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12 Mar 2025, Wed


Diz Jesus no Novo Testamento: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura”. Que as criaturas se reúnam nesta segunda (10) numa das baladas de música eletrônica mais clássicas da noite paulistana só pode ser obra divina, dizem convidados ali presentes.

“O D da D-Edge é de Deus”, afirma um seguidor do empresário e DJ Renato Ratier, dono da casa e convertido à fé evangélica. Outra preconiza na rede social do novo cristão: “HOJE, GALERA! VAMOS SER TREMENDAMENTE ABENÇOADOS!”. Essa aí é a Baby do Brasil.

Amiga de Ratier, a ex-vocalista dos Novos Baianos se encarrega de cantar os louvores do culto armado pela primeira vez no clube de paredes pretas e iluminação de LED. “Tô tentando me segurar, mas, como sou autêntica, vai ser difícil”, ela afirma entre uma cantoria e outra. “Qualquer exagero, vocês dizem: ‘Melhor do que se ela estivesse drogada’.”

Baby se declara entorpecida de Jesus desde 1999. Passaria a se definir como “popstora”, uma pastora pop. Em 2014, disse à jornalista Marília Gabriela: “Não tenho uma religião porque isso é coisa de homens e dá briga, eu tenho uma conexão com Deus via Evangelho de Cristo, poderoso e casca-grossa porque não vai ter bunda-mole no céu, só casca-grossa”.

No ano seguinte, afirmou à Folha: “sem nenhum baseado, me tornei uma pessoa muito mais louca”. Sua filha Sarah Sheeva se converteu antes, e as duas passaram um tempo sem se falar. Baby achava que a filha tinha ido para um “caminho muito radical e careta”, como contou anos atrás ao apresentador Amaury Jr. “Ela veio de saião, coque, e eu, ‘filha, desse jeito não’.”

Baby aparece na D-Edge com o cabelo tingido de azul, boina preta, bolsa de paetê, colares e pulseiras brilhantes, botinha de couro e roupa toda preta —a saia sobre a calça, ambas contornadas por um cinto de tachinha. O cancioneiro gospel, escoltado por bateria e guitarra, inclui “Ruja o Leão” e “Poderoso Deus”.

“Desculpa se tô exagerando, é que tá batendo a onda. Como a gente não se droga, a nossa onda é a maior que existe, que é a do Espírito Santo”, diz a cantora uma hora.

O papo de fé vara a noite. “Você sabia que o diabo é crente?”, levanta Baby para ela mesma cortar. “Tem alguém que sabe mais que Deus existe do que o próprio diabo?”

Quando dá microfonia no microfone, ela sorri. “Pode berrar a vontade, tá repreendido!” Também conta que algum parente lhe disse que ela não seria capaz de transformar a D-Edge numa balada gospel. E precisa? “O homem que Jesus tocou é o dono da balada, eu não fiz nada.”

Ratier, nome conhecido da cena cultural de São Paulo, calcula quase quatro anos de convertido. Nas costas de sua camisa tem um “aleluia” em letras amarelas. Ele diz à plateia, acomodada em cadeiras enfileiradas pelo salão onde acontecem festas como a Freak Chic, ter pedido a Deus que perdoasse a todos que falaram mal dele pela iniciativa proselitista.

Conta à Folha no bastidor sobre ataques sofridos após anunciar o ato religioso na casa noturna. Afinal, bebidas alcoólicas fazem parte do faturamento, fora o fato de alguns frequentadores consumirem drogas ilegalmente. Mas isso existe em qualquer lugar, ele argumenta.

“Tem muito culto em hotel, e se você quiser chegar e pedir uma cerveja ali, você tem. Então vai mais da consciência das pessoas.” Ainda assim, muitas pessoas caíram em cima, admite. “Aconteceu muito de falarem assim, ‘não, esse cara tá louco, é hipócrita’, mas eu juro, desejei as melhores energias para a pessoa, eu orei por elas.”

Sua história de conversão começou ao lado da mulher, a DJ e modelo Sarah Cardoso. Eles se casaram em 2024 e, semanas depois, ela entrou em coma e depois ficou mais de meio ano na UTI. Sarah teve uma parada cardiorrespiratória após uma cirurgia, o que bateu nele “como se eu tivesse levado um murro do Mike Tyson na ponta do queixo”, diz. Ainda exige cuidados médicos.

Os pais de Sarah já eram evangélicos, ela mesma foi Testemunha de Jeová. Certo dia, uma funcionária de Ratier convidou o casal para uma igreja não muito longe da D-Edge, a Pura Fé. “Logo no começo, senti uma coisa que nunca tinha sentido. Um calor dentro de mim, a minha garganta travou, comecei a chorar. Me tocou de uma maneira muito forte.”

O DJ se vê hoje como um homem renascido. “Eu bebia, usava droga. Estou há quase nove meses sem beber, não fumo cigarro, não tomo mais remédio para dormir. É complicado falar isso, mas eu tinha quase que uma compulsão sexual.”

Se era um bêbado que vivia drogado, hoje está curado, encontrou Jesus. “Tô na glória, faço jejum. Não quero falar isso para parecer que tô querendo me mostrar. Mas, pô, vai fazer 72 horas que eu tô sem comer sólidos.”

Garrafas de água ofertadas na entrada são a única hidratação disponível para o público. O bar está fechado, e as luzes só faíscam para o louvor.

Notas conservadoras ricocheteiam pelo espaço. Baby diz que “teve gente colocando trabalho na porta”, alusão a despachos típicos em religiões de matriz africana, vistos com preconceito por muitas igrejas cristãs.

“E daí? Vamos amar o cara do mesmo jeito e entregar na mão de papai. Que coisa terrível é cair na mão de papai”, afirma Baby, e a plateia gosta do que ouve. Alguém grita “glória a Deus”.

Ratier repara que a D-Edge fica numa esquina, ou seja, uma encruzilhada. A seu chamado, um amigo vai para a frente e diz que chutou “o capeta” e o “pé quebrou” numa dessas. O dono do lugar, em outro momento, conta que derrubou um litro de azeite para se proteger do que considerou nocivo.

Na saída da D-Edge, uma convidada afirma que achou agressivo usar Deus para criticar outras religiões, o que chama de intolerância religiosa.

Mais adiante no culto, Ratier reafirma seu posto como “cristão evangélico” e reitera que “a gente não está aqui para julgar outras crenças”.

A certa altura, a exaltação vai para a chamada cura gay, uma ideia popular em templos de que a homossexualidade, e outras variantes LGBTQIA+, podem ser revertidas na base da fé. Não há evidência médica ou científica que ratifique essa suposição.

Um homem da plateia dá seu depoimento: “Sabe como eu vim? Cabelos loiros, seios, silicone, casaco de pele tigresa”. Diz que era travesti e escutava sempre: “A mona não morre, vira purpurina”.

Esse mesmo fiel afirma que está casado há 38 anos com uma mulher: “Jesus me curou daquela doença. Deus ama o pecador, não ama o pecado”.

Mais cedo, à reportagem, Ratier dizia descartar um Deus que habite “somente a igreja construída, que é um tijolo”. Por que não trazê-Lo à D-Edge? Ao seu público, que mistura tatuados e evangélicos mais tradicionais, não descarta repetecos. “Se gostarem, de repente a gente pode fazer [o culto] uma vez por mês.” Segundo a “popstora” Baby, sairão todos dali “tremendamente abençoados”.

Diz Jesus no Novo Testamento: “Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura”. Que as criaturas se reúnam nesta segunda (10) numa das baladas de música eletrônica mais clássicas da noite paulistana só pode ser obra divina, dizem convidados ali presentes.

“O D da D-Edge é de Deus”, afirma um seguidor do empresário e DJ Renato Ratier, dono da casa e convertido à fé evangélica. Outra preconiza na rede social do novo cristão: “HOJE, GALERA! VAMOS SER TREMENDAMENTE ABENÇOADOS!”. Essa aí é a Baby do Brasil.

Amiga de Ratier, a ex-vocalista dos Novos Baianos se encarrega de cantar os louvores do culto armado pela primeira vez no clube de paredes pretas e iluminação de LED. “Tô tentando me segurar, mas, como sou autêntica, vai ser difícil”, ela afirma entre uma cantoria e outra. “Qualquer exagero, vocês dizem: ‘Melhor do que se ela estivesse drogada’.”

Baby se declara entorpecida de Jesus desde 1999. Passaria a se definir como “popstora”, uma pastora pop. Em 2014, disse à jornalista Marília Gabriela: “Não tenho uma religião porque isso é coisa de homens e dá briga, eu tenho uma conexão com Deus via Evangelho de Cristo, poderoso e casca-grossa porque não vai ter bunda-mole no céu, só casca-grossa”.

No ano seguinte, afirmou à Folha: “sem nenhum baseado, me tornei uma pessoa muito mais louca”. Sua filha Sarah Sheeva se converteu antes, e as duas passaram um tempo sem se falar. Baby achava que a filha tinha ido para um “caminho muito radical e careta”, como contou anos atrás ao apresentador Amaury Jr. “Ela veio de saião, coque, e eu, ‘filha, desse jeito não’.”

Baby aparece na D-Edge com o cabelo tingido de azul, boina preta, bolsa de paetê, colares e pulseiras brilhantes, botinha de couro e roupa toda preta —a saia sobre a calça, ambas contornadas por um cinto de tachinha. O cancioneiro gospel, escoltado por bateria e guitarra, inclui “Ruja o Leão” e “Poderoso Deus”.

“Desculpa se tô exagerando, é que tá batendo a onda. Como a gente não se droga, a nossa onda é a maior que existe, que é a do Espírito Santo”, diz a cantora uma hora.

O papo de fé vara a noite. “Você sabia que o diabo é crente?”, levanta Baby para ela mesma cortar. “Tem alguém que sabe mais que Deus existe do que o próprio diabo?”

Quando dá microfonia no microfone, ela sorri. “Pode berrar a vontade, tá repreendido!” Também conta que algum parente lhe disse que ela não seria capaz de transformar a D-Edge numa balada gospel. E precisa? “O homem que Jesus tocou é o dono da balada, eu não fiz nada.”

Ratier, nome conhecido da cena cultural de São Paulo, calcula quase quatro anos de convertido. Nas costas de sua camisa tem um “aleluia” em letras amarelas. Ele diz à plateia, acomodada em cadeiras enfileiradas pelo salão onde acontecem festas como a Freak Chic, ter pedido a Deus que perdoasse a todos que falaram mal dele pela iniciativa proselitista.

Conta à Folha no bastidor sobre ataques sofridos após anunciar o ato religioso na casa noturna. Afinal, bebidas alcoólicas fazem parte do faturamento, fora o fato de alguns frequentadores consumirem drogas ilegalmente. Mas isso existe em qualquer lugar, ele argumenta.

“Tem muito culto em hotel, e se você quiser chegar e pedir uma cerveja ali, você tem. Então vai mais da consciência das pessoas.” Ainda assim, muitas pessoas caíram em cima, admite. “Aconteceu muito de falarem assim, ‘não, esse cara tá louco, é hipócrita’, mas eu juro, desejei as melhores energias para a pessoa, eu orei por elas.”

Sua história de conversão começou ao lado da mulher, a DJ e modelo Sarah Cardoso. Eles se casaram em 2024 e, semanas depois, ela entrou em coma e depois ficou mais de meio ano na UTI. Sarah teve uma parada cardiorrespiratória após uma cirurgia, o que bateu nele “como se eu tivesse levado um murro do Mike Tyson na ponta do queixo”, diz. Ainda exige cuidados médicos.

Os pais de Sarah já eram evangélicos, ela mesma foi Testemunha de Jeová. Certo dia, uma funcionária de Ratier convidou o casal para uma igreja não muito longe da D-Edge, a Pura Fé. “Logo no começo, senti uma coisa que nunca tinha sentido. Um calor dentro de mim, a minha garganta travou, comecei a chorar. Me tocou de uma maneira muito forte.”

O DJ se vê hoje como um homem renascido. “Eu bebia, usava droga. Estou há quase nove meses sem beber, não fumo cigarro, não tomo mais remédio para dormir. É complicado falar isso, mas eu tinha quase que uma compulsão sexual.”

Se era um bêbado que vivia drogado, hoje está curado, encontrou Jesus. “Tô na glória, faço jejum. Não quero falar isso para parecer que tô querendo me mostrar. Mas, pô, vai fazer 72 horas que eu tô sem comer sólidos.”

Garrafas de água ofertadas na entrada são a única hidratação disponível para o público. O bar está fechado, e as luzes só faíscam para o louvor.

Notas conservadoras ricocheteiam pelo espaço. Baby diz que “teve gente colocando trabalho na porta”, alusão a despachos típicos em religiões de matriz africana, vistos com preconceito por muitas igrejas cristãs.

“E daí? Vamos amar o cara do mesmo jeito e entregar na mão de papai. Que coisa terrível é cair na mão de papai”, afirma Baby, e a plateia gosta do que ouve. Alguém grita “glória a Deus”.

Ratier repara que a D-Edge fica numa esquina, ou seja, uma encruzilhada. A seu chamado, um amigo vai para a frente e diz que chutou “o capeta” e o “pé quebrou” numa dessas. O dono do lugar, em outro momento, conta que derrubou um litro de azeite para se proteger do que considerou nocivo.

Na saída da D-Edge, uma convidada afirma que achou agressivo usar Deus para criticar outras religiões, o que chama de intolerância religiosa.

Mais adiante no culto, Ratier reafirma seu posto como “cristão evangélico” e reitera que “a gente não está aqui para julgar outras crenças”.

A certa altura, a exaltação vai para a chamada cura gay, uma ideia popular em templos de que a homossexualidade, e outras variantes LGBTQIA+, podem ser revertidas na base da fé. Não há evidência médica ou científica que ratifique essa suposição.

Um homem da plateia dá seu depoimento: “Sabe como eu vim? Cabelos loiros, seios, silicone, casaco de pele tigresa”. Diz que era travesti e escutava sempre: “A mona não morre, vira purpurina”.

Esse mesmo fiel afirma que está casado há 38 anos com uma mulher: “Jesus me curou daquela doença. Deus ama o pecador, não ama o pecado”.

Mais cedo, à reportagem, Ratier dizia descartar um Deus que habite “somente a igreja construída, que é um tijolo”. Por que não trazê-Lo à D-Edge? Ao seu público, que mistura tatuados e evangélicos mais tradicionais, não descarta repetecos. “Se gostarem, de repente a gente pode fazer [o culto] uma vez por mês.” Segundo a “popstora” Baby, sairão todos dali “tremendamente abençoados”.



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