Campeão de emendas, prefeito faz história ao perder eleição

O pequeno município de João Costa, no interior do Piauí, de cerca de 4.000 habitantes, foi cenário de uma história inusitada nessas eleições.

O pleito de domingo (6) foi marcado pela força das emendas parlamentares, que motivaram taxas de reeleição recorde no país todo. Candidatos aliados a deputados federais bons de emenda tiveram mais sucesso nas urnas do que nunca.

Nos 100 municípios com mais emendas por eleitor, 51 prefeitos tentaram se reeleger e 50 conseguiram, de acordo com o site Poder360. É uma inacreditável taxa de reeleição de 98%.

Só um prefeito campeão de emenda não conseguiu renovar o mandato: o prefeito de João Costa, Zé Neto.

A história começou em 2020. Naquele ano, o prefeito era Gilson Castro, do PSD. Estava em segundo mandato e queria fazer o sucessor. Escolheu um aliado, Zé Neto, para apoiar nas eleições municipais. Zé Neto ganhou e, tomada a posse, Gilson Castro assumiu a secretaria de Obras. Sua esposa, a pasta de Desenvolvimento Social. Outra aliada, a da Saúde. E assim se montou o novo governo.

Quatro anos depois, Castro decidiu retomar a prefeitura. Mas Zé Neto agora queria a reeleição. Eles romperam. Zé Neto demitiu Castro, a esposa e todo o grupo do ex-prefeito.

Começou o tiroteio. Vereadores aliados do ex-prefeito fazem denúncias contra o atual. “O sistema de abastecimento de água instalado nas comunidades rurais do município de João Costa não funciona, tampouco o município leva carros-pipa para as localidades, o que resulta na população sem água para as necessidades básicas por vários dias”, acusaram cinco vereadores da oposição.

O Ministério Público arquivou a denúncia. Meses depois, o contra-ataque. Gilson Castro foi condenado por improbidade administrativa por irregularidades na sua gestão anterior. Eles foram para o enfrentamento. Gilson Castro se lançou candidato a prefeito contra Zé Neto.

Zé Neto estava na máquina, tinha vantagem. A cidade de João Costa recebeu R$ 15 milhões em emendas parlamentares durante a gestão de Zé Neto. Nada desprezível. Segundo o site da prefeitura, o valor total arrecadado pela administração neste ano até 9 de outubro foi de R$ 20 milhões.

Para um município de 4.000 habitantes, R$ 15 milhões em emenda parlamentar significa, numa contra grosseira, R$ 3.750 por habitante em emenda. Muito acima da média nacional.

Às vésperas da eleição, o prefeito bem que tentou. Em julho, inaugurou o asfaltamento de estradas e avenidas e o calçamento de ruas no centro e na área rural do município. Fez um arraial de confraternização. Mas a população não viu vantagem.

Era época de chuva, os bueiros entupiram, as ruas alagaram, o asfalto rachou, a população penou. Zé Neto fez campanha prometendo que agora, no novo mandato, finalmente ele ia tirar as obras do papel. Ia fazer licitações, pavimentar, asfaltar, desentupir os bueiros.

“Os bueiros, inclusive, já quebraram vários bueiros com essa chuva. Agora, no inverno, muitos se romperam. Está na manutenção. Eu quero continuar a manutenção, recuperando as estradas”, declarou. Mas Zé Neto não convenceu o povo.

Quando as urnas foram abertas, no último domingo, 6 de outubro, o resultado era inquestionável. Exatos 1.631 eleitores queriam que Zé Neto ficasse. Mas 2.060 pediram a volta de Gilson Castro. Dezesseis votaram em branco e 77 anularam. 56% a 44% dos votos válidos.

O prefeito saiu derrotado. Uma derrota que entrou para a história como caso do único prefeito campeão de emenda que não se reelegeu: Zé Neto.



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