Pensando nos desafios vividos pelas pessoas com deficiência visual, estudantes de engenharia da Universidade de Brasília criaram uma bengala tecnológica e inteligente. Aliado a bengala, o grupo desenvolveu um aplicativo para localizar o objeto quando perdido, que pode auxiliar o usuário a se locomover com mais segurança no dia a dia. Agora os participantes do projeto Meu Norte estão em busca de investimentos para que sejam feitas melhorias na bengala.
A professora de Engenharia de Software Carla Rocha contou ao Jornal de Brasília que o projeto faz parte de uma disciplina do curso de Engenharia da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ela, o campus do Gama atende cinco cursos da área: Engenharia Automotiva, Aeroespacial, Eletrônica, de Software e de Energia. “A última disciplina que esses alunos cursam antes de se formar é chamada de Projeto Integrador. Nela, é proposto um problema, e os estudantes devem desenvolver um protótipo funcional com base nesse desafio, dentro da lógica de uma startup”, explicou.
O projeto da bengala inteligente foi desenvolvido por uma equipe formada por cerca de 17 pessoas, reunindo representantes de Engenharia de Software, Energia, Aeroespacial e Eletronica. O grupo passou por três etapas de entrega ao longo do processo. A professora atuou como mentora técnica, além de apresentar restrições que nortearam o trabalho dos alunos.
De acordo com Carla, o protótipo já atende aos requisitos para se tornar um produto comercializável. “Agora fechamos o ciclo que eles chamam de orova de conceito, e entramos na fase de MVP”, explicou. A partir desse ponto, os estudantes iniciam o planejamento da cadeia produtiva, avaliando desde a aquisição de materiais até os custos de produção em escala. “A disciplina terminou, mas o trabalho da equipe continua”, completou. A professora também destacou o papel do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da UnB, que apoia iniciativas como essa por meio de programas voltados para spin-offs, startups e o primeiro ciclo de investimentos. O grupo busca, neste momento, recursos para refinar ainda mais o projeto ou viabilizar sua produção em larga escala.
Segundo ela, o aplicativo feito pelos estudantes é tanto para quem tem baixa visão, como para ter guia para as pessoas que não enxergam completamente. “Os alunos fizeram a conversão da acessibilidade não só do ponto de vista do aplicativo, como de linguagem também”.
O desenvolvimento da bengala
Formada em engenharia de software, Sara Campos, 25 anos, faz parte do grupo que desenvolveu a bengala inteligente. Ela destacou que a ideia para o projeto foi desenvolvida ao longo do último semestre e o resultado foi o protótipo da bengala inteligente e um aplicativo de suporte. “O grupo conseguiu aplicar os conhecimentos nas respectivas áreas da engenharia”, acrescentou.
A partir da ideia de aplicação das engenharias, o grupo buscou pessoas com deficiência visual para entrevistar, na tentativa de entender melhor como construir uma bengala inteligente que atenda às necessidades de quem vai a utilizar. “Entrevistamos quatro voluntários e ouvimos os relatos do dia a dia das pessoas, principalmente com relação aos desafios de mobilidade na cidade”, comentou.
Os estudantes desenvolveram as funcionalidades da bengala com base nos relatos de voluntários que utilizam bengalas comuns no dia a dia. Sara explicou que um dos principais desafios enfrentados por essas pessoas é lidar com mudanças inesperadas em trajetos já conhecidos. “Por exemplo, alguém que vai todos os dias à padaria segue um caminho simples, já memorizado. Mas se surgir algo inesperado, como um buraco que não estava lá antes ou uma obra no meio do trajeto, isso representa um obstáculo, um risco à mobilidade da pessoa”, destacou.
Sara comentou ainda que uma das funcionalidades do aplicativo é o sistema de aviso de obstáculos, que permite a colaboração da comunidade como um todo. “Qualquer pessoa pode reportar um problema no caminho. Por exemplo, se eu estou passando por uma rua e vejo um buraco, posso marcar no aplicativo a localização exata. Assim, quando uma pessoa com deficiência visual for seguir aquela rota usando a navegação do app, ela já recebe esse aviso”, explicou.
Outra dificuldade apontada durante o desenvolvimento foi a circulação em ambientes muito movimentados. “Mais de uma pessoa relatou que, em locais lotados, já aconteceu de alguém simplesmente chutar a bengala, às vezes por estar correndo ou por não perceber a presença dela. É algo que impacta diretamente a segurança e a mobilidade”, contou Sara. “Uma coisa que tentamos fazer foi sanar essa necessidade também por meio de um alarme que a pessoa pode acionar pelo aplicativo e se guiar pelo som até a bengala”, adicionou. O grupo ainda incorporou sensores na bengala, para identificar obstáculos de até 2 metros de altura, acima da cintura do usuário.
O engenheiro de software Arthur Sena, de 24 anos, também participou do projeto e destacou que o grupo levou em consideração a durabilidade e a portabilidade da bengala. “Foi observado que as ponteiras das bengalas comuns costumam se desgastar rapidamente. Por isso, a equipe responsável pelas estruturas desenvolveu uma ponteira rosqueável, permitindo que o usuário troque por diferentes modelos, adequados a distintos tipos de solo, conforme o desgaste da bengala”, explicou. Além disso, a bengala inteligente foi projetada para ser retrátil, proporcionando maior praticidade e portabilidade ao usuário.
Outra preocupação do grupo foi a acessibilidade do aplicativo. “O app foi desenvolvido com um perfil de acessibilidade completo, permitindo que pessoas com deficiência visual o utilizem com leitores de tela, que são comumente usados por essa comunidade. Além disso, a bengala inteligente possui botões que permitem ao usuário avançar ou retroceder nas opções, sem precisar manusear o celular. Através da conexão Bluetooth, a pessoa pode controlar as funções do aplicativo diretamente pela bengala”, acrescentou Arthur.
Revolução para quem precisa
O bancário Nivaldo Almeida Junior, foi uma das pessoas entrevistadas pelo grupo para o aperfeiçoamento das ferramentas da bengala. “Isso vai revolucionar de maneira positiva, a vida das pessoas cegas”, salientou. Ele é completamente cego e ressalta que uma bengala convencional ajuda a achar barreiras e degraus, mas ela não emite nenhum sinal ou orientação extra. Por isso, a bengala inteligente é tão importante e pode ajudar fazendo tudo que a convencional faz, mas também pode comunicar e auxiliar a pessoa a perceber barreiras mais altas. “As barreiras que estão no alto são as mais perigosas e somente uma bengala mais tecnológica poderia dar essas informações, assim como essa que os alunos criaram”.
Para ele, uma das coisas mais legais do projeto foi a criação do aplicativo de celular que ele considera que conversa muito bem com a bengala. “O que permite que o usuário faça uma rota e ajuda a chegar com mais segurança e rapidez ao destino”, comentou. Ele afirma que mesmo que o protótipo ainda esteja em desenvolvimento, claramente dá para perceber a benfeitoria que o projeto vai fazer na vida de quem precisa utilizar uma bengala. “Eu indiquei a possibilidade de quando estivermos na rua, recebermos respostas sonoras e táteis com a questão de vibração, para sinalizar para as pessoas que passam por determinado local, quando chegar próxima a região já ficar mais esperta se tiver algum obstáculo”.
Próximo passo
Sara explicou que, embora o protótipo tenha avançado e demonstrado que a ideia é viável, o objetivo é entregar um produto final que garanta segurança e autonomia para os usuários. Para isso, o grupo está em busca de investimentos para dar continuidade ao projeto e melhorar a qualidade da bengala. Ela destacou que, devido ao orçamento, o protótipo atual ainda é mais pesado do que o ideal. Com um investimento maior, seria possível aprimorar tanto os materiais quanto os componentes eletrônicos, como sensores, garantindo um produto de melhor qualidade. A equipe está buscando apoio através de um site, onde é possível obter mais informações sobre o produto e entrar em contato: meunorte.com.br.
Sara acredita que foi muito motivador poder entrar em contato com a comunidade e entrevistar pessoas com deficiência visual para colocar em prática o que aprendeu durante a formação. “O resultado do nosso trabalho deixa uma mensagem sobre a importância da ciência, da universidade pública e de tudo o que é feito pelos estudantes e pesquisadores, de que como isso realmente pode retornar para a comunidade”, complementou.
Pensando nos desafios vividos pelas pessoas com deficiência visual, estudantes de engenharia da Universidade de Brasília criaram uma bengala tecnológica e inteligente. Aliado a bengala, o grupo desenvolveu um aplicativo para localizar o objeto quando perdido, que pode auxiliar o usuário a se locomover com mais segurança no dia a dia. Agora os participantes do projeto Meu Norte estão em busca de investimentos para que sejam feitas melhorias na bengala.
A professora de Engenharia de Software Carla Rocha contou ao Jornal de Brasília que o projeto faz parte de uma disciplina do curso de Engenharia da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ela, o campus do Gama atende cinco cursos da área: Engenharia Automotiva, Aeroespacial, Eletrônica, de Software e de Energia. “A última disciplina que esses alunos cursam antes de se formar é chamada de Projeto Integrador. Nela, é proposto um problema, e os estudantes devem desenvolver um protótipo funcional com base nesse desafio, dentro da lógica de uma startup”, explicou.
O projeto da bengala inteligente foi desenvolvido por uma equipe formada por cerca de 17 pessoas, reunindo representantes de Engenharia de Software, Energia, Aeroespacial e Eletronica. O grupo passou por três etapas de entrega ao longo do processo. A professora atuou como mentora técnica, além de apresentar restrições que nortearam o trabalho dos alunos.
De acordo com Carla, o protótipo já atende aos requisitos para se tornar um produto comercializável. “Agora fechamos o ciclo que eles chamam de orova de conceito, e entramos na fase de MVP”, explicou. A partir desse ponto, os estudantes iniciam o planejamento da cadeia produtiva, avaliando desde a aquisição de materiais até os custos de produção em escala. “A disciplina terminou, mas o trabalho da equipe continua”, completou. A professora também destacou o papel do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da UnB, que apoia iniciativas como essa por meio de programas voltados para spin-offs, startups e o primeiro ciclo de investimentos. O grupo busca, neste momento, recursos para refinar ainda mais o projeto ou viabilizar sua produção em larga escala.
Segundo ela, o aplicativo feito pelos estudantes é tanto para quem tem baixa visão, como para ter guia para as pessoas que não enxergam completamente. “Os alunos fizeram a conversão da acessibilidade não só do ponto de vista do aplicativo, como de linguagem também”.
O desenvolvimento da bengala
Formada em engenharia de software, Sara Campos, 25 anos, faz parte do grupo que desenvolveu a bengala inteligente. Ela destacou que a ideia para o projeto foi desenvolvida ao longo do último semestre e o resultado foi o protótipo da bengala inteligente e um aplicativo de suporte. “O grupo conseguiu aplicar os conhecimentos nas respectivas áreas da engenharia”, acrescentou.
A partir da ideia de aplicação das engenharias, o grupo buscou pessoas com deficiência visual para entrevistar, na tentativa de entender melhor como construir uma bengala inteligente que atenda às necessidades de quem vai a utilizar. “Entrevistamos quatro voluntários e ouvimos os relatos do dia a dia das pessoas, principalmente com relação aos desafios de mobilidade na cidade”, comentou.
Os estudantes desenvolveram as funcionalidades da bengala com base nos relatos de voluntários que utilizam bengalas comuns no dia a dia. Sara explicou que um dos principais desafios enfrentados por essas pessoas é lidar com mudanças inesperadas em trajetos já conhecidos. “Por exemplo, alguém que vai todos os dias à padaria segue um caminho simples, já memorizado. Mas se surgir algo inesperado, como um buraco que não estava lá antes ou uma obra no meio do trajeto, isso representa um obstáculo, um risco à mobilidade da pessoa”, destacou.
Sara comentou ainda que uma das funcionalidades do aplicativo é o sistema de aviso de obstáculos, que permite a colaboração da comunidade como um todo. “Qualquer pessoa pode reportar um problema no caminho. Por exemplo, se eu estou passando por uma rua e vejo um buraco, posso marcar no aplicativo a localização exata. Assim, quando uma pessoa com deficiência visual for seguir aquela rota usando a navegação do app, ela já recebe esse aviso”, explicou.
Outra dificuldade apontada durante o desenvolvimento foi a circulação em ambientes muito movimentados. “Mais de uma pessoa relatou que, em locais lotados, já aconteceu de alguém simplesmente chutar a bengala, às vezes por estar correndo ou por não perceber a presença dela. É algo que impacta diretamente a segurança e a mobilidade”, contou Sara. “Uma coisa que tentamos fazer foi sanar essa necessidade também por meio de um alarme que a pessoa pode acionar pelo aplicativo e se guiar pelo som até a bengala”, adicionou. O grupo ainda incorporou sensores na bengala, para identificar obstáculos de até 2 metros de altura, acima da cintura do usuário.
O engenheiro de software Arthur Sena, de 24 anos, também participou do projeto e destacou que o grupo levou em consideração a durabilidade e a portabilidade da bengala. “Foi observado que as ponteiras das bengalas comuns costumam se desgastar rapidamente. Por isso, a equipe responsável pelas estruturas desenvolveu uma ponteira rosqueável, permitindo que o usuário troque por diferentes modelos, adequados a distintos tipos de solo, conforme o desgaste da bengala”, explicou. Além disso, a bengala inteligente foi projetada para ser retrátil, proporcionando maior praticidade e portabilidade ao usuário.
Outra preocupação do grupo foi a acessibilidade do aplicativo. “O app foi desenvolvido com um perfil de acessibilidade completo, permitindo que pessoas com deficiência visual o utilizem com leitores de tela, que são comumente usados por essa comunidade. Além disso, a bengala inteligente possui botões que permitem ao usuário avançar ou retroceder nas opções, sem precisar manusear o celular. Através da conexão Bluetooth, a pessoa pode controlar as funções do aplicativo diretamente pela bengala”, acrescentou Arthur.
Revolução para quem precisa
O bancário Nivaldo Almeida Junior, foi uma das pessoas entrevistadas pelo grupo para o aperfeiçoamento das ferramentas da bengala. “Isso vai revolucionar de maneira positiva, a vida das pessoas cegas”, salientou. Ele é completamente cego e ressalta que uma bengala convencional ajuda a achar barreiras e degraus, mas ela não emite nenhum sinal ou orientação extra. Por isso, a bengala inteligente é tão importante e pode ajudar fazendo tudo que a convencional faz, mas também pode comunicar e auxiliar a pessoa a perceber barreiras mais altas. “As barreiras que estão no alto são as mais perigosas e somente uma bengala mais tecnológica poderia dar essas informações, assim como essa que os alunos criaram”.
Para ele, uma das coisas mais legais do projeto foi a criação do aplicativo de celular que ele considera que conversa muito bem com a bengala. “O que permite que o usuário faça uma rota e ajuda a chegar com mais segurança e rapidez ao destino”, comentou. Ele afirma que mesmo que o protótipo ainda esteja em desenvolvimento, claramente dá para perceber a benfeitoria que o projeto vai fazer na vida de quem precisa utilizar uma bengala. “Eu indiquei a possibilidade de quando estivermos na rua, recebermos respostas sonoras e táteis com a questão de vibração, para sinalizar para as pessoas que passam por determinado local, quando chegar próxima a região já ficar mais esperta se tiver algum obstáculo”.
Próximo passo
Sara explicou que, embora o protótipo tenha avançado e demonstrado que a ideia é viável, o objetivo é entregar um produto final que garanta segurança e autonomia para os usuários. Para isso, o grupo está em busca de investimentos para dar continuidade ao projeto e melhorar a qualidade da bengala. Ela destacou que, devido ao orçamento, o protótipo atual ainda é mais pesado do que o ideal. Com um investimento maior, seria possível aprimorar tanto os materiais quanto os componentes eletrônicos, como sensores, garantindo um produto de melhor qualidade. A equipe está buscando apoio através de um site, onde é possível obter mais informações sobre o produto e entrar em contato: meunorte.com.br.
Sara acredita que foi muito motivador poder entrar em contato com a comunidade e entrevistar pessoas com deficiência visual para colocar em prática o que aprendeu durante a formação. “O resultado do nosso trabalho deixa uma mensagem sobre a importância da ciência, da universidade pública e de tudo o que é feito pelos estudantes e pesquisadores, de que como isso realmente pode retornar para a comunidade”, complementou.