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2 May 2025, Fri

Com queda do PIB sob Trump, fantasma da recessão volta a assombrar EUA

Imagem de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos. Ao fundo, a bandeira do país - Metrópoles


Protagonista de uma disputa tarifária que tem como maior alvo a China, mas arrastou mais de 180 países para uma guerra comercial global de consequências ainda imprevisíveis, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, termina a semana em que completou 100 dias de governo tendo de conviver com um “fantasma” que vem rondando a economia norte-americana há meses: uma possível recessão.

Na última quarta-feira (30/4), os investidores dos principais mercados financeiros do mundo reagiram com pessimismo e preocupação aos resultados divulgados pelo Departamento do Comércio dos EUA sobre o desempenho da maior economia do planeta no primeiro trimestre deste ano.

De acordo com os dados do governo norte-americano, o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou 0,3% no período entre janeiro e março de 2025, na comparação anual – a primeira retração desde 2022.

O resultado veio bem pior do que os analistas esperavam. De acordo com o consenso Refinitiv, que reúne expectativas do mercado, a estimativa era a de uma alta de 0,2% nos três primeiros meses do ano.

Na mesma manhã do dia 30, o Relatório Nacional de Emprego da ADP indicou que a criação de vagas no setor privado dos EUA desacelerou mais do que se esperava em abril, com 62 mil novos postos de trabalho (ante 147 mil do mês anterior). As projeções do mercado apontavam para 114 mil vagas.

Trump se apressou a ir às redes sociais e negar que o resultado negativo do PIB tivesse relação com o tarifaço comercial imposto pelos EUA sob seu governo. Em mensagens publicadas em sua própria rede, a Truth Social, Trump culpou o ex-presidente Joe Biden pelo recuo do PIB e pediu “paciência” à população.

“Isso levará um tempo, não tem nada a ver com tarifas, apenas que ele [Biden] nos deixou com números ruins, mas, quando o boom começar, será como nenhum outro. Sejam pacientes!”, escreveu.

“As tarifas começarão a valer em breve, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país vai prosperar, mas precisamos nos livrar do ‘excesso’ de Biden”, prosseguiu Trump. “Este é o mercado de ações de Biden, não de Trump. Só assumi em 20 de janeiro.”


Recessão no radar

  • Como o Metrópoles já havia mostrado em reportagem publicada em março, ainda no começo dos anúncios de tarifas comerciais adicionais dos EUA sobre produtos importados de diversos países, a possibilidade de uma recessão econômica no país já tinha entrado no radar do mercado havia algum tempo.
  • A recessão técnica ocorre quando há dois trimestres consecutivos de queda do PIB – em outras palavras, o país teria uma perda no valor de seus bens e serviços por um período de pelo menos 6 meses.
  • Já uma recessão é caracterizada pela queda da atividade econômica de forma generalizada. Ela ocorre quando vários indicadores da economia apresentam resultados negativos e se deterioram consideravelmente, com aumento do desemprego e baixa da produção e do consumo, independentemente de haver recuo do PIB por dois trimestres consecutivos.
  • A última recessão dos EUA aconteceu no início da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021.
  • Antes dela, o país enfrentou uma recessão por 18 meses, entre 2007 e 2009, com a crise do “subprime”.
  • Na época, houve a concessão de uma série de empréstimos hipotecários de alto risco – para financiamento imobiliário – pelos bancos. Muitas instituições financeiras foram levadas à insolvência, o que derrubou as principais bolsas de valores.
  • O auge da crise foi a quebra do Lehman Brothers, um dos mais antigos bancos de investimento do mundo.

A dúvida não é “se”, mas “quando”

Hoje, há quase um consenso entre os analistas econômicos de que os EUA devem entrar pelo menos em recessão técnica em algum momento – a dúvida do mercado não é mais se isso irá mesmo ocorrer, mas quando acontecerá.

Um estudo publicado recentemente pela Apollo, uma das mais importantes gestoras de ativos do mundo, indicou que os EUA têm cerca de 90% de chances de entrar em recessão. Um relatório do J.P. Morgan, um dos maiores bancos do país, aponta que três de cada cinco entrevistados do mercado financeiro projetam uma estagnação da economia norte-americana, em paralelo a uma inflação ainda acima da meta de 2% ao ano – a temida “estagflação”.

Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou suas projeções para a economia dos EUA e reduziu a estimativa de alta do PIB em 2025 de 2,7% para 1,8%. Em abril, um levantamento da Bloomberg mostrou que o mercado espera uma expansão do PIB de 1,4% neste ano – ante 2,2% estimados em relatório anterior, de janeiro. Em 2024, a economia dos EUA avançou 2,8%.

Outro indicador importante, o índice de confiança do consumidor medido pelo The Conference Board, recuou para 86 pontos, o menor patamar desde maio de 2020, no início da pandemia de Covid-19. A Universidade de Michigan, por sua vez, que faz cálculo semelhante, registrou queda de 29% na confiança do consumidor norte-americano nos quatro primeiros meses de 2025.

Um levantamento da consultoria Elos Ayta mostrou que, entre 21 índices mundiais, três dos quatro piores desempenhos de 2025 vêm justamente das bolsas de valores de Nova York. Entre os principais indicadores norte-americanos, o Nasdaq, que concentra as ações das empresas de tecnologia, liderou as perdas nos 100 primeiros dias do mandato de Trump, com queda de 11,53%. Ele foi seguido pelo S&P 500 (-7,8%) e pelo Dow Jones (-7,5%).

O S&P 500, aliás, acumula seu pior desempenho nos 100 primeiros dias de um presidente dos EUA desde Gerald Ford, em 1974, após a renúncia de Richard Nixon.

“O fator Trump é determinante. Empresários e investidores não gostam de conviver com a incerteza, e o Trump é uma fonte profunda de incerteza por ter um comportamento totalmente imprevisível”, explica André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional, cartão e conta global Remessa Online.

“Uma recessão agora estaria associada ao aumento do clima de instabilidade e indefinição, sobretudo envolvendo as questões comerciais. É difícil projetar com maior clareza o que nos espera porque estamos vendo que o discurso do governo é de idas e vindas. As coisas estão ainda um tanto indefinidas. De qualquer maneira, a possibilidade de recessão está no radar”, avalia.

Para Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), a guerra comercial deflagrada por Trump contra grande parte da comunidade internacional pode ser um tiro no pé do presidente dos EUA.

“A retaliação às tarifas pode representar um desincentivo ao comércio internacional e, com isso, as exportações dos países tendem a cair. Para alguns países, como os EUA, a exportação é um importante componente do PIB. Com a queda das exportações, o efeito pode ser uma redução do crescimento econômico”, afirma.

Guerra contra Powell

Em meio ao temor de que a chamada “estagflação” se torne realidade, os investidores também repercutiram nas últimas semanas, perplexos, os ataques de Trump ao presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), Jerome Powell, o que ampliou a instabilidade nos mercados.

Em meados de abril, Trump voltou a subir o tom contra o chefe da autoridade monetária e cobrou a redução da taxa de juros no país. A elevação dos juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação.

“Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE [Banco Central Europeu] fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou Trump.

Mais tarde, após receber a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, para um almoço, Trump reafirmou as críticas a Powell e indicou o desejo de afastá-lo do cargo: “Se eu pedir, ele vai embora”, afirmou.

Poucos dias depois, diante do mal-estar no mercado e da queda das bolsas nos EUA e na Europa, Trump recuou, amenizou o tom e praticamente afastou a hipótese de demitir Powell. “Nunca tive essa intenção. A imprensa exagera as coisas”, disse a repórteres.

“Não, não tenho intenção de demiti-lo. Gostaria de vê-lo ser um pouco mais ativo em relação à sua ideia de reduzir as taxas de juros”, prosseguiu o presidente dos EUA. “Acreditamos que este é o momento perfeito para reduzir a taxa, e gostaríamos de ver nosso presidente [do Fed] agir com antecedência ou pontualmente, em vez de com atraso.”

A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.

Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed – que termina em maio de 2026. O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935.

Em sua última reunião, em março, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed anunciou a manutenção da taxa básica de juros no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. A reunião foi a segunda consecutiva na qual a autoridade monetária norte-americana manteve inalterada a taxa de juros.

Antes das duas últimas reuniões, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado – o primeiro corte em cinco anos. Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária.

O Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação no país, ficou em 2,4% em março, na base anual, um recuo de 0,4 ponto percentual em relação ao mês anterior (quando foi de 2,8%). Na comparação mensal, a taxa recuou 0,1%, ante alta de 0,2% em fevereiro. A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024.

A próxima reunião do Fed está marcada para a semana que vem, nos dias 6 e 7 de maio.

Protagonista de uma disputa tarifária que tem como maior alvo a China, mas arrastou mais de 180 países para uma guerra comercial global de consequências ainda imprevisíveis, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, termina a semana em que completou 100 dias de governo tendo de conviver com um “fantasma” que vem rondando a economia norte-americana há meses: uma possível recessão.

Na última quarta-feira (30/4), os investidores dos principais mercados financeiros do mundo reagiram com pessimismo e preocupação aos resultados divulgados pelo Departamento do Comércio dos EUA sobre o desempenho da maior economia do planeta no primeiro trimestre deste ano.

De acordo com os dados do governo norte-americano, o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuou 0,3% no período entre janeiro e março de 2025, na comparação anual – a primeira retração desde 2022.

O resultado veio bem pior do que os analistas esperavam. De acordo com o consenso Refinitiv, que reúne expectativas do mercado, a estimativa era a de uma alta de 0,2% nos três primeiros meses do ano.

Na mesma manhã do dia 30, o Relatório Nacional de Emprego da ADP indicou que a criação de vagas no setor privado dos EUA desacelerou mais do que se esperava em abril, com 62 mil novos postos de trabalho (ante 147 mil do mês anterior). As projeções do mercado apontavam para 114 mil vagas.

Trump se apressou a ir às redes sociais e negar que o resultado negativo do PIB tivesse relação com o tarifaço comercial imposto pelos EUA sob seu governo. Em mensagens publicadas em sua própria rede, a Truth Social, Trump culpou o ex-presidente Joe Biden pelo recuo do PIB e pediu “paciência” à população.

“Isso levará um tempo, não tem nada a ver com tarifas, apenas que ele [Biden] nos deixou com números ruins, mas, quando o boom começar, será como nenhum outro. Sejam pacientes!”, escreveu.

“As tarifas começarão a valer em breve, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país vai prosperar, mas precisamos nos livrar do ‘excesso’ de Biden”, prosseguiu Trump. “Este é o mercado de ações de Biden, não de Trump. Só assumi em 20 de janeiro.”


Recessão no radar

  • Como o Metrópoles já havia mostrado em reportagem publicada em março, ainda no começo dos anúncios de tarifas comerciais adicionais dos EUA sobre produtos importados de diversos países, a possibilidade de uma recessão econômica no país já tinha entrado no radar do mercado havia algum tempo.
  • A recessão técnica ocorre quando há dois trimestres consecutivos de queda do PIB – em outras palavras, o país teria uma perda no valor de seus bens e serviços por um período de pelo menos 6 meses.
  • Já uma recessão é caracterizada pela queda da atividade econômica de forma generalizada. Ela ocorre quando vários indicadores da economia apresentam resultados negativos e se deterioram consideravelmente, com aumento do desemprego e baixa da produção e do consumo, independentemente de haver recuo do PIB por dois trimestres consecutivos.
  • A última recessão dos EUA aconteceu no início da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021.
  • Antes dela, o país enfrentou uma recessão por 18 meses, entre 2007 e 2009, com a crise do “subprime”.
  • Na época, houve a concessão de uma série de empréstimos hipotecários de alto risco – para financiamento imobiliário – pelos bancos. Muitas instituições financeiras foram levadas à insolvência, o que derrubou as principais bolsas de valores.
  • O auge da crise foi a quebra do Lehman Brothers, um dos mais antigos bancos de investimento do mundo.

A dúvida não é “se”, mas “quando”

Hoje, há quase um consenso entre os analistas econômicos de que os EUA devem entrar pelo menos em recessão técnica em algum momento – a dúvida do mercado não é mais se isso irá mesmo ocorrer, mas quando acontecerá.

Um estudo publicado recentemente pela Apollo, uma das mais importantes gestoras de ativos do mundo, indicou que os EUA têm cerca de 90% de chances de entrar em recessão. Um relatório do J.P. Morgan, um dos maiores bancos do país, aponta que três de cada cinco entrevistados do mercado financeiro projetam uma estagnação da economia norte-americana, em paralelo a uma inflação ainda acima da meta de 2% ao ano – a temida “estagflação”.

Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou suas projeções para a economia dos EUA e reduziu a estimativa de alta do PIB em 2025 de 2,7% para 1,8%. Em abril, um levantamento da Bloomberg mostrou que o mercado espera uma expansão do PIB de 1,4% neste ano – ante 2,2% estimados em relatório anterior, de janeiro. Em 2024, a economia dos EUA avançou 2,8%.

Outro indicador importante, o índice de confiança do consumidor medido pelo The Conference Board, recuou para 86 pontos, o menor patamar desde maio de 2020, no início da pandemia de Covid-19. A Universidade de Michigan, por sua vez, que faz cálculo semelhante, registrou queda de 29% na confiança do consumidor norte-americano nos quatro primeiros meses de 2025.

Um levantamento da consultoria Elos Ayta mostrou que, entre 21 índices mundiais, três dos quatro piores desempenhos de 2025 vêm justamente das bolsas de valores de Nova York. Entre os principais indicadores norte-americanos, o Nasdaq, que concentra as ações das empresas de tecnologia, liderou as perdas nos 100 primeiros dias do mandato de Trump, com queda de 11,53%. Ele foi seguido pelo S&P 500 (-7,8%) e pelo Dow Jones (-7,5%).

O S&P 500, aliás, acumula seu pior desempenho nos 100 primeiros dias de um presidente dos EUA desde Gerald Ford, em 1974, após a renúncia de Richard Nixon.

“O fator Trump é determinante. Empresários e investidores não gostam de conviver com a incerteza, e o Trump é uma fonte profunda de incerteza por ter um comportamento totalmente imprevisível”, explica André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional, cartão e conta global Remessa Online.

“Uma recessão agora estaria associada ao aumento do clima de instabilidade e indefinição, sobretudo envolvendo as questões comerciais. É difícil projetar com maior clareza o que nos espera porque estamos vendo que o discurso do governo é de idas e vindas. As coisas estão ainda um tanto indefinidas. De qualquer maneira, a possibilidade de recessão está no radar”, avalia.

Para Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), a guerra comercial deflagrada por Trump contra grande parte da comunidade internacional pode ser um tiro no pé do presidente dos EUA.

“A retaliação às tarifas pode representar um desincentivo ao comércio internacional e, com isso, as exportações dos países tendem a cair. Para alguns países, como os EUA, a exportação é um importante componente do PIB. Com a queda das exportações, o efeito pode ser uma redução do crescimento econômico”, afirma.

Guerra contra Powell

Em meio ao temor de que a chamada “estagflação” se torne realidade, os investidores também repercutiram nas últimas semanas, perplexos, os ataques de Trump ao presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA), Jerome Powell, o que ampliou a instabilidade nos mercados.

Em meados de abril, Trump voltou a subir o tom contra o chefe da autoridade monetária e cobrou a redução da taxa de juros no país. A elevação dos juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação.

“Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE [Banco Central Europeu] fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou Trump.

Mais tarde, após receber a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, para um almoço, Trump reafirmou as críticas a Powell e indicou o desejo de afastá-lo do cargo: “Se eu pedir, ele vai embora”, afirmou.

Poucos dias depois, diante do mal-estar no mercado e da queda das bolsas nos EUA e na Europa, Trump recuou, amenizou o tom e praticamente afastou a hipótese de demitir Powell. “Nunca tive essa intenção. A imprensa exagera as coisas”, disse a repórteres.

“Não, não tenho intenção de demiti-lo. Gostaria de vê-lo ser um pouco mais ativo em relação à sua ideia de reduzir as taxas de juros”, prosseguiu o presidente dos EUA. “Acreditamos que este é o momento perfeito para reduzir a taxa, e gostaríamos de ver nosso presidente [do Fed] agir com antecedência ou pontualmente, em vez de com atraso.”

A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.

Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed – que termina em maio de 2026. O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935.

Em sua última reunião, em março, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed anunciou a manutenção da taxa básica de juros no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano. A reunião foi a segunda consecutiva na qual a autoridade monetária norte-americana manteve inalterada a taxa de juros.

Antes das duas últimas reuniões, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado – o primeiro corte em cinco anos. Desde então, o BC norte-americano sempre deixou claro que era necessário manter a cautela e analisar cuidadosamente os indicadores econômicos para tomar suas decisões de política monetária.

O Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação no país, ficou em 2,4% em março, na base anual, um recuo de 0,4 ponto percentual em relação ao mês anterior (quando foi de 2,8%). Na comparação mensal, a taxa recuou 0,1%, ante alta de 0,2% em fevereiro. A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024.

A próxima reunião do Fed está marcada para a semana que vem, nos dias 6 e 7 de maio.



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