A espera por benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) atingiu níveis alarmantes, com uma fila de quase 2 milhões de requerimentos acumulados até novembro de 2024. O aumento drástico, apontado pelo Ministério da Previdência, decorre de um salto nos pedidos mensais, que passaram de uma média de 700 mil para 1,2 milhão em apenas um ano. Esse cenário foi agravado por paralisações de servidores, incluindo uma greve de seis meses em 2024 e a suspensão de atividades dos médicos peritos desde outubro, impactando diretamente milhões de brasileiros que dependem de aposentadorias, auxílios e pensões. O caso da empregada doméstica Ivonete Santos ilustra a situação: após dar entrada em um pedido de aposentadoria por invalidez em julho de 2024, ela só conseguiu atendimento em fevereiro de 2025, após meses de espera e com a ajuda de um advogado.
O crescimento da fila reflete não apenas o volume de novos pedidos, mas também falhas no sistema de atendimento. Em 2023, o governo federal lançou um programa para zerar o backlog, deslocando servidores para regiões críticas e oferecendo bônus de produtividade. Inicialmente, a iniciativa trouxe resultados: entre janeiro e agosto de 2023, o número de requerimentos pendentes caiu de 1,8 milhão para 1,3 milhão. Contudo, a partir de julho de 2024, a tendência se inverteu, e a fila voltou a crescer, alcançando a marca atual. O tempo médio de espera, que chegou a 34 dias em meados de 2024, subiu novamente para 39 dias em novembro, aproximando-se do limite legal de 45 dias estabelecido para análise dos pedidos.
Casos como o de João Batista, que sofreu um acidente de trabalho e aguarda há dez meses o auxílio-doença, evidenciam o impacto humano dessa crise. Ele enfrentou adiamentos consecutivos em perícias marcadas, a última cancelada em 27 de fevereiro de 2025 devido à greve dos peritos, com nova data prevista apenas para abril. O Ministério da Previdência reconhece que 21% dos pedidos são repetidos, feitos pela mesma pessoa com o mesmo CPF, o que sugere falhas na comunicação e na triagem. Diante disso, o governo anunciou medidas emergenciais, como mutirões e o uso de inteligência artificial, para tentar conter o colapso no atendimento.
Programa de redução da fila enfrenta obstáculos
Lançado em julho de 2023, o programa do governo para combater a fila do INSS tinha como meta cumprir uma promessa de campanha do presidente Lula. A estratégia incluía remanejamento de funcionários para unidades sobrecarregadas e incentivos financeiros para servidores e médicos peritos. Nos primeiros meses, o plano parecia funcionar: o tempo médio de espera caiu de 76 dias no início de 2023 para 47 dias em janeiro de 2024, enquanto a fila encolhia. Porém, os avanços foram interrompidos por fatores como o aumento inesperado na demanda e as paralisações trabalhistas ao longo de 2024.
A greve dos servidores, que durou seis meses, e a paralisação dos peritos, iniciada em outubro, travaram o andamento dos processos. Os médicos peritos, responsáveis por avaliar benefícios como auxílios por incapacidade, exigem uma reestruturação de carreira, o que mantém o impasse. Sem a força-tarefa, que encerrou em dezembro de 2024, janeiro e fevereiro de 2025 foram marcados por um vácuo de ações efetivas, permitindo que a fila alcançasse quase 2 milhões de pedidos pendentes até o final do último ano contabilizado.
Impactos na vida dos segurados
João Batista, que passou por uma cirurgia no pulso após um acidente de trabalho, representa os milhões afetados pela demora. Há dez meses buscando o auxílio-doença, ele teve sua perícia remarcada pela segunda vez para abril de 2025, o que o obriga a seguir sem renda enquanto enfrenta dificuldades para sustentar a família. Já Ivonete Santos relata que, após uma queda em 2023, recebeu apenas cinco meses de pagamento antes de ter o benefício suspenso, levando-a a contratar um advogado para garantir a aposentadoria por invalidez.
O tempo de espera, que oscilou nos últimos dois anos, reflete a instabilidade do sistema. Em julho de 2024, o prazo médio de 34 dias era um avanço em relação aos 76 dias registrados no início de 2023. No entanto, a partir de agosto, o número voltou a subir, chegando a 39 dias em novembro. Esse atraso ultrapassa o limite legal em muitos casos, forçando segurados a recorrer à Justiça ou a despachantes para acelerar os processos, o que gera custos adicionais e amplia a desigualdade no acesso aos benefícios.
Medidas emergenciais para conter a crise
Diante do agravamento da situação, o Ministério da Previdência anunciou, em fevereiro de 2025, um mutirão com 500 servidores para os próximos 90 dias. A ação priorizará benefícios por incapacidade, salário-maternidade, pensão por morte e benefícios assistenciais sem pendências de avaliação social ou perícia médica, além de aposentadorias. A iniciativa busca reduzir o estoque de pedidos acumulados, mas enfrenta o desafio da ausência de peritos, cuja greve segue sem solução.
A partir de maio, o INSS contará com o reforço de 350 novos servidores aprovados em concurso recente, o que pode aliviar a pressão sobre o atendimento. Outra novidade é a implementação, em março de 2025, de inteligência artificial para triagem de pedidos. A tecnologia permitirá a leitura automática de atestados médicos, eliminando etapas manuais e acelerando a liberação de benefícios. O presidente do INSS destacou que a medida visa atender rapidamente quem depende desses recursos, como doentes ou famílias em luto.
Perfil dos pedidos em alta
O aumento de quase 100% nos pedidos mensais, de 700 mil para 1,2 milhão, revela uma demanda reprimida e mudanças no perfil dos segurados. Veja alguns fatores que contribuíram para esse cenário:
- Envelhecimento da população, elevando os pedidos de aposentadoria por idade.
- Crescente número de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.
- Solicitações repetidas por falhas na análise inicial ou falta de clareza nas regras.
- Impacto econômico, levando mais pessoas a buscar benefícios assistenciais.
Cerca de 21% dos requerimentos são feitos por indivíduos que já têm outros pedidos em andamento, muitas vezes por desconhecimento ou tentativa de corrigir erros anteriores. Esse volume sobrecarrega o sistema e dificulta a priorização dos casos mais urgentes.
Cronologia da fila do INSS
A evolução da fila do INSS nos últimos anos mostra os altos e baixos do sistema previdenciário:
- Janeiro de 2023: 1,8 milhão de pedidos, com espera média de 76 dias.
- Julho de 2023: Lançamento do programa de redução da fila.
- Janeiro de 2024: Fila cai para 1,3 milhão, com espera de 47 dias.
- Julho de 2024: Menor tempo de espera, 34 dias.
- Novembro de 2024: Fila sobe para quase 2 milhões, com 39 dias de espera.
A tendência de crescimento a partir de meados de 2024 coincide com o fim do programa emergencial e as greves, evidenciando a fragilidade das soluções adotadas até agora.
Desafios estruturais à vista
Resolver a fila do INSS exige mais do que medidas temporárias. A greve dos médicos peritos, iniciada em outubro de 2024, expõe a necessidade de uma reestruturação na carreira, com melhores condições de trabalho e remuneração. Sem acordo, os benefícios por incapacidade, que representam uma fatia significativa dos pedidos, seguem represados. O mutirão anunciado pode aliviar o estoque, mas não resolve a falta de peritos, essencial para casos como o de João Batista.
A introdução de inteligência artificial é vista como um avanço promissor. Automatizando a triagem, o INSS espera reduzir o tempo de análise de documentos, liberando servidores para outras funções. Em testes iniciais, a ferramenta processou atestados médicos em segundos, contra minutos no modelo manual. Se implementada em larga escala, pode cortar dias do prazo de concessão, beneficiando especialmente quem precisa de auxílio-doença ou salário-maternidade.
Histórias por trás dos números
Por trás das estatísticas, estão pessoas como Ivonete Santos, que após uma queda em 2023 viu sua vida financeira desmoronar. Sem o benefício integral, ela recorreu a um advogado para pressionar o INSS, uma prática comum entre os que podem pagar. Já João Batista, sem essa opção, enfrenta a incerteza de mais dois meses de espera, dependendo de ajuda familiar para sobreviver. Esses relatos mostram como a demora afeta diretamente a subsistência de milhões de brasileiros.
A fila de quase 2 milhões também reflete um sistema sobrecarregado por décadas de subinvestimento. Apesar dos avanços do programa de 2023, a falta de continuidade e os conflitos trabalhistas minaram os resultados. O reforço de servidores em maio e a tecnologia de triagem podem trazer alívio, mas a solução definitiva passa por uma reforma estrutural que equilibre a demanda crescente com a capacidade de atendimento.

A espera por benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) atingiu níveis alarmantes, com uma fila de quase 2 milhões de requerimentos acumulados até novembro de 2024. O aumento drástico, apontado pelo Ministério da Previdência, decorre de um salto nos pedidos mensais, que passaram de uma média de 700 mil para 1,2 milhão em apenas um ano. Esse cenário foi agravado por paralisações de servidores, incluindo uma greve de seis meses em 2024 e a suspensão de atividades dos médicos peritos desde outubro, impactando diretamente milhões de brasileiros que dependem de aposentadorias, auxílios e pensões. O caso da empregada doméstica Ivonete Santos ilustra a situação: após dar entrada em um pedido de aposentadoria por invalidez em julho de 2024, ela só conseguiu atendimento em fevereiro de 2025, após meses de espera e com a ajuda de um advogado.
O crescimento da fila reflete não apenas o volume de novos pedidos, mas também falhas no sistema de atendimento. Em 2023, o governo federal lançou um programa para zerar o backlog, deslocando servidores para regiões críticas e oferecendo bônus de produtividade. Inicialmente, a iniciativa trouxe resultados: entre janeiro e agosto de 2023, o número de requerimentos pendentes caiu de 1,8 milhão para 1,3 milhão. Contudo, a partir de julho de 2024, a tendência se inverteu, e a fila voltou a crescer, alcançando a marca atual. O tempo médio de espera, que chegou a 34 dias em meados de 2024, subiu novamente para 39 dias em novembro, aproximando-se do limite legal de 45 dias estabelecido para análise dos pedidos.
Casos como o de João Batista, que sofreu um acidente de trabalho e aguarda há dez meses o auxílio-doença, evidenciam o impacto humano dessa crise. Ele enfrentou adiamentos consecutivos em perícias marcadas, a última cancelada em 27 de fevereiro de 2025 devido à greve dos peritos, com nova data prevista apenas para abril. O Ministério da Previdência reconhece que 21% dos pedidos são repetidos, feitos pela mesma pessoa com o mesmo CPF, o que sugere falhas na comunicação e na triagem. Diante disso, o governo anunciou medidas emergenciais, como mutirões e o uso de inteligência artificial, para tentar conter o colapso no atendimento.
Programa de redução da fila enfrenta obstáculos
Lançado em julho de 2023, o programa do governo para combater a fila do INSS tinha como meta cumprir uma promessa de campanha do presidente Lula. A estratégia incluía remanejamento de funcionários para unidades sobrecarregadas e incentivos financeiros para servidores e médicos peritos. Nos primeiros meses, o plano parecia funcionar: o tempo médio de espera caiu de 76 dias no início de 2023 para 47 dias em janeiro de 2024, enquanto a fila encolhia. Porém, os avanços foram interrompidos por fatores como o aumento inesperado na demanda e as paralisações trabalhistas ao longo de 2024.
A greve dos servidores, que durou seis meses, e a paralisação dos peritos, iniciada em outubro, travaram o andamento dos processos. Os médicos peritos, responsáveis por avaliar benefícios como auxílios por incapacidade, exigem uma reestruturação de carreira, o que mantém o impasse. Sem a força-tarefa, que encerrou em dezembro de 2024, janeiro e fevereiro de 2025 foram marcados por um vácuo de ações efetivas, permitindo que a fila alcançasse quase 2 milhões de pedidos pendentes até o final do último ano contabilizado.
Impactos na vida dos segurados
João Batista, que passou por uma cirurgia no pulso após um acidente de trabalho, representa os milhões afetados pela demora. Há dez meses buscando o auxílio-doença, ele teve sua perícia remarcada pela segunda vez para abril de 2025, o que o obriga a seguir sem renda enquanto enfrenta dificuldades para sustentar a família. Já Ivonete Santos relata que, após uma queda em 2023, recebeu apenas cinco meses de pagamento antes de ter o benefício suspenso, levando-a a contratar um advogado para garantir a aposentadoria por invalidez.
O tempo de espera, que oscilou nos últimos dois anos, reflete a instabilidade do sistema. Em julho de 2024, o prazo médio de 34 dias era um avanço em relação aos 76 dias registrados no início de 2023. No entanto, a partir de agosto, o número voltou a subir, chegando a 39 dias em novembro. Esse atraso ultrapassa o limite legal em muitos casos, forçando segurados a recorrer à Justiça ou a despachantes para acelerar os processos, o que gera custos adicionais e amplia a desigualdade no acesso aos benefícios.
Medidas emergenciais para conter a crise
Diante do agravamento da situação, o Ministério da Previdência anunciou, em fevereiro de 2025, um mutirão com 500 servidores para os próximos 90 dias. A ação priorizará benefícios por incapacidade, salário-maternidade, pensão por morte e benefícios assistenciais sem pendências de avaliação social ou perícia médica, além de aposentadorias. A iniciativa busca reduzir o estoque de pedidos acumulados, mas enfrenta o desafio da ausência de peritos, cuja greve segue sem solução.
A partir de maio, o INSS contará com o reforço de 350 novos servidores aprovados em concurso recente, o que pode aliviar a pressão sobre o atendimento. Outra novidade é a implementação, em março de 2025, de inteligência artificial para triagem de pedidos. A tecnologia permitirá a leitura automática de atestados médicos, eliminando etapas manuais e acelerando a liberação de benefícios. O presidente do INSS destacou que a medida visa atender rapidamente quem depende desses recursos, como doentes ou famílias em luto.
Perfil dos pedidos em alta
O aumento de quase 100% nos pedidos mensais, de 700 mil para 1,2 milhão, revela uma demanda reprimida e mudanças no perfil dos segurados. Veja alguns fatores que contribuíram para esse cenário:
- Envelhecimento da população, elevando os pedidos de aposentadoria por idade.
- Crescente número de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.
- Solicitações repetidas por falhas na análise inicial ou falta de clareza nas regras.
- Impacto econômico, levando mais pessoas a buscar benefícios assistenciais.
Cerca de 21% dos requerimentos são feitos por indivíduos que já têm outros pedidos em andamento, muitas vezes por desconhecimento ou tentativa de corrigir erros anteriores. Esse volume sobrecarrega o sistema e dificulta a priorização dos casos mais urgentes.
Cronologia da fila do INSS
A evolução da fila do INSS nos últimos anos mostra os altos e baixos do sistema previdenciário:
- Janeiro de 2023: 1,8 milhão de pedidos, com espera média de 76 dias.
- Julho de 2023: Lançamento do programa de redução da fila.
- Janeiro de 2024: Fila cai para 1,3 milhão, com espera de 47 dias.
- Julho de 2024: Menor tempo de espera, 34 dias.
- Novembro de 2024: Fila sobe para quase 2 milhões, com 39 dias de espera.
A tendência de crescimento a partir de meados de 2024 coincide com o fim do programa emergencial e as greves, evidenciando a fragilidade das soluções adotadas até agora.
Desafios estruturais à vista
Resolver a fila do INSS exige mais do que medidas temporárias. A greve dos médicos peritos, iniciada em outubro de 2024, expõe a necessidade de uma reestruturação na carreira, com melhores condições de trabalho e remuneração. Sem acordo, os benefícios por incapacidade, que representam uma fatia significativa dos pedidos, seguem represados. O mutirão anunciado pode aliviar o estoque, mas não resolve a falta de peritos, essencial para casos como o de João Batista.
A introdução de inteligência artificial é vista como um avanço promissor. Automatizando a triagem, o INSS espera reduzir o tempo de análise de documentos, liberando servidores para outras funções. Em testes iniciais, a ferramenta processou atestados médicos em segundos, contra minutos no modelo manual. Se implementada em larga escala, pode cortar dias do prazo de concessão, beneficiando especialmente quem precisa de auxílio-doença ou salário-maternidade.
Histórias por trás dos números
Por trás das estatísticas, estão pessoas como Ivonete Santos, que após uma queda em 2023 viu sua vida financeira desmoronar. Sem o benefício integral, ela recorreu a um advogado para pressionar o INSS, uma prática comum entre os que podem pagar. Já João Batista, sem essa opção, enfrenta a incerteza de mais dois meses de espera, dependendo de ajuda familiar para sobreviver. Esses relatos mostram como a demora afeta diretamente a subsistência de milhões de brasileiros.
A fila de quase 2 milhões também reflete um sistema sobrecarregado por décadas de subinvestimento. Apesar dos avanços do programa de 2023, a falta de continuidade e os conflitos trabalhistas minaram os resultados. O reforço de servidores em maio e a tecnologia de triagem podem trazer alívio, mas a solução definitiva passa por uma reforma estrutural que equilibre a demanda crescente com a capacidade de atendimento.
