São Paulo
Em um universo digital cada vez mais dominado por modas efêmeras, um personagem de olhos esbugalhados e sorriso com dentes afiados se destacou nos últimos tempos: o Labubu. Com seu visual excêntrico e estética que mistura o sombrio com o lúdico, o boneco virou objeto de desejo entre celebridades, influenciadores e fãs da cultura pop.
Nas redes sociais, o bichinho acabou causando reações mistas. Enquanto muita gente se derrete pela aparência inusitada, outros não escondem o estranhamento. Essa dualidade, no entanto, é o charme da pelúcia, que representa a tendência do “ugly-cute” (algo como “feio-fofo”), conceito que vem crescendo no mercado de luxo e nos de brinquedos colecionáveis.
O Labubu foi criado pelo artista Kasing Lung, de Hong Kong. Ele é conhecido por obras que combinam fantasia sombria com traços infantis. Inspirado por personagens de contos de fadas e elementos da mitologia nórdica, Lung criou o personagem como parte da série The Monsters, lançada pela gigante chinesa de colecionáveis Pop Mart.
O boneco é descrito como um pequeno monstro com orelhas pontudas e dentes serrilhados. Apesar da aparência travessa, ele é bondoso e sempre quer ajudar, mas muitas vezes acaba fazendo o contrário sem querer.
Fatores como serem objetos colecionáveis e o elemento surpresa —já que, como em um álbum de figurinhas, você não sabe qual versão virá— aumentam o desejo de ter um Labubu, explica Benjamin Rosenthal, professor e especialista em consumo da FGV EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas).
Dados do Google Trends confirmam essa febre e mostram que, no Brasil, as buscas pelo boneca cresceram significativamente. Na comparação entre abril e março, as pesquisas aumentaram 2.820% no país. As pessoas procuram onde comprar, quanto custa, como viralizou e até roupinhas para o boneco.
Ao redor do mundo, também é tendência. Desde seu lançamento em 2015 (a versão física chegou três anos depois, em 2018), as pesquisas por Labubu atingiram seu ponto mais alto em abril deste ano. Até mesmo as buscas por “blind boxes”, as caixas surpresa com diferentes formas do personagem, estão em alta nas buscas nos EUA.
O produto começou a viralizar depois que a cantora Lisa, do grupo de k-pop mais famoso do mundo, o Blackpink, apareceu usando o boneco como um chaveiro. Em seguida, a cantora Dua Lipa e a influenciadora Virginia Fonseca também exibiram suas pelúcias da moda em publicações nas redes sociais.
Foi aí que os pequenos monstrinhos conquistaram o amor do público. A personagem Blogueirinha, por exemplo, compartilhou em seu TikTok o momento em que abria uma caixa com vários personagens surpresa da coleção em um vídeo que soma 1,4 milhões de visualizações. Rihanna, que recentemente anunciou sua terceira gravidez, também foi flagrada por fotógrafos com um boneco rosa em sua bolsa.
Os valores para quem deseja ter um Labubu variam bastante —no Brasil, eles são revendidos por lojas como Shopee, AliExpress e Magazine Luiza. Modelos básicos podem ser encontrados a partir de R$ 140, mas edições especiais chegam facilmente a R$ 300 ou R$ 1.500. Já exemplares raríssimos, vendidos em feiras especializadas na Ásia ou em parcerias limitadas com marcas de luxo, ultrapassam a marca dos R$ 5.000. Alguns só podem ser adquiridos por meio de sorteios ou em lançamentos exclusivos.
Uma das fãs do boneco é a criadora de conteúdo Francine Oliveira. Logo nos primeiros vídeos em que mostrou seu Labubu no TikTok, ela já acumulava mais de 4 milhões de visualizações. Na publicação, ela diz que comprou o bicho com receio de acabar recebendo uma “Lafufu” —apelido dado às réplicas falsas da pelúcia.
Francine explica que, por ser um produto importado, existem muitas versões falsificadas e que, durante o processo de compra, alguns vendedores podem enganar o consumidor.
Para saber se é original, é preciso perceber pela qualidade do produto. “Quando não é original, sempre tem alguma imperfeição. Por exemplo, os olhos saem com facilidade”, ensina a jovem, que diz ter pago cerca de R$ 240 em seu Labubu.
Para Francine, o boneco é mais do que um item de coleção. “É uma forma de me expressar, assim como fazemos com nossas roupas e com a moda. Dá para montar vários looks e ter várias cores combinando com ela”, afirma.
Essa relação entre estilo e expressão pessoal também ajuda a explicar por que o personagem caiu no gosto do mundo fashion. Surfando na tendência dos chaveiros grandes em bolsas, eles se tornaram os novos queridinhos da moda. Dados do Google Trends confirmam esse movimento: neste ano, as buscas por “bag charms” estão mais populares do que nunca ao redor do mundo.
Para Karine Karam, professora de pesquisa e comportamento do consumidor na ESPM, o Labubu também funciona como um símbolo de status.
“Quem pagaria R$ 300 em uma boneca que é, basicamente, um chaveiro? Qual é o benefício prático? Nenhum. É puramente emocional, é sobre conexão, representatividade, identidade. Acessar algo que poucas pessoas acessam me coloca dentro de uma tribo, de um grupo ao qual eu passo a pertencer”, explica.
Recentemente, outra moda que tomou conta da internet e pode ser relacionada a essa explicação foi a dos bebês reborn. Assim como os Labubu, os bonecos hiper-realistas ganharam popularidade não pelo seu uso prático, mas pela forte carga emocional que carregam, criando vínculos afetivos e formando comunidades de fãs que buscam pertencimento e identificação através desses objetos. Vai de cada um seguir ou não a tendência.
São Paulo
Em um universo digital cada vez mais dominado por modas efêmeras, um personagem de olhos esbugalhados e sorriso com dentes afiados se destacou nos últimos tempos: o Labubu. Com seu visual excêntrico e estética que mistura o sombrio com o lúdico, o boneco virou objeto de desejo entre celebridades, influenciadores e fãs da cultura pop.
Nas redes sociais, o bichinho acabou causando reações mistas. Enquanto muita gente se derrete pela aparência inusitada, outros não escondem o estranhamento. Essa dualidade, no entanto, é o charme da pelúcia, que representa a tendência do “ugly-cute” (algo como “feio-fofo”), conceito que vem crescendo no mercado de luxo e nos de brinquedos colecionáveis.
O Labubu foi criado pelo artista Kasing Lung, de Hong Kong. Ele é conhecido por obras que combinam fantasia sombria com traços infantis. Inspirado por personagens de contos de fadas e elementos da mitologia nórdica, Lung criou o personagem como parte da série The Monsters, lançada pela gigante chinesa de colecionáveis Pop Mart.
O boneco é descrito como um pequeno monstro com orelhas pontudas e dentes serrilhados. Apesar da aparência travessa, ele é bondoso e sempre quer ajudar, mas muitas vezes acaba fazendo o contrário sem querer.
Fatores como serem objetos colecionáveis e o elemento surpresa —já que, como em um álbum de figurinhas, você não sabe qual versão virá— aumentam o desejo de ter um Labubu, explica Benjamin Rosenthal, professor e especialista em consumo da FGV EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas).
Dados do Google Trends confirmam essa febre e mostram que, no Brasil, as buscas pelo boneca cresceram significativamente. Na comparação entre abril e março, as pesquisas aumentaram 2.820% no país. As pessoas procuram onde comprar, quanto custa, como viralizou e até roupinhas para o boneco.
Ao redor do mundo, também é tendência. Desde seu lançamento em 2015 (a versão física chegou três anos depois, em 2018), as pesquisas por Labubu atingiram seu ponto mais alto em abril deste ano. Até mesmo as buscas por “blind boxes”, as caixas surpresa com diferentes formas do personagem, estão em alta nas buscas nos EUA.
O produto começou a viralizar depois que a cantora Lisa, do grupo de k-pop mais famoso do mundo, o Blackpink, apareceu usando o boneco como um chaveiro. Em seguida, a cantora Dua Lipa e a influenciadora Virginia Fonseca também exibiram suas pelúcias da moda em publicações nas redes sociais.
Foi aí que os pequenos monstrinhos conquistaram o amor do público. A personagem Blogueirinha, por exemplo, compartilhou em seu TikTok o momento em que abria uma caixa com vários personagens surpresa da coleção em um vídeo que soma 1,4 milhões de visualizações. Rihanna, que recentemente anunciou sua terceira gravidez, também foi flagrada por fotógrafos com um boneco rosa em sua bolsa.
Os valores para quem deseja ter um Labubu variam bastante —no Brasil, eles são revendidos por lojas como Shopee, AliExpress e Magazine Luiza. Modelos básicos podem ser encontrados a partir de R$ 140, mas edições especiais chegam facilmente a R$ 300 ou R$ 1.500. Já exemplares raríssimos, vendidos em feiras especializadas na Ásia ou em parcerias limitadas com marcas de luxo, ultrapassam a marca dos R$ 5.000. Alguns só podem ser adquiridos por meio de sorteios ou em lançamentos exclusivos.
Uma das fãs do boneco é a criadora de conteúdo Francine Oliveira. Logo nos primeiros vídeos em que mostrou seu Labubu no TikTok, ela já acumulava mais de 4 milhões de visualizações. Na publicação, ela diz que comprou o bicho com receio de acabar recebendo uma “Lafufu” —apelido dado às réplicas falsas da pelúcia.
Francine explica que, por ser um produto importado, existem muitas versões falsificadas e que, durante o processo de compra, alguns vendedores podem enganar o consumidor.
Para saber se é original, é preciso perceber pela qualidade do produto. “Quando não é original, sempre tem alguma imperfeição. Por exemplo, os olhos saem com facilidade”, ensina a jovem, que diz ter pago cerca de R$ 240 em seu Labubu.
Para Francine, o boneco é mais do que um item de coleção. “É uma forma de me expressar, assim como fazemos com nossas roupas e com a moda. Dá para montar vários looks e ter várias cores combinando com ela”, afirma.
Essa relação entre estilo e expressão pessoal também ajuda a explicar por que o personagem caiu no gosto do mundo fashion. Surfando na tendência dos chaveiros grandes em bolsas, eles se tornaram os novos queridinhos da moda. Dados do Google Trends confirmam esse movimento: neste ano, as buscas por “bag charms” estão mais populares do que nunca ao redor do mundo.
Para Karine Karam, professora de pesquisa e comportamento do consumidor na ESPM, o Labubu também funciona como um símbolo de status.
“Quem pagaria R$ 300 em uma boneca que é, basicamente, um chaveiro? Qual é o benefício prático? Nenhum. É puramente emocional, é sobre conexão, representatividade, identidade. Acessar algo que poucas pessoas acessam me coloca dentro de uma tribo, de um grupo ao qual eu passo a pertencer”, explica.
Recentemente, outra moda que tomou conta da internet e pode ser relacionada a essa explicação foi a dos bebês reborn. Assim como os Labubu, os bonecos hiper-realistas ganharam popularidade não pelo seu uso prático, mas pela forte carga emocional que carregam, criando vínculos afetivos e formando comunidades de fãs que buscam pertencimento e identificação através desses objetos. Vai de cada um seguir ou não a tendência.