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16 Apr 2025, Wed



Tenho pensado em algo que Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden, disse em uma entrevista após a eleição de novembro: “O presidente tem operado com um horizonte de tempo medido em décadas, enquanto o ciclo político é medido em quatro anos.”

O que estamos vendo agora é que essa era uma escolha errada. Não há como separar a política da próxima década do resultado da próxima eleição. Se você perde o poder, seu conjunto cuidadosamente construído de leis e alianças internacionais pode ser reduzido a cinzas por seu sucessor. Se for verdade que Biden acreditava estar escolhendo a política da posteridade em vez de políticas que os americanos sentiriam antes da eleição, então ele escolheu errado.

Mas não acho que tenha sido uma escolha. O atraso se tornou o padrão do governo dos EUA. A lei de infraestrutura de 2021 deveria injetar centenas de bilhões de dólares em estradas, pontes, banda larga rural, carregadores para veículos elétricos. Em 2024, poucos desses projetos estavam concluídos ou instalados. Isso não aconteceu porque Biden ou sua equipe queriam disputar a reeleição com base em comunicados de imprensa em vez de inaugurações. Mas o governo não fez as mudanças necessárias para entregar em um cronograma que o público pudesse perceber. Muitos membros da equipe de Biden agora se arrependem amargamente disso. Isso inclui Sullivan, que descreveu sua experiência como “profundamente radicalizante”.

“Seja infraestrutura, submarinos, geração de energia, linhas de transmissão ou fábricas de chips —é louco o quanto dificultamos a entrega”, disse Sullivan. “Parte disso são leis e regulamentos. Parte é a autoinibição pela cautela. Parte é a litigiosidade. Parte é complacência. Parte é burocracia. Mas o que encontrei nesses quatro anos como conselheiro de segurança nacional foi um conjunto constante e crescente de obstáculos para fazer qualquer coisa rapidamente. Foi uma enorme frustração. Enorme.”

Um governo mais ágil é possível. O presidente Lyndon B. Johnson sancionou o programa Medicare em 30 de julho de 1965; ele começou a cobrir os idosos um ano depois, em 1º de julho de 1966. Compare isso com as reformas do Medicare no governo Biden. Em 2022, como parte da Lei de Redução da Inflação, o governo deu ao Medicare a autoridade para negociar preços de dez medicamentos; esses preços só entrarão em vigor em… 2026. Como observou Mike Konczal, ex-assessor econômico de Biden, isso é “bem a tempo para o presidente Donald Trump levar o crédito por eles nas eleições de meio de mandato”.

A diferença entre esses dois processos é, bem, o processo. Ao longo das décadas, democratas e republicanos passaram a abraçar as virtudes do atraso. O atraso permite reunir informações, ouvir as comunidades afetadas, pensar nas possíveis consequências e manter fidelidade ao processo —e tudo isso, em conjunto, leva a políticas melhores. Ou assim se pensava.

Esse tipo de pensamento moldou novos processos em todos os níveis do governo dos EUA. Nossas leis ambientais usam revisões e ações judiciais para forçar o governo federal a desacelerar e considerar cuidadosamente todas as possíveis consequências de suas ações; nossos processos regulatórios utilizam períodos de consulta pública e criam espaço para contestações, para garantir que todas as vozes possam ser ouvidas; nossos governos locais criam espaço e tempo para que os moradores contestem a construção de habitações em suas comunidades até que elas se conformem aos seus padrões; o Congresso incorpora procedimentos de planejamento e exigências de revisão complexas para garantir que o dinheiro dos contribuintes não seja desperdiçado com fraudes ou abusos.

Mas também há um argumento contra o atraso, e é um argumento que tenho ouvido cada vez mais democratas fazerem. “Não vemos o atraso como uma forma de desperdício governamental —mas é exatamente isso”, disse o deputado Josh Harder, da Califórnia. “Vemos isso nos custos. Todos esses projetos vão custar muito mais. Politicamente, isso tem um custo enorme também. Alimenta o cinismo e a apatia que, para mim, realmente caracterizam nossa política atual. Realizar algo rapidamente que resolva ao menos uma parte do problema é melhor do que passar anos projetando a solução perfeita que nunca se concretiza.”

A velocidade conecta os eleitores às consequências de seus votos. Para sobreviver, a democracia liberal não precisa apenas entregar; ela precisa entregar rápido o suficiente para que os eleitores saibam a quem agradecer —ou culpar— pelo que estão recebendo. Neste momento, ela está entregando tão lentamente que as linhas de responsabilidade estão confusas. O governo Biden acreditava na política da entrega. Mas os projetos que aprovou serão concluídos tão lentamente que será Trump, ou até mesmo seu sucessor, quem colherá os frutos políticos.

Essa é uma experiência que enfureceu muitas pessoas que trabalharam na Casa Branca de Biden ou que votaram a favor de suas principais leis —especialmente enquanto observam Trump e Elon Musk usarem o anseio por eficiência governamental como desculpa para destruir grande parte do governo federal.

Acho particularmente repugnantes os esforços de Musk com o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) porque acredito profundamente na necessidade daquilo que ele finge ser. Eu gostaria de ver um governo que entrega serviços com eficiência aos cidadãos; o Doge, ao demitir em massa funcionários da Receita e da Previdência Social, lançará essas agências no caos e produzirá um custo aos contribuintes de centenas de bilhões de dólares em arrecadação perdida. Eu gostaria de ver um governo que financia com mais eficiência e ambição a pesquisa científica; o Doge, ao desmontar nossas agências científicas e demitir sumariamente todos que já escreveram ou falaram a palavra diversidade, irá esvaziar justamente as funções governamentais que quero fortalecer.

O Doge não busca eficiência, mas sim controle: trata-se de uma purga da burocracia destinada a dar a Trump, em seu segundo mandato, o domínio sobre o aparato administrativo que ele acredita não ter tido no primeiro.

Em março, Brian Deese, que liderou o Conselho Econômico Nacional sob Biden, publicou um texto contundente na Foreign Affairs chamado “Por que os EUA têm dificuldade para construir”. É, na minha opinião, um dos ensaios mais importantes que qualquer democrata escreveu desde a eleição. É tanto uma admissão de que o governo Biden falhou em consertar o que aflige os EUA quanto um esboço crível de uma abordagem liberal para fazer isso.

Construir capacidade física —moradia, geração de energia, linhas de transmissão, fábricas, data centers — é mais essencial para a economia dos EUA hoje do que tem sido em décadas. Após 15 anos de construção insuficiente de moradias, a falta de casas acessíveis está reduzindo o PIB anual do país, potencialmente em centenas de bilhões de dólares. Após 25 anos de investimento estagnado em redes de energia, a incapacidade de atender à demanda crescente por eletricidade aumenta o risco de contas mais caras e apagões. Por décadas, os EUA deixaram de investir nas capacidades industriais necessárias para construir infraestrutura importante, incluindo fábricas de semicondutores, usinas nucleares e cadeias cruciais de suprimento. Nesse processo, cederam terreno tecnológico à China e a outros adversários em um momento de intensificação da competição global por novas tecnologias.

Deese defende uma estratégia de “tudo ao mesmo tempo” para tornar mais fácil construir nos EUA e fazer o governo agir. Ele propõe mais investimentos e menos regulações, combater o poder corporativo concentrado e leis ambientais obsoletas, usar o dinheiro federal para forçar estados a permitirem mais habitação e infraestrutura —ao mesmo tempo que insiste que os democratas enfrentem alas da própria coalizão que se apegam às ferramentas do atraso.

E ele reconhece, crucialmente, que tudo isso está ao nosso alcance. A prova é que já conseguimos fazer isso antes. Essas leis e normas que hoje obstruem o que precisamos fazer foram soluções para os problemas que enfrentávamos no passado. Nos EUA do século 20, realmente construíamos demais e com pouca consideração pelos danos ao meio ambiente e às comunidades. Aprovar essas leis não foi fácil —havia interesses especiais e congressistas intransigentes nos anos 1970 também—, mas foi feito e funcionou.

“Décadas anteriores de ambientalismo mostraram que uma arquitetura regulatória bem desenhada pode levar a mudanças profundas”, escreveu Deese. “Hoje, no entanto, o progresso exige inverter a lógica e criar uma arquitetura regulatória que incentive a construção —não o oposto.”

Isso não significa que os democratas precisam adotar os métodos ou os objetivos do Doge. O fato de um paciente precisar de cirurgia não quer dizer que ele se beneficiaria de uma série de punhaladas aleatórias. Mas os democratas precisam abraçar seus próprios objetivos —aquilo que continuam prometendo ao público— e então descobrir como entregá-los, rápido. E isso exigirá mudanças e um foco incansável, vindos do topo. O próximo presidente democrata deveria manter um lembrete emoldurado sobre a mesa presidencial:

A velocidade é progressista.

Tenho pensado em algo que Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden, disse em uma entrevista após a eleição de novembro: “O presidente tem operado com um horizonte de tempo medido em décadas, enquanto o ciclo político é medido em quatro anos.”

O que estamos vendo agora é que essa era uma escolha errada. Não há como separar a política da próxima década do resultado da próxima eleição. Se você perde o poder, seu conjunto cuidadosamente construído de leis e alianças internacionais pode ser reduzido a cinzas por seu sucessor. Se for verdade que Biden acreditava estar escolhendo a política da posteridade em vez de políticas que os americanos sentiriam antes da eleição, então ele escolheu errado.

Mas não acho que tenha sido uma escolha. O atraso se tornou o padrão do governo dos EUA. A lei de infraestrutura de 2021 deveria injetar centenas de bilhões de dólares em estradas, pontes, banda larga rural, carregadores para veículos elétricos. Em 2024, poucos desses projetos estavam concluídos ou instalados. Isso não aconteceu porque Biden ou sua equipe queriam disputar a reeleição com base em comunicados de imprensa em vez de inaugurações. Mas o governo não fez as mudanças necessárias para entregar em um cronograma que o público pudesse perceber. Muitos membros da equipe de Biden agora se arrependem amargamente disso. Isso inclui Sullivan, que descreveu sua experiência como “profundamente radicalizante”.

“Seja infraestrutura, submarinos, geração de energia, linhas de transmissão ou fábricas de chips —é louco o quanto dificultamos a entrega”, disse Sullivan. “Parte disso são leis e regulamentos. Parte é a autoinibição pela cautela. Parte é a litigiosidade. Parte é complacência. Parte é burocracia. Mas o que encontrei nesses quatro anos como conselheiro de segurança nacional foi um conjunto constante e crescente de obstáculos para fazer qualquer coisa rapidamente. Foi uma enorme frustração. Enorme.”

Um governo mais ágil é possível. O presidente Lyndon B. Johnson sancionou o programa Medicare em 30 de julho de 1965; ele começou a cobrir os idosos um ano depois, em 1º de julho de 1966. Compare isso com as reformas do Medicare no governo Biden. Em 2022, como parte da Lei de Redução da Inflação, o governo deu ao Medicare a autoridade para negociar preços de dez medicamentos; esses preços só entrarão em vigor em… 2026. Como observou Mike Konczal, ex-assessor econômico de Biden, isso é “bem a tempo para o presidente Donald Trump levar o crédito por eles nas eleições de meio de mandato”.

A diferença entre esses dois processos é, bem, o processo. Ao longo das décadas, democratas e republicanos passaram a abraçar as virtudes do atraso. O atraso permite reunir informações, ouvir as comunidades afetadas, pensar nas possíveis consequências e manter fidelidade ao processo —e tudo isso, em conjunto, leva a políticas melhores. Ou assim se pensava.

Esse tipo de pensamento moldou novos processos em todos os níveis do governo dos EUA. Nossas leis ambientais usam revisões e ações judiciais para forçar o governo federal a desacelerar e considerar cuidadosamente todas as possíveis consequências de suas ações; nossos processos regulatórios utilizam períodos de consulta pública e criam espaço para contestações, para garantir que todas as vozes possam ser ouvidas; nossos governos locais criam espaço e tempo para que os moradores contestem a construção de habitações em suas comunidades até que elas se conformem aos seus padrões; o Congresso incorpora procedimentos de planejamento e exigências de revisão complexas para garantir que o dinheiro dos contribuintes não seja desperdiçado com fraudes ou abusos.

Mas também há um argumento contra o atraso, e é um argumento que tenho ouvido cada vez mais democratas fazerem. “Não vemos o atraso como uma forma de desperdício governamental —mas é exatamente isso”, disse o deputado Josh Harder, da Califórnia. “Vemos isso nos custos. Todos esses projetos vão custar muito mais. Politicamente, isso tem um custo enorme também. Alimenta o cinismo e a apatia que, para mim, realmente caracterizam nossa política atual. Realizar algo rapidamente que resolva ao menos uma parte do problema é melhor do que passar anos projetando a solução perfeita que nunca se concretiza.”

A velocidade conecta os eleitores às consequências de seus votos. Para sobreviver, a democracia liberal não precisa apenas entregar; ela precisa entregar rápido o suficiente para que os eleitores saibam a quem agradecer —ou culpar— pelo que estão recebendo. Neste momento, ela está entregando tão lentamente que as linhas de responsabilidade estão confusas. O governo Biden acreditava na política da entrega. Mas os projetos que aprovou serão concluídos tão lentamente que será Trump, ou até mesmo seu sucessor, quem colherá os frutos políticos.

Essa é uma experiência que enfureceu muitas pessoas que trabalharam na Casa Branca de Biden ou que votaram a favor de suas principais leis —especialmente enquanto observam Trump e Elon Musk usarem o anseio por eficiência governamental como desculpa para destruir grande parte do governo federal.

Acho particularmente repugnantes os esforços de Musk com o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) porque acredito profundamente na necessidade daquilo que ele finge ser. Eu gostaria de ver um governo que entrega serviços com eficiência aos cidadãos; o Doge, ao demitir em massa funcionários da Receita e da Previdência Social, lançará essas agências no caos e produzirá um custo aos contribuintes de centenas de bilhões de dólares em arrecadação perdida. Eu gostaria de ver um governo que financia com mais eficiência e ambição a pesquisa científica; o Doge, ao desmontar nossas agências científicas e demitir sumariamente todos que já escreveram ou falaram a palavra diversidade, irá esvaziar justamente as funções governamentais que quero fortalecer.

O Doge não busca eficiência, mas sim controle: trata-se de uma purga da burocracia destinada a dar a Trump, em seu segundo mandato, o domínio sobre o aparato administrativo que ele acredita não ter tido no primeiro.

Em março, Brian Deese, que liderou o Conselho Econômico Nacional sob Biden, publicou um texto contundente na Foreign Affairs chamado “Por que os EUA têm dificuldade para construir”. É, na minha opinião, um dos ensaios mais importantes que qualquer democrata escreveu desde a eleição. É tanto uma admissão de que o governo Biden falhou em consertar o que aflige os EUA quanto um esboço crível de uma abordagem liberal para fazer isso.

Construir capacidade física —moradia, geração de energia, linhas de transmissão, fábricas, data centers — é mais essencial para a economia dos EUA hoje do que tem sido em décadas. Após 15 anos de construção insuficiente de moradias, a falta de casas acessíveis está reduzindo o PIB anual do país, potencialmente em centenas de bilhões de dólares. Após 25 anos de investimento estagnado em redes de energia, a incapacidade de atender à demanda crescente por eletricidade aumenta o risco de contas mais caras e apagões. Por décadas, os EUA deixaram de investir nas capacidades industriais necessárias para construir infraestrutura importante, incluindo fábricas de semicondutores, usinas nucleares e cadeias cruciais de suprimento. Nesse processo, cederam terreno tecnológico à China e a outros adversários em um momento de intensificação da competição global por novas tecnologias.

Deese defende uma estratégia de “tudo ao mesmo tempo” para tornar mais fácil construir nos EUA e fazer o governo agir. Ele propõe mais investimentos e menos regulações, combater o poder corporativo concentrado e leis ambientais obsoletas, usar o dinheiro federal para forçar estados a permitirem mais habitação e infraestrutura —ao mesmo tempo que insiste que os democratas enfrentem alas da própria coalizão que se apegam às ferramentas do atraso.

E ele reconhece, crucialmente, que tudo isso está ao nosso alcance. A prova é que já conseguimos fazer isso antes. Essas leis e normas que hoje obstruem o que precisamos fazer foram soluções para os problemas que enfrentávamos no passado. Nos EUA do século 20, realmente construíamos demais e com pouca consideração pelos danos ao meio ambiente e às comunidades. Aprovar essas leis não foi fácil —havia interesses especiais e congressistas intransigentes nos anos 1970 também—, mas foi feito e funcionou.

“Décadas anteriores de ambientalismo mostraram que uma arquitetura regulatória bem desenhada pode levar a mudanças profundas”, escreveu Deese. “Hoje, no entanto, o progresso exige inverter a lógica e criar uma arquitetura regulatória que incentive a construção —não o oposto.”

Isso não significa que os democratas precisam adotar os métodos ou os objetivos do Doge. O fato de um paciente precisar de cirurgia não quer dizer que ele se beneficiaria de uma série de punhaladas aleatórias. Mas os democratas precisam abraçar seus próprios objetivos —aquilo que continuam prometendo ao público— e então descobrir como entregá-los, rápido. E isso exigirá mudanças e um foco incansável, vindos do topo. O próximo presidente democrata deveria manter um lembrete emoldurado sobre a mesa presidencial:

A velocidade é progressista.



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