Edelvania Wirganovicz, de 51 anos, uma das rés condenadas pelo assassinato do menino Bernardo Uglione Boldrini, foi encontrada sem vida em sua cela no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre na tarde de 22 de abril de 2025. A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) informou que a apenada apresentava sinais de asfixia, e as investigações preliminares apontam para um possível ato cometido por ela mesma. A Polícia Civil e o Instituto Geral de Perícias foram acionados para apurar as circunstâncias do óbito, enquanto a Corregedoria-Geral do Sistema Penitenciário acompanha o caso. Edelvania cumpria pena em regime semiaberto, após ter sua prisão domiciliar revogada em fevereiro de 2025, e estava detida por sua participação no crime que chocou o Rio Grande do Sul em 2014.
O caso Bernardo, ocorrido há mais de uma década, permanece vivo na memória da sociedade gaúcha. A morte de Edelvania Wirganovicz reacende debates sobre as condições carcerárias e a segurança no sistema prisional, além de trazer à tona as complexidades do crime que envolveu familiares e conhecidos da vítima. A apenada havia sido condenada a 22 anos e 10 meses de reclusão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, dos quais cumpriu pouco mais de 11 anos. Sua trajetória no sistema prisional incluiu progressões de regime e tentativas de transferência, marcadas por decisões judiciais que refletem os desafios de gerenciar casos de alta repercussão.
A notícia da morte de Edelvania gerou reações imediatas nas redes sociais e na imprensa local. O Instituto Penal Feminino de Porto Alegre, onde ela estava detida, é uma unidade destinada a mulheres em regimes semiaberto e aberto, com capacidade para cerca de 96 internas, segundo dados da Susepe. A ocorrência levanta questões sobre os protocolos de monitoramento e prevenção de incidentes em unidades prisionais, especialmente em casos envolvendo condenadas por crimes de grande comoção pública.
- Principais fatos sobre a morte de Edelvania Wirganovicz:
- Encontrada sem vida em 22 de abril de 2025, no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre.
- Sinais de asfixia foram observados, com indícios iniciais de ato cometido pela própria apenada.
- Investigação envolve Polícia Civil, Instituto Geral de Perícias e Corregedoria do Sistema Penitenciário.
- Edelvania cumpria pena em regime semiaberto após revogação de prisão domiciliar em fevereiro de 2025.
Relembrando o caso Bernardo Boldrini
O assassinato de Bernardo Uglione Boldrini, de apenas 11 anos, em abril de 2014, marcou a história do Rio Grande do Sul como um dos crimes mais cruéis já registrados no estado. O menino desapareceu em Três Passos, no noroeste gaúcho, no dia 4 de abril daquele ano. Seu corpo foi encontrado dez dias depois, em 14 de abril, enterrado em uma cova vertical às margens do rio Mico, em Frederico Westphalen, cidade vizinha. A investigação revelou um plano orquestrado que envolveu o pai da criança, Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvania e Evandro Wirganovicz, amigos de Graciele.
Bernardo foi morto por uma superdosagem de midazolam, um sedativo de uso restrito, administrado de forma intencional. A motivação do crime, segundo o Ministério Público, estava relacionada a conflitos familiares e interesses financeiros. Leandro e Graciele não desejavam dividir com Bernardo a herança deixada por sua mãe, Odilaine Uglione, falecida em 2010, e consideravam o menino um obstáculo em sua nova dinâmica familiar. Edelvania, amiga próxima de Graciele, auxiliou na execução do plano, enquanto Evandro foi responsável por cavar a cova onde o corpo foi ocultado.
O julgamento do caso, realizado entre 11 e 15 de março de 2019, foi um marco na justiça gaúcha. Presidido pela juíza Sucilene Engler, o Tribunal do Júri em Três Passos condenou os quatro envolvidos com penas que refletiram a gravidade do crime. Leandro Boldrini recebeu 33 anos e 8 meses de prisão, Graciele Ugulini foi sentenciada a 34 anos e 7 meses, Edelvania Wirganovicz a 22 anos e 10 meses, e Evandro Wirganovicz a 9 anos e 6 meses. Evandro obteve liberdade condicional em 25 de março de 2019, enquanto os demais permaneceram cumprindo suas penas.
Trajetória de Edelvania no sistema prisional
Edelvania Wirganovicz ingressou no sistema penitenciário logo após sua prisão, em abril de 2014. Inicialmente, ela foi mantida em regime fechado no Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. Sua condenação, proferida em 2019, incluiu 21 anos e 4 meses por homicídio triplamente qualificado e 1 ano e 6 meses por ocultação de cadáver. Ao longo de sua pena, Edelvania passou por avaliações criminológicas e teve sua conduta carcerária considerada satisfatória, o que permitiu progressões em seu regime de cumprimento.
Em maio de 2022, o juiz Geraldo Anastácio Brandeburski Júnior, da 2ª Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, concedeu a Edelvania a progressão para o regime semiaberto. A decisão foi baseada no cumprimento de mais de 9 anos de sua pena e em laudos psicológicos que atestaram sua boa conduta. Na ocasião, ela foi transferida para o Instituto Penal Feminino de Porto Alegre, uma unidade destinada a apenadas em regimes menos restritivos. O magistrado também autorizou cinco saídas temporárias anuais, cada uma com duração máxima de sete dias, desde que Edelvania respeitasse restrições, como não frequentar bares ou casas noturnas.
A progressão de regime, no entanto, enfrentou obstáculos. A defesa de Edelvania, representada pelo advogado Jean Severo, solicitou sua transferência para o Presídio Estadual de Frederico Westphalen, mais próximo de sua família em Cristal do Sul. O pedido foi negado pela administração prisional, que alegou incompatibilidade devido a uma tentativa anterior de Edelvania de sair da unidade. Além disso, a natureza do crime – violência contra uma criança – colocava a apenada em risco em meio à população carcerária, o que levou a sua alocação em uma cela isolada no Instituto Penal Feminino.
Tentativas de prisão domiciliar e revogação
Em 2023, Edelvania Wirganovicz obteve uma decisão favorável para cumprir sua pena em prisão domiciliar com monitoramento eletrônico, utilizando tornozeleira eletrônica. A medida, concedida em 10 de outubro de 2023 pelo juiz Geraldo Brandeburski Júnior, foi motivada pela falta de vagas em unidades prisionais compatíveis com o regime semiaberto. A decisão seguia um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que permite o cumprimento de pena em regime menos gravoso quando não há estrutura adequada no sistema prisional. Durante esse período, Edelvania permaneceu sob supervisão eletrônica, com restrições de circulação.
A prisão domiciliar, no entanto, foi revogada em 20 de fevereiro de 2025, por decisão do ministro do STF Cristiano Zanin. A Procuradoria de Recursos do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) argumentou que Edelvania não havia cumprido 50% de sua pena, condição necessária para o benefício. A decisão judicial determinou seu retorno imediato ao regime semiaberto, e ela foi reconduzida ao Instituto Penal Feminino de Porto Alegre. A revogação reacendeu debates sobre a aplicação de benefícios prisionais em casos de crimes hediondos, especialmente quando envolvem vítimas menores de idade.
- Marcos na trajetória prisional de Edelvania:
- 2014: Presa e mantida em regime fechado no Presídio Madre Pelletier.
- 2019: Condenada a 22 anos e 10 meses por homicídio e ocultação de cadáver.
- 2022: Progressão para regime semiaberto e transferência para o Instituto Penal Feminino.
- 2023: Concessão de prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.
- 2025: Revogação da prisão domiciliar e retorno ao regime semiaberto.
Contexto do sistema prisional gaúcho
O Instituto Penal Feminino de Porto Alegre, onde Edelvania Wirganovicz foi encontrada sem vida, é uma das principais unidades prisionais femininas do Rio Grande do Sul. Localizado no bairro Partenon, o presídio tem capacidade para 96 internas e atende apenadas em regimes semiaberto e aberto. Desde 2020, a unidade conta com um sistema de monitoramento reforçado, com oito câmeras de alta resolução que operam 24 horas por dia, segundo a Susepe. O objetivo é aumentar a segurança e prevenir incidentes, como fugas ou conflitos entre detentas.
Apesar dos avanços, o sistema prisional gaúcho enfrenta desafios crônicos, como superlotação, falta de vagas em unidades específicas e dificuldades na implementação de políticas de reintegração. Em 2016, uma parceria entre a Susepe e a Vara de Execução de Pena e Medidas Alternativas (VEPMA) ampliou a capacidade do Instituto Penal Feminino, com a construção de um novo espaço que acrescentou 16 vagas. A iniciativa, financiada com recursos de prestações pecuniárias, foi um passo para melhorar as condições de cumprimento de pena, mas ainda há gargalos estruturais no sistema.
A morte de Edelvania Wirganovicz coloca em evidência a necessidade de revisões nos protocolos de monitoramento e assistência às apenadas. Casos de alta repercussão, como o de Bernardo Boldrini, demandam atenção especial, tanto pela segurança das detentas quanto pela pressão pública sobre o sistema prisional. A Susepe informou que a investigação sobre o óbito será conduzida com rigor, mas não divulgou detalhes adicionais sobre as circunstâncias do incidente.
Impacto do caso Bernardo na sociedade
O assassinato de Bernardo Boldrini não apenas chocou o Rio Grande do Sul, mas também gerou reflexões sobre questões como violência intrafamiliar, negligência e proteção à infância. O menino, que já havia denunciado maus-tratos à escola e a autoridades locais, tornou-se símbolo de uma falha sistêmica na proteção de crianças em situação de vulnerabilidade. Sua história inspirou debates sobre políticas públicas, reforçando a importância de redes de apoio e denúncias em casos de abuso.
A condenação dos envolvidos, em 2019, foi acompanhada de perto pela imprensa e pela população. O julgamento, que durou cinco dias e incluiu mais de 50 horas de depoimentos, vídeos e áudios, expôs a crueldade do crime. A sentença da juíza Sucilene Engler destacou o “descontrole emocional e perversidade extraordinária” de Leandro Boldrini, considerado o mentor intelectual do assassinato. Graciele Ugulini, por sua vez, foi apontada como a principal executora, enquanto Edelvania e Evandro desempenharam papéis de apoio na execução e ocultação do corpo.
A anulação do julgamento de Leandro Boldrini, em dezembro de 2021, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), adicionou uma camada de controvérsia ao caso. Por quatro votos a três, os desembargadores determinaram um novo júri, alegando irregularidades na conduta do promotor durante o interrogatório. A decisão dividiu opiniões, com parte da sociedade defendendo a revisão e outra considerando a medida uma afronta à justiça. Até abril de 2025, o novo julgamento de Leandro ainda não havia sido marcado.
Detalhes do crime e investigação
A investigação do caso Bernardo revelou um planejamento meticuloso por parte dos envolvidos. Bernardo foi levado por Graciele Ugulini a Frederico Westphalen sob o pretexto de visitar uma benzedeira, uma estratégia de dissimulação para evitar suspeitas. O menino, sem saber do plano, recebeu uma dose letal de midazolam, que causou sua morte. O corpo foi colocado em um saco plástico e enterrado em uma cova preparada por Evandro Wirganovicz, em uma área rural próxima ao rio Mico.
Edelvania Wirganovicz desempenhou um papel crucial na investigação ao admitir sua participação e indicar o local onde o corpo estava escondido. Sua confissão, embora tenha colaborado com as autoridades, não a isentou de responsabilidade. O Ministério Público destacou que ela aceitou participar do crime por motivos financeiros, já que Leandro e Graciele ofereceram dinheiro em troca de sua ajuda. A denúncia também apontou a frieza dos envolvidos, que continuaram suas rotinas normalmente após o assassinato, enquanto Leandro registrava um falso boletim de ocorrência sobre o desaparecimento do filho.
A análise pericial confirmou que Bernardo sofreu maus-tratos antes de sua morte, o que agravou a qualificadora do homicídio. Laudos psicológicos apresentados durante o julgamento indicaram que o menino vivia em um ambiente de tensão e violência doméstica, com episódios de negligência por parte do pai e da madrasta. Esses elementos reforçaram a tese de que o crime foi premeditado e motivado por interesses egoístas.
- Cronologia do caso Bernardo Boldrini:
- 4 de abril de 2014: Bernardo desaparece em Três Passos.
- 14 de abril de 2014: Corpo é encontrado em Frederico Westphalen.
- Abril de 2014: Leandro, Graciele, Edelvania e Evandro são presos.
- 11 a 15 de março de 2019: Julgamento condena os quatro envolvidos.
- Dezembro de 2021: Julgamento de Leandro Boldrini é anulado.
- 22 de abril de 2025: Edelvania Wirganovicz é encontrada morta na prisão.
Repercussão e desafios atuais
A morte de Edelvania Wirganovicz reacende o interesse pelo caso Bernardo, que continua a gerar indignação e debates sobre justiça e prevenção de crimes. Nas redes sociais, a notícia foi amplamente comentada, com usuários expressando opiniões divididas. Alguns lamentaram o ocorrido, enquanto outros questionaram a eficácia do sistema prisional em prevenir incidentes como esse. A Susepe, por sua vez, reforçou que está colaborando com as autoridades para esclarecer os fatos, mas evitou divulgar informações preliminares sobre a investigação.
O sistema prisional feminino no Rio Grande do Sul enfrenta desafios que vão além da segurança. A reintegração de apenadas, o acesso a programas educacionais e a assistência psicológica são temas frequentemente debatidos por especialistas. No caso de Edelvania, sua conduta carcerária era considerada exemplar, mas a pressão de um crime de grande repercussão pode ter influenciado sua trajetória na prisão. A falta de vagas em unidades adequadas também é um problema recorrente, como evidenciado pela concessão e posterior revogação de sua prisão domiciliar.
A história de Bernardo Boldrini permanece como um alerta para a sociedade. A violência contra crianças, muitas vezes silenciosa, exige vigilância constante de familiares, educadores e autoridades. O caso também destaca a importância de fortalecer os mecanismos de denúncia e proteção, garantindo que tragédias semelhantes sejam evitadas. Enquanto a investigação sobre a morte de Edelvania prossegue, o legado de Bernardo continua a inspirar mudanças no sistema de justiça e na proteção à infância.
Monitoramento e segurança no Instituto Penal Feminino
O Instituto Penal Feminino de Porto Alegre é equipado com tecnologias modernas de vigilância, incluindo câmeras que monitoram o perímetro externo e áreas internas. Desde a implementação do sistema, em 2020, a Susepe relata uma redução em incidentes graves, como tentativas de fuga ou conflitos. No entanto, a morte de Edelvania Wirganovicz levanta questionamentos sobre a eficácia do acompanhamento de apenadas em situações de vulnerabilidade, especialmente aquelas envolvidas em casos de grande exposição midiática.
A unidade, administrada por Tatiana de Paula Firckel, tem uma equipe de policiais penais treinados para lidar com o público feminino. O presídio também oferece atividades laborais e educacionais, visando à ressocialização das internas. Apesar disso, a pressão psicológica enfrentada por apenadas como Edelvania, que carregavam o peso de um crime hediondo, pode demandar intervenções específicas que nem sempre estão disponíveis no sistema prisional.
A investigação sobre o óbito de Edelvania será fundamental para esclarecer se houve falhas no monitoramento ou na assistência prestada. A Susepe informou que a Corregedoria-Geral está analisando os registros de entrada e saída da cela, bem como os relatórios das agentes penitenciárias. O resultado da perícia, conduzida pelo Instituto Geral de Perícias, será determinante para confirmar a causa da morte e avaliar possíveis responsabilidades.
Legado do caso e próximos passos
O caso Bernardo Boldrini continua a influenciar o debate público no Rio Grande do Sul. A morte de Edelvania Wirganovicz, embora trágica, não encerra as questões levantadas pelo assassinato do menino. A anulação do julgamento de Leandro Boldrini, por exemplo, mantém o caso em aberto, com a possibilidade de um novo júri nos próximos anos. Graciele Ugulini, que cumpre pena em regime fechado, também permanece no centro das atenções, enquanto Evandro Wirganovicz, já em liberdade condicional, mantém-se afastado dos holofotes.
A sociedade gaúcha, marcada pela memória de Bernardo, segue exigindo justiça e mudanças estruturais. O fortalecimento de políticas de proteção à infância, a capacitação de profissionais para identificar sinais de abuso e a melhoria do sistema prisional são passos essenciais para evitar que casos como esse se repitam. A morte de Edelvania, por sua vez, reforça a necessidade de um olhar mais atento às condições das apenadas, especialmente em contextos de alta pressão social e psicológica.
- Medidas para prevenção de incidentes no sistema prisional:
- Ampliação de programas de assistência psicológica para apenadas.
- Reforço no treinamento de agentes penitenciários para identificação de vulnerabilidades.
- Investimento em tecnologias de monitoramento em tempo real.
- Criação de protocolos específicos para casos de alta repercussão.

Edelvania Wirganovicz, de 51 anos, uma das rés condenadas pelo assassinato do menino Bernardo Uglione Boldrini, foi encontrada sem vida em sua cela no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre na tarde de 22 de abril de 2025. A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) informou que a apenada apresentava sinais de asfixia, e as investigações preliminares apontam para um possível ato cometido por ela mesma. A Polícia Civil e o Instituto Geral de Perícias foram acionados para apurar as circunstâncias do óbito, enquanto a Corregedoria-Geral do Sistema Penitenciário acompanha o caso. Edelvania cumpria pena em regime semiaberto, após ter sua prisão domiciliar revogada em fevereiro de 2025, e estava detida por sua participação no crime que chocou o Rio Grande do Sul em 2014.
O caso Bernardo, ocorrido há mais de uma década, permanece vivo na memória da sociedade gaúcha. A morte de Edelvania Wirganovicz reacende debates sobre as condições carcerárias e a segurança no sistema prisional, além de trazer à tona as complexidades do crime que envolveu familiares e conhecidos da vítima. A apenada havia sido condenada a 22 anos e 10 meses de reclusão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, dos quais cumpriu pouco mais de 11 anos. Sua trajetória no sistema prisional incluiu progressões de regime e tentativas de transferência, marcadas por decisões judiciais que refletem os desafios de gerenciar casos de alta repercussão.
A notícia da morte de Edelvania gerou reações imediatas nas redes sociais e na imprensa local. O Instituto Penal Feminino de Porto Alegre, onde ela estava detida, é uma unidade destinada a mulheres em regimes semiaberto e aberto, com capacidade para cerca de 96 internas, segundo dados da Susepe. A ocorrência levanta questões sobre os protocolos de monitoramento e prevenção de incidentes em unidades prisionais, especialmente em casos envolvendo condenadas por crimes de grande comoção pública.
- Principais fatos sobre a morte de Edelvania Wirganovicz:
- Encontrada sem vida em 22 de abril de 2025, no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre.
- Sinais de asfixia foram observados, com indícios iniciais de ato cometido pela própria apenada.
- Investigação envolve Polícia Civil, Instituto Geral de Perícias e Corregedoria do Sistema Penitenciário.
- Edelvania cumpria pena em regime semiaberto após revogação de prisão domiciliar em fevereiro de 2025.
Relembrando o caso Bernardo Boldrini
O assassinato de Bernardo Uglione Boldrini, de apenas 11 anos, em abril de 2014, marcou a história do Rio Grande do Sul como um dos crimes mais cruéis já registrados no estado. O menino desapareceu em Três Passos, no noroeste gaúcho, no dia 4 de abril daquele ano. Seu corpo foi encontrado dez dias depois, em 14 de abril, enterrado em uma cova vertical às margens do rio Mico, em Frederico Westphalen, cidade vizinha. A investigação revelou um plano orquestrado que envolveu o pai da criança, Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvania e Evandro Wirganovicz, amigos de Graciele.
Bernardo foi morto por uma superdosagem de midazolam, um sedativo de uso restrito, administrado de forma intencional. A motivação do crime, segundo o Ministério Público, estava relacionada a conflitos familiares e interesses financeiros. Leandro e Graciele não desejavam dividir com Bernardo a herança deixada por sua mãe, Odilaine Uglione, falecida em 2010, e consideravam o menino um obstáculo em sua nova dinâmica familiar. Edelvania, amiga próxima de Graciele, auxiliou na execução do plano, enquanto Evandro foi responsável por cavar a cova onde o corpo foi ocultado.
O julgamento do caso, realizado entre 11 e 15 de março de 2019, foi um marco na justiça gaúcha. Presidido pela juíza Sucilene Engler, o Tribunal do Júri em Três Passos condenou os quatro envolvidos com penas que refletiram a gravidade do crime. Leandro Boldrini recebeu 33 anos e 8 meses de prisão, Graciele Ugulini foi sentenciada a 34 anos e 7 meses, Edelvania Wirganovicz a 22 anos e 10 meses, e Evandro Wirganovicz a 9 anos e 6 meses. Evandro obteve liberdade condicional em 25 de março de 2019, enquanto os demais permaneceram cumprindo suas penas.
Trajetória de Edelvania no sistema prisional
Edelvania Wirganovicz ingressou no sistema penitenciário logo após sua prisão, em abril de 2014. Inicialmente, ela foi mantida em regime fechado no Presídio Estadual Feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. Sua condenação, proferida em 2019, incluiu 21 anos e 4 meses por homicídio triplamente qualificado e 1 ano e 6 meses por ocultação de cadáver. Ao longo de sua pena, Edelvania passou por avaliações criminológicas e teve sua conduta carcerária considerada satisfatória, o que permitiu progressões em seu regime de cumprimento.
Em maio de 2022, o juiz Geraldo Anastácio Brandeburski Júnior, da 2ª Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, concedeu a Edelvania a progressão para o regime semiaberto. A decisão foi baseada no cumprimento de mais de 9 anos de sua pena e em laudos psicológicos que atestaram sua boa conduta. Na ocasião, ela foi transferida para o Instituto Penal Feminino de Porto Alegre, uma unidade destinada a apenadas em regimes menos restritivos. O magistrado também autorizou cinco saídas temporárias anuais, cada uma com duração máxima de sete dias, desde que Edelvania respeitasse restrições, como não frequentar bares ou casas noturnas.
A progressão de regime, no entanto, enfrentou obstáculos. A defesa de Edelvania, representada pelo advogado Jean Severo, solicitou sua transferência para o Presídio Estadual de Frederico Westphalen, mais próximo de sua família em Cristal do Sul. O pedido foi negado pela administração prisional, que alegou incompatibilidade devido a uma tentativa anterior de Edelvania de sair da unidade. Além disso, a natureza do crime – violência contra uma criança – colocava a apenada em risco em meio à população carcerária, o que levou a sua alocação em uma cela isolada no Instituto Penal Feminino.
Tentativas de prisão domiciliar e revogação
Em 2023, Edelvania Wirganovicz obteve uma decisão favorável para cumprir sua pena em prisão domiciliar com monitoramento eletrônico, utilizando tornozeleira eletrônica. A medida, concedida em 10 de outubro de 2023 pelo juiz Geraldo Brandeburski Júnior, foi motivada pela falta de vagas em unidades prisionais compatíveis com o regime semiaberto. A decisão seguia um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que permite o cumprimento de pena em regime menos gravoso quando não há estrutura adequada no sistema prisional. Durante esse período, Edelvania permaneceu sob supervisão eletrônica, com restrições de circulação.
A prisão domiciliar, no entanto, foi revogada em 20 de fevereiro de 2025, por decisão do ministro do STF Cristiano Zanin. A Procuradoria de Recursos do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) argumentou que Edelvania não havia cumprido 50% de sua pena, condição necessária para o benefício. A decisão judicial determinou seu retorno imediato ao regime semiaberto, e ela foi reconduzida ao Instituto Penal Feminino de Porto Alegre. A revogação reacendeu debates sobre a aplicação de benefícios prisionais em casos de crimes hediondos, especialmente quando envolvem vítimas menores de idade.
- Marcos na trajetória prisional de Edelvania:
- 2014: Presa e mantida em regime fechado no Presídio Madre Pelletier.
- 2019: Condenada a 22 anos e 10 meses por homicídio e ocultação de cadáver.
- 2022: Progressão para regime semiaberto e transferência para o Instituto Penal Feminino.
- 2023: Concessão de prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.
- 2025: Revogação da prisão domiciliar e retorno ao regime semiaberto.
Contexto do sistema prisional gaúcho
O Instituto Penal Feminino de Porto Alegre, onde Edelvania Wirganovicz foi encontrada sem vida, é uma das principais unidades prisionais femininas do Rio Grande do Sul. Localizado no bairro Partenon, o presídio tem capacidade para 96 internas e atende apenadas em regimes semiaberto e aberto. Desde 2020, a unidade conta com um sistema de monitoramento reforçado, com oito câmeras de alta resolução que operam 24 horas por dia, segundo a Susepe. O objetivo é aumentar a segurança e prevenir incidentes, como fugas ou conflitos entre detentas.
Apesar dos avanços, o sistema prisional gaúcho enfrenta desafios crônicos, como superlotação, falta de vagas em unidades específicas e dificuldades na implementação de políticas de reintegração. Em 2016, uma parceria entre a Susepe e a Vara de Execução de Pena e Medidas Alternativas (VEPMA) ampliou a capacidade do Instituto Penal Feminino, com a construção de um novo espaço que acrescentou 16 vagas. A iniciativa, financiada com recursos de prestações pecuniárias, foi um passo para melhorar as condições de cumprimento de pena, mas ainda há gargalos estruturais no sistema.
A morte de Edelvania Wirganovicz coloca em evidência a necessidade de revisões nos protocolos de monitoramento e assistência às apenadas. Casos de alta repercussão, como o de Bernardo Boldrini, demandam atenção especial, tanto pela segurança das detentas quanto pela pressão pública sobre o sistema prisional. A Susepe informou que a investigação sobre o óbito será conduzida com rigor, mas não divulgou detalhes adicionais sobre as circunstâncias do incidente.
Impacto do caso Bernardo na sociedade
O assassinato de Bernardo Boldrini não apenas chocou o Rio Grande do Sul, mas também gerou reflexões sobre questões como violência intrafamiliar, negligência e proteção à infância. O menino, que já havia denunciado maus-tratos à escola e a autoridades locais, tornou-se símbolo de uma falha sistêmica na proteção de crianças em situação de vulnerabilidade. Sua história inspirou debates sobre políticas públicas, reforçando a importância de redes de apoio e denúncias em casos de abuso.
A condenação dos envolvidos, em 2019, foi acompanhada de perto pela imprensa e pela população. O julgamento, que durou cinco dias e incluiu mais de 50 horas de depoimentos, vídeos e áudios, expôs a crueldade do crime. A sentença da juíza Sucilene Engler destacou o “descontrole emocional e perversidade extraordinária” de Leandro Boldrini, considerado o mentor intelectual do assassinato. Graciele Ugulini, por sua vez, foi apontada como a principal executora, enquanto Edelvania e Evandro desempenharam papéis de apoio na execução e ocultação do corpo.
A anulação do julgamento de Leandro Boldrini, em dezembro de 2021, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), adicionou uma camada de controvérsia ao caso. Por quatro votos a três, os desembargadores determinaram um novo júri, alegando irregularidades na conduta do promotor durante o interrogatório. A decisão dividiu opiniões, com parte da sociedade defendendo a revisão e outra considerando a medida uma afronta à justiça. Até abril de 2025, o novo julgamento de Leandro ainda não havia sido marcado.
Detalhes do crime e investigação
A investigação do caso Bernardo revelou um planejamento meticuloso por parte dos envolvidos. Bernardo foi levado por Graciele Ugulini a Frederico Westphalen sob o pretexto de visitar uma benzedeira, uma estratégia de dissimulação para evitar suspeitas. O menino, sem saber do plano, recebeu uma dose letal de midazolam, que causou sua morte. O corpo foi colocado em um saco plástico e enterrado em uma cova preparada por Evandro Wirganovicz, em uma área rural próxima ao rio Mico.
Edelvania Wirganovicz desempenhou um papel crucial na investigação ao admitir sua participação e indicar o local onde o corpo estava escondido. Sua confissão, embora tenha colaborado com as autoridades, não a isentou de responsabilidade. O Ministério Público destacou que ela aceitou participar do crime por motivos financeiros, já que Leandro e Graciele ofereceram dinheiro em troca de sua ajuda. A denúncia também apontou a frieza dos envolvidos, que continuaram suas rotinas normalmente após o assassinato, enquanto Leandro registrava um falso boletim de ocorrência sobre o desaparecimento do filho.
A análise pericial confirmou que Bernardo sofreu maus-tratos antes de sua morte, o que agravou a qualificadora do homicídio. Laudos psicológicos apresentados durante o julgamento indicaram que o menino vivia em um ambiente de tensão e violência doméstica, com episódios de negligência por parte do pai e da madrasta. Esses elementos reforçaram a tese de que o crime foi premeditado e motivado por interesses egoístas.
- Cronologia do caso Bernardo Boldrini:
- 4 de abril de 2014: Bernardo desaparece em Três Passos.
- 14 de abril de 2014: Corpo é encontrado em Frederico Westphalen.
- Abril de 2014: Leandro, Graciele, Edelvania e Evandro são presos.
- 11 a 15 de março de 2019: Julgamento condena os quatro envolvidos.
- Dezembro de 2021: Julgamento de Leandro Boldrini é anulado.
- 22 de abril de 2025: Edelvania Wirganovicz é encontrada morta na prisão.
Repercussão e desafios atuais
A morte de Edelvania Wirganovicz reacende o interesse pelo caso Bernardo, que continua a gerar indignação e debates sobre justiça e prevenção de crimes. Nas redes sociais, a notícia foi amplamente comentada, com usuários expressando opiniões divididas. Alguns lamentaram o ocorrido, enquanto outros questionaram a eficácia do sistema prisional em prevenir incidentes como esse. A Susepe, por sua vez, reforçou que está colaborando com as autoridades para esclarecer os fatos, mas evitou divulgar informações preliminares sobre a investigação.
O sistema prisional feminino no Rio Grande do Sul enfrenta desafios que vão além da segurança. A reintegração de apenadas, o acesso a programas educacionais e a assistência psicológica são temas frequentemente debatidos por especialistas. No caso de Edelvania, sua conduta carcerária era considerada exemplar, mas a pressão de um crime de grande repercussão pode ter influenciado sua trajetória na prisão. A falta de vagas em unidades adequadas também é um problema recorrente, como evidenciado pela concessão e posterior revogação de sua prisão domiciliar.
A história de Bernardo Boldrini permanece como um alerta para a sociedade. A violência contra crianças, muitas vezes silenciosa, exige vigilância constante de familiares, educadores e autoridades. O caso também destaca a importância de fortalecer os mecanismos de denúncia e proteção, garantindo que tragédias semelhantes sejam evitadas. Enquanto a investigação sobre a morte de Edelvania prossegue, o legado de Bernardo continua a inspirar mudanças no sistema de justiça e na proteção à infância.
Monitoramento e segurança no Instituto Penal Feminino
O Instituto Penal Feminino de Porto Alegre é equipado com tecnologias modernas de vigilância, incluindo câmeras que monitoram o perímetro externo e áreas internas. Desde a implementação do sistema, em 2020, a Susepe relata uma redução em incidentes graves, como tentativas de fuga ou conflitos. No entanto, a morte de Edelvania Wirganovicz levanta questionamentos sobre a eficácia do acompanhamento de apenadas em situações de vulnerabilidade, especialmente aquelas envolvidas em casos de grande exposição midiática.
A unidade, administrada por Tatiana de Paula Firckel, tem uma equipe de policiais penais treinados para lidar com o público feminino. O presídio também oferece atividades laborais e educacionais, visando à ressocialização das internas. Apesar disso, a pressão psicológica enfrentada por apenadas como Edelvania, que carregavam o peso de um crime hediondo, pode demandar intervenções específicas que nem sempre estão disponíveis no sistema prisional.
A investigação sobre o óbito de Edelvania será fundamental para esclarecer se houve falhas no monitoramento ou na assistência prestada. A Susepe informou que a Corregedoria-Geral está analisando os registros de entrada e saída da cela, bem como os relatórios das agentes penitenciárias. O resultado da perícia, conduzida pelo Instituto Geral de Perícias, será determinante para confirmar a causa da morte e avaliar possíveis responsabilidades.
Legado do caso e próximos passos
O caso Bernardo Boldrini continua a influenciar o debate público no Rio Grande do Sul. A morte de Edelvania Wirganovicz, embora trágica, não encerra as questões levantadas pelo assassinato do menino. A anulação do julgamento de Leandro Boldrini, por exemplo, mantém o caso em aberto, com a possibilidade de um novo júri nos próximos anos. Graciele Ugulini, que cumpre pena em regime fechado, também permanece no centro das atenções, enquanto Evandro Wirganovicz, já em liberdade condicional, mantém-se afastado dos holofotes.
A sociedade gaúcha, marcada pela memória de Bernardo, segue exigindo justiça e mudanças estruturais. O fortalecimento de políticas de proteção à infância, a capacitação de profissionais para identificar sinais de abuso e a melhoria do sistema prisional são passos essenciais para evitar que casos como esse se repitam. A morte de Edelvania, por sua vez, reforça a necessidade de um olhar mais atento às condições das apenadas, especialmente em contextos de alta pressão social e psicológica.
- Medidas para prevenção de incidentes no sistema prisional:
- Ampliação de programas de assistência psicológica para apenadas.
- Reforço no treinamento de agentes penitenciários para identificação de vulnerabilidades.
- Investimento em tecnologias de monitoramento em tempo real.
- Criação de protocolos específicos para casos de alta repercussão.
