A manhã desta quarta-feira, 30 de abril de 2025, começou com transtornos para os moradores de Salvador. Por volta das 4h, as garagens de ônibus da Plataforma e OT Trans, localizadas na região de Pirajá, permaneceram fechadas, impedindo a saída de veículos que atendem a 69 linhas do transporte coletivo. A paralisação, organizada pelo Sindicato dos Rodoviários da Bahia, durou quatro horas e foi uma resposta direta à falta de avanços nas negociações salariais com a Integra Plataforma, concessionária responsável pelo sistema de transporte público da capital baiana. Os ônibus, que deveriam iniciar a circulação às 4h, só começaram a operar às 8h, causando atrasos significativos e obrigando a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) a implementar um plano de contingência para minimizar o impacto na população.
O protesto reflete a insatisfação da categoria com a ausência de um acordo após meses de reuniões com a concessionária. Os rodoviários reivindicam melhorias salariais e benefícios trabalhistas, mas enfrentam resistência da Integra, que alega dificuldades financeiras para atender às demandas. A paralisação de hoje não foi a primeira manifestação dos trabalhadores, que já realizaram ações semelhantes nos últimos anos, reacendendo o debate sobre a qualidade do transporte público em Salvador e a relação entre empresas, trabalhadores e poder público.
A situação expõe um problema recorrente no sistema de transporte coletivo da cidade, que atende cerca de 960 mil usuários diariamente, segundo dados da Semob. A falta de consenso entre o sindicato e a concessionária tem gerado tensões, com impactos diretos na mobilidade urbana e na rotina dos soteropolitanos, que dependem dos ônibus para trabalhar, estudar e realizar atividades essenciais.
Principais reivindicações dos rodoviários
Os rodoviários de Salvador apresentaram uma lista extensa de demandas, que, segundo a Integra Plataforma, inclui mais de 100 itens. Após várias rodadas de negociação, o sindicato reduziu a pauta, mas mantém pontos considerados inegociáveis. Entre as principais reivindicações estão:
- Reajuste salarial de 5% acima da inflação, para compensar perdas acumuladas e melhorar o poder de compra dos trabalhadores.
- Aumento de 15% no valor do ticket alimentação, visando adequar o benefício ao custo de vida atual.
- Melhoria nas condições de trabalho, incluindo a manutenção de cobradores nos veículos e a revisão do banco de horas extras.
- Pagamento imediato das horas extras, em vez da compensação com folgas, que pode se estender por até seis meses.
- Renovação da frota de ônibus, com veículos mais modernos e confortáveis para motoristas e passageiros.
Histórico de paralisações em Salvador
O transporte público de Salvador tem um histórico de paralisações e greves que remontam a pelo menos uma década. Nos últimos anos, os rodoviários intensificaram as mobilizações para pressionar por melhores condições de trabalho e salários mais justos. Em 2018, uma greve de 24 horas paralisou a cidade, afetando milhões de passageiros e gerando um caos generalizado no trânsito. Na ocasião, a categoria conseguiu um reajuste de 2,7%, mas as negociações foram marcadas por tensões semelhantes às de hoje.
Em 2023, os rodoviários realizaram 15 rodadas de negociações com as empresas, evitando uma greve geral, mas com atrasos pontuais nas saídas das garagens. O acordo final incluiu um reajuste de 4% no salário e no ticket alimentação, além de ajustes no banco de horas. Já em 2024, a Região Metropolitana de Salvador enfrentou uma paralisação de 24 horas em março, com 1,8 mil trabalhadores aderindo ao movimento e 300 ônibus parados. A greve foi suspensa após promessas de novas negociações, mas os resultados foram limitados.
Esses episódios mostram que as disputas entre rodoviários e empresas de transporte seguem um padrão: longas negociações, resistência das concessionárias em atender às demandas e mobilizações que afetam diretamente a população. A repetição desses conflitos levanta questões sobre a sustentabilidade do modelo de transporte público em Salvador e a necessidade de intervenções mais efetivas por parte do poder público.

Impacto na mobilidade urbana
A paralisação de quatro horas afetou diretamente 69 linhas que conectam bairros populosos, como Fazenda Grande do Retiro, Sussuarana, Tancredo Neves, Cabula e Pirajá, a pontos centrais da cidade, como a Lapa, Barra e Praça da Sé. Passageiros que dependem dessas linhas enfrentaram dificuldades para chegar ao trabalho ou cumprir compromissos. Muitos recorreram a transportes alternativos, como vans e aplicativos de mobilidade, o que elevou os custos de deslocamento em uma cidade onde o transporte público já é considerado caro por grande parte da população.
A Semob informou que o plano de contingência envolveu o remanejamento de ônibus de outras linhas para cobrir as rotas afetadas. No entanto, a medida não foi suficiente para evitar atrasos e superlotação em algumas regiões. Estudantes, trabalhadores do comércio e profissionais de saúde foram alguns dos mais impactados, com relatos de filas extensas nos pontos de ônibus e congestionamentos em vias importantes, como a Avenida Paralela e a região do Iguatemi.
A situação também reacendeu o debate sobre o aumento da tarifa de ônibus, que subiu recentemente, gerando insatisfação entre os usuários. Apesar do reajuste, os passageiros frequentemente reclamam da qualidade do serviço, com veículos lotados, atrasos constantes e frota envelhecida. A paralisação de hoje, embora breve, destacou a fragilidade do sistema e a dependência da população de um transporte público eficiente.
O que diz a Integra Plataforma
A concessionária Integra Plataforma divulgou uma nota oficial criticando a paralisação e classificando a atitude do sindicato como “ilegal e abusiva”. Segundo a empresa, as negociações estão travadas devido à falta de clareza nas reivindicações dos rodoviários e à ausência de uma proposta mais realista por parte do sindicato. A Integra alega que a pauta apresentada inclui demandas que elevariam os custos com pessoal em cerca de 50%, algo considerado inviável no atual cenário econômico.
A empresa destacou que realizou quatro reuniões com o sindicato, a mais recente na terça-feira, 29 de abril, mas não houve avanços. A Integra também argumentou que o sistema de transporte público enfrenta dificuldades financeiras, agravadas pela integração com o metrô, que reduz a arrecadação das empresas de ônibus. De acordo com a concessionária, a tarifa de R$ 3,70 gera um repasse de apenas R$ 1,46 por passageiro para as empresas, o que compromete a capacidade de investimento e o atendimento às demandas trabalhistas.
Reivindicações detalhadas dos rodoviários
Além do reajuste salarial e do aumento no ticket alimentação, os rodoviários apresentaram outras demandas que refletem as condições desafiadoras do trabalho no setor. Entre os pontos destacados estão:
- Preservação dos postos de cobradores, ameaçados pela automação do pagamento de passagens.
- Melhoria na segurança dos motoristas, com medidas para reduzir assaltos e agressões nos ônibus.
- Revisão do sistema de integração com o metrô, que, segundo o sindicato, prejudica financeiramente os trabalhadores.
- Ampliação do plano de saúde, com cobertura mais abrangente para motoristas e suas famílias.
- Redução da jornada de trabalho, que muitas vezes excede as oito horas diárias devido a horas extras obrigatórias.
Contexto econômico e desafios do setor
O transporte público em Salvador opera em um contexto de desafios financeiros e estruturais. A integração com o metrô, embora benéfica para os passageiros, reduziu significativamente a receita das empresas de ônibus. Dos 28 milhões de passagens esperadas mensalmente, apenas 21,8 milhões são efetivamente pagas, segundo dados históricos do setor. Além disso, a crise econômica, o aumento do transporte clandestino e as gratuidades para categorias como idosos e policiais contribuem para o déficit financeiro.
As empresas também enfrentam custos elevados com manutenção de frota, combustíveis e encargos trabalhistas. A Integra Plataforma argumenta que atender às demandas dos rodoviários exigiria um aumento na tarifa de ônibus ou subsídios públicos, opções que enfrentam resistência tanto dos usuários quanto do poder público. A prefeitura, por sua vez, tem mantido a posição de não aumentar a tarifa, apesar das pressões do setor.
Os rodoviários, no entanto, afirmam que os trabalhadores não podem arcar com as consequências de um sistema mal gerido. Muitos motoristas e cobradores relatam salários defasados, jornadas exaustivas e condições precárias, como ônibus sem ar-condicionado e com manutenção inadequada. A tensão entre as partes reflete um problema maior: a necessidade de um modelo de transporte público mais sustentável e equitativo.
Reações da população e do poder público
A paralisação gerou reações mistas entre os soteropolitanos. Enquanto alguns passageiros apoiam as reivindicações dos rodoviários, reconhecendo a importância de melhores condições de trabalho, outros expressaram frustração com os transtornos causados. Nas redes sociais, usuários compartilharam relatos de atrasos no trabalho e dificuldades para acessar serviços essenciais, como consultas médicas.
A Semob informou que está monitorando a situação e trabalhando para garantir a normalização do serviço. A secretaria também destacou que o plano de contingência será mantido enquanto houver risco de novas paralisações. A prefeitura, por meio do prefeito Bruno Reis, afirmou que busca mediar o conflito, mas reforçou que as negociações são de responsabilidade das empresas e do sindicato.
Perspectivas para as próximas negociações
As próximas semanas serão decisivas para o desfecho do impasse. O sindicato anunciou que novas reuniões estão previstas, com mediação da Superintendência Regional do Trabalho (SRTE-BA) e do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). A expectativa é que as partes cheguem a um consenso antes que uma greve geral seja decretada, o que poderia paralisar completamente o transporte público em Salvador.
O histórico de negociações sugere que um acordo é possível, mas exigirá concessões de ambos os lados. Em 2023, por exemplo, os rodoviários aceitaram um reajuste de 4,2% após longas discussões, mas a insatisfação com as condições de trabalho permaneceu. Para evitar uma paralisação prolongada, será necessário que a Integra apresente uma proposta mais atrativa e que o sindicato priorize os pontos mais urgentes da pauta.
Medidas para minimizar impactos futuros
Para evitar que paralisações como a de hoje se repitam, algumas medidas poderiam ser adotadas pelo poder público, empresas e sindicato. Entre as sugestões levantadas por especialistas em mobilidade urbana estão:
- Criação de um fundo de subsídio para o transporte público, financiado por fontes como impostos sobre combustíveis ou taxas de estacionamento.
- Modernização da frota, com veículos mais eficientes e confortáveis, reduzindo custos operacionais e melhorando a experiência dos usuários.
- Diálogo permanente entre sindicato, empresas e prefeitura, com a criação de uma mesa de negociação contínua.
- Fiscalização rigorosa do transporte clandestino, que compete diretamente com o sistema formal e reduz a arrecadação das empresas.
- Campanhas de conscientização para valorizar o trabalho dos rodoviários e engajar a população na busca por um transporte público de qualidade.
Cronograma das negociações e próximos passos
O processo de negociação entre rodoviários e Integra Plataforma segue um cronograma que pode determinar o futuro do transporte público em Salvador. As datas previstas incluem:
- 5 de maio de 2025: Nova reunião com mediação da SRTE-BA para discutir a pauta reduzida do sindicato.
- 10 de maio de 2025: Assembleia geral dos rodoviários para avaliar a proposta das empresas e decidir sobre uma possível greve.
- 15 de maio de 2025: Prazo final para um acordo, segundo o sindicato, antes de uma paralisação por tempo indeterminado.
- 20 de maio de 2025: Audiência no TRT, caso as negociações não avancem, para definir os rumos do dissídio coletivo.
A visão dos trabalhadores
Os rodoviários de Salvador enfrentam condições de trabalho desafiadoras, que vão além da questão salarial. Motoristas relatam jornadas longas, pressão para cumprir horários apertados e exposição a riscos, como assaltos e acidentes. A categoria também destaca a importância dos cobradores, cuja função tem sido ameaçada pela automação. Para muitos trabalhadores, a luta por melhores condições é uma questão de dignidade e sobrevivência.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Hélio Ferreira, reforçou que a paralisação de hoje foi um alerta para as empresas e o poder público. Segundo ele, a categoria está disposta a negociar, mas não aceitará propostas que ignorem as necessidades básicas dos trabalhadores. Ferreira também criticou a Integra por não apresentar alternativas viáveis e por adotar uma postura rígida nas negociações.
O papel da integração com o metrô
A integração entre ônibus e metrô, implementada em Salvador para facilitar a mobilidade, tem sido apontada como um dos principais desafios financeiros do sistema. Embora beneficie os passageiros, que pagam uma única tarifa para usar os dois modais, a divisão da receita prejudica as empresas de ônibus. Dos R$ 3,70 cobrados por passagem, apenas R$ 1,46 são repassados às concessionárias, o que limita os recursos para manutenção, salários e investimentos.
O sindicato argumenta que os trabalhadores não deveriam pagar o preço por um modelo que privilegia o metrô em detrimento dos ônibus. Já a Integra defende que a integração é essencial para a cidade, mas exige ajustes para garantir a sustentabilidade do sistema. Especialistas sugerem que a prefeitura e o governo do estado poderiam aumentar os subsídios ou revisar o modelo de repartição da tarifa para equilibrar as finanças do setor.
Impactos econômicos e sociais
A paralisação de hoje teve reflexos não apenas na mobilidade, mas também na economia local. O comércio, que depende do fluxo de consumidores, registrou queda no movimento em áreas centrais, como a Lapa e o Campo Grande. Pequenos negócios, como lanchonetes e lojas de rua, também foram afetados, já que muitos trabalhadores não conseguiram chegar a tempo para abrir os estabelecimentos.
Além disso, a paralisação expôs as desigualdades no acesso ao transporte em Salvador. Moradores de bairros periféricos, como Cajazeiras e Sussuarana, que dependem exclusivamente dos ônibus, foram os mais prejudicados. A situação reforça a necessidade de políticas públicas que garantam um transporte acessível e eficiente para todos os cidadãos.
Alternativas para os passageiros
Enquanto as negociações não avançam, os passageiros precisam buscar alternativas para lidar com possíveis paralisações futuras. Algumas opções incluem:
- Uso de aplicativos de carona compartilhada, como Uber e 99, embora os custos sejam mais elevados.
- Adoção de bicicletas ou patinetes elétricos para deslocamentos curtos, especialmente em áreas centrais.
- Planejamento de horários alternativos, saindo mais cedo para evitar atrasos.
- Utilização do metrô, que não foi afetado pela paralisação, para rotas que incluem estações de integração.
- Organização de caronas solidárias entre vizinhos e colegas de trabalho.
O futuro do transporte público em Salvador
O impasse entre rodoviários e Integra Plataforma é apenas um capítulo de uma crise mais ampla no transporte público de Salvador. A cidade precisa de soluções estruturais para garantir um sistema eficiente, acessível e justo para trabalhadores e passageiros. A modernização da frota, a ampliação de subsídios e a melhoria na gestão do sistema são passos essenciais para evitar novos conflitos e melhorar a qualidade do serviço.
A paralisação de hoje, embora breve, serviu como um lembrete da importância do diálogo entre todas as partes envolvidas. Enquanto o sindicato pressiona por melhores condições, a Integra busca equilibrar as finanças, e a prefeitura tenta minimizar os impactos, a população segue à espera de um transporte público que atenda às suas necessidades. As próximas negociações serão cruciais para definir o rumo do sistema e evitar transtornos ainda maiores no futuro.

A manhã desta quarta-feira, 30 de abril de 2025, começou com transtornos para os moradores de Salvador. Por volta das 4h, as garagens de ônibus da Plataforma e OT Trans, localizadas na região de Pirajá, permaneceram fechadas, impedindo a saída de veículos que atendem a 69 linhas do transporte coletivo. A paralisação, organizada pelo Sindicato dos Rodoviários da Bahia, durou quatro horas e foi uma resposta direta à falta de avanços nas negociações salariais com a Integra Plataforma, concessionária responsável pelo sistema de transporte público da capital baiana. Os ônibus, que deveriam iniciar a circulação às 4h, só começaram a operar às 8h, causando atrasos significativos e obrigando a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) a implementar um plano de contingência para minimizar o impacto na população.
O protesto reflete a insatisfação da categoria com a ausência de um acordo após meses de reuniões com a concessionária. Os rodoviários reivindicam melhorias salariais e benefícios trabalhistas, mas enfrentam resistência da Integra, que alega dificuldades financeiras para atender às demandas. A paralisação de hoje não foi a primeira manifestação dos trabalhadores, que já realizaram ações semelhantes nos últimos anos, reacendendo o debate sobre a qualidade do transporte público em Salvador e a relação entre empresas, trabalhadores e poder público.
A situação expõe um problema recorrente no sistema de transporte coletivo da cidade, que atende cerca de 960 mil usuários diariamente, segundo dados da Semob. A falta de consenso entre o sindicato e a concessionária tem gerado tensões, com impactos diretos na mobilidade urbana e na rotina dos soteropolitanos, que dependem dos ônibus para trabalhar, estudar e realizar atividades essenciais.
Principais reivindicações dos rodoviários
Os rodoviários de Salvador apresentaram uma lista extensa de demandas, que, segundo a Integra Plataforma, inclui mais de 100 itens. Após várias rodadas de negociação, o sindicato reduziu a pauta, mas mantém pontos considerados inegociáveis. Entre as principais reivindicações estão:
- Reajuste salarial de 5% acima da inflação, para compensar perdas acumuladas e melhorar o poder de compra dos trabalhadores.
- Aumento de 15% no valor do ticket alimentação, visando adequar o benefício ao custo de vida atual.
- Melhoria nas condições de trabalho, incluindo a manutenção de cobradores nos veículos e a revisão do banco de horas extras.
- Pagamento imediato das horas extras, em vez da compensação com folgas, que pode se estender por até seis meses.
- Renovação da frota de ônibus, com veículos mais modernos e confortáveis para motoristas e passageiros.
Histórico de paralisações em Salvador
O transporte público de Salvador tem um histórico de paralisações e greves que remontam a pelo menos uma década. Nos últimos anos, os rodoviários intensificaram as mobilizações para pressionar por melhores condições de trabalho e salários mais justos. Em 2018, uma greve de 24 horas paralisou a cidade, afetando milhões de passageiros e gerando um caos generalizado no trânsito. Na ocasião, a categoria conseguiu um reajuste de 2,7%, mas as negociações foram marcadas por tensões semelhantes às de hoje.
Em 2023, os rodoviários realizaram 15 rodadas de negociações com as empresas, evitando uma greve geral, mas com atrasos pontuais nas saídas das garagens. O acordo final incluiu um reajuste de 4% no salário e no ticket alimentação, além de ajustes no banco de horas. Já em 2024, a Região Metropolitana de Salvador enfrentou uma paralisação de 24 horas em março, com 1,8 mil trabalhadores aderindo ao movimento e 300 ônibus parados. A greve foi suspensa após promessas de novas negociações, mas os resultados foram limitados.
Esses episódios mostram que as disputas entre rodoviários e empresas de transporte seguem um padrão: longas negociações, resistência das concessionárias em atender às demandas e mobilizações que afetam diretamente a população. A repetição desses conflitos levanta questões sobre a sustentabilidade do modelo de transporte público em Salvador e a necessidade de intervenções mais efetivas por parte do poder público.

Impacto na mobilidade urbana
A paralisação de quatro horas afetou diretamente 69 linhas que conectam bairros populosos, como Fazenda Grande do Retiro, Sussuarana, Tancredo Neves, Cabula e Pirajá, a pontos centrais da cidade, como a Lapa, Barra e Praça da Sé. Passageiros que dependem dessas linhas enfrentaram dificuldades para chegar ao trabalho ou cumprir compromissos. Muitos recorreram a transportes alternativos, como vans e aplicativos de mobilidade, o que elevou os custos de deslocamento em uma cidade onde o transporte público já é considerado caro por grande parte da população.
A Semob informou que o plano de contingência envolveu o remanejamento de ônibus de outras linhas para cobrir as rotas afetadas. No entanto, a medida não foi suficiente para evitar atrasos e superlotação em algumas regiões. Estudantes, trabalhadores do comércio e profissionais de saúde foram alguns dos mais impactados, com relatos de filas extensas nos pontos de ônibus e congestionamentos em vias importantes, como a Avenida Paralela e a região do Iguatemi.
A situação também reacendeu o debate sobre o aumento da tarifa de ônibus, que subiu recentemente, gerando insatisfação entre os usuários. Apesar do reajuste, os passageiros frequentemente reclamam da qualidade do serviço, com veículos lotados, atrasos constantes e frota envelhecida. A paralisação de hoje, embora breve, destacou a fragilidade do sistema e a dependência da população de um transporte público eficiente.
O que diz a Integra Plataforma
A concessionária Integra Plataforma divulgou uma nota oficial criticando a paralisação e classificando a atitude do sindicato como “ilegal e abusiva”. Segundo a empresa, as negociações estão travadas devido à falta de clareza nas reivindicações dos rodoviários e à ausência de uma proposta mais realista por parte do sindicato. A Integra alega que a pauta apresentada inclui demandas que elevariam os custos com pessoal em cerca de 50%, algo considerado inviável no atual cenário econômico.
A empresa destacou que realizou quatro reuniões com o sindicato, a mais recente na terça-feira, 29 de abril, mas não houve avanços. A Integra também argumentou que o sistema de transporte público enfrenta dificuldades financeiras, agravadas pela integração com o metrô, que reduz a arrecadação das empresas de ônibus. De acordo com a concessionária, a tarifa de R$ 3,70 gera um repasse de apenas R$ 1,46 por passageiro para as empresas, o que compromete a capacidade de investimento e o atendimento às demandas trabalhistas.
Reivindicações detalhadas dos rodoviários
Além do reajuste salarial e do aumento no ticket alimentação, os rodoviários apresentaram outras demandas que refletem as condições desafiadoras do trabalho no setor. Entre os pontos destacados estão:
- Preservação dos postos de cobradores, ameaçados pela automação do pagamento de passagens.
- Melhoria na segurança dos motoristas, com medidas para reduzir assaltos e agressões nos ônibus.
- Revisão do sistema de integração com o metrô, que, segundo o sindicato, prejudica financeiramente os trabalhadores.
- Ampliação do plano de saúde, com cobertura mais abrangente para motoristas e suas famílias.
- Redução da jornada de trabalho, que muitas vezes excede as oito horas diárias devido a horas extras obrigatórias.
Contexto econômico e desafios do setor
O transporte público em Salvador opera em um contexto de desafios financeiros e estruturais. A integração com o metrô, embora benéfica para os passageiros, reduziu significativamente a receita das empresas de ônibus. Dos 28 milhões de passagens esperadas mensalmente, apenas 21,8 milhões são efetivamente pagas, segundo dados históricos do setor. Além disso, a crise econômica, o aumento do transporte clandestino e as gratuidades para categorias como idosos e policiais contribuem para o déficit financeiro.
As empresas também enfrentam custos elevados com manutenção de frota, combustíveis e encargos trabalhistas. A Integra Plataforma argumenta que atender às demandas dos rodoviários exigiria um aumento na tarifa de ônibus ou subsídios públicos, opções que enfrentam resistência tanto dos usuários quanto do poder público. A prefeitura, por sua vez, tem mantido a posição de não aumentar a tarifa, apesar das pressões do setor.
Os rodoviários, no entanto, afirmam que os trabalhadores não podem arcar com as consequências de um sistema mal gerido. Muitos motoristas e cobradores relatam salários defasados, jornadas exaustivas e condições precárias, como ônibus sem ar-condicionado e com manutenção inadequada. A tensão entre as partes reflete um problema maior: a necessidade de um modelo de transporte público mais sustentável e equitativo.
Reações da população e do poder público
A paralisação gerou reações mistas entre os soteropolitanos. Enquanto alguns passageiros apoiam as reivindicações dos rodoviários, reconhecendo a importância de melhores condições de trabalho, outros expressaram frustração com os transtornos causados. Nas redes sociais, usuários compartilharam relatos de atrasos no trabalho e dificuldades para acessar serviços essenciais, como consultas médicas.
A Semob informou que está monitorando a situação e trabalhando para garantir a normalização do serviço. A secretaria também destacou que o plano de contingência será mantido enquanto houver risco de novas paralisações. A prefeitura, por meio do prefeito Bruno Reis, afirmou que busca mediar o conflito, mas reforçou que as negociações são de responsabilidade das empresas e do sindicato.
Perspectivas para as próximas negociações
As próximas semanas serão decisivas para o desfecho do impasse. O sindicato anunciou que novas reuniões estão previstas, com mediação da Superintendência Regional do Trabalho (SRTE-BA) e do Tribunal Regional do Trabalho (TRT). A expectativa é que as partes cheguem a um consenso antes que uma greve geral seja decretada, o que poderia paralisar completamente o transporte público em Salvador.
O histórico de negociações sugere que um acordo é possível, mas exigirá concessões de ambos os lados. Em 2023, por exemplo, os rodoviários aceitaram um reajuste de 4,2% após longas discussões, mas a insatisfação com as condições de trabalho permaneceu. Para evitar uma paralisação prolongada, será necessário que a Integra apresente uma proposta mais atrativa e que o sindicato priorize os pontos mais urgentes da pauta.
Medidas para minimizar impactos futuros
Para evitar que paralisações como a de hoje se repitam, algumas medidas poderiam ser adotadas pelo poder público, empresas e sindicato. Entre as sugestões levantadas por especialistas em mobilidade urbana estão:
- Criação de um fundo de subsídio para o transporte público, financiado por fontes como impostos sobre combustíveis ou taxas de estacionamento.
- Modernização da frota, com veículos mais eficientes e confortáveis, reduzindo custos operacionais e melhorando a experiência dos usuários.
- Diálogo permanente entre sindicato, empresas e prefeitura, com a criação de uma mesa de negociação contínua.
- Fiscalização rigorosa do transporte clandestino, que compete diretamente com o sistema formal e reduz a arrecadação das empresas.
- Campanhas de conscientização para valorizar o trabalho dos rodoviários e engajar a população na busca por um transporte público de qualidade.
Cronograma das negociações e próximos passos
O processo de negociação entre rodoviários e Integra Plataforma segue um cronograma que pode determinar o futuro do transporte público em Salvador. As datas previstas incluem:
- 5 de maio de 2025: Nova reunião com mediação da SRTE-BA para discutir a pauta reduzida do sindicato.
- 10 de maio de 2025: Assembleia geral dos rodoviários para avaliar a proposta das empresas e decidir sobre uma possível greve.
- 15 de maio de 2025: Prazo final para um acordo, segundo o sindicato, antes de uma paralisação por tempo indeterminado.
- 20 de maio de 2025: Audiência no TRT, caso as negociações não avancem, para definir os rumos do dissídio coletivo.
A visão dos trabalhadores
Os rodoviários de Salvador enfrentam condições de trabalho desafiadoras, que vão além da questão salarial. Motoristas relatam jornadas longas, pressão para cumprir horários apertados e exposição a riscos, como assaltos e acidentes. A categoria também destaca a importância dos cobradores, cuja função tem sido ameaçada pela automação. Para muitos trabalhadores, a luta por melhores condições é uma questão de dignidade e sobrevivência.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários, Hélio Ferreira, reforçou que a paralisação de hoje foi um alerta para as empresas e o poder público. Segundo ele, a categoria está disposta a negociar, mas não aceitará propostas que ignorem as necessidades básicas dos trabalhadores. Ferreira também criticou a Integra por não apresentar alternativas viáveis e por adotar uma postura rígida nas negociações.
O papel da integração com o metrô
A integração entre ônibus e metrô, implementada em Salvador para facilitar a mobilidade, tem sido apontada como um dos principais desafios financeiros do sistema. Embora beneficie os passageiros, que pagam uma única tarifa para usar os dois modais, a divisão da receita prejudica as empresas de ônibus. Dos R$ 3,70 cobrados por passagem, apenas R$ 1,46 são repassados às concessionárias, o que limita os recursos para manutenção, salários e investimentos.
O sindicato argumenta que os trabalhadores não deveriam pagar o preço por um modelo que privilegia o metrô em detrimento dos ônibus. Já a Integra defende que a integração é essencial para a cidade, mas exige ajustes para garantir a sustentabilidade do sistema. Especialistas sugerem que a prefeitura e o governo do estado poderiam aumentar os subsídios ou revisar o modelo de repartição da tarifa para equilibrar as finanças do setor.
Impactos econômicos e sociais
A paralisação de hoje teve reflexos não apenas na mobilidade, mas também na economia local. O comércio, que depende do fluxo de consumidores, registrou queda no movimento em áreas centrais, como a Lapa e o Campo Grande. Pequenos negócios, como lanchonetes e lojas de rua, também foram afetados, já que muitos trabalhadores não conseguiram chegar a tempo para abrir os estabelecimentos.
Além disso, a paralisação expôs as desigualdades no acesso ao transporte em Salvador. Moradores de bairros periféricos, como Cajazeiras e Sussuarana, que dependem exclusivamente dos ônibus, foram os mais prejudicados. A situação reforça a necessidade de políticas públicas que garantam um transporte acessível e eficiente para todos os cidadãos.
Alternativas para os passageiros
Enquanto as negociações não avançam, os passageiros precisam buscar alternativas para lidar com possíveis paralisações futuras. Algumas opções incluem:
- Uso de aplicativos de carona compartilhada, como Uber e 99, embora os custos sejam mais elevados.
- Adoção de bicicletas ou patinetes elétricos para deslocamentos curtos, especialmente em áreas centrais.
- Planejamento de horários alternativos, saindo mais cedo para evitar atrasos.
- Utilização do metrô, que não foi afetado pela paralisação, para rotas que incluem estações de integração.
- Organização de caronas solidárias entre vizinhos e colegas de trabalho.
O futuro do transporte público em Salvador
O impasse entre rodoviários e Integra Plataforma é apenas um capítulo de uma crise mais ampla no transporte público de Salvador. A cidade precisa de soluções estruturais para garantir um sistema eficiente, acessível e justo para trabalhadores e passageiros. A modernização da frota, a ampliação de subsídios e a melhoria na gestão do sistema são passos essenciais para evitar novos conflitos e melhorar a qualidade do serviço.
A paralisação de hoje, embora breve, serviu como um lembrete da importância do diálogo entre todas as partes envolvidas. Enquanto o sindicato pressiona por melhores condições, a Integra busca equilibrar as finanças, e a prefeitura tenta minimizar os impactos, a população segue à espera de um transporte público que atenda às suas necessidades. As próximas negociações serão cruciais para definir o rumo do sistema e evitar transtornos ainda maiores no futuro.
