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8 May 2025, Thu

Yohama Eshima sobre maternidade atípica: 'Tinha medo da exposição e do julgamento'




Mãe de Tom, de 4 anos, diagnosticado com esclerose tuberosa, atriz afirma querer ser voz para inclusão A atriz Yohama Eshima, 36 anos de idade, se tornou voz atuante nas redes sociais para debater a maternidade atípica. Casada com o cineasta Flávio Ramos Tambellini, ela é mãe de Tom, de 4 anos, diagnosticado com esclerose tuberosa, uma doença genética degenerativa que afeta múltiplos órgãos do corpo.
+ Maternidade
Curitibana, a artista se mudou para o Rio de Janeiro há oito anos, decidida a investir na carreira. Ser mãe sempre esteve nos planos de Yohama, mas o nascimento de Tom trouxe uma série de desafios. Ela evita o olhar romantizado. “Fomos descobrindo o que é ter um filho com deficiência. Antes, não sabia de nada. Era como se eu estivesse começando do -50. A gente nasce capacitista. Tive que lidar com o luto da criança que não nasceu. E só consegui observar isso depois de um tempo.”
A atriz, lembrada por papéis como a investigadora Yone de Travessia (Globo, 2022) e a vilã Cláudia de Pedaço de Mim (Netflix, 2024), afirma que os aprendizados são constantes como mãe de uma criança com deficiência. “Fomos descobrindo e foi muito difícil, estressante. É importante falar que foi difícil para que as pessoas não romantizem”, afirma Yohama, que é uma das protagonistas do filme Oratório, primeiro filme de terror com temática nipo-brasileira, rodado entre março e abril deste ano.
Quem: Desde que o Tom nasceu, como sua vida mudou?
Yohama Eshima: Fomos descobrindo o que é ter um filho com deficiência. Antes, não sabia de nada. Era como se eu estivesse começando do -50. A gente nasce capacitista. Tive que lidar com o luto da criança que não nasceu. E só consegui observar isso depois de um tempo. Fomos descobrindo e foi muito difícil, estressante. É importante falar que foi difícil para que as pessoas não romantizem. Cuidar de uma criança recém-nascida não é fácil, cuidar de uma que vem com um fator extra – era preciso lidar com as crises convulsivas, a administração de remédios – exige um processo de aprendizado. Hoje em dia, já entendemos que vai ser assim para sempre na nossa dinâmica de casa. À medida que a gente entende que vai ser assim para sempre, aprende a lidar da melhor forma possível.
Yohama Eshima com o filho, Tom
L.A. Foto Estúdio
Como é lidar com essas questões?
Um exemplo simples: eu não sabia contar remédios. Tinha que contar a quantidade que ele deveria tomar a partir do tanto de quilos que ele tem. Ele usa canabidiol, administro as gotas a partir do peso dele. Também fui aprendendo as terapias para mexer na perninha dele, a fazer o fortalecimento do pescoço. Essa maternidade é um presente. Sou uma mulher mil vezes melhor do que eu era antes. É muito difícil, mas minha vida mudou para melhor depois que fui mãe. Além de lutar por uma sociedade digna inclusiva para o meu filho, a luta não é só para ele.
A maternidade sempre foi um sonho para você?
Sempre quis ser mãe, nunca tive dúvidas sobre isso. Desde criança, já me imaginava sendo mãe. Quando fui, tive aquela sensação de “eu consegui”. Tive uma menopausa precoce, aos 26 anos, quando fui diagnosticada com insuficiência ovariana precoce. Tinham me falado que não conseguiria ser mãe, mas consegui. Quando meu filho nasceu, tive a sensação de ultrapassar um portal, como se eu me tornasse capaz de conseguir tudo.
Você e o Flávio estão juntos há um bom tempo. A gravidez era um desejo compartilhado?
Quando conheci o Flávio, eu falei que tinha insuficiência ovariana. Disse que não sabia se conseguiria ter filhos, mas que gostaria muito de ter. Ele sempre me apoiou muito e esteve ao meu lado. Quando o médico disse que eu não poderia engravidar, busquei terapias alternativas — realizei mudanças na alimentação e passei a fazer mais atividades físicas para tornar meu corpo saudável. Meu companheiro me ajudou muito. Lembro quando contei para ele que estava grávida. Ele me olhou, deu um abraço e falou: “Você conseguiu”.
Yohama Eshima com a camiseta ‘Lute como uma mãe atípica’
Reprodução/Instagram
Nas redes, você já posou com a camiseta “lute como uma mãe atípica”, registra fotos com seu filho. A decisão de expor seu filho foi uma dúvida?
Sim, foi uma dúvida e tive que compartilhar isso com meu companheiro. Tive uma necessidade de começar a falar e a dúvida surgiu por conta da exposição que isso teria, além de ser uma decisão conjunta. O filho é nosso. Precisava que o Flávio estivesse junto na decisão. “Você topa? Você concorda? O que você acha?”.
Existiu o diálogo, então?
Foi um momento de muita conversa. Tinha medo da exposição e do julgamento. Não queríamos a sensação de pena, mas sentia que precisava conversar. Tínhamos passado pela pandemia, o isolamento e a maternidade me afastou de muitos amigos. Precisava me conectar com as pessoas e com gente que vivia a mesma situação. Entramos no consenso de expor e acredito que foi o melhor que fizemos. Além de encontrar muitos mães que precisavam conversar e desabafar, também me conectei com profissionais, com ONGs, associações e pessoas que se envolvem em políticas públicas para um caminho de maior acessibilidade. Valeu muito a pena. Quero ser uma voz para a inclusão. O que puder, vou continuar fazendo.
O medo do julgamento passou?
Sim, tenho que abrir caminhos para o meu filho e para os outros. O medo deu lugar à coragem. Participei de um congresso sobre esclerose tuberosa e escutei: “Temos poucas pessoas no mundo que expõe histórias da esclerose tuberosa. Quanto mais os laboratórios souberem de pessoas que convivem com a doença, maior vai ser o interesse de procurar uma cura genética”. Isso me motivou ainda mais a falar sobre o tema. Meu trabalho como atriz é o que sustenta meu coração e minha alma, mas a causa da inclusão das pessoas com deficiência e da maternidade atípica estará na minha vida.
Yohama Eshima com o filho, Tom, de 4 anos, e o marido, o diretor de cinema Flávio Ramos Tambellini
Antonovas
A rotina de atriz tem horários nem sempre convencionais. Como foi orquestrar as gravações com os cuidados com seu filho?
O Flavinho, meu companheiro, é sempre presente. Ele é pai. Como ele também trabalha com arte, precisamos ter uma rede de apoio. Sem rede de apoio, eu não faria nada, não teria voltado a ser atriz. O Tom nasceu com uma mutação genética e precisa de cuidados o tempo inteiro, além de ter uma rotina de terapia, fisioterapia, hidro… Ele precisa fazer essas atividades para auxiliar em seu desenvolvimento. Se uma família atípica não tem alguém para estar junto, é impossível olhar para si e conseguir voltar ao trabalho de forma integral.
E o trabalho também é uma forma de se realizar, certo?
Sou muito dedicada ao trabalho. Quando fiz Pedaço de Mim, por exemplo, montei uma playlist, escrevo textos como se fosse a personagem… São exercícios que faço em casa, ou seja, meu trabalho não é apenas durante a gravação. Em casa, preciso ter um local de estudo, onde ninguém me chame. Ser interrompida é uma das piores coisas quando você está tentando se concentrar. Uma mãe é interrompida o tempo todo. Então, é importante essa rede de apoio. Só eu e o Flávio não damos conta. No Rio, não conto com avó, avô, tio ou tia para o meu filho. Nossa mente fica muito atribulada e é muito estressante. Com essa rede de apoio, fica mais leve.
Sua família é de Curitiba. Quando decidiu sair de lá, você teve o incentivo deles? A maternidade te fez repensar qual seria sua base?
Depois de me mudar para o Rio, conheci meu companheiro, tive meu filho… Hoje, toda a minha base é no Rio. A mudança veio pelo objetivo de trabalhar como atriz. É difícil para a família quando um filho fala “vou fazer teatro”. É uma carreira desafiadora. Quando vim para o Rio, não tinha dinheiro, sem lugar para morar, sem trabalho, mas meus pais sempre me apoiaram à distância. Eles mandavam um dinheirinho quando podiam e sei o quanto foi importante. Sinto saudade de Curitiba. Tenho muito carinho e afeto pela cidade, mas não voltaria a morar lá. Para a minha vida profissional, o Rio de Janeiro tem que ser a minha base.
Veja trabalhos de Yohama Eshima:
Gabriel Godoy, Pedro Yudi, Caroline Okoshi Fioratti, Miwa Yanagizawa, Kazue Akisue, Yohama Eshima, Vivi Ohno e Larissa Murai estão no elenco de ‘Oratório’, primeiro filme de terror nipo-brasileiro
Marina Vancini
Yohama Eshima e Vladimir Brichta, como Cláudia e Tomás, em ‘Pedaço de Mim’ (Netflix, 2024)
Marcos Serra Lima/Netflix
Giovanna Antonelli e Yohama Eshima, como Helô e Yone, em ‘Travessia’ (Globo, 2022)
João Miguel Junior/TV Globo
Yohama Eshima, como Tatiana Yamasaki, em ‘Amor sem igual’ (Record, 2019)
Divulgação/Record
Diego Fortes e Yohama Eshima em cena da peça ‘O Fantástico Coração Subterrâneo’
Divulgação


Mãe de Tom, de 4 anos, diagnosticado com esclerose tuberosa, atriz afirma querer ser voz para inclusão A atriz Yohama Eshima, 36 anos de idade, se tornou voz atuante nas redes sociais para debater a maternidade atípica. Casada com o cineasta Flávio Ramos Tambellini, ela é mãe de Tom, de 4 anos, diagnosticado com esclerose tuberosa, uma doença genética degenerativa que afeta múltiplos órgãos do corpo.
+ Maternidade
Curitibana, a artista se mudou para o Rio de Janeiro há oito anos, decidida a investir na carreira. Ser mãe sempre esteve nos planos de Yohama, mas o nascimento de Tom trouxe uma série de desafios. Ela evita o olhar romantizado. “Fomos descobrindo o que é ter um filho com deficiência. Antes, não sabia de nada. Era como se eu estivesse começando do -50. A gente nasce capacitista. Tive que lidar com o luto da criança que não nasceu. E só consegui observar isso depois de um tempo.”
A atriz, lembrada por papéis como a investigadora Yone de Travessia (Globo, 2022) e a vilã Cláudia de Pedaço de Mim (Netflix, 2024), afirma que os aprendizados são constantes como mãe de uma criança com deficiência. “Fomos descobrindo e foi muito difícil, estressante. É importante falar que foi difícil para que as pessoas não romantizem”, afirma Yohama, que é uma das protagonistas do filme Oratório, primeiro filme de terror com temática nipo-brasileira, rodado entre março e abril deste ano.
Quem: Desde que o Tom nasceu, como sua vida mudou?
Yohama Eshima: Fomos descobrindo o que é ter um filho com deficiência. Antes, não sabia de nada. Era como se eu estivesse começando do -50. A gente nasce capacitista. Tive que lidar com o luto da criança que não nasceu. E só consegui observar isso depois de um tempo. Fomos descobrindo e foi muito difícil, estressante. É importante falar que foi difícil para que as pessoas não romantizem. Cuidar de uma criança recém-nascida não é fácil, cuidar de uma que vem com um fator extra – era preciso lidar com as crises convulsivas, a administração de remédios – exige um processo de aprendizado. Hoje em dia, já entendemos que vai ser assim para sempre na nossa dinâmica de casa. À medida que a gente entende que vai ser assim para sempre, aprende a lidar da melhor forma possível.
Yohama Eshima com o filho, Tom
L.A. Foto Estúdio
Como é lidar com essas questões?
Um exemplo simples: eu não sabia contar remédios. Tinha que contar a quantidade que ele deveria tomar a partir do tanto de quilos que ele tem. Ele usa canabidiol, administro as gotas a partir do peso dele. Também fui aprendendo as terapias para mexer na perninha dele, a fazer o fortalecimento do pescoço. Essa maternidade é um presente. Sou uma mulher mil vezes melhor do que eu era antes. É muito difícil, mas minha vida mudou para melhor depois que fui mãe. Além de lutar por uma sociedade digna inclusiva para o meu filho, a luta não é só para ele.
A maternidade sempre foi um sonho para você?
Sempre quis ser mãe, nunca tive dúvidas sobre isso. Desde criança, já me imaginava sendo mãe. Quando fui, tive aquela sensação de “eu consegui”. Tive uma menopausa precoce, aos 26 anos, quando fui diagnosticada com insuficiência ovariana precoce. Tinham me falado que não conseguiria ser mãe, mas consegui. Quando meu filho nasceu, tive a sensação de ultrapassar um portal, como se eu me tornasse capaz de conseguir tudo.
Você e o Flávio estão juntos há um bom tempo. A gravidez era um desejo compartilhado?
Quando conheci o Flávio, eu falei que tinha insuficiência ovariana. Disse que não sabia se conseguiria ter filhos, mas que gostaria muito de ter. Ele sempre me apoiou muito e esteve ao meu lado. Quando o médico disse que eu não poderia engravidar, busquei terapias alternativas — realizei mudanças na alimentação e passei a fazer mais atividades físicas para tornar meu corpo saudável. Meu companheiro me ajudou muito. Lembro quando contei para ele que estava grávida. Ele me olhou, deu um abraço e falou: “Você conseguiu”.
Yohama Eshima com a camiseta ‘Lute como uma mãe atípica’
Reprodução/Instagram
Nas redes, você já posou com a camiseta “lute como uma mãe atípica”, registra fotos com seu filho. A decisão de expor seu filho foi uma dúvida?
Sim, foi uma dúvida e tive que compartilhar isso com meu companheiro. Tive uma necessidade de começar a falar e a dúvida surgiu por conta da exposição que isso teria, além de ser uma decisão conjunta. O filho é nosso. Precisava que o Flávio estivesse junto na decisão. “Você topa? Você concorda? O que você acha?”.
Existiu o diálogo, então?
Foi um momento de muita conversa. Tinha medo da exposição e do julgamento. Não queríamos a sensação de pena, mas sentia que precisava conversar. Tínhamos passado pela pandemia, o isolamento e a maternidade me afastou de muitos amigos. Precisava me conectar com as pessoas e com gente que vivia a mesma situação. Entramos no consenso de expor e acredito que foi o melhor que fizemos. Além de encontrar muitos mães que precisavam conversar e desabafar, também me conectei com profissionais, com ONGs, associações e pessoas que se envolvem em políticas públicas para um caminho de maior acessibilidade. Valeu muito a pena. Quero ser uma voz para a inclusão. O que puder, vou continuar fazendo.
O medo do julgamento passou?
Sim, tenho que abrir caminhos para o meu filho e para os outros. O medo deu lugar à coragem. Participei de um congresso sobre esclerose tuberosa e escutei: “Temos poucas pessoas no mundo que expõe histórias da esclerose tuberosa. Quanto mais os laboratórios souberem de pessoas que convivem com a doença, maior vai ser o interesse de procurar uma cura genética”. Isso me motivou ainda mais a falar sobre o tema. Meu trabalho como atriz é o que sustenta meu coração e minha alma, mas a causa da inclusão das pessoas com deficiência e da maternidade atípica estará na minha vida.
Yohama Eshima com o filho, Tom, de 4 anos, e o marido, o diretor de cinema Flávio Ramos Tambellini
Antonovas
A rotina de atriz tem horários nem sempre convencionais. Como foi orquestrar as gravações com os cuidados com seu filho?
O Flavinho, meu companheiro, é sempre presente. Ele é pai. Como ele também trabalha com arte, precisamos ter uma rede de apoio. Sem rede de apoio, eu não faria nada, não teria voltado a ser atriz. O Tom nasceu com uma mutação genética e precisa de cuidados o tempo inteiro, além de ter uma rotina de terapia, fisioterapia, hidro… Ele precisa fazer essas atividades para auxiliar em seu desenvolvimento. Se uma família atípica não tem alguém para estar junto, é impossível olhar para si e conseguir voltar ao trabalho de forma integral.
E o trabalho também é uma forma de se realizar, certo?
Sou muito dedicada ao trabalho. Quando fiz Pedaço de Mim, por exemplo, montei uma playlist, escrevo textos como se fosse a personagem… São exercícios que faço em casa, ou seja, meu trabalho não é apenas durante a gravação. Em casa, preciso ter um local de estudo, onde ninguém me chame. Ser interrompida é uma das piores coisas quando você está tentando se concentrar. Uma mãe é interrompida o tempo todo. Então, é importante essa rede de apoio. Só eu e o Flávio não damos conta. No Rio, não conto com avó, avô, tio ou tia para o meu filho. Nossa mente fica muito atribulada e é muito estressante. Com essa rede de apoio, fica mais leve.
Sua família é de Curitiba. Quando decidiu sair de lá, você teve o incentivo deles? A maternidade te fez repensar qual seria sua base?
Depois de me mudar para o Rio, conheci meu companheiro, tive meu filho… Hoje, toda a minha base é no Rio. A mudança veio pelo objetivo de trabalhar como atriz. É difícil para a família quando um filho fala “vou fazer teatro”. É uma carreira desafiadora. Quando vim para o Rio, não tinha dinheiro, sem lugar para morar, sem trabalho, mas meus pais sempre me apoiaram à distância. Eles mandavam um dinheirinho quando podiam e sei o quanto foi importante. Sinto saudade de Curitiba. Tenho muito carinho e afeto pela cidade, mas não voltaria a morar lá. Para a minha vida profissional, o Rio de Janeiro tem que ser a minha base.
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Marina Vancini
Yohama Eshima e Vladimir Brichta, como Cláudia e Tomás, em ‘Pedaço de Mim’ (Netflix, 2024)
Marcos Serra Lima/Netflix
Giovanna Antonelli e Yohama Eshima, como Helô e Yone, em ‘Travessia’ (Globo, 2022)
João Miguel Junior/TV Globo
Yohama Eshima, como Tatiana Yamasaki, em ‘Amor sem igual’ (Record, 2019)
Divulgação/Record
Diego Fortes e Yohama Eshima em cena da peça ‘O Fantástico Coração Subterrâneo’
Divulgação



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