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30 Apr 2025, Wed

Salário mínimo de R$ 1.518 em 2025 não cobre custo de vida e desafia trabalhadores brasileiros

Salário mínimo


O salário mínimo nacional em 2025 foi fixado em R$ 1.518, representando um aumento de 7,5% em relação aos R$ 1.412 de 2024. Esse reajuste, que entrou em vigor em 1º de janeiro, trouxe um acréscimo de R$ 106 ao bolso dos trabalhadores, mas está longe de atender às necessidades básicas de uma família brasileira. Com a inflação pressionando preços de alimentos, moradia e transporte, o valor atual cobre apenas uma fração do custo de vida real, forçando milhões de pessoas a cortarem gastos essenciais ou buscarem fontes alternativas de renda. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que o salário mínimo ideal para suprir despesas com alimentação, moradia, saúde, educação, transporte, lazer, vestuário, higiene e previdência social deveria ser superior a R$ 7.000, revelando um abismo entre o piso nacional e a realidade econômica do país.

Embora o aumento tenha sido celebrado por alguns como um passo na direção de melhorar o poder de compra, especialistas apontam que o reajuste não acompanha o ritmo do encarecimento dos bens e serviços. O cálculo do novo valor considerou a inflação de 2024, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que fechou em 4,84%, somada a um ganho real de 2,5%, conforme a nova política de valorização do salário mínimo. Essa fórmula, sancionada em dezembro de 2024, limita o crescimento real do piso a no máximo 2,5% até 2030, o que restringe aumentos mais expressivos. Para trabalhadores que dependem exclusivamente do mínimo, o impacto do reajuste é rapidamente diluído pelos descontos obrigatórios e pelo custo de vida elevado, especialmente em grandes centros urbanos.

O impacto do salário mínimo vai além dos trabalhadores formais. Aposentados, pensionistas e beneficiários de programas sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), também têm seus rendimentos atrelados ao piso nacional. Com isso, o reajuste de 7,5% beneficia diretamente cerca de 59 milhões de brasileiros, segundo estimativas do Dieese. No entanto, o valor líquido recebido pelos trabalhadores é significativamente menor devido a descontos como a contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que para quem recebe um salário mínimo é de 7,5%, equivalente a R$ 113,85. Assim, o salário líquido fica em torno de R$ 1.404,15, sem considerar outros abatimentos, como vale-transporte ou empréstimos consignados.

  • Principais impactos do salário mínimo de R$ 1.518:
    • Aumento de R$ 106 em relação a 2024, pago a partir de fevereiro de 2025.
    • Beneficia trabalhadores formais, aposentados e beneficiários de programas sociais.
    • Desconto do INSS reduz o valor líquido para cerca de R$ 1.404,15.
    • Não acompanha o custo de vida, que exige um salário mínimo superior a R$ 7.000, segundo o Dieese.

Como o salário mínimo é calculado

A definição do salário mínimo em 2025 seguiu uma metodologia estabelecida pela Lei nº 14.663/2023, que combina a inflação acumulada no ano anterior, medida pelo INPC, com um ganho real baseado no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Para o cálculo deste ano, a inflação considerada foi de 4,84%, e o crescimento do PIB de 2023, que foi de 3,2%, foi limitado a 2,5%, conforme a nova regra aprovada pelo Congresso Nacional. Essa limitação foi introduzida como parte de um pacote fiscal para controlar os gastos públicos, já que o salário mínimo impacta diretamente benefícios previdenciários e assistenciais, como aposentadorias e o BPC.

A política de valorização do salário mínimo, retomada em 2023 pelo governo federal, busca garantir que o piso nacional não perca poder de compra diante da inflação. No entanto, a introdução do teto de 2,5% para o ganho real gerou críticas entre especialistas e sindicatos, que argumentam que a medida restringe avanços mais significativos. Em anos anteriores, o cálculo considerava integralmente o crescimento do PIB, o que poderia resultar em aumentos maiores. Por exemplo, se a regra antiga fosse aplicada, o salário mínimo de 2025 poderia ter incorporado os 3,2% de crescimento do PIB de 2023, resultando em um valor ligeiramente superior.

A escolha do INPC como índice de referência é justificada por sua capacidade de refletir a variação de preços para famílias de baixa renda, que são as mais afetadas pelo salário mínimo. Diferentemente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que abrange uma faixa mais ampla de consumidores, o INPC foca em famílias com renda de até cinco salários mínimos, tornando-o mais adequado para o cálculo do piso nacional. Apesar disso, o reajuste de 7,5% não foi suficiente para cobrir o aumento real dos custos de bens e serviços, especialmente em áreas como alimentação e moradia, que têm pesado cada vez mais no orçamento das famílias.

  • Fatores considerados no cálculo do salário mínimo:
    • Inflação de 2024, medida pelo INPC (4,84%).
    • Crescimento do PIB de 2023, limitado a 2,5%.
    • Política de valorização do salário mínimo, sancionada em 2023.
    • Teto de ganho real de 2,5% até 2030, aprovado em 2024.
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rafastockbr/shutterstock.com

O impacto dos descontos no salário líquido

Receber o salário mínimo de R$ 1.518 não significa ter esse valor integral disponível para despesas. Os descontos obrigatórios, como a contribuição ao INSS, reduzem significativamente o montante que chega ao bolso do trabalhador. Para quem ganha um salário mínimo, a alíquota do INSS é de 7,5%, o que equivale a R$ 113,85 por mês. Assim, o valor líquido fica em aproximadamente R$ 1.404,15, desde que não haja outros abatimentos, como vale-transporte (que pode descontar até 6% do salário bruto) ou empréstimos consignados, comuns entre trabalhadores de baixa renda.

Além do INSS, outros descontos podem variar conforme a situação do trabalhador. Por exemplo, quem utiliza vale-transporte pode ter até R$ 91,08 deduzidos do salário, considerando o limite de 6%. Empregados que recebem benefícios como vale-refeição ou plano de saúde também podem enfrentar reduções adicionais, dependendo das políticas da empresa. Para trabalhadores autônomos ou contribuintes individuais, a contribuição ao INSS é ainda mais complexa, com alíquotas que podem chegar a 20% sobre o salário mínimo, exigindo maior planejamento financeiro.

O impacto desses descontos é particularmente sentido em grandes cidades, onde o custo de vida é mais elevado. Em São Paulo, por exemplo, o aluguel de um imóvel de 45 m² com um quarto custa entre R$ 1.700 e R$ 1.870, segundo o Índice de Aluguel Quinto Andar Imovelweb de dezembro de 2024. Isso significa que o salário líquido de um trabalhador que ganha o mínimo não é suficiente nem para cobrir o aluguel, obrigando muitas famílias a dividirem moradia ou optarem por áreas periféricas com infraestrutura precária.

A isenção do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) para quem ganha até R$ 2.824,65 é um alívio, mas não compensa a pressão do custo de vida. Trabalhadores que recebem dois salários mínimos (R$ 3.036) enfrentam uma alíquota de INSS de 12%, o que reduz o salário líquido para cerca de R$ 2.778,27, ainda insuficiente para cobrir despesas básicas em regiões metropolitanas. A combinação de descontos e custos elevados reforça a percepção de que o salário mínimo atual está desconectado da realidade econômica.

O que o salário mínimo deveria cobrir

A Constituição Brasileira estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para atender às necessidades básicas de um trabalhador e sua família, incluindo moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. No entanto, o valor de R$ 1.518 está muito abaixo do necessário para cumprir esse objetivo. Segundo cálculos do Dieese, o salário mínimo ideal em janeiro de 2025 deveria ser de R$ 7.156,15, considerando uma família de quatro pessoas (dois adultos e duas crianças, com as crianças consumindo o equivalente a um adulto).

O cálculo do Dieese leva em conta o custo da cesta básica de alimentos, que serve como base para estimar os gastos com alimentação. A partir disso, são adicionados os custos de outros itens essenciais, com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por exemplo, a alimentação representa cerca de 30% do orçamento familiar, enquanto moradia e transporte consomem parcelas significativas do restante. Em cidades como São Paulo, onde a cesta básica custa em média R$ 800, o salário mínimo cobre apenas uma fração das despesas com alimentação, deixando pouco espaço para outros gastos.

A discrepância entre o salário mínimo atual e o ideal reflete os desafios econômicos do Brasil. Embora aumentar o piso nacional para valores próximos a R$ 7.000 seja desejável, especialistas alertam que isso poderia gerar impactos negativos, como o aumento da informalidade no mercado de trabalho e a pressão sobre as finanças públicas. Cerca de 40% dos gastos previdenciários do governo estão atrelados ao salário mínimo, o que significa que um aumento expressivo elevaria significativamente os custos com aposentadorias e benefícios assistenciais.

  • Necessidades que o salário mínimo deveria cobrir, segundo a Constituição:
    • Alimentação: Cesta básica para uma família de quatro pessoas.
    • Moradia: Aluguel e contas de água, luz e gás.
    • Saúde: Consultas, medicamentos e planos de saúde.
    • Educação: Material escolar e mensalidades.
    • Transporte: Passagens de ônibus ou combustível.
    • Lazer: Ativ vividoes culturais e recreativas.
    • Vestuário, higiene e previdência social.

Salários mínimos regionais: uma alternativa viável?

Alguns estados brasileiros adotam salários mínimos regionais, que superam o piso nacional para se adequar ao custo de vida local. Em São Paulo, o salário mínimo regional é de R$ 1.640, reajustado em 5,8% em 2024, mas sem previsão de aumento para 2025. No Paraná, o piso varia entre R$ 1.984 e R$ 2.275, dependendo da ocupação, com um reajuste de 6,8% aplicado em janeiro de 2025. Já o Rio de Janeiro mantém um piso regional dividido em seis faixas, que vai de R$ 1.655,46 a R$ 3.158,96, mas não atualiza esses valores desde 2019, o que reduz sua efetividade.

Os salários mínimos regionais são autorizados pela Lei Complementar nº 103/2000, que permite aos estados estabelecer pisos superiores ao nacional para categorias não cobertas por acordos coletivos. Essa medida visa compensar o custo de vida mais alto em estados com economias mais dinâmicas, como São Paulo e Paraná. Por exemplo, em São Paulo, o aluguel médio de um imóvel pequeno já consome mais de 100% do salário mínimo nacional, enquanto o piso regional oferece um pequeno alívio, embora ainda insuficiente.

Apesar dos benefícios, os pisos regionais enfrentam críticas. Empresas com atuação nacional argumentam que a variação entre estados aumenta os custos operacionais e cria desigualdades salariais. Além disso, a falta de atualizações regulares, como no caso do Rio de Janeiro, faz com que os pisos regionais percam relevância com o tempo. Sindicatos defendem que os pisos regionais deveriam ser mais altos e atualizados anualmente, mas isso exige negociações complexas entre governos estaduais, empregadores e trabalhadores.

  • Estados com salários mínimos regionais em 2025:
    • São Paulo: R$ 1.640, sem reajuste previsto.
    • Paraná: R$ 1.984 a R$ 2.275, com reajuste de 6,8%.
    • Rio de Janeiro: R$ 1.655,46 a R$ 3.158,96, sem atualização desde 2019.
    • Rio Grande do Sul: R$ 1.656,52 a R$ 2.099,27, com reajuste de 5,25%.
    • Santa Catarina: Valores variam por categoria, definidos por acordos coletivos.

Os desafios de viver com o salário mínimo

Viver com o salário mínimo em 2025 é um desafio diário para milhões de brasileiros. Em grandes centros urbanos, onde os custos com moradia, transporte e alimentação são mais altos, o valor de R$ 1.518 é rapidamente consumido. Por exemplo, em São Paulo, o custo médio da cesta básica em 2024 foi de R$ 800, e os preços de itens como arroz, feijão e carne subiram acima da inflação. Isso significa que uma família de quatro pessoas gasta quase todo o salário mínimo apenas com alimentação, deixando pouco para outras despesas.

O transporte público também pesa no orçamento. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o preço da passagem de ônibus está em torno de R$ 5, e trabalhadores que precisam fazer duas ou três viagens diárias gastam cerca de R$ 300 por mês, equivalente a 20% do salário líquido. Para quem mora em periferias, onde o acesso ao transporte é limitado, os custos podem ser ainda maiores, incluindo gastos com aplicativos de transporte ou combustível.

A saúde é outra área crítica. Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) ofereça atendimento gratuito, a demora por consultas e exames leva muitos trabalhadores a recorrerem a clínicas particulares ou a comprarem medicamentos por conta própria. Um único remédio para pressão arterial, por exemplo, pode custar entre R$ 30 e R$ 50 por mês, consumindo uma parte significativa do orçamento. Educação e lazer, previstos na Constituição como direitos básicos, tornam-se praticamente inacessíveis para quem vive com o mínimo.

A busca por fontes alternativas de renda é uma realidade para muitos. Trabalhos informais, como vendas de produtos caseiros, serviços de limpeza ou motoristas por aplicativo, são comuns entre trabalhadores que recebem o salário mínimo. No entanto, essas atividades muitas vezes não oferecem estabilidade ou benefícios, como férias ou aposentadoria, perpetuando um ciclo de precariedade.

Impactos na economia e na sociedade

O salário mínimo não afeta apenas os trabalhadores, mas também a economia como um todo. Como cerca de 59 milhões de brasileiros têm rendimentos atrelados ao piso, o reajuste de 7,5% injeta bilhões de reais na economia, estimulando o consumo de bens e serviços. Pequenos comércios, como padarias, mercados e lojas de roupas, tendem a se beneficiar, já que as famílias de baixa renda destinam a maior parte de sua renda ao consumo imediato.

Por outro lado, o aumento do salário mínimo eleva os custos para empresas, especialmente em setores que dependem de mão de obra intensiva, como varejo e construção civil. Para pequenas e médias empresas, o reajuste pode significar dificuldades para manter funcionários ou investir em expansão. Algumas optam por reduzir contratações formais, o que contribui para o crescimento da informalidade, que já atinge cerca de 40% da força de trabalho no Brasil.

Os gastos públicos também são impactados. Como o salário mínimo está vinculado a benefícios previdenciários e assistenciais, cada aumento eleva as despesas do governo. Em 2025, o reajuste de R$ 106 deve custar cerca de R$ 40 bilhões aos cofres públicos, segundo estimativas do Ministério da Fazenda. Para equilibrar as contas, o governo introduziu o teto de 2,5% para o ganho real, mas isso não elimina a pressão sobre o orçamento federal.

A desigualdade social é outro aspecto influenciado pelo salário mínimo. Embora o reajuste melhore a renda de milhões de trabalhadores, ele não reduz significativamente a distância entre os mais pobres e os mais ricos. O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo, e o salário mínimo, mesmo com aumentos anuais, não é suficiente para promover uma distribuição de renda mais justa.

  • Impactos econômicos do salário mínimo:
    • Injeção de bilhões de reais na economia por meio do consumo.
    • Aumento dos custos para empresas, especialmente pequenas e médias.
    • Crescimento dos gastos públicos com benefícios atrelados ao mínimo.
    • Manutenção da desigualdade social devido à limitação do reajuste.

Perspectivas para o futuro

O governo federal já sinalizou que o salário mínimo continuará a ser reajustado anualmente, com uma proposta de R$ 1.630 para 2026, o que representaria um aumento de 7,38%. Essa previsão, enviada ao Congresso Nacional em abril de 2025, mantém a política de correção pela inflação mais um ganho real de até 2,5%. Embora a medida garanta a preservação do poder de compra, ela não resolve o problema estrutural do salário mínimo, que permanece muito abaixo do necessário para uma vida digna.

Sindicatos e movimentos sociais defendem a adoção de um salário mínimo mais próximo do calculado pelo Dieese, mas reconhecem que isso exigiria mudanças profundas na economia brasileira. Aumentar a produtividade, investir em educação e reduzir a informalidade são passos essenciais para que o país possa sustentar um piso salarial mais alto. Enquanto isso, os trabalhadores que dependem do mínimo continuarão enfrentando dificuldades para pagar contas e garantir o básico.

Os pisos regionais, embora sejam uma solução parcial, poderiam ser expandidos para outros estados, desde que acompanhados de políticas públicas que apoiem as empresas. Incentivos fiscais e programas de capacitação profissional são algumas das medidas sugeridas por economistas para equilibrar os custos do aumento salarial. Além disso, o fortalecimento do SUS e do transporte público poderia reduzir os gastos das famílias, aliviando a pressão sobre o salário mínimo.

  • Propostas para o futuro do salário mínimo:
    • Reajuste para R$ 1.630 em 2026, com aumento de 7,38%.
    • Expansão dos pisos regionais com apoio às empresas.
    • Investimentos em produtividade e redução da informalidade.
    • Fortalecimento de serviços públicos para aliviar o orçamento familiar.

Calendário de pagamento do salário mínimo em 2025

O pagamento do salário mínimo de R$ 1.518 começou em fevereiro de 2025, referente ao trabalho realizado em janeiro. Para trabalhadores formais, o depósito ocorre conforme o calendário da empresa, geralmente até o quinto dia útil do mês seguinte. Aposentados e pensionistas do INSS seguem um calendário específico, que varia conforme o número final do cartão de benefício.

  • Cronograma de pagamento do INSS em 2025:
    • Benefícios de um salário mínimo: 27 de janeiro a 7 de fevereiro.
    • Benefícios acima do mínimo: 3 a 7 de fevereiro.
    • Consulta disponível pelo site Meu INSS ou pelo telefone 135.



O salário mínimo nacional em 2025 foi fixado em R$ 1.518, representando um aumento de 7,5% em relação aos R$ 1.412 de 2024. Esse reajuste, que entrou em vigor em 1º de janeiro, trouxe um acréscimo de R$ 106 ao bolso dos trabalhadores, mas está longe de atender às necessidades básicas de uma família brasileira. Com a inflação pressionando preços de alimentos, moradia e transporte, o valor atual cobre apenas uma fração do custo de vida real, forçando milhões de pessoas a cortarem gastos essenciais ou buscarem fontes alternativas de renda. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que o salário mínimo ideal para suprir despesas com alimentação, moradia, saúde, educação, transporte, lazer, vestuário, higiene e previdência social deveria ser superior a R$ 7.000, revelando um abismo entre o piso nacional e a realidade econômica do país.

Embora o aumento tenha sido celebrado por alguns como um passo na direção de melhorar o poder de compra, especialistas apontam que o reajuste não acompanha o ritmo do encarecimento dos bens e serviços. O cálculo do novo valor considerou a inflação de 2024, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que fechou em 4,84%, somada a um ganho real de 2,5%, conforme a nova política de valorização do salário mínimo. Essa fórmula, sancionada em dezembro de 2024, limita o crescimento real do piso a no máximo 2,5% até 2030, o que restringe aumentos mais expressivos. Para trabalhadores que dependem exclusivamente do mínimo, o impacto do reajuste é rapidamente diluído pelos descontos obrigatórios e pelo custo de vida elevado, especialmente em grandes centros urbanos.

O impacto do salário mínimo vai além dos trabalhadores formais. Aposentados, pensionistas e beneficiários de programas sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), também têm seus rendimentos atrelados ao piso nacional. Com isso, o reajuste de 7,5% beneficia diretamente cerca de 59 milhões de brasileiros, segundo estimativas do Dieese. No entanto, o valor líquido recebido pelos trabalhadores é significativamente menor devido a descontos como a contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que para quem recebe um salário mínimo é de 7,5%, equivalente a R$ 113,85. Assim, o salário líquido fica em torno de R$ 1.404,15, sem considerar outros abatimentos, como vale-transporte ou empréstimos consignados.

  • Principais impactos do salário mínimo de R$ 1.518:
    • Aumento de R$ 106 em relação a 2024, pago a partir de fevereiro de 2025.
    • Beneficia trabalhadores formais, aposentados e beneficiários de programas sociais.
    • Desconto do INSS reduz o valor líquido para cerca de R$ 1.404,15.
    • Não acompanha o custo de vida, que exige um salário mínimo superior a R$ 7.000, segundo o Dieese.

Como o salário mínimo é calculado

A definição do salário mínimo em 2025 seguiu uma metodologia estabelecida pela Lei nº 14.663/2023, que combina a inflação acumulada no ano anterior, medida pelo INPC, com um ganho real baseado no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Para o cálculo deste ano, a inflação considerada foi de 4,84%, e o crescimento do PIB de 2023, que foi de 3,2%, foi limitado a 2,5%, conforme a nova regra aprovada pelo Congresso Nacional. Essa limitação foi introduzida como parte de um pacote fiscal para controlar os gastos públicos, já que o salário mínimo impacta diretamente benefícios previdenciários e assistenciais, como aposentadorias e o BPC.

A política de valorização do salário mínimo, retomada em 2023 pelo governo federal, busca garantir que o piso nacional não perca poder de compra diante da inflação. No entanto, a introdução do teto de 2,5% para o ganho real gerou críticas entre especialistas e sindicatos, que argumentam que a medida restringe avanços mais significativos. Em anos anteriores, o cálculo considerava integralmente o crescimento do PIB, o que poderia resultar em aumentos maiores. Por exemplo, se a regra antiga fosse aplicada, o salário mínimo de 2025 poderia ter incorporado os 3,2% de crescimento do PIB de 2023, resultando em um valor ligeiramente superior.

A escolha do INPC como índice de referência é justificada por sua capacidade de refletir a variação de preços para famílias de baixa renda, que são as mais afetadas pelo salário mínimo. Diferentemente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que abrange uma faixa mais ampla de consumidores, o INPC foca em famílias com renda de até cinco salários mínimos, tornando-o mais adequado para o cálculo do piso nacional. Apesar disso, o reajuste de 7,5% não foi suficiente para cobrir o aumento real dos custos de bens e serviços, especialmente em áreas como alimentação e moradia, que têm pesado cada vez mais no orçamento das famílias.

  • Fatores considerados no cálculo do salário mínimo:
    • Inflação de 2024, medida pelo INPC (4,84%).
    • Crescimento do PIB de 2023, limitado a 2,5%.
    • Política de valorização do salário mínimo, sancionada em 2023.
    • Teto de ganho real de 2,5% até 2030, aprovado em 2024.
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O impacto dos descontos no salário líquido

Receber o salário mínimo de R$ 1.518 não significa ter esse valor integral disponível para despesas. Os descontos obrigatórios, como a contribuição ao INSS, reduzem significativamente o montante que chega ao bolso do trabalhador. Para quem ganha um salário mínimo, a alíquota do INSS é de 7,5%, o que equivale a R$ 113,85 por mês. Assim, o valor líquido fica em aproximadamente R$ 1.404,15, desde que não haja outros abatimentos, como vale-transporte (que pode descontar até 6% do salário bruto) ou empréstimos consignados, comuns entre trabalhadores de baixa renda.

Além do INSS, outros descontos podem variar conforme a situação do trabalhador. Por exemplo, quem utiliza vale-transporte pode ter até R$ 91,08 deduzidos do salário, considerando o limite de 6%. Empregados que recebem benefícios como vale-refeição ou plano de saúde também podem enfrentar reduções adicionais, dependendo das políticas da empresa. Para trabalhadores autônomos ou contribuintes individuais, a contribuição ao INSS é ainda mais complexa, com alíquotas que podem chegar a 20% sobre o salário mínimo, exigindo maior planejamento financeiro.

O impacto desses descontos é particularmente sentido em grandes cidades, onde o custo de vida é mais elevado. Em São Paulo, por exemplo, o aluguel de um imóvel de 45 m² com um quarto custa entre R$ 1.700 e R$ 1.870, segundo o Índice de Aluguel Quinto Andar Imovelweb de dezembro de 2024. Isso significa que o salário líquido de um trabalhador que ganha o mínimo não é suficiente nem para cobrir o aluguel, obrigando muitas famílias a dividirem moradia ou optarem por áreas periféricas com infraestrutura precária.

A isenção do Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) para quem ganha até R$ 2.824,65 é um alívio, mas não compensa a pressão do custo de vida. Trabalhadores que recebem dois salários mínimos (R$ 3.036) enfrentam uma alíquota de INSS de 12%, o que reduz o salário líquido para cerca de R$ 2.778,27, ainda insuficiente para cobrir despesas básicas em regiões metropolitanas. A combinação de descontos e custos elevados reforça a percepção de que o salário mínimo atual está desconectado da realidade econômica.

O que o salário mínimo deveria cobrir

A Constituição Brasileira estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para atender às necessidades básicas de um trabalhador e sua família, incluindo moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social. No entanto, o valor de R$ 1.518 está muito abaixo do necessário para cumprir esse objetivo. Segundo cálculos do Dieese, o salário mínimo ideal em janeiro de 2025 deveria ser de R$ 7.156,15, considerando uma família de quatro pessoas (dois adultos e duas crianças, com as crianças consumindo o equivalente a um adulto).

O cálculo do Dieese leva em conta o custo da cesta básica de alimentos, que serve como base para estimar os gastos com alimentação. A partir disso, são adicionados os custos de outros itens essenciais, com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por exemplo, a alimentação representa cerca de 30% do orçamento familiar, enquanto moradia e transporte consomem parcelas significativas do restante. Em cidades como São Paulo, onde a cesta básica custa em média R$ 800, o salário mínimo cobre apenas uma fração das despesas com alimentação, deixando pouco espaço para outros gastos.

A discrepância entre o salário mínimo atual e o ideal reflete os desafios econômicos do Brasil. Embora aumentar o piso nacional para valores próximos a R$ 7.000 seja desejável, especialistas alertam que isso poderia gerar impactos negativos, como o aumento da informalidade no mercado de trabalho e a pressão sobre as finanças públicas. Cerca de 40% dos gastos previdenciários do governo estão atrelados ao salário mínimo, o que significa que um aumento expressivo elevaria significativamente os custos com aposentadorias e benefícios assistenciais.

  • Necessidades que o salário mínimo deveria cobrir, segundo a Constituição:
    • Alimentação: Cesta básica para uma família de quatro pessoas.
    • Moradia: Aluguel e contas de água, luz e gás.
    • Saúde: Consultas, medicamentos e planos de saúde.
    • Educação: Material escolar e mensalidades.
    • Transporte: Passagens de ônibus ou combustível.
    • Lazer: Ativ vividoes culturais e recreativas.
    • Vestuário, higiene e previdência social.

Salários mínimos regionais: uma alternativa viável?

Alguns estados brasileiros adotam salários mínimos regionais, que superam o piso nacional para se adequar ao custo de vida local. Em São Paulo, o salário mínimo regional é de R$ 1.640, reajustado em 5,8% em 2024, mas sem previsão de aumento para 2025. No Paraná, o piso varia entre R$ 1.984 e R$ 2.275, dependendo da ocupação, com um reajuste de 6,8% aplicado em janeiro de 2025. Já o Rio de Janeiro mantém um piso regional dividido em seis faixas, que vai de R$ 1.655,46 a R$ 3.158,96, mas não atualiza esses valores desde 2019, o que reduz sua efetividade.

Os salários mínimos regionais são autorizados pela Lei Complementar nº 103/2000, que permite aos estados estabelecer pisos superiores ao nacional para categorias não cobertas por acordos coletivos. Essa medida visa compensar o custo de vida mais alto em estados com economias mais dinâmicas, como São Paulo e Paraná. Por exemplo, em São Paulo, o aluguel médio de um imóvel pequeno já consome mais de 100% do salário mínimo nacional, enquanto o piso regional oferece um pequeno alívio, embora ainda insuficiente.

Apesar dos benefícios, os pisos regionais enfrentam críticas. Empresas com atuação nacional argumentam que a variação entre estados aumenta os custos operacionais e cria desigualdades salariais. Além disso, a falta de atualizações regulares, como no caso do Rio de Janeiro, faz com que os pisos regionais percam relevância com o tempo. Sindicatos defendem que os pisos regionais deveriam ser mais altos e atualizados anualmente, mas isso exige negociações complexas entre governos estaduais, empregadores e trabalhadores.

  • Estados com salários mínimos regionais em 2025:
    • São Paulo: R$ 1.640, sem reajuste previsto.
    • Paraná: R$ 1.984 a R$ 2.275, com reajuste de 6,8%.
    • Rio de Janeiro: R$ 1.655,46 a R$ 3.158,96, sem atualização desde 2019.
    • Rio Grande do Sul: R$ 1.656,52 a R$ 2.099,27, com reajuste de 5,25%.
    • Santa Catarina: Valores variam por categoria, definidos por acordos coletivos.

Os desafios de viver com o salário mínimo

Viver com o salário mínimo em 2025 é um desafio diário para milhões de brasileiros. Em grandes centros urbanos, onde os custos com moradia, transporte e alimentação são mais altos, o valor de R$ 1.518 é rapidamente consumido. Por exemplo, em São Paulo, o custo médio da cesta básica em 2024 foi de R$ 800, e os preços de itens como arroz, feijão e carne subiram acima da inflação. Isso significa que uma família de quatro pessoas gasta quase todo o salário mínimo apenas com alimentação, deixando pouco para outras despesas.

O transporte público também pesa no orçamento. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o preço da passagem de ônibus está em torno de R$ 5, e trabalhadores que precisam fazer duas ou três viagens diárias gastam cerca de R$ 300 por mês, equivalente a 20% do salário líquido. Para quem mora em periferias, onde o acesso ao transporte é limitado, os custos podem ser ainda maiores, incluindo gastos com aplicativos de transporte ou combustível.

A saúde é outra área crítica. Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) ofereça atendimento gratuito, a demora por consultas e exames leva muitos trabalhadores a recorrerem a clínicas particulares ou a comprarem medicamentos por conta própria. Um único remédio para pressão arterial, por exemplo, pode custar entre R$ 30 e R$ 50 por mês, consumindo uma parte significativa do orçamento. Educação e lazer, previstos na Constituição como direitos básicos, tornam-se praticamente inacessíveis para quem vive com o mínimo.

A busca por fontes alternativas de renda é uma realidade para muitos. Trabalhos informais, como vendas de produtos caseiros, serviços de limpeza ou motoristas por aplicativo, são comuns entre trabalhadores que recebem o salário mínimo. No entanto, essas atividades muitas vezes não oferecem estabilidade ou benefícios, como férias ou aposentadoria, perpetuando um ciclo de precariedade.

Impactos na economia e na sociedade

O salário mínimo não afeta apenas os trabalhadores, mas também a economia como um todo. Como cerca de 59 milhões de brasileiros têm rendimentos atrelados ao piso, o reajuste de 7,5% injeta bilhões de reais na economia, estimulando o consumo de bens e serviços. Pequenos comércios, como padarias, mercados e lojas de roupas, tendem a se beneficiar, já que as famílias de baixa renda destinam a maior parte de sua renda ao consumo imediato.

Por outro lado, o aumento do salário mínimo eleva os custos para empresas, especialmente em setores que dependem de mão de obra intensiva, como varejo e construção civil. Para pequenas e médias empresas, o reajuste pode significar dificuldades para manter funcionários ou investir em expansão. Algumas optam por reduzir contratações formais, o que contribui para o crescimento da informalidade, que já atinge cerca de 40% da força de trabalho no Brasil.

Os gastos públicos também são impactados. Como o salário mínimo está vinculado a benefícios previdenciários e assistenciais, cada aumento eleva as despesas do governo. Em 2025, o reajuste de R$ 106 deve custar cerca de R$ 40 bilhões aos cofres públicos, segundo estimativas do Ministério da Fazenda. Para equilibrar as contas, o governo introduziu o teto de 2,5% para o ganho real, mas isso não elimina a pressão sobre o orçamento federal.

A desigualdade social é outro aspecto influenciado pelo salário mínimo. Embora o reajuste melhore a renda de milhões de trabalhadores, ele não reduz significativamente a distância entre os mais pobres e os mais ricos. O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo, e o salário mínimo, mesmo com aumentos anuais, não é suficiente para promover uma distribuição de renda mais justa.

  • Impactos econômicos do salário mínimo:
    • Injeção de bilhões de reais na economia por meio do consumo.
    • Aumento dos custos para empresas, especialmente pequenas e médias.
    • Crescimento dos gastos públicos com benefícios atrelados ao mínimo.
    • Manutenção da desigualdade social devido à limitação do reajuste.

Perspectivas para o futuro

O governo federal já sinalizou que o salário mínimo continuará a ser reajustado anualmente, com uma proposta de R$ 1.630 para 2026, o que representaria um aumento de 7,38%. Essa previsão, enviada ao Congresso Nacional em abril de 2025, mantém a política de correção pela inflação mais um ganho real de até 2,5%. Embora a medida garanta a preservação do poder de compra, ela não resolve o problema estrutural do salário mínimo, que permanece muito abaixo do necessário para uma vida digna.

Sindicatos e movimentos sociais defendem a adoção de um salário mínimo mais próximo do calculado pelo Dieese, mas reconhecem que isso exigiria mudanças profundas na economia brasileira. Aumentar a produtividade, investir em educação e reduzir a informalidade são passos essenciais para que o país possa sustentar um piso salarial mais alto. Enquanto isso, os trabalhadores que dependem do mínimo continuarão enfrentando dificuldades para pagar contas e garantir o básico.

Os pisos regionais, embora sejam uma solução parcial, poderiam ser expandidos para outros estados, desde que acompanhados de políticas públicas que apoiem as empresas. Incentivos fiscais e programas de capacitação profissional são algumas das medidas sugeridas por economistas para equilibrar os custos do aumento salarial. Além disso, o fortalecimento do SUS e do transporte público poderia reduzir os gastos das famílias, aliviando a pressão sobre o salário mínimo.

  • Propostas para o futuro do salário mínimo:
    • Reajuste para R$ 1.630 em 2026, com aumento de 7,38%.
    • Expansão dos pisos regionais com apoio às empresas.
    • Investimentos em produtividade e redução da informalidade.
    • Fortalecimento de serviços públicos para aliviar o orçamento familiar.

Calendário de pagamento do salário mínimo em 2025

O pagamento do salário mínimo de R$ 1.518 começou em fevereiro de 2025, referente ao trabalho realizado em janeiro. Para trabalhadores formais, o depósito ocorre conforme o calendário da empresa, geralmente até o quinto dia útil do mês seguinte. Aposentados e pensionistas do INSS seguem um calendário específico, que varia conforme o número final do cartão de benefício.

  • Cronograma de pagamento do INSS em 2025:
    • Benefícios de um salário mínimo: 27 de janeiro a 7 de fevereiro.
    • Benefícios acima do mínimo: 3 a 7 de fevereiro.
    • Consulta disponível pelo site Meu INSS ou pelo telefone 135.



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