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13 May 2025, Tue

Goldman Sachs: Não dá para chamar esse BC de brando – 12/05/2025 – Mercado


Com a inflação projetada distante da meta e a economia ainda aquecida, Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, defende uma alta residual de 0,25 ponto percentual no próximo encontro do Copom (Comitê de Política Monetária), em junho, o que elevaria a taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano.

Como estratégia, o economista prefere uma atuação mais conservadora no curto prazo para abrir espaço para cortar a Selic ainda neste ano a um cenário de juro estacionado por um período mais prolongado. Apesar da predileção, ele avalia que o colegiado do BC encaminhou o fim do ciclo de alta.

“Ao validar a curva do mercado, ele se protege até do ponto de vista reputacional. Mas não dá para chamar esse Banco Central de dovish [brando], um Banco Central que aumentou três vezes [a Selic em] um ponto percentual, depois aumentou 0,5 ponto e elevou o juro a 14,75%”, diz ele em entrevista à Folha.

Para Ramos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tem ajudado a tirar pressão da economia pelo lado fiscal e o Copom precisará fazer uma “ginástica comunicacional” para parar de subir juros enquanto a inflação não dá sinais de alívio à frente.

Qual é a sua leitura sobre o comunicado do Copom?

O comunicado quis ser dovish [suave] e hawkish [duro] ao mesmo tempo, o que gera dissonância. O texto e os números não parecem conversar muito. As expectativas de curto, médio e longo prazo continuam bastante desancoradas da meta. Ele [Copom] vai ter de fazer uma ginástica comunicacional para parar quando a inflação projetada ainda está muito distante da meta. Agora, 14,75% ou 15% não faz muita diferença, mas também não faria muita diferença subir [a Selic] e mostrar que o Banco Central está preocupado.

A inflação ainda é um problema sério, longe de ser equacionado. Seria melhor dar 0,25 ponto em junho e depois esperar para ver. Não que parar a Selic em 14,75% seja um erro de política monetária.

Mas politicamente não faz diferença ter mais um ajuste?

O governo deveria gostar que o Banco Central faça um excelente trabalho em trazer a inflação para a meta. Inflação é um imposto regressivo sobre as famílias de baixa renda. A ideia é controlar a inflação para depois ter duas coisas boas: inflação baixa e juros baixos. Não sei como o governo vai reagir, mas, ao olhar as projeções de inflação, seria de bom tom dar um pouquinho mais de juro na reunião de junho.

O mercado estava pensando que o ciclo termina em 15% e se mantém até a reunião de dezembro, quando cai um pouquinho. Ao validar essa curva do mercado, ele se protege até do ponto de vista reputacional. Mas não dá para chamar esse Banco Central de dovish [brando], um BC que aumentou três vezes [a Selic em] um ponto percentual, depois aumentou 0,5 ponto e elevou o juro a 14,75%.

O problema é que está lidando com um problema de inflação muito complicado e a autoridade fiscal não está ajudando a tirar pressão sobre a economia.

Para o mercado, o Copom deu pistas de que deve encerrar o ciclo. Vê essa possibilidade?

Vejo claramente essa possibilidade porque o Banco Central parece estar comunicando nessa direção, não que eu ache que seria o mais indicado com os dados que a gente tem hoje. Daqui a seis semanas pode ser uma realidade completamente diferente. Diria até que não é porque os economistas acham que não é necessário dar mais, mas estão se ajustando àquilo que o Banco Central está comunicando.

O que precisaria acontecer para o Copom optar por um caminho ou por outro?

O Banco Central devia se guiar por suas próprias projeções. Com as projeções em relação à evolução do hiato do produto e o potencial do fiscal manter a economia ainda aquecida, a margem de surpresa negativa, quer dizer, de inflação maior é razoável.

Agora, se o câmbio continuar se apreciando, os preços de commodities continuarem caindo e a gente ver dados de atividade doméstica um pouquinho mais fracos, refletindo a restritividade monetária, ele pode parar. É uma questão de curto prazo versus um pouquinho mais lá na frente.

Se fechasse com 15%, poderia cortar já no final deste ano. Ou deixar em 14,75% até março, abril, maio de 2026. É uma questão estratégica. Um Banco Central que foi tão conservador até agora, eu fecharia o ciclo em linha com esse perfil.

Se achar depois que tem espaço, corta mais agressivamente lá na frente, tem tempo o suficiente para recalibrar. Essa história de parar e dizer que depois volta a subir, se for necessário, o mercado não vai comprar. Uma vez que parou, o mercado acha que o próximo movimento é de queda.

O que espera da ata?

A prescrição futura ficou meio dúbia, queria ver um pouco dessa discussão e quero ver se há alguma divergência entre os diretores nesse ponto. É no início e no final de ciclo que muitas vezes aparecem divergências.

A proposta de LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2026 mostrou a insustentabilidade do arcabouço fiscal. Por que isso não mexeu com as expectativas de inflação?

Porque não é segredo para ninguém que o arcabouço é uma âncora fiscal muito fraca e que não se sustenta intertemporalmente. O governo apenas reconheceu o que o mercado estava careca de saber. A questão é que temos um problema fiscal grande, que se avoluma com o passar do tempo e a gente está empurrando com a barriga. O próximo governo, seja quem for, vai ter uma herança complicadíssima e vai ter que fazer coisas muito impopulares.

Como o BC pode tentar coordenar expectativas?

O objetivo do Banco Central é entregar a inflação da meta, o resto é paisagem. Mas claramente o processo de coordenar expectativas é importante para a efetividade da política monetária. Requer uma coordenação monetária e fiscal. Não é culpa do Banco Central ter tido pouquíssimo apoio da autoridade fiscal nesse processo de controlar a inflação. Diria que, com outro [quadro] fiscal, as expectativas não estariam onde estão.

RAIO-X | ALBERTO RAMOS

Nascido em Portugal, é diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, onde trabalha desde 2003. Antes, atuou como economista sênior do FMI (Fundo Monetário Internacional) em Washington (EUA). É PhD em economia, especializado em finanças, pela Universidade de Chicago.

Com a inflação projetada distante da meta e a economia ainda aquecida, Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, defende uma alta residual de 0,25 ponto percentual no próximo encontro do Copom (Comitê de Política Monetária), em junho, o que elevaria a taxa básica de juros (Selic) a 15% ao ano.

Como estratégia, o economista prefere uma atuação mais conservadora no curto prazo para abrir espaço para cortar a Selic ainda neste ano a um cenário de juro estacionado por um período mais prolongado. Apesar da predileção, ele avalia que o colegiado do BC encaminhou o fim do ciclo de alta.

“Ao validar a curva do mercado, ele se protege até do ponto de vista reputacional. Mas não dá para chamar esse Banco Central de dovish [brando], um Banco Central que aumentou três vezes [a Selic em] um ponto percentual, depois aumentou 0,5 ponto e elevou o juro a 14,75%”, diz ele em entrevista à Folha.

Para Ramos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tem ajudado a tirar pressão da economia pelo lado fiscal e o Copom precisará fazer uma “ginástica comunicacional” para parar de subir juros enquanto a inflação não dá sinais de alívio à frente.

Qual é a sua leitura sobre o comunicado do Copom?

O comunicado quis ser dovish [suave] e hawkish [duro] ao mesmo tempo, o que gera dissonância. O texto e os números não parecem conversar muito. As expectativas de curto, médio e longo prazo continuam bastante desancoradas da meta. Ele [Copom] vai ter de fazer uma ginástica comunicacional para parar quando a inflação projetada ainda está muito distante da meta. Agora, 14,75% ou 15% não faz muita diferença, mas também não faria muita diferença subir [a Selic] e mostrar que o Banco Central está preocupado.

A inflação ainda é um problema sério, longe de ser equacionado. Seria melhor dar 0,25 ponto em junho e depois esperar para ver. Não que parar a Selic em 14,75% seja um erro de política monetária.

Mas politicamente não faz diferença ter mais um ajuste?

O governo deveria gostar que o Banco Central faça um excelente trabalho em trazer a inflação para a meta. Inflação é um imposto regressivo sobre as famílias de baixa renda. A ideia é controlar a inflação para depois ter duas coisas boas: inflação baixa e juros baixos. Não sei como o governo vai reagir, mas, ao olhar as projeções de inflação, seria de bom tom dar um pouquinho mais de juro na reunião de junho.

O mercado estava pensando que o ciclo termina em 15% e se mantém até a reunião de dezembro, quando cai um pouquinho. Ao validar essa curva do mercado, ele se protege até do ponto de vista reputacional. Mas não dá para chamar esse Banco Central de dovish [brando], um BC que aumentou três vezes [a Selic em] um ponto percentual, depois aumentou 0,5 ponto e elevou o juro a 14,75%.

O problema é que está lidando com um problema de inflação muito complicado e a autoridade fiscal não está ajudando a tirar pressão sobre a economia.

Para o mercado, o Copom deu pistas de que deve encerrar o ciclo. Vê essa possibilidade?

Vejo claramente essa possibilidade porque o Banco Central parece estar comunicando nessa direção, não que eu ache que seria o mais indicado com os dados que a gente tem hoje. Daqui a seis semanas pode ser uma realidade completamente diferente. Diria até que não é porque os economistas acham que não é necessário dar mais, mas estão se ajustando àquilo que o Banco Central está comunicando.

O que precisaria acontecer para o Copom optar por um caminho ou por outro?

O Banco Central devia se guiar por suas próprias projeções. Com as projeções em relação à evolução do hiato do produto e o potencial do fiscal manter a economia ainda aquecida, a margem de surpresa negativa, quer dizer, de inflação maior é razoável.

Agora, se o câmbio continuar se apreciando, os preços de commodities continuarem caindo e a gente ver dados de atividade doméstica um pouquinho mais fracos, refletindo a restritividade monetária, ele pode parar. É uma questão de curto prazo versus um pouquinho mais lá na frente.

Se fechasse com 15%, poderia cortar já no final deste ano. Ou deixar em 14,75% até março, abril, maio de 2026. É uma questão estratégica. Um Banco Central que foi tão conservador até agora, eu fecharia o ciclo em linha com esse perfil.

Se achar depois que tem espaço, corta mais agressivamente lá na frente, tem tempo o suficiente para recalibrar. Essa história de parar e dizer que depois volta a subir, se for necessário, o mercado não vai comprar. Uma vez que parou, o mercado acha que o próximo movimento é de queda.

O que espera da ata?

A prescrição futura ficou meio dúbia, queria ver um pouco dessa discussão e quero ver se há alguma divergência entre os diretores nesse ponto. É no início e no final de ciclo que muitas vezes aparecem divergências.

A proposta de LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2026 mostrou a insustentabilidade do arcabouço fiscal. Por que isso não mexeu com as expectativas de inflação?

Porque não é segredo para ninguém que o arcabouço é uma âncora fiscal muito fraca e que não se sustenta intertemporalmente. O governo apenas reconheceu o que o mercado estava careca de saber. A questão é que temos um problema fiscal grande, que se avoluma com o passar do tempo e a gente está empurrando com a barriga. O próximo governo, seja quem for, vai ter uma herança complicadíssima e vai ter que fazer coisas muito impopulares.

Como o BC pode tentar coordenar expectativas?

O objetivo do Banco Central é entregar a inflação da meta, o resto é paisagem. Mas claramente o processo de coordenar expectativas é importante para a efetividade da política monetária. Requer uma coordenação monetária e fiscal. Não é culpa do Banco Central ter tido pouquíssimo apoio da autoridade fiscal nesse processo de controlar a inflação. Diria que, com outro [quadro] fiscal, as expectativas não estariam onde estão.

RAIO-X | ALBERTO RAMOS

Nascido em Portugal, é diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, onde trabalha desde 2003. Antes, atuou como economista sênior do FMI (Fundo Monetário Internacional) em Washington (EUA). É PhD em economia, especializado em finanças, pela Universidade de Chicago.



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