Ternos bem cortados, cores neutras, vestidos discretos… Alguns elementos automaticamente vêm à mente ao lembrar de figuras políticas. Como em outras áreas, a moda desempenha um papel fundamental e comunica mensagens, das mais evidentes às mais intrigantes. Decisões fashion controversas, em dados momentos, podem colocar em cheque até mesmo a seriedade de quem as veste. A coluna traz abaixo três fatos recentes que misturam os dois temas.
Vem conferir!
“Diplomacia das meias”
Durante agenda oficial em Washington, há poucos dias, o primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, recebeu uma homenagem curiosa do vice-presidente dos EUA em um café da manhã. J.D. Vance usou gravata verde, broche em formato de árvore e meias estampadas com trevos, elementos que fazem parte da cultura irlandesa e das celebrações do Dia de São Patrício (ou St. Patrick’s Day).
“O presidente [Donald Trump] é um grande fã de vestimentas conservadoras, então, se ele notar essas meias, você terá que me defender. Isso faz parte do fortalecimento das relações irlandesas-americanas”, brincou Vance, que costumava dar meias temáticas de presente para colegas.
Em resposta, Martin manteve o bom humor, dizendo que, após ver as meias, repensaria o próprio estilo conservador. Posteriormente, em encontro com Donald Trump no Salão Oval, o político republicano realmente notou as meias estampadas do colega, e pareceu se distrair com elas. Quem disse que um acessório simples não tem potencial para “quebrar o gelo” no meio diplomático?
Desta vez, a piada funcionou, mas nem sempre foi assim. Alguns anos atrás, o acessório para os pés também foi um tópico político, mas no Reino Unido. O ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson, antes de assumir o cargo em 2019, foi alvo de uma “fofoca fashion” após a imprensa notar que ele usou o mesmo par de meias em ocasiões consecutivas.
O “desleixo” somou à má impressão deixada pelo líder conservador quando o assunto era moda. O político, que se manteve no cargo até 2022, também ficou famoso por usar camisas sociais amassadas e, por vezes, desalinhadas dentro da calça. Sem falar, é claro, nas gravatas com nós tortos e nos cabelos bagunçados.
Trump e o conservadorismo
Quando se trata de Donald Trump, não faltam situações em que a política e a moda foram tópicos conjuntos em pautas. Alguns deles, relacionados à esposa, Melania, como os possíveis significados conservadores do visual dela para a posse do marido, em janeiro.
O sobretudo azul-marinho pode, por exemplo, ser associado às normas fascistas impostas à vestimenta feminina na Itália dos anos 1930, que enfatizavam, de forma limitante, a função da mulher como figura materna, ao evidenciar cintura e seios.
“Dar destaque para essas duas partes do corpo feminino tem a intenção de comunicar que essa mulher é ou vai ser uma boa mãe, porque um quadril avantajado dá a impressão de que essa mulher vai conseguir parir vários filhos”, explicou o produtor de conteúdo João Biondi, em vídeo publicado no TikTok, citando como referência o livro Fashion Under Fascism, de Eugenia Paulicelli.
À parte da formalidade dos ternos do presidente e dos vestidos de gala de Melania, Trump usa como ferramenta política um acessório, adotado em peso pelos eleitores que o apoiam: os bonés vermelhos – cor do Partido Republicano – com a frase “Make America Great Again”, ou “Faça a América grande novamente”, em tradução livre.
Os acessórios, como a coluna mostrou recentemente ao abordar também a chamada “guerra dos bonés”, podem ser considerados um novo símbolo da polarização política.
A frase foi slogan da primeira campanha de Trump em 2016 e, naquele período, a venda dos bonés chegou a arrecadar US$ 80 mil por dia, segundo Jared Kushner, marido de Ivanka Trump. Com a campanha de 2024, que resultou no segundo mandato do político republicano, a frase voltou à tona. Segundo o jornal The Independent, mais de 1,2 milhão de bonés MAGA foram vendidos entre janeiro e outubro do ano passado.
E o terno?
O presidente da Ucrânia deu o que falar no fim de fevereiro ao participar, sem terno, de uma reunião com Donald Trump, no gabinete do presidente estadunidense. Na ocasião, Volodymyr Zelensky vestiu uma calça escura e um suéter preto com gola padre, similar aos trajes militares ucranianos.
Zelensky, que antes seguia o dress code tradicional de líderes mundiais, adotou um visual mais casual para eventos formais e entrevistas após a invasão russa na Ucrânia, em 2022. Segundo ele, essa é uma forma de se solidarizar com os soldados na linha de frente nos conflitos com a Rússia. O tridente do suéter, por exemplo, é um símbolo do país.
Na reunião recente com Trump, no entanto, a informalidade do visual virou assunto. Um jornalista do canal trumpista Real America’s Voice levou o vice-presidente J.D. Vance aos risos enquanto provocava Zelensky questionando a escolha fashion. “Você é o mais alto escalão nesse país e se recusa a usar um terno. Você tem um terno?”, perguntou Brian Glenn.
“Vou usar um terno depois que essa guerra acabar. Talvez algo como o seu [o de Brian], talvez algo melhor. Não sei, vamos ver. Talvez algo mais barato”, respondeu o presidente ucraniano. Em dezembro de 2022, quase um ano após o início dos ataques russos a seu país, ele havia discursado no Congresso dos Estados Unidos trajando um suéter na cor verde-oliva.
Nada é por acaso
Os exemplos acima mostram que, principalmente para figuras públicas, roupas, calçados e acessórios, ou a forma de usá-los, podem gerar um impacto positivo ou negativo, bem como questionamentos e quebras de expectativa. Mas, no fim das contas, o fato é: a moda sempre comunica algo e causa uma impressão. Portanto, cada escolha é uma mensagem silenciosa, capaz de redefinir percepções e deixar uma marca.
Ternos bem cortados, cores neutras, vestidos discretos… Alguns elementos automaticamente vêm à mente ao lembrar de figuras políticas. Como em outras áreas, a moda desempenha um papel fundamental e comunica mensagens, das mais evidentes às mais intrigantes. Decisões fashion controversas, em dados momentos, podem colocar em cheque até mesmo a seriedade de quem as veste. A coluna traz abaixo três fatos recentes que misturam os dois temas.
Vem conferir!
“Diplomacia das meias”
Durante agenda oficial em Washington, há poucos dias, o primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, recebeu uma homenagem curiosa do vice-presidente dos EUA em um café da manhã. J.D. Vance usou gravata verde, broche em formato de árvore e meias estampadas com trevos, elementos que fazem parte da cultura irlandesa e das celebrações do Dia de São Patrício (ou St. Patrick’s Day).
“O presidente [Donald Trump] é um grande fã de vestimentas conservadoras, então, se ele notar essas meias, você terá que me defender. Isso faz parte do fortalecimento das relações irlandesas-americanas”, brincou Vance, que costumava dar meias temáticas de presente para colegas.
Em resposta, Martin manteve o bom humor, dizendo que, após ver as meias, repensaria o próprio estilo conservador. Posteriormente, em encontro com Donald Trump no Salão Oval, o político republicano realmente notou as meias estampadas do colega, e pareceu se distrair com elas. Quem disse que um acessório simples não tem potencial para “quebrar o gelo” no meio diplomático?
Desta vez, a piada funcionou, mas nem sempre foi assim. Alguns anos atrás, o acessório para os pés também foi um tópico político, mas no Reino Unido. O ex-primeiro-ministro britânico Boris Johnson, antes de assumir o cargo em 2019, foi alvo de uma “fofoca fashion” após a imprensa notar que ele usou o mesmo par de meias em ocasiões consecutivas.
O “desleixo” somou à má impressão deixada pelo líder conservador quando o assunto era moda. O político, que se manteve no cargo até 2022, também ficou famoso por usar camisas sociais amassadas e, por vezes, desalinhadas dentro da calça. Sem falar, é claro, nas gravatas com nós tortos e nos cabelos bagunçados.
Trump e o conservadorismo
Quando se trata de Donald Trump, não faltam situações em que a política e a moda foram tópicos conjuntos em pautas. Alguns deles, relacionados à esposa, Melania, como os possíveis significados conservadores do visual dela para a posse do marido, em janeiro.
O sobretudo azul-marinho pode, por exemplo, ser associado às normas fascistas impostas à vestimenta feminina na Itália dos anos 1930, que enfatizavam, de forma limitante, a função da mulher como figura materna, ao evidenciar cintura e seios.
“Dar destaque para essas duas partes do corpo feminino tem a intenção de comunicar que essa mulher é ou vai ser uma boa mãe, porque um quadril avantajado dá a impressão de que essa mulher vai conseguir parir vários filhos”, explicou o produtor de conteúdo João Biondi, em vídeo publicado no TikTok, citando como referência o livro Fashion Under Fascism, de Eugenia Paulicelli.
À parte da formalidade dos ternos do presidente e dos vestidos de gala de Melania, Trump usa como ferramenta política um acessório, adotado em peso pelos eleitores que o apoiam: os bonés vermelhos – cor do Partido Republicano – com a frase “Make America Great Again”, ou “Faça a América grande novamente”, em tradução livre.
Os acessórios, como a coluna mostrou recentemente ao abordar também a chamada “guerra dos bonés”, podem ser considerados um novo símbolo da polarização política.
A frase foi slogan da primeira campanha de Trump em 2016 e, naquele período, a venda dos bonés chegou a arrecadar US$ 80 mil por dia, segundo Jared Kushner, marido de Ivanka Trump. Com a campanha de 2024, que resultou no segundo mandato do político republicano, a frase voltou à tona. Segundo o jornal The Independent, mais de 1,2 milhão de bonés MAGA foram vendidos entre janeiro e outubro do ano passado.
E o terno?
O presidente da Ucrânia deu o que falar no fim de fevereiro ao participar, sem terno, de uma reunião com Donald Trump, no gabinete do presidente estadunidense. Na ocasião, Volodymyr Zelensky vestiu uma calça escura e um suéter preto com gola padre, similar aos trajes militares ucranianos.
Zelensky, que antes seguia o dress code tradicional de líderes mundiais, adotou um visual mais casual para eventos formais e entrevistas após a invasão russa na Ucrânia, em 2022. Segundo ele, essa é uma forma de se solidarizar com os soldados na linha de frente nos conflitos com a Rússia. O tridente do suéter, por exemplo, é um símbolo do país.
Na reunião recente com Trump, no entanto, a informalidade do visual virou assunto. Um jornalista do canal trumpista Real America’s Voice levou o vice-presidente J.D. Vance aos risos enquanto provocava Zelensky questionando a escolha fashion. “Você é o mais alto escalão nesse país e se recusa a usar um terno. Você tem um terno?”, perguntou Brian Glenn.
“Vou usar um terno depois que essa guerra acabar. Talvez algo como o seu [o de Brian], talvez algo melhor. Não sei, vamos ver. Talvez algo mais barato”, respondeu o presidente ucraniano. Em dezembro de 2022, quase um ano após o início dos ataques russos a seu país, ele havia discursado no Congresso dos Estados Unidos trajando um suéter na cor verde-oliva.
Nada é por acaso
Os exemplos acima mostram que, principalmente para figuras públicas, roupas, calçados e acessórios, ou a forma de usá-los, podem gerar um impacto positivo ou negativo, bem como questionamentos e quebras de expectativa. Mas, no fim das contas, o fato é: a moda sempre comunica algo e causa uma impressão. Portanto, cada escolha é uma mensagem silenciosa, capaz de redefinir percepções e deixar uma marca.