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23 Apr 2025, Wed

Mãe reflete após perder filho de 2 anos: "Estava sempre reclamando que ele dava trabalho"




Em uma publicação comovente e viral, a brasileira, que mora em Portugal, fez um apelo para que outros pais não reclamem dos seus filhos Como toda criança pequena, Vicente, de 2 anos, era um garotinho alegre, que ficava eufórico quando saía com os pais. O fato de ele ter vivido os primeiros meses de vida na pandemia, tornava o mundo lá fora ainda mais empolgante. A mãe, Anna, achava difícil sair com ele, a exemplo de um dia em que a família decidiu ir a uma pizzaria. “Nunca vou me esquecer. Eu preferi não ficar na pizzaria”, conta ela, em uma publicação viral nas redes sociais (assista abaixo).
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“Ele começou a correr pela pizzaria, mexia em tudo, deu um trabalhão danado, o que resultou em: atendentes me olhando de cara feia, clientes me julgando com olhares, enfim… Pagamos a pizza e fomos comer em casa. Mal sabia eu que aquele era o meu último aniversário com o meu filho vivo”, lamenta. Três meses depois, o pequeno faleceu. “Todas as vezes que for reclamar do seu filho, que ele não para quieto, que ele não se comporta nos lugares, que tem vergonha de sair com ele, lembre-se de mim”, escreveu ela, no post comovente.
Vicente partiu aos 2 anos
Reprodução/Instagram
Taboola Recommendation
Em entrevista exclusiva à CRESCER, Anna, que é de Presidente Epitácio, no interior de São Paulo, mas mora em Portugal, relembrou como tudo aconteceu. O primeiro sinal de que algo estava errado veio em junho de 2021, quando o menino acordou com a fralda seca. “Achei estranho, pois ele costumava fazer bastante xixi durante a madrugada”, lembra.
No decorrer do dia, o menino seguiu sem urinar e passou a ficar incomodado, com as pernas trêmulas. Ele apontava para a fralda. Os pais correram para o hospital. Lá, Anna disse que a médica mal examinou Vicente, atribuiu o problema à fimose, e os mandou de volta para casa. No banho, o pequeno conseguiu fazer xixi, se sentiu aliviado e acordou bem no dia seguinte.
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Mais alguns meses se passaram e, em um dia de outubro daquele mesmo ano, Vicente acordou com os olhos muito inchados. A princípio, a família achou que fosse uma alergia. “Ele tinha brincado muito com a cachorra da minha tia no dia anterior, acreditamos que pudesse ser por conta dos pelos”, lembra. Porém, ela também notou que o cocô dele estava com um cheiro muito forte. Outra ida ao hospital e o diagnóstico foi de alergia. Com uma prescrição de colírio, o menino foi liberado.
Anna sabia que não era só aquilo. “O meu coração de mãe sentia que não era alergia, que não era uma coisa simples”, afirma. Então, ao buscar informações na internet, ela ficou sabendo sobre a existência de uma doença chamada Síndrome Nefrótica, com sintomas parecidos. “Não fiquei mais em paz, mas não imaginava que pudesse ser algo tão grave”, conta.
Dias difíceis
De fato, era esse o diagnóstico de Vicente, mas ele só foi constatado pelos médicos quatro meses depois do primeiro sintoma — e isso só aconteceu porque Anna foi ao laboratório e insistiu que o médico pedisse o exame de sangue. No dia 2 de novembro, quando levou os resultados ao hospital, Anna teve a certeza daquilo que seu coração já sabia — seu filho tinha algo muito sério. Eles foram encaminhados, imediatamente, a um hospital em Presidente Prudente (SP), de ambulância. “Me senti completamente desesperada, impotente, sem chão, tive muito medo de perdê-lo”, relata.
O menino foi levado diretamente para a UTI. Para a mãe, falar sobre os 28 dias em que Vicente ficou internado é dolorido até hoje. Ele demorou para apresentar sinais de melhora e, quando isso começou a acontecer, contraiu uma gripe que agravou seu estado de saúde. “Toda a esperança que eu tinha foi por água abaixo. Minha fé estava completamente abalada”, recorda-se.
Vicente precisou fazer diálise. “O dia em que o entubaram foi um dos piores para mim”, pontua. “Neste momento, eu já estava completamente desesperada. Eu chorava na frente de todo mundo e não estava mais nem aí para o que estavam pensando”, conta a mãe. “Uma das médicas do Vicente me abraçou e chorou junto comigo. Lembro que olhei para ela e disse que estava com medo de ele morrer”, afirma. “Outro momento em que me desesperei foi quando o médico pediu para eu ligar para o meu esposo, que estava em Presidente Epitácio. Ele disse que era bom que ele viesse vê-lo antes da entubação”, continua.
A cirurgia trasncorreu bem, mas o menino ficou sedado e entubado até falecer. Anna explica que Vicente não reagiu à diálise, nem às medicações e seguia sem fazer xixi. “Eu entrava no banheiro, ajoelhava perante o vaso e chorava enlouquecidamente suplicando pra Deus tirar meu filho daquela situação. Foram momentos extremamente difíceis e dolorosos”, disse.
Hora da despedida
Anna sabia que o fim estava próximo e a esperança já não existia. “Fé? Não tinha mais, de jeito nenhum! Para mim, era impossível ter fé diante de tudo aquilo — uma criança inocente sofrendo tanto. Por quê? Eu só questionava Deus. Foi terrível”, lamenta. A mãe e o marido revezavam com outros familiares para que alguém sempre ficasse com Vicente na UTI. No dia 23 de novembro, Anna ficou tão desolada que não conseguia mais entrar lá. “Não suportava ver meu filho naquela situação. Chegou um momento em que eu simplesmente não queria mais vê-lo – não porque não o amava, muito pelo contrário. Eu o amava tanto que não conseguia mais vê-lo daquele jeito”, relata.
Ela conta que algum tempo depois, no dia 29, ela sentiu uma vontade muito grande de ir ao hospital, passar a noite com o filho. Apesar de ter fica inquieta o dia todo, com esse sentimento palpitando dentro de si, as emoções eram confusas. “Não fui. Neste dia, meu esposo dormiu com ele. No dia seguinte, ele me contou que foi a pior noite de todas. O Vicente tinha passado muito mal e meu marido teve de sair do quarto várias vezes para que as enfermeiras pudessem fazer a reanimação”, lembra.
No dia 30, pela manhã, o pai trocou de lugar com uma prima. Quando chegou em casa, disse à Anna que a médica tinha recomendado que ela também fosse ao hospital. “Chegamos a brigar porque eu não queria ir de jeito nenhum, mas acabei indo. Ao chegar lá, olhei para o meu filho e tive a certeza absoluta de que ele iria morrer”, afirma. Vicente estava muito magro. A mãe levou um susto quando viu seu corpo embaixo das mantas. A barriga estava cheia de pontos, ele estava machucado. “Foi horrível vê-lo daquele jeito”, diz.
Nesse dia, ela decidiu fazer uma oração diferente — entregaria a vida de Vicente nas mãos de Deus. Anna lembra de estar com o marido na porta da UTI, antes de a médica chamar por eles. Ela os levou até uma sala e explicou que a situação de Vicente era grave e que o menino estava muito debilitado. “Ela disse que ele só estava ali por conta dos aparelhos. Então, perguntou o que gostaríamos que fizessem caso desse alguma complicação no quadro. Nós dissemos que não era para fazer nada. Era para deixá-lo descansar”, conta.
Depois disso, os pais foram ver o menino. “Sempre que ele ouvia a minha voz, os batimentos cardíacos subiam. Na maioria das vezes, lágrimas escorriam pelo rostinho dele. A médica dizia que era porque ele estava tossindo, mas eu não acredito. Acredito que ele estava realmente chorando por estar ouvindo a minha voz. No momento da nossa despedida, senti uma paz muito grande dentro de mim. Chorei muito, óbvio, mas eu não estava com raiva de Deus. Senti um alívio em saber que todo aquele sofrimento do meu filho estava chegando ao fim”, desabafa.
“Olhei bem cada detalhe, pois eu queria guardar aquele momento comigo para sempre. Lembro que ele estava com os joelhos ralados, um galo na cabeça, os dedinhos dos pés com marcas de casquinha, de quando faz machucado, sabe? Eu o abracei, beijei, pedi perdão, falei para ele que o amava demais e que, por este motivo, ele tinha a minha permissão para descansar. A médica chegou a me perguntar se eu queria pegar ele no colo pela última vez, eu disse que não”, relata.
Os pais foram embora por volta das 21h40. Às 22h05, a tia que tinha ficado com ele ligou e deu a notícia de que ele havia falecido. “O luto de perder um filho, sem dúvida nenhuma, é o mais difícil de todos, pois crescemos acreditando que nós, mães e pais, vamos partir primeiro”, afirma. “Eu tenho lidado com o luto de uma maneira instável. Cada dia é diferente do outro. Um dia estou me sentindo super bem, no outro, nem tanto. Assim, eu vou levando a vida”, explica.
No início, Anna fazia acompanhamento psicológico. Por um tempo, ela viveu a base de medicamentos e calmantes. Agora, conseguiu se libertar dos remédios. A família acabou se mudando para Portugal, onde vive até hoje.
Os irmãos
Anna tem um filho mais velho, hoje com 9 anos. “Na época, Arthur tinha 6 anos. Quando o Vicente ficou doente, nós contamos, mas ele não imaginava a gravidade”, afirma. Antes de o quadro realmente ficar grave, o irmão chegou a se despedir de Vicente. No dia em que ele pertiu, o pai foi quem deu a notícia para o mais velho. “Não tive coragem de estar junto”, confessa Anna. “Com o tempo, ele foi crescendo e entendendo melhor o que tinha acontecido. No começo, ele tinha crises de choro, falava que queria ver o irmão, que sentia muita saudade”, relata a mãe. Ele chegou a fazer acompanhamento psicológico por algum tempo também.
“Acredito que mudar de país foi a nossa melhor escolha diante de toda aquela situação. Na verdade, nosso plano era mudar junto com o Vicente. Chegamos a fazer os documentos dele. Ainda assim, decidimos mudar de ambiente e respirar novos ares”, explica. “Hoje, Arthur tem 9 anos e ainda sente muita falta do irmão. Acredito que sempre sentirá. Mas ele sabe lidar muito bem com isso e, quando não está bem, a gente conversa. Somos muito amigos — ele confia muito em mim, e no pai também!”, destaca.
Hoje, o casal vive em Portugal com os filhos, Arthur, 9 anos, e Theodoro, 2
Reprodução/ Instagram
Anna engravidou novamente e, dessa vez, veio Theodoro, já em Portugal. O bebê chegou ao mundo em janeiro de 2023. “Foi um acalento para os nossos corações. Um verdadeiro milagre em nossas vidas, porém, Vicente jamais será substituído”, reafirma. “Depois do que passei, enxergo tudo de outra maneira. Hoje, penso que se eu realmente quiser sair com o meu filho, eu vou dar um jeito, afinal, ele é só uma criança descobrindo uma infinidade de coisas”, disse ela.
“A criança só não ‘dá trabalho’ quando estamos dando atenção a ela! Já parou para observar a alegria do seu filho quando você o leva para passear? Se não observou, observe! Brinque com seus filhos, saia um pouco da frente do celular, esqueça a casa impecável. Eles estão experimentando TUDO pela primeira vez. Não percam tempo, cada minuto com os nossos filhos é precioso, demais”, aconselha.
O que é síndrome nefrótica?
A síndrome nefrótica é uma condição clínica caracterizada pela perda de grandes quantidades de proteína na urina. Ela pode vir acompanhada de edema, albumina baixa no sangue, alterações no colesterol, propensão a trombose e quadros infecciosos. “Costumamos dizer que síndrome nefrótica é uma doença que engloba muitas diferentes doenças, pois seus sintomas, causas, tratamentos e consequências podem ser extremamente variáveis entre quem é acometido”, explica a médica Luiza do Nascimento Ghizoni Pereira, especialista em transplante renal do Sabará Hospital Infantil (SP).
Felizmente, em geral, as crianças evoluem de forma benigna, no entanto, há casos em que há a perda irreversível da função renal e a necessidade de transplante. A síndrome pode ser desencadeada por diferentes fatores: causa não definida (maioria), mutações genéticas (caso do Murilo), quadros infecciosos, doenças reumatológicas como Lupus, ou até como consequência de algumas medicações, ou tipos de câncer (raro em pediatria, porém mais frequente entre adultos).
“A síndrome nefrótica pode ser assintomática, ou estar associada a edema (lembrando que existem muitas outras causas de edema), urina com espuma, ou sangue na urina. Importante ressaltar que: anemia sem carência de ferro, baixo ganho de peso e estatura, excesso de sede e urina e infecções urinárias de repetição, apesar de não relacionadas especificamente à síndrome nefrótica são condições clínicas que devem motivar uma avaliação da função renal”, afirma a especialista.
O transplante renal será indicado quando há perda grave e irreversível da função renal. “Nós categorizamos a perda da função renal em 5 estágios, de acordo com uma medida baseada na estatura da criança e na dosagem creatinina no sangue. Quando esta estimativa de função renal está inferior a 15 ml/min/1.73m2 de superfície corpórea, ou seja, estágio 5 de doença renal crônica, ou quando a criança já está em diálise, o transplante é indicado”, explica a médica.


Em uma publicação comovente e viral, a brasileira, que mora em Portugal, fez um apelo para que outros pais não reclamem dos seus filhos Como toda criança pequena, Vicente, de 2 anos, era um garotinho alegre, que ficava eufórico quando saía com os pais. O fato de ele ter vivido os primeiros meses de vida na pandemia, tornava o mundo lá fora ainda mais empolgante. A mãe, Anna, achava difícil sair com ele, a exemplo de um dia em que a família decidiu ir a uma pizzaria. “Nunca vou me esquecer. Eu preferi não ficar na pizzaria”, conta ela, em uma publicação viral nas redes sociais (assista abaixo).
Despedida de Yara: menina que viralizou ao cantar ‘Let It Go’ perde batalha contra o câncer
“Ele começou a correr pela pizzaria, mexia em tudo, deu um trabalhão danado, o que resultou em: atendentes me olhando de cara feia, clientes me julgando com olhares, enfim… Pagamos a pizza e fomos comer em casa. Mal sabia eu que aquele era o meu último aniversário com o meu filho vivo”, lamenta. Três meses depois, o pequeno faleceu. “Todas as vezes que for reclamar do seu filho, que ele não para quieto, que ele não se comporta nos lugares, que tem vergonha de sair com ele, lembre-se de mim”, escreveu ela, no post comovente.
Vicente partiu aos 2 anos
Reprodução/Instagram
Taboola Recommendation
Em entrevista exclusiva à CRESCER, Anna, que é de Presidente Epitácio, no interior de São Paulo, mas mora em Portugal, relembrou como tudo aconteceu. O primeiro sinal de que algo estava errado veio em junho de 2021, quando o menino acordou com a fralda seca. “Achei estranho, pois ele costumava fazer bastante xixi durante a madrugada”, lembra.
No decorrer do dia, o menino seguiu sem urinar e passou a ficar incomodado, com as pernas trêmulas. Ele apontava para a fralda. Os pais correram para o hospital. Lá, Anna disse que a médica mal examinou Vicente, atribuiu o problema à fimose, e os mandou de volta para casa. No banho, o pequeno conseguiu fazer xixi, se sentiu aliviado e acordou bem no dia seguinte.
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Mais alguns meses se passaram e, em um dia de outubro daquele mesmo ano, Vicente acordou com os olhos muito inchados. A princípio, a família achou que fosse uma alergia. “Ele tinha brincado muito com a cachorra da minha tia no dia anterior, acreditamos que pudesse ser por conta dos pelos”, lembra. Porém, ela também notou que o cocô dele estava com um cheiro muito forte. Outra ida ao hospital e o diagnóstico foi de alergia. Com uma prescrição de colírio, o menino foi liberado.
Anna sabia que não era só aquilo. “O meu coração de mãe sentia que não era alergia, que não era uma coisa simples”, afirma. Então, ao buscar informações na internet, ela ficou sabendo sobre a existência de uma doença chamada Síndrome Nefrótica, com sintomas parecidos. “Não fiquei mais em paz, mas não imaginava que pudesse ser algo tão grave”, conta.
Dias difíceis
De fato, era esse o diagnóstico de Vicente, mas ele só foi constatado pelos médicos quatro meses depois do primeiro sintoma — e isso só aconteceu porque Anna foi ao laboratório e insistiu que o médico pedisse o exame de sangue. No dia 2 de novembro, quando levou os resultados ao hospital, Anna teve a certeza daquilo que seu coração já sabia — seu filho tinha algo muito sério. Eles foram encaminhados, imediatamente, a um hospital em Presidente Prudente (SP), de ambulância. “Me senti completamente desesperada, impotente, sem chão, tive muito medo de perdê-lo”, relata.
O menino foi levado diretamente para a UTI. Para a mãe, falar sobre os 28 dias em que Vicente ficou internado é dolorido até hoje. Ele demorou para apresentar sinais de melhora e, quando isso começou a acontecer, contraiu uma gripe que agravou seu estado de saúde. “Toda a esperança que eu tinha foi por água abaixo. Minha fé estava completamente abalada”, recorda-se.
Vicente precisou fazer diálise. “O dia em que o entubaram foi um dos piores para mim”, pontua. “Neste momento, eu já estava completamente desesperada. Eu chorava na frente de todo mundo e não estava mais nem aí para o que estavam pensando”, conta a mãe. “Uma das médicas do Vicente me abraçou e chorou junto comigo. Lembro que olhei para ela e disse que estava com medo de ele morrer”, afirma. “Outro momento em que me desesperei foi quando o médico pediu para eu ligar para o meu esposo, que estava em Presidente Epitácio. Ele disse que era bom que ele viesse vê-lo antes da entubação”, continua.
A cirurgia trasncorreu bem, mas o menino ficou sedado e entubado até falecer. Anna explica que Vicente não reagiu à diálise, nem às medicações e seguia sem fazer xixi. “Eu entrava no banheiro, ajoelhava perante o vaso e chorava enlouquecidamente suplicando pra Deus tirar meu filho daquela situação. Foram momentos extremamente difíceis e dolorosos”, disse.
Hora da despedida
Anna sabia que o fim estava próximo e a esperança já não existia. “Fé? Não tinha mais, de jeito nenhum! Para mim, era impossível ter fé diante de tudo aquilo — uma criança inocente sofrendo tanto. Por quê? Eu só questionava Deus. Foi terrível”, lamenta. A mãe e o marido revezavam com outros familiares para que alguém sempre ficasse com Vicente na UTI. No dia 23 de novembro, Anna ficou tão desolada que não conseguia mais entrar lá. “Não suportava ver meu filho naquela situação. Chegou um momento em que eu simplesmente não queria mais vê-lo – não porque não o amava, muito pelo contrário. Eu o amava tanto que não conseguia mais vê-lo daquele jeito”, relata.
Ela conta que algum tempo depois, no dia 29, ela sentiu uma vontade muito grande de ir ao hospital, passar a noite com o filho. Apesar de ter fica inquieta o dia todo, com esse sentimento palpitando dentro de si, as emoções eram confusas. “Não fui. Neste dia, meu esposo dormiu com ele. No dia seguinte, ele me contou que foi a pior noite de todas. O Vicente tinha passado muito mal e meu marido teve de sair do quarto várias vezes para que as enfermeiras pudessem fazer a reanimação”, lembra.
No dia 30, pela manhã, o pai trocou de lugar com uma prima. Quando chegou em casa, disse à Anna que a médica tinha recomendado que ela também fosse ao hospital. “Chegamos a brigar porque eu não queria ir de jeito nenhum, mas acabei indo. Ao chegar lá, olhei para o meu filho e tive a certeza absoluta de que ele iria morrer”, afirma. Vicente estava muito magro. A mãe levou um susto quando viu seu corpo embaixo das mantas. A barriga estava cheia de pontos, ele estava machucado. “Foi horrível vê-lo daquele jeito”, diz.
Nesse dia, ela decidiu fazer uma oração diferente — entregaria a vida de Vicente nas mãos de Deus. Anna lembra de estar com o marido na porta da UTI, antes de a médica chamar por eles. Ela os levou até uma sala e explicou que a situação de Vicente era grave e que o menino estava muito debilitado. “Ela disse que ele só estava ali por conta dos aparelhos. Então, perguntou o que gostaríamos que fizessem caso desse alguma complicação no quadro. Nós dissemos que não era para fazer nada. Era para deixá-lo descansar”, conta.
Depois disso, os pais foram ver o menino. “Sempre que ele ouvia a minha voz, os batimentos cardíacos subiam. Na maioria das vezes, lágrimas escorriam pelo rostinho dele. A médica dizia que era porque ele estava tossindo, mas eu não acredito. Acredito que ele estava realmente chorando por estar ouvindo a minha voz. No momento da nossa despedida, senti uma paz muito grande dentro de mim. Chorei muito, óbvio, mas eu não estava com raiva de Deus. Senti um alívio em saber que todo aquele sofrimento do meu filho estava chegando ao fim”, desabafa.
“Olhei bem cada detalhe, pois eu queria guardar aquele momento comigo para sempre. Lembro que ele estava com os joelhos ralados, um galo na cabeça, os dedinhos dos pés com marcas de casquinha, de quando faz machucado, sabe? Eu o abracei, beijei, pedi perdão, falei para ele que o amava demais e que, por este motivo, ele tinha a minha permissão para descansar. A médica chegou a me perguntar se eu queria pegar ele no colo pela última vez, eu disse que não”, relata.
Os pais foram embora por volta das 21h40. Às 22h05, a tia que tinha ficado com ele ligou e deu a notícia de que ele havia falecido. “O luto de perder um filho, sem dúvida nenhuma, é o mais difícil de todos, pois crescemos acreditando que nós, mães e pais, vamos partir primeiro”, afirma. “Eu tenho lidado com o luto de uma maneira instável. Cada dia é diferente do outro. Um dia estou me sentindo super bem, no outro, nem tanto. Assim, eu vou levando a vida”, explica.
No início, Anna fazia acompanhamento psicológico. Por um tempo, ela viveu a base de medicamentos e calmantes. Agora, conseguiu se libertar dos remédios. A família acabou se mudando para Portugal, onde vive até hoje.
Os irmãos
Anna tem um filho mais velho, hoje com 9 anos. “Na época, Arthur tinha 6 anos. Quando o Vicente ficou doente, nós contamos, mas ele não imaginava a gravidade”, afirma. Antes de o quadro realmente ficar grave, o irmão chegou a se despedir de Vicente. No dia em que ele pertiu, o pai foi quem deu a notícia para o mais velho. “Não tive coragem de estar junto”, confessa Anna. “Com o tempo, ele foi crescendo e entendendo melhor o que tinha acontecido. No começo, ele tinha crises de choro, falava que queria ver o irmão, que sentia muita saudade”, relata a mãe. Ele chegou a fazer acompanhamento psicológico por algum tempo também.
“Acredito que mudar de país foi a nossa melhor escolha diante de toda aquela situação. Na verdade, nosso plano era mudar junto com o Vicente. Chegamos a fazer os documentos dele. Ainda assim, decidimos mudar de ambiente e respirar novos ares”, explica. “Hoje, Arthur tem 9 anos e ainda sente muita falta do irmão. Acredito que sempre sentirá. Mas ele sabe lidar muito bem com isso e, quando não está bem, a gente conversa. Somos muito amigos — ele confia muito em mim, e no pai também!”, destaca.
Hoje, o casal vive em Portugal com os filhos, Arthur, 9 anos, e Theodoro, 2
Reprodução/ Instagram
Anna engravidou novamente e, dessa vez, veio Theodoro, já em Portugal. O bebê chegou ao mundo em janeiro de 2023. “Foi um acalento para os nossos corações. Um verdadeiro milagre em nossas vidas, porém, Vicente jamais será substituído”, reafirma. “Depois do que passei, enxergo tudo de outra maneira. Hoje, penso que se eu realmente quiser sair com o meu filho, eu vou dar um jeito, afinal, ele é só uma criança descobrindo uma infinidade de coisas”, disse ela.
“A criança só não ‘dá trabalho’ quando estamos dando atenção a ela! Já parou para observar a alegria do seu filho quando você o leva para passear? Se não observou, observe! Brinque com seus filhos, saia um pouco da frente do celular, esqueça a casa impecável. Eles estão experimentando TUDO pela primeira vez. Não percam tempo, cada minuto com os nossos filhos é precioso, demais”, aconselha.
O que é síndrome nefrótica?
A síndrome nefrótica é uma condição clínica caracterizada pela perda de grandes quantidades de proteína na urina. Ela pode vir acompanhada de edema, albumina baixa no sangue, alterações no colesterol, propensão a trombose e quadros infecciosos. “Costumamos dizer que síndrome nefrótica é uma doença que engloba muitas diferentes doenças, pois seus sintomas, causas, tratamentos e consequências podem ser extremamente variáveis entre quem é acometido”, explica a médica Luiza do Nascimento Ghizoni Pereira, especialista em transplante renal do Sabará Hospital Infantil (SP).
Felizmente, em geral, as crianças evoluem de forma benigna, no entanto, há casos em que há a perda irreversível da função renal e a necessidade de transplante. A síndrome pode ser desencadeada por diferentes fatores: causa não definida (maioria), mutações genéticas (caso do Murilo), quadros infecciosos, doenças reumatológicas como Lupus, ou até como consequência de algumas medicações, ou tipos de câncer (raro em pediatria, porém mais frequente entre adultos).
“A síndrome nefrótica pode ser assintomática, ou estar associada a edema (lembrando que existem muitas outras causas de edema), urina com espuma, ou sangue na urina. Importante ressaltar que: anemia sem carência de ferro, baixo ganho de peso e estatura, excesso de sede e urina e infecções urinárias de repetição, apesar de não relacionadas especificamente à síndrome nefrótica são condições clínicas que devem motivar uma avaliação da função renal”, afirma a especialista.
O transplante renal será indicado quando há perda grave e irreversível da função renal. “Nós categorizamos a perda da função renal em 5 estágios, de acordo com uma medida baseada na estatura da criança e na dosagem creatinina no sangue. Quando esta estimativa de função renal está inferior a 15 ml/min/1.73m2 de superfície corpórea, ou seja, estágio 5 de doença renal crônica, ou quando a criança já está em diálise, o transplante é indicado”, explica a médica.



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