Donald Trump é reconhecido há tempos por sua reputação de maximalista, fazendo enormes exigências, criando crises e iniciando negociações de alta pressão.
Mas com uma frequência cada vez maior, o presidente dos EUA acaba recuando e, mesmo assim, declarando vitória. Seus opositores parecem estar percebendo isso, aprimorando suas táticas com base nos padrões do presidente.
Essa dinâmica se repete nas últimas semanas, quando Trump recuou, em diferentes graus, em seus planos de transformar Gaza na “Riviera do Oriente Médio”, converter o Canadá no 51º estado e subjugar a China com tarifas.
Agora, dois testes diferentes estão surgindo. Um é sobre como Trump se posiciona, diante dos maiores aliados dos Estados Unidos ou diante do presidente russo Vladimir Putin, sobre a preservação da soberania e segurança da Ucrânia em qualquer acordo de cessar-fogo.
O outro teste pode determinar se o presidente dos EUA está realmente disposto a deixar Israel bombardear o Irã —ou se juntar a eles, apesar dos riscos— se não conseguir chegar a um acordo nuclear melhor do que o obtido pelo ex-presidente Barack Obama, e eliminar o caminho de Teerã para a fabricação de bombas.
Ambas as negociações carecem das simetrias numéricas das negociações tarifárias. Milhares de vidas, se não milhões, estão potencialmente em jogo. Ambas envolvem décadas de ressentimentos, que remontam à Revolução Islâmica no Irã e à dissolução da União Soviética.
A Rússia e o Irã parecem estar aperfeiçoando suas estratégias depois de observar Trump em ação. Emissários desses países estão insinuando ao negociador de Trump, Steve Witkoff, que pode haver algumas oportunidades de investimento para americanos se os Estados Unidos reduzirem suas exigências. Witkoff, como Trump, tem histórico no setor imobiliário.
A China provou ser um exemplo interessante ao Trump adotar uma abordagem maximalista e depois recuar. Nesse caso, também, Pequim parecia estar observando e aprendendo os padrões de Trump.
Quando Trump impôs tarifas sobre produtos fabricados na China há mais de um mês, ele advertiu os líderes de Pequim e os de outras nações. “Não retaliem”, afirmou à época. A resistência era inútil. Os melhores acordos viriam para os países que aparecessem em Washington cedo, com uma lista de concessões.
O dirigente chinês, Xi Jinping, ignorou esse conselho. Ele igualou as tarifas, até que a taxação sobre as importações da China para os Estados Unidos atingiram impressionantes 145%. Por cinco semanas, Xi seguiu o caminho para a destruição econômica mutuamente assegurada. Inflação e escassez se aproximavam. Navios cargueiros deram meia-volta.
Trump levou cerca de 40 dias para recuar, concordando com uma tarifa inicial de 30% —ainda punitivamente alta— sem concessões chinesas significativas além de um acordo para resolver a questão nos próximos 90 dias.
Lá Fora
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O recuo foi tão marcante que desencadeou uma alta previsível do mercado. E também esclareceu os objetivos de Washington. Desde que Trump começou a impor tarifas tanto a adversários quanto a aliados dos EUA, questões centrais pairavam. Na mente do presidente, as tarifas eram um mecanismo para remodelar a ordem comercial global? Para forçar uma reindustrialização do país, mesmo para produzir produtos que faz pouco sentido fabricar internamente? Ou ele está vislumbrando uma nova fonte de renda destinada a complementar impostos para pagar um governo que há 30 anos gasta muito mais do que arrecada?
Em vários momentos, Trump sugeriu que as três hipóteses estivessem em jogo. Agora, parece evidente que o que realmente o anima é usar as tarifas como um porrete, e fazer sua tarifa mínima de 10% sobre todos os produtos estrangeiros parecer uma pechincha, mesmo que seja onerosa para os consumidores. Tudo acima desse número é altamente negociável.
No último fim de semana, Trump relutantemente acrescentou outra grande exigência, contra a Rússia. Foi emitida pelos principais líderes da Europa durante uma visita à Ucrânia, depois que eles ligaram para o presidente dos EUA e concordaram com os termos. Deu prazo até segunda-feira para a Rússia concordar com um cessar-fogo de 30 dias.
Putin ignorou, apostando que o declínio custaria pouco. Em vez disso, o presidente da Rússia ordenou ataques de drones ao território ucraniano e ofereceu uma sessão de negociação com a Ucrânia nesta quinta-feira (15) em Istambul. Trump apressou-se em endossar a ideia, abandonando a condição de que um cessar-fogo deveria vir primeiro, para que a Ucrânia não estivesse negociando enquanto enfrentava um ataque russo.
Putin claramente percebe que Trump se importa pouco com a integridade das fronteiras da Ucrânia ou mesmo com quem é responsável pela invasão. Logo após assumir o cargo, Trump afirmou que a própria Ucrânia era responsável, contribuindo para o comportamento explosivo do republicano no final de fevereiro com o presidente Volodimir Zelenski na Casa Branca.
Grande parte da conversa em Istambul se concentrará no controle do território que a Rússia agora ocupa; se a Ucrânia tem que reduzir radicalmente seus armamentos e se a Otan precisa retirar tropas e armas perto das fronteiras russas. Zelenski prometeu comparecer, aumentando o potencial para um impasse.
Como observou Stephen Sestanovich, um especialista em Rússia e diplomata de longa data que há uma década escreveu o livro “Maximalista”, desde a discussão na Casa Branca “os ucranianos encontraram uma maneira de combinar gratidão com inflexibilidade e fazer isso funcionar para eles.”
Putin, entrando no jogo, deixou pistas sobre operações conjuntas russo-americanas de energia e mineração, atiçando um presidente ávido por acordos a obter algo de um tratado com a Ucrânia, além de sua busca por um prêmio Nobel da Paz. Witkoff pareceu encantado com essa ideia em uma entrevista com Tucker Carlson.
Agora, os iranianos estão tentando uma tática semelhante.
Após várias semanas de declarações conflitantes sobre se o Irã poderia continuar enriquecendo urânio, que pode alimentar uma arma nuclear, Witkoff disse na semana passada, em uma entrevista ao jornal Breitbart News: “Acreditamos que eles não podem ter enriquecimento, não podem ter centrífugas, não podem ter nada que lhes permita construir uma arma.”
As exigências pareciam bastante claras. Mas os iranianos afirmam que Witkoff adotou uma abordagem muito mais suave na sala de negociações no último fim de semana e não descartou permitir alguma atividade nuclear no Irã.
Enquanto isso, os iranianos, segundo vários membros do governo, começaram a lançar ideias para empreendimentos conjuntos de energia nuclear, talvez com os Estados Unidos ou a Arábia Saudita, uma rival regional.
A chave é que todas as sanções seriam suspensas e o Irã preservaria algumas das capacidades que Witkoff, e nos últimos dias Trump, sugeriu que devem ser desativadas ou desmanteladas.
Na terça-feira (13), Trump disse em Riad, a capital saudita, que estava oferecendo ao Irã “um novo caminho e um caminho muito melhor para um futuro muito melhor e mais esperançoso”. E afirmou: “O momento é agora para eles escolherem.”
Donald Trump é reconhecido há tempos por sua reputação de maximalista, fazendo enormes exigências, criando crises e iniciando negociações de alta pressão.
Mas com uma frequência cada vez maior, o presidente dos EUA acaba recuando e, mesmo assim, declarando vitória. Seus opositores parecem estar percebendo isso, aprimorando suas táticas com base nos padrões do presidente.
Essa dinâmica se repete nas últimas semanas, quando Trump recuou, em diferentes graus, em seus planos de transformar Gaza na “Riviera do Oriente Médio”, converter o Canadá no 51º estado e subjugar a China com tarifas.
Agora, dois testes diferentes estão surgindo. Um é sobre como Trump se posiciona, diante dos maiores aliados dos Estados Unidos ou diante do presidente russo Vladimir Putin, sobre a preservação da soberania e segurança da Ucrânia em qualquer acordo de cessar-fogo.
O outro teste pode determinar se o presidente dos EUA está realmente disposto a deixar Israel bombardear o Irã —ou se juntar a eles, apesar dos riscos— se não conseguir chegar a um acordo nuclear melhor do que o obtido pelo ex-presidente Barack Obama, e eliminar o caminho de Teerã para a fabricação de bombas.
Ambas as negociações carecem das simetrias numéricas das negociações tarifárias. Milhares de vidas, se não milhões, estão potencialmente em jogo. Ambas envolvem décadas de ressentimentos, que remontam à Revolução Islâmica no Irã e à dissolução da União Soviética.
A Rússia e o Irã parecem estar aperfeiçoando suas estratégias depois de observar Trump em ação. Emissários desses países estão insinuando ao negociador de Trump, Steve Witkoff, que pode haver algumas oportunidades de investimento para americanos se os Estados Unidos reduzirem suas exigências. Witkoff, como Trump, tem histórico no setor imobiliário.
A China provou ser um exemplo interessante ao Trump adotar uma abordagem maximalista e depois recuar. Nesse caso, também, Pequim parecia estar observando e aprendendo os padrões de Trump.
Quando Trump impôs tarifas sobre produtos fabricados na China há mais de um mês, ele advertiu os líderes de Pequim e os de outras nações. “Não retaliem”, afirmou à época. A resistência era inútil. Os melhores acordos viriam para os países que aparecessem em Washington cedo, com uma lista de concessões.
O dirigente chinês, Xi Jinping, ignorou esse conselho. Ele igualou as tarifas, até que a taxação sobre as importações da China para os Estados Unidos atingiram impressionantes 145%. Por cinco semanas, Xi seguiu o caminho para a destruição econômica mutuamente assegurada. Inflação e escassez se aproximavam. Navios cargueiros deram meia-volta.
Trump levou cerca de 40 dias para recuar, concordando com uma tarifa inicial de 30% —ainda punitivamente alta— sem concessões chinesas significativas além de um acordo para resolver a questão nos próximos 90 dias.
Lá Fora
Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo
O recuo foi tão marcante que desencadeou uma alta previsível do mercado. E também esclareceu os objetivos de Washington. Desde que Trump começou a impor tarifas tanto a adversários quanto a aliados dos EUA, questões centrais pairavam. Na mente do presidente, as tarifas eram um mecanismo para remodelar a ordem comercial global? Para forçar uma reindustrialização do país, mesmo para produzir produtos que faz pouco sentido fabricar internamente? Ou ele está vislumbrando uma nova fonte de renda destinada a complementar impostos para pagar um governo que há 30 anos gasta muito mais do que arrecada?
Em vários momentos, Trump sugeriu que as três hipóteses estivessem em jogo. Agora, parece evidente que o que realmente o anima é usar as tarifas como um porrete, e fazer sua tarifa mínima de 10% sobre todos os produtos estrangeiros parecer uma pechincha, mesmo que seja onerosa para os consumidores. Tudo acima desse número é altamente negociável.
No último fim de semana, Trump relutantemente acrescentou outra grande exigência, contra a Rússia. Foi emitida pelos principais líderes da Europa durante uma visita à Ucrânia, depois que eles ligaram para o presidente dos EUA e concordaram com os termos. Deu prazo até segunda-feira para a Rússia concordar com um cessar-fogo de 30 dias.
Putin ignorou, apostando que o declínio custaria pouco. Em vez disso, o presidente da Rússia ordenou ataques de drones ao território ucraniano e ofereceu uma sessão de negociação com a Ucrânia nesta quinta-feira (15) em Istambul. Trump apressou-se em endossar a ideia, abandonando a condição de que um cessar-fogo deveria vir primeiro, para que a Ucrânia não estivesse negociando enquanto enfrentava um ataque russo.
Putin claramente percebe que Trump se importa pouco com a integridade das fronteiras da Ucrânia ou mesmo com quem é responsável pela invasão. Logo após assumir o cargo, Trump afirmou que a própria Ucrânia era responsável, contribuindo para o comportamento explosivo do republicano no final de fevereiro com o presidente Volodimir Zelenski na Casa Branca.
Grande parte da conversa em Istambul se concentrará no controle do território que a Rússia agora ocupa; se a Ucrânia tem que reduzir radicalmente seus armamentos e se a Otan precisa retirar tropas e armas perto das fronteiras russas. Zelenski prometeu comparecer, aumentando o potencial para um impasse.
Como observou Stephen Sestanovich, um especialista em Rússia e diplomata de longa data que há uma década escreveu o livro “Maximalista”, desde a discussão na Casa Branca “os ucranianos encontraram uma maneira de combinar gratidão com inflexibilidade e fazer isso funcionar para eles.”
Putin, entrando no jogo, deixou pistas sobre operações conjuntas russo-americanas de energia e mineração, atiçando um presidente ávido por acordos a obter algo de um tratado com a Ucrânia, além de sua busca por um prêmio Nobel da Paz. Witkoff pareceu encantado com essa ideia em uma entrevista com Tucker Carlson.
Agora, os iranianos estão tentando uma tática semelhante.
Após várias semanas de declarações conflitantes sobre se o Irã poderia continuar enriquecendo urânio, que pode alimentar uma arma nuclear, Witkoff disse na semana passada, em uma entrevista ao jornal Breitbart News: “Acreditamos que eles não podem ter enriquecimento, não podem ter centrífugas, não podem ter nada que lhes permita construir uma arma.”
As exigências pareciam bastante claras. Mas os iranianos afirmam que Witkoff adotou uma abordagem muito mais suave na sala de negociações no último fim de semana e não descartou permitir alguma atividade nuclear no Irã.
Enquanto isso, os iranianos, segundo vários membros do governo, começaram a lançar ideias para empreendimentos conjuntos de energia nuclear, talvez com os Estados Unidos ou a Arábia Saudita, uma rival regional.
A chave é que todas as sanções seriam suspensas e o Irã preservaria algumas das capacidades que Witkoff, e nos últimos dias Trump, sugeriu que devem ser desativadas ou desmanteladas.
Na terça-feira (13), Trump disse em Riad, a capital saudita, que estava oferecendo ao Irã “um novo caminho e um caminho muito melhor para um futuro muito melhor e mais esperançoso”. E afirmou: “O momento é agora para eles escolherem.”