Dose alta do remédio de juros aplicada pelo BC pode virar veneno

Experimento de resultados incertos

Com essa perspectiva de elevação forte dos juros — a taxa de juros real se aproximou de 10%, certamente um novo recorde mundial —, a economia brasileira entra num experimento de resultados incertos. Esse experimento objetiva reverter a trajetória altista da inflação e levar a recuos consistentes nas cotações do dólar. Mas é incerto tanto na contenção, no nível pretendido, das expectativas de inflação quanto no recuo esperado da cotação do dólar.

Na história do sistema de metas de inflação, altas de um ponto percentual em decisões do Copom são muito raras. Em mais de duas décadas, exceto o momento excepcional da pandemia, o Copom só elevou a Selic nesta magnitude um par de vezes, em 2001 e 2002.

O histórico das taxas básicas, nos movimentos de alta, é de avanços graduais, de 0,25 ponto percentual ou 0,5 ponto, com algumas escapadas para 0,75 ponto. Na pós-pandemia, em 2021 e 2002, depois de derrubar a Selic a inéditos 2% ao ano, o Copom promoveu altas sucessivas largas, de 1 ponto ou 1,5 ponto, até deixar a taxa básica em 13,75%.

As correrias em reuniões do Copom que alteraram a Selic em um ponto ou acima são mais frequentes nos movimentos de redução da taxa básica. Ocorreram, por exemplo, com mais intensidade, em 2009 e em 2017.

Depois de elevar a Selic às vésperas da quebra do banco Lehman Brothers, que deu início ao grande crash financeiro e econômico global, em setembro de 2008, com Henrique Meirelles na presidência do BC, o Copom derrubou a taxa básica, ao longo de 2009, de 13,75% para 8,75%, em machadadas de 1 ponto e 1,5 ponto por reunião. Já em 2017, com Ilan Goldfajn na presidência do BC, o Copom reduziu a Selic, em sucessivas e fortes podas, de 13,75% a 6,5%.



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