos em lote, contrariando pareceres da Procuradoria Federal Especializada. Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador-geral do INSS, também foi afastado, e sua esposa, Thaisa Hoffmann Jonasson, recebeu valores milionários de empresas ligadas ao lobista Antonio Carlos Camilo Antunes.

Outros servidores afastados incluem Giovani Batista Fassarella Spiecker, coordenador-geral de Suporte ao Atendimento ao Cliente, Vanderlei Barbosa dos Santos, diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão, e Jacimar Fonseca da Silva, coordenador-geral de Pagamentos e Benefícios. Um policial federal, cuja identidade não foi revelada, é suspeito de fornecer suporte logístico ao grupo. Entre os operadores financeiros, destaca-se Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, que movimentou mais de R$ 24,5 milhões em cinco meses e repassou valores a pessoas próximas a servidores e ex-servidores do instituto.

A investigação também identificou ex-servidores com envolvimento no esquema, como Alexandre Guimarães, que atuou como diretor de Governança, Planejamento e Inovação no governo Bolsonaro, e Eric Douglas Martins Fidelis, filho do ex-diretor André Paulo Félix Fidelis. As 11 entidades associativas investigadas, como a Universo Associação de Aposentados e Pensionistas e a Confederação Nacional de Agricultores Familiares, são suspeitas de operar como fachadas para viabilizar os descontos. A Polícia Federal continua apurando a participação de cada suspeito, e os investigados podem responder por crimes como corrupção, falsificação de documentos, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Reação do governo e medidas de reparação

O governo federal reagiu rapidamente à operação, anunciando a suspensão de todos os descontos associativos na folha de pagamento do INSS. O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, defendeu a presunção de inocência dos investigados, mas reconheceu a gravidade do caso. Ele afirmou que a indicação de Alessandro Stefanutto foi de sua responsabilidade e destacou que o governo está comprometido em punir os responsáveis. O ministro da Controladoria-Geral da União, Vinicius Marques de Carvalho, anunciou a elaboração de um plano para devolver os valores cobrados indevidamente, mas ainda não há detalhes sobre o cronograma ou o formato da reparação.

A Advocacia-Geral da União criou um grupo especial para avaliar os danos causados aos aposentados e propor medidas de ressarcimento. A suspensão dos Acordos de Cooperação Técnica com 51 entidades investigadas foi outra medida imediata, visando interromper novos descontos. O governo também prometeu reforçar os mecanismos de controle e transparência no INSS, incluindo a revisão de todos os convênios com associações e a implementação de sistemas de autenticação mais rigorosos para autorizar descontos.

  • Ações anunciadas pelo governo:
    • Suspensão de descontos associativos na folha do INSS.
    • Criação de um grupo especial pela Advocacia-Geral da União.
    • Revisão de convênios com entidades associativas.
    • Elaboração de um plano de devolução dos valores.

Como os aposentados podem se proteger

A Polícia Federal orienta os aposentados e pensionistas a verificarem seus extratos de pagamento no site ou aplicativo Meu INSS, especialmente o campo de mensalidades associativas. Caso identifiquem descontos não autorizados, é possível solicitar a exclusão ou o bloqueio das cobranças por meio do serviço “excluir mensalidade associativa” ou pela Central 135. A consulta regular do contracheque é essencial para identificar irregularidades e evitar prejuízos.

Os beneficiários também podem entrar em contato com o 0800 indicado ao lado do nome da entidade no extracheque para solicitar o estorno de valores. A suspensão temporária de todos os descontos associativos, anunciada pelo governo, oferece uma camada adicional de proteção, mas os aposentados devem permanecer vigilantes. A Polícia Federal recomenda que os segurados evitem compartilhar dados pessoais com entidades desconhecidas e denunciem qualquer desconto suspeito às autoridades.

  • Dicas para aposentados:
    • Consulte o extrato no Meu INSS regularmente.
    • Solicite a exclusão de descontos não autorizados pelo aplicativo ou Central 135.
    • Desconfie de entidades que oferecem benefícios sem comprovação.
    • Denuncie irregularidades à Polícia Federal ou ao INSS.
INSS
INSS – Foto: Divulgação/INSS

Cronologia da investigação

A investigação que culminou na Operação Sem Desconto teve início em 2023, quando a Controladoria-Geral da União identificou um aumento significativo nas reclamações sobre descontos indevidos. Entre abril e julho de 2024, a CGU entrevistou 1.273 aposentados e pensionistas, constatando que a grande maioria não autorizou os descontos. A Polícia Federal foi acionada em 2024, após a CGU encontrar indícios de crimes, e abriu 12 inquéritos para apurar as fraudes.

  • Principais marcos da investigação:
    • 2023: Início da apuração pela CGU devido a reclamações.
    • Abril a julho de 2024: Entrevistas com beneficiários revelam irregularidades.
    • 2024: Polícia Federal assume o caso e abre 12 inquéritos.
    • 23 de abril de 2025: Deflagração da Operação Sem Desconto.
    • 24 de abril de 2025: Suspensão de descontos associativos pelo governo.

Impactos sociais e políticos do escândalo

O escândalo no INSS gerou uma onda de indignação entre aposentados e pensionistas, que se sentem traídos por um sistema que deveria protegê-los. Organizações de defesa dos direitos dos idosos, como a Confederação Nacional dos Aposentados e Pensionistas, cobraram punições exemplares e medidas urgentes para reparar os prejuízos. A operação também reacendeu o debate sobre a vulnerabilidade dos beneficiários do INSS, muitos dos quais dependem exclusivamente de suas aposentadorias para sobreviver.

No campo político, o caso colocou pressão sobre o governo Lula, que enfrenta críticas pela demora em identificar e combater as fraudes. A demissão de Alessandro Stefanutto, indicado por Carlos Lupi, aliado próximo do presidente, levantou questionamentos sobre a escolha de cargos técnicos em autarquias públicas. O PDT, partido de Stefanutto e Lupi, também enfrenta desgaste, com parlamentares da oposição cobrando explicações sobre a nomeação. O governo tenta conter a crise reforçando o discurso de combate à corrupção e prometendo transparência nas investigações.

A operação também destacou a necessidade de reformas no INSS para evitar novos casos de fraude. Especialistas apontam que a digitalização de processos, como a implementação de autenticação biométrica para autorizar descontos, poderia reduzir significantly os riscos. Além disso, a revisão dos Acordos de Cooperação Técnica com entidades associativas é vista como uma prioridade para garantir que apenas organizações legítimas tenham acesso aos dados dos beneficiários.

Desafios para o futuro do INSS

O escândalo expôs fragilidades estruturais no INSS que vão além das fraudes investigadas. A falta de controles rigorosos para autorizar descontos, aliada à permissividade na liberação de convênios com entidades, criou um ambiente propício para a atuação de grupos criminosos. A operação Sem Desconto, embora bem-sucedida em desarticular parte do esquema, é apenas o primeiro passo para enfrentar um problema que se arrasta há anos.

A modernização do INSS é um desafio urgente. A implementação de sistemas de autenticação mais seguros, como biometria e verificação em duas etapas, poderia dificultar a falsificação de adesões. Além disso, a capacitação de servidores e a criação de canais de denúncia acessíveis aos aposentados são medidas essenciais para fortalecer a confiança no instituto. O governo também enfrenta o desafio de dimensionar o tamanho da fraude e garantir a devolução dos valores aos beneficiários, uma tarefa que pode levar anos devido à complexidade do caso.

A operação também trouxe à tona a necessidade de maior transparência na gestão do INSS. A divulgação regular de relatórios sobre convênios e descontos, assim como a criação de um portal para que os aposentados acompanhem suas filiações, poderia aumentar a fiscalização popular e reduzir os riscos de fraudes. Enquanto as investigações continuam, o governo e o INSS têm a oportunidade de transformar o escândalo em um marco para a melhoria do sistema previdenciário, garantindo que os direitos dos aposentados sejam protegidos.

  • Medidas propostas para o INSS:
    • Implementação de autenticação biométrica para descontos.
    • Revisão de todos os convênios com entidades associativas.
    • Criação de canais de denúncia acessíveis aos beneficiários.
    • Divulgação de relatórios periódicos sobre descontos.



Uma megaoperação deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União revelou um esquema de fraudes que desviou até R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social entre 2019 e 2024. Batizada de Operação Sem Desconto, a ação expôs uma rede complexa de corrupção envolvendo associações de fachada, servidores públicos e operadores financeiros que lucravam com descontos indevidos em benefícios previdenciários. O escândalo culminou na demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e no afastamento de outros cinco servidores de alto escalão, além da prisão de seis suspeitos ligados a entidades investigadas. A investigação, que mobilizou centenas de agentes em 13 estados e no Distrito Federal, trouxe à tona práticas como propinas, falsificação de documentos e uso de laranjas para viabilizar o esquema.

O impacto da fraude vai além dos números astronômicos. Milhares de aposentados, muitos em situação de vulnerabilidade, tiveram suas aposentadorias e pensões descontadas sem consentimento, com mensalidades repassadas a associações que, em grande parte, não possuíam estrutura para oferecer os serviços prometidos, como planos de saúde, assistência jurídica ou descontos em academias. A operação, iniciada após denúncias em 2023, revelou falhas graves nos controles internos do INSS, que permitiram a liberação de descontos em lote sem a devida autorização dos beneficiários. O caso gerou indignação pública e colocou em xeque a gestão do instituto, levantando debates sobre a necessidade de reformas estruturais para proteger os segurados.

A gravidade do esquema foi destacada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que classificou as fraudes como um ataque direto aos direitos de idosos e pensionistas. A operação resultou na suspensão de acordos com 51 entidades suspeitas e no bloqueio de mais de R$ 1 bilhão em bens dos investigados, incluindo carros de luxo, joias e dinheiro em espécie. Enquanto o governo promete devolver os valores cobrados indevidamente, a investigação segue em andamento, com a expectativa de novos desdobramentos que podem revelar ainda mais detalhes sobre a rede criminosa.

  • Principais pontos do escândalo:
    • Desvios estimados em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
    • Envolvimento de 11 entidades associativas suspeitas.
    • Afastamento de seis servidores, incluindo o presidente do INSS.
    • Prisão de seis suspeitos ligados a associações em Sergipe.
    • Apreensão de bens avaliados em mais de R$ 1 bilhão.

Estrutura da fraude: propinas e laranjas

O esquema desmantelado pela Polícia Federal operava com uma estrutura sofisticada, que combinava corrupção ativa e passiva, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro. Associações criadas com o único propósito de desviar recursos de aposentados e pensionistas cadastravam beneficiários sem autorização, utilizando assinaturas falsas para justificar descontos mensais em contracheques. Essas entidades, muitas vezes presididas por idosos, pessoas de baixa renda ou aposentados por incapacidade, funcionavam como fachadas para movimentar milhões de reais. Em Fortaleza, no Ceará, duas associações investigadas operaram no mesmo endereço por mais de quatro anos, compartilhando a mesma dirigente, Cecília Rodrigues Mota, que realizou 33 viagens internacionais em menos de um ano, incluindo destinos como Dubai e Paris.

A liberação de descontos em lote pelo INSS foi um dos fatores que facilitaram a explosão das fraudes. Diferentemente do procedimento padrão, que exige autorização individual de cada beneficiário, o instituto permitiu que entidades processassem milhares de descontos sem verificar a autenticidade das adesões. Servidores do INSS, incluindo membros da cúpula, teriam recebido propinas para fornecer dados cadastrais de aposentados e facilitar a inclusão dos descontos. A investigação também apontou o uso de empresas de fachada para lavar o dinheiro desviado, com transferências milionárias para contas de operadores financeiros e seus familiares.

A figura central do esquema, segundo a Polícia Federal, é Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”. Apontado como lobista, ele articulava repasses de valores para servidores e ex-servidores do instituto, além de movimentar recursos por meio de 21 empresas, 19 delas criadas a partir de 2022. Em menos de cinco meses, Antunes gastou R$ 14 milhões na compra de imóveis, incluindo uma casa de R$ 3 milhões no Lago Sul, em Brasília, e quatro propriedades adquiridas por uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas, avaliadas em R$ 11 milhões. A investigação revelou que ele repassou valores a pessoas próximas a servidores do INSS, incluindo Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do procurador-geral Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, e Eric Douglas Martins Fidelis, filho do ex-diretor André Paulo Félix Fidelis.

  • Como o esquema funcionava:
    • Associações cadastravam aposentados sem consentimento.
    • Descontos eram liberados em lote pelo INSS.
    • Propinas garantiam acesso a dados de beneficiários.
    • Empresas de fachada lavavam o dinheiro desviado.

Escala do prejuízo e impacto nos aposentados

A dimensão da fraude no INSS é impressionante. Entre 2019 e 2024, cerca de R$ 6,3 bilhões foram descontados de aposentados e pensionistas, grande parte sem autorização. Um relatório da Controladoria-Geral da União, baseado em entrevistas com 1.273 beneficiários, revelou que 97,6% deles não autorizaram os descontos, e 95,9% sequer sabiam que estavam filiados a alguma associação. Em muitos casos, aposentados foram associados a mais de uma entidade no mesmo dia, com erros idênticos nas fichas de adesão, indicando falsificações em massa.

As cidades com maior concentração de descontos indevidos incluem Fortaleza, São Paulo, Brasília e Aracaju. Em Sergipe, seis pessoas ligadas a entidades associativas foram presas preventivamente, mas os nomes não foram divulgados. A operação abrangeu 34 municípios em 13 estados, além do Distrito Federal, com o cumprimento de 211 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão temporária. Entre os itens apreendidos estão carros de luxo, como Ferraris e um Rolls-Royce avaliados em até R$ 15 milhões, joias e mais de US$ 200 mil em espécie.

O impacto sobre os aposentados é devastador. Muitos beneficiários, especialmente idosos em situação de vulnerabilidade, tiveram seus benefícios reduzidos por mensalidades que variavam de R$ 45 a R$ 77, sem receber nenhum serviço em troca. A falta de transparência nos processos do INSS permitiu que as fraudes passassem despercebidas por anos, enquanto as entidades investigadas acumulavam fortunas. O governo anunciou a suspensão de todos os descontos associativos e a criação de um grupo especial pela Advocacia-Geral da União para reparar os danos, mas a devolução dos valores ainda depende de um plano detalhado.

Ações da Polícia Federal e da Justiça

A Operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril de 2025, mobilizou cerca de 700 policiais federais e 80 servidores da Controladoria-Geral da União. A ação teve como objetivo desarticular a rede criminosa responsável pelos descontos indevidos e identificar o grau de envolvimento de cada suspeito. A Justiça Federal determinou o afastamento cautelar de seis servidores públicos, incluindo Alessandro Stefanutto, presidente do INSS, que foi demitido horas após a operação. Os outros afastados são Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, Giovani Batista Fassarella Spiecker, Vanderlei Barbosa dos Santos, Jacimar Fonseca da Silva e um policial federal lotado no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, acusado de prestar suporte ao grupo.

Além dos afastamentos, a Justiça autorizou o sequestro de bens no valor de mais de R$ 1 bilhão, uma medida que visa garantir a reparação dos prejuízos causados aos aposentados. A Polícia Federal abriu 12 inquéritos para investigar as fraudes, e a expectativa é que novas prisões e apreensões ocorram nos próximos meses. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que a operação é apenas o primeiro passo de uma investigação complexa, que deve trazer desdobramentos significativos. Ele destacou a importância de punir os responsáveis e reforçar os mecanismos de controle no INSS para evitar novos casos.

  • Medidas tomadas pela Justiça:
    • Afastamento de seis servidores públicos.
    • Sequestro de bens avaliados em mais de R$ 1 bilhão.
    • Cumprimento de 211 mandados de busca e apreensão.
    • Autorização de seis prisões temporárias.

Quem são os suspeitos envolvidos

O esquema de fraudes no INSS envolveu uma rede de suspeitos que inclui servidores públicos, operadores financeiros e dirigentes de associações. Alessandro Stefanutto, presidente do INSS desde julho de 2023, foi demitido após ser afastado pela Justiça. Filiado ao PDT e indicado pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, ele é acusado de autorizar descontos em lote, contrariando pareceres da Procuradoria Federal Especializada. Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, procurador-geral do INSS, também foi afastado, e sua esposa, Thaisa Hoffmann Jonasson, recebeu valores milionários de empresas ligadas ao lobista Antonio Carlos Camilo Antunes.

Outros servidores afastados incluem Giovani Batista Fassarella Spiecker, coordenador-geral de Suporte ao Atendimento ao Cliente, Vanderlei Barbosa dos Santos, diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão, e Jacimar Fonseca da Silva, coordenador-geral de Pagamentos e Benefícios. Um policial federal, cuja identidade não foi revelada, é suspeito de fornecer suporte logístico ao grupo. Entre os operadores financeiros, destaca-se Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, que movimentou mais de R$ 24,5 milhões em cinco meses e repassou valores a pessoas próximas a servidores e ex-servidores do instituto.

A investigação também identificou ex-servidores com envolvimento no esquema, como Alexandre Guimarães, que atuou como diretor de Governança, Planejamento e Inovação no governo Bolsonaro, e Eric Douglas Martins Fidelis, filho do ex-diretor André Paulo Félix Fidelis. As 11 entidades associativas investigadas, como a Universo Associação de Aposentados e Pensionistas e a Confederação Nacional de Agricultores Familiares, são suspeitas de operar como fachadas para viabilizar os descontos. A Polícia Federal continua apurando a participação de cada suspeito, e os investigados podem responder por crimes como corrupção, falsificação de documentos, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Reação do governo e medidas de reparação

O governo federal reagiu rapidamente à operação, anunciando a suspensão de todos os descontos associativos na folha de pagamento do INSS. O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, defendeu a presunção de inocência dos investigados, mas reconheceu a gravidade do caso. Ele afirmou que a indicação de Alessandro Stefanutto foi de sua responsabilidade e destacou que o governo está comprometido em punir os responsáveis. O ministro da Controladoria-Geral da União, Vinicius Marques de Carvalho, anunciou a elaboração de um plano para devolver os valores cobrados indevidamente, mas ainda não há detalhes sobre o cronograma ou o formato da reparação.

A Advocacia-Geral da União criou um grupo especial para avaliar os danos causados aos aposentados e propor medidas de ressarcimento. A suspensão dos Acordos de Cooperação Técnica com 51 entidades investigadas foi outra medida imediata, visando interromper novos descontos. O governo também prometeu reforçar os mecanismos de controle e transparência no INSS, incluindo a revisão de todos os convênios com associações e a implementação de sistemas de autenticação mais rigorosos para autorizar descontos.

  • Ações anunciadas pelo governo:
    • Suspensão de descontos associativos na folha do INSS.
    • Criação de um grupo especial pela Advocacia-Geral da União.
    • Revisão de convênios com entidades associativas.
    • Elaboração de um plano de devolução dos valores.

Como os aposentados podem se proteger

A Polícia Federal orienta os aposentados e pensionistas a verificarem seus extratos de pagamento no site ou aplicativo Meu INSS, especialmente o campo de mensalidades associativas. Caso identifiquem descontos não autorizados, é possível solicitar a exclusão ou o bloqueio das cobranças por meio do serviço “excluir mensalidade associativa” ou pela Central 135. A consulta regular do contracheque é essencial para identificar irregularidades e evitar prejuízos.

Os beneficiários também podem entrar em contato com o 0800 indicado ao lado do nome da entidade no extracheque para solicitar o estorno de valores. A suspensão temporária de todos os descontos associativos, anunciada pelo governo, oferece uma camada adicional de proteção, mas os aposentados devem permanecer vigilantes. A Polícia Federal recomenda que os segurados evitem compartilhar dados pessoais com entidades desconhecidas e denunciem qualquer desconto suspeito às autoridades.

  • Dicas para aposentados:
    • Consulte o extrato no Meu INSS regularmente.
    • Solicite a exclusão de descontos não autorizados pelo aplicativo ou Central 135.
    • Desconfie de entidades que oferecem benefícios sem comprovação.
    • Denuncie irregularidades à Polícia Federal ou ao INSS.
INSS
INSS – Foto: Divulgação/INSS

Cronologia da investigação

A investigação que culminou na Operação Sem Desconto teve início em 2023, quando a Controladoria-Geral da União identificou um aumento significativo nas reclamações sobre descontos indevidos. Entre abril e julho de 2024, a CGU entrevistou 1.273 aposentados e pensionistas, constatando que a grande maioria não autorizou os descontos. A Polícia Federal foi acionada em 2024, após a CGU encontrar indícios de crimes, e abriu 12 inquéritos para apurar as fraudes.

  • Principais marcos da investigação:
    • 2023: Início da apuração pela CGU devido a reclamações.
    • Abril a julho de 2024: Entrevistas com beneficiários revelam irregularidades.
    • 2024: Polícia Federal assume o caso e abre 12 inquéritos.
    • 23 de abril de 2025: Deflagração da Operação Sem Desconto.
    • 24 de abril de 2025: Suspensão de descontos associativos pelo governo.

Impactos sociais e políticos do escândalo

O escândalo no INSS gerou uma onda de indignação entre aposentados e pensionistas, que se sentem traídos por um sistema que deveria protegê-los. Organizações de defesa dos direitos dos idosos, como a Confederação Nacional dos Aposentados e Pensionistas, cobraram punições exemplares e medidas urgentes para reparar os prejuízos. A operação também reacendeu o debate sobre a vulnerabilidade dos beneficiários do INSS, muitos dos quais dependem exclusivamente de suas aposentadorias para sobreviver.

No campo político, o caso colocou pressão sobre o governo Lula, que enfrenta críticas pela demora em identificar e combater as fraudes. A demissão de Alessandro Stefanutto, indicado por Carlos Lupi, aliado próximo do presidente, levantou questionamentos sobre a escolha de cargos técnicos em autarquias públicas. O PDT, partido de Stefanutto e Lupi, também enfrenta desgaste, com parlamentares da oposição cobrando explicações sobre a nomeação. O governo tenta conter a crise reforçando o discurso de combate à corrupção e prometendo transparência nas investigações.

A operação também destacou a necessidade de reformas no INSS para evitar novos casos de fraude. Especialistas apontam que a digitalização de processos, como a implementação de autenticação biométrica para autorizar descontos, poderia reduzir significantly os riscos. Além disso, a revisão dos Acordos de Cooperação Técnica com entidades associativas é vista como uma prioridade para garantir que apenas organizações legítimas tenham acesso aos dados dos beneficiários.

Desafios para o futuro do INSS

O escândalo expôs fragilidades estruturais no INSS que vão além das fraudes investigadas. A falta de controles rigorosos para autorizar descontos, aliada à permissividade na liberação de convênios com entidades, criou um ambiente propício para a atuação de grupos criminosos. A operação Sem Desconto, embora bem-sucedida em desarticular parte do esquema, é apenas o primeiro passo para enfrentar um problema que se arrasta há anos.

A modernização do INSS é um desafio urgente. A implementação de sistemas de autenticação mais seguros, como biometria e verificação em duas etapas, poderia dificultar a falsificação de adesões. Além disso, a capacitação de servidores e a criação de canais de denúncia acessíveis aos aposentados são medidas essenciais para fortalecer a confiança no instituto. O governo também enfrenta o desafio de dimensionar o tamanho da fraude e garantir a devolução dos valores aos beneficiários, uma tarefa que pode levar anos devido à complexidade do caso.

A operação também trouxe à tona a necessidade de maior transparência na gestão do INSS. A divulgação regular de relatórios sobre convênios e descontos, assim como a criação de um portal para que os aposentados acompanhem suas filiações, poderia aumentar a fiscalização popular e reduzir os riscos de fraudes. Enquanto as investigações continuam, o governo e o INSS têm a oportunidade de transformar o escândalo em um marco para a melhoria do sistema previdenciário, garantindo que os direitos dos aposentados sejam protegidos.

  • Medidas propostas para o INSS:
    • Implementação de autenticação biométrica para descontos.
    • Revisão de todos os convênios com entidades associativas.
    • Criação de canais de denúncia acessíveis aos beneficiários.
    • Divulgação de relatórios periódicos sobre descontos.



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