Camisa 10 sofre com sequência de problemas físicos desde a lesão no joelho em 2023; especialistas explicam processo “comum” após cirurgia de LCA Entenda tudo sobre dor muscular
Neymar vem enfrentando momentos desafiadores em sua carreira nos últimos anos. Desde a ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA), em outubro de 2023, o craque tem repetido uma rotina de recuperação, retorno e novas lesões que o impedem de ter uma sequência regular de participações em jogos. Mas por que será que ele tem se machucado tanto? O Eu Atleta conversou com médicos especialistas para entender por que esse ciclo tem se repetido nos últimos meses.
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+ Lesões musculares pós-cirurgia de LCA como as de Neymar são comuns, mas sequência preocupa
+ Neymar tem terceira lesão muscular em seis meses e frustra sequência no Santos
Com um histórico longo de lesões anteriores, Neymar já perdeu mais de 200 partidas em seus clubes por estar machucado. Uma das contusões mais graves foi o rompimento do LCA do joelho esquerdo, associada ao menisco, que ocorreu em 2023. Ele precisou passar por cirurgia para reconstrução do ligamento e do menisco e encarou uma longa recuperação, que durou cerca de um ano.
Neymar em tratamento no CT Rei Pelé, depois da segunda lesão na coxa esquerda, acompanhado do técnico interino do Santos, César Sampaio
Divulgação/Site oficial de Neymar
O camisa 10 voltou aos gramados em outubro de 2024, pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita, mas se machucou já na segunda partida de seu retorno, com uma ruptura no tendão da coxa direita. Com o problema muscular, Neymar precisou encarar mais um período de tratamento, o que abalou sua relação com a equipe saudita. Meses depois, deixou o Oriente Médio e acertou sua volta para o Santos.
Foi logo em seu retorno ao futebol brasileiro, em janeiro de 2025, que o craque de 33 anos conseguiu emplacar uma pequena sequência de jogos, ao disputar sete partidas no Paulistão – apenas uma por completo. Entretanto, teve um edema na coxa esquerda na reta final do estadual e teve que ficar mais de 40 dias sem jogar.
Ele voltou a campo no Brasileirão, mas logo em sua segunda partida, contra o Atlético-MG, no último dia 16, sentiu um incômodo na coxa esquerda (músculo semimembranoso) e foi substituído com apenas 34 minutos em campo. Agora, ele está realizando o tratamento para poder voltar aos gramados nas próximas semanas.
Lesões pós-cirurgia de LCA são comuns
Médicos do esporte e ortopedistas ouvidos pelo Eu Atleta explicaram que essa sequência de lesões que Neymar vem enfrentando é comum entre atletas que passaram pela cirurgia de reconstrução do LCA. O afastamento prolongado por conta da cirurgia e o tempo de inatividade levam a um desequilíbrio muscular, o que contribui para que haja mais contusões musculares.
– Após esse tipo de cirurgia, há uma redução temporária da propriocepção, alterações no padrão de movimento e desequilíbrio muscular. Somado a isso, há a exigência de um calendário competitivo intenso, pressão por retorno precoce e histórico prévio de lesões. Todos esses fatores contribuem para uma maior vulnerabilidade a lesões musculares e articulares – explica o médico do esporte e ortopedista Adriano Leonardi.
Os primeiros meses após a cirurgia de LCA são críticos para os atletas. Estudos apontam que há um risco três vezes maior de lesões no quadríceps (anterior da coxa), isquiotibiais (posterior da coxa) e panturrilha, em especial nos dois primeiros anos de retorno ao esporte. A médica do esporte e ortopedista Ana Paula Simões lista os fatores contribuem para esse risco:
Déficits de força e assimetria muscular;
Alterações no controle neuromuscular e no padrão de movimento (mudança de biomecânica);
Retorno precoce à competição sem completar todos os critérios funcionais de reabilitação;
Carga competitiva acumulada sem recuperação adequada.
Além disso, o histórico de lesões anteriores do atleta, bem como sua idade (33 anos) e as exigências físicas da elite do futebol profissional também tornam-se agravantes para que Neymar venha sofrendo com lesões após esse longo tempo de recuperação.
– Quanto maior o período de inatividade, mais lento tem que ser esse retorno à atividade plena. É comum ter algum tipo de desconforto muscular, lesões grau 1 ou grau 2 – diz Ricardo Soares, médico ortopedista do Hospital Ortopédico da AACD.
Neymar sendo substituído, novamente machucado, em Santos x Atlético-MG pelo Campeonato Brasileiro
Raul Baretta/Santos FC
A sequência de lesões de Neymar preocupa?
Apesar de médicos considerarem essas lesões comuns no retorno aos gramados, o caso de Neymar inspira certa preocupação. As sucessivas contusões indicam que seu sistema neuromuscular ainda não está plenamente equilibrado.
As três lesões musculares que o atacante sofreu após a cirurgia de LCA ocorreram em músculos diferentes, embora todos localizados nas coxas. Isso sugere sobrecarga compensatória e possível reabilitação incompleta ou mal planejada, como explica Ana Paula Simões. O cenário seria mais grave se todas as lesões fossem no mesmo músculo.
– É preocupante de qualquer forma, mas quando as lesões ocorrem em diferentes grupos musculares, pode indicar um problema sistêmico de controle neuromuscular ou falhas na cadeia cinética como um todo. Ou seja, não é apenas uma região específica que está sobrecarregada, mas sim o corpo inteiro que está descompensado. Isso geralmente reflete uma reabilitação incompleta, desequilíbrios de força ou até mesmo falhas no processo de retorno gradual à carga esportiva. Portanto, o fato de serem lesões diferentes torna o quadro ainda mais complexo e exige uma avaliação global do atleta – diz Adriano Leonardi.
Ricardo Soares explica que as lesões na coxa podem ser recorrentes após cirurgia de LCA porque, em alguns casos, a musculatura posterior serve como área doadora para o enxerto utilizado na reconstrução do ligamento, que exige manipulação cirúrgica da região, deixando cicatrizes internas (fibroses) que, durante o retorno esportivo, podem se soltar e gerar novos episódios de dor ou lesão muscular.
Dá para ter otimismo sobre o futuro?
O histórico de lesões de Neymar levanta dúvidas entre torcedores sobre a possibilidade de ele voltar a ter boa forma física e ajudar a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2026. Os médicos ouvidos pela reportagem são unânimes: sim, é possível.
Neymar com a camisa da seleção brasileira
Ricardo Moraes/Reuters
A nova lesão de Neymar, sofrida no músculo semimembranoso, não é considerada grave. Apesar do Santos não ter divulgado oficialmente uma previsão de retorno, a expectativa é que Neymar esteja apto para jogar em cerca de um mês, na segunda quinzena de maio. Ele tem contrato com o clube até 30 de junho.
Há motivos para otimismo. A medicina esportiva moderna permite recuperação plena mesmo após múltiplas lesões. Ana Paula Simões e Adriano Leonardi destacam alguns passos essenciais para um retorno seguro:
Período adequado de recuperação, sem pressões externas, para corrigir déficits de força, equilíbrio e biomecânica;
Reabilitação de altíssimo nível;
Testes funcionais de força, salto e agilidade;
Monitoramento de assimetria de carga;
Treinamento neuromuscular progressivo e individualizado.
– Se esses critérios forem cumpridos com cautela, Neymar pode sim ter um bom desempenho físico futuramente, embora seus risco de lesões continue acima da média populacional, mesmo após dois anos da cirurgia de LCA – explica Ana Paula.
– Neymar ainda é jovem e tem acesso aos melhores recursos médicos e fisioterapêuticos. Mas cada nova lesão aumenta a complexidade do quadro, e o retorno ao mais alto nível competitivo exige mais do que apenas “curar” a lesão — é necessário reestruturar o atleta como um todo. O otimismo existe, mas deve vir acompanhado de prudência e ciência – completa Adriano Leonardi.
Fontes:
Adriano Leonardi (@dr.adrianoleonardi) é médico ortopedista e médico do esporte, especialista em cirurgia de joelho e colunista do EU Atleta.
Ana Paula Simões (@DraAnaPSimoes) é médica ortopedista e médica do esporte, colunista do EU Atleta.
Ricardo Soares é médico ortopedista do Hospital Ortopédico da AACD.
Camisa 10 sofre com sequência de problemas físicos desde a lesão no joelho em 2023; especialistas explicam processo “comum” após cirurgia de LCA Entenda tudo sobre dor muscular
Neymar vem enfrentando momentos desafiadores em sua carreira nos últimos anos. Desde a ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA), em outubro de 2023, o craque tem repetido uma rotina de recuperação, retorno e novas lesões que o impedem de ter uma sequência regular de participações em jogos. Mas por que será que ele tem se machucado tanto? O Eu Atleta conversou com médicos especialistas para entender por que esse ciclo tem se repetido nos últimos meses.
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+ Neymar tem terceira lesão muscular em seis meses e frustra sequência no Santos
Com um histórico longo de lesões anteriores, Neymar já perdeu mais de 200 partidas em seus clubes por estar machucado. Uma das contusões mais graves foi o rompimento do LCA do joelho esquerdo, associada ao menisco, que ocorreu em 2023. Ele precisou passar por cirurgia para reconstrução do ligamento e do menisco e encarou uma longa recuperação, que durou cerca de um ano.
Neymar em tratamento no CT Rei Pelé, depois da segunda lesão na coxa esquerda, acompanhado do técnico interino do Santos, César Sampaio
Divulgação/Site oficial de Neymar
O camisa 10 voltou aos gramados em outubro de 2024, pelo Al-Hilal, da Arábia Saudita, mas se machucou já na segunda partida de seu retorno, com uma ruptura no tendão da coxa direita. Com o problema muscular, Neymar precisou encarar mais um período de tratamento, o que abalou sua relação com a equipe saudita. Meses depois, deixou o Oriente Médio e acertou sua volta para o Santos.
Foi logo em seu retorno ao futebol brasileiro, em janeiro de 2025, que o craque de 33 anos conseguiu emplacar uma pequena sequência de jogos, ao disputar sete partidas no Paulistão – apenas uma por completo. Entretanto, teve um edema na coxa esquerda na reta final do estadual e teve que ficar mais de 40 dias sem jogar.
Ele voltou a campo no Brasileirão, mas logo em sua segunda partida, contra o Atlético-MG, no último dia 16, sentiu um incômodo na coxa esquerda (músculo semimembranoso) e foi substituído com apenas 34 minutos em campo. Agora, ele está realizando o tratamento para poder voltar aos gramados nas próximas semanas.
Lesões pós-cirurgia de LCA são comuns
Médicos do esporte e ortopedistas ouvidos pelo Eu Atleta explicaram que essa sequência de lesões que Neymar vem enfrentando é comum entre atletas que passaram pela cirurgia de reconstrução do LCA. O afastamento prolongado por conta da cirurgia e o tempo de inatividade levam a um desequilíbrio muscular, o que contribui para que haja mais contusões musculares.
– Após esse tipo de cirurgia, há uma redução temporária da propriocepção, alterações no padrão de movimento e desequilíbrio muscular. Somado a isso, há a exigência de um calendário competitivo intenso, pressão por retorno precoce e histórico prévio de lesões. Todos esses fatores contribuem para uma maior vulnerabilidade a lesões musculares e articulares – explica o médico do esporte e ortopedista Adriano Leonardi.
Os primeiros meses após a cirurgia de LCA são críticos para os atletas. Estudos apontam que há um risco três vezes maior de lesões no quadríceps (anterior da coxa), isquiotibiais (posterior da coxa) e panturrilha, em especial nos dois primeiros anos de retorno ao esporte. A médica do esporte e ortopedista Ana Paula Simões lista os fatores contribuem para esse risco:
Déficits de força e assimetria muscular;
Alterações no controle neuromuscular e no padrão de movimento (mudança de biomecânica);
Retorno precoce à competição sem completar todos os critérios funcionais de reabilitação;
Carga competitiva acumulada sem recuperação adequada.
Além disso, o histórico de lesões anteriores do atleta, bem como sua idade (33 anos) e as exigências físicas da elite do futebol profissional também tornam-se agravantes para que Neymar venha sofrendo com lesões após esse longo tempo de recuperação.
– Quanto maior o período de inatividade, mais lento tem que ser esse retorno à atividade plena. É comum ter algum tipo de desconforto muscular, lesões grau 1 ou grau 2 – diz Ricardo Soares, médico ortopedista do Hospital Ortopédico da AACD.
Neymar sendo substituído, novamente machucado, em Santos x Atlético-MG pelo Campeonato Brasileiro
Raul Baretta/Santos FC
A sequência de lesões de Neymar preocupa?
Apesar de médicos considerarem essas lesões comuns no retorno aos gramados, o caso de Neymar inspira certa preocupação. As sucessivas contusões indicam que seu sistema neuromuscular ainda não está plenamente equilibrado.
As três lesões musculares que o atacante sofreu após a cirurgia de LCA ocorreram em músculos diferentes, embora todos localizados nas coxas. Isso sugere sobrecarga compensatória e possível reabilitação incompleta ou mal planejada, como explica Ana Paula Simões. O cenário seria mais grave se todas as lesões fossem no mesmo músculo.
– É preocupante de qualquer forma, mas quando as lesões ocorrem em diferentes grupos musculares, pode indicar um problema sistêmico de controle neuromuscular ou falhas na cadeia cinética como um todo. Ou seja, não é apenas uma região específica que está sobrecarregada, mas sim o corpo inteiro que está descompensado. Isso geralmente reflete uma reabilitação incompleta, desequilíbrios de força ou até mesmo falhas no processo de retorno gradual à carga esportiva. Portanto, o fato de serem lesões diferentes torna o quadro ainda mais complexo e exige uma avaliação global do atleta – diz Adriano Leonardi.
Ricardo Soares explica que as lesões na coxa podem ser recorrentes após cirurgia de LCA porque, em alguns casos, a musculatura posterior serve como área doadora para o enxerto utilizado na reconstrução do ligamento, que exige manipulação cirúrgica da região, deixando cicatrizes internas (fibroses) que, durante o retorno esportivo, podem se soltar e gerar novos episódios de dor ou lesão muscular.
Dá para ter otimismo sobre o futuro?
O histórico de lesões de Neymar levanta dúvidas entre torcedores sobre a possibilidade de ele voltar a ter boa forma física e ajudar a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2026. Os médicos ouvidos pela reportagem são unânimes: sim, é possível.
Neymar com a camisa da seleção brasileira
Ricardo Moraes/Reuters
A nova lesão de Neymar, sofrida no músculo semimembranoso, não é considerada grave. Apesar do Santos não ter divulgado oficialmente uma previsão de retorno, a expectativa é que Neymar esteja apto para jogar em cerca de um mês, na segunda quinzena de maio. Ele tem contrato com o clube até 30 de junho.
Há motivos para otimismo. A medicina esportiva moderna permite recuperação plena mesmo após múltiplas lesões. Ana Paula Simões e Adriano Leonardi destacam alguns passos essenciais para um retorno seguro:
Período adequado de recuperação, sem pressões externas, para corrigir déficits de força, equilíbrio e biomecânica;
Reabilitação de altíssimo nível;
Testes funcionais de força, salto e agilidade;
Monitoramento de assimetria de carga;
Treinamento neuromuscular progressivo e individualizado.
– Se esses critérios forem cumpridos com cautela, Neymar pode sim ter um bom desempenho físico futuramente, embora seus risco de lesões continue acima da média populacional, mesmo após dois anos da cirurgia de LCA – explica Ana Paula.
– Neymar ainda é jovem e tem acesso aos melhores recursos médicos e fisioterapêuticos. Mas cada nova lesão aumenta a complexidade do quadro, e o retorno ao mais alto nível competitivo exige mais do que apenas “curar” a lesão — é necessário reestruturar o atleta como um todo. O otimismo existe, mas deve vir acompanhado de prudência e ciência – completa Adriano Leonardi.
Fontes:
Adriano Leonardi (@dr.adrianoleonardi) é médico ortopedista e médico do esporte, especialista em cirurgia de joelho e colunista do EU Atleta.
Ana Paula Simões (@DraAnaPSimoes) é médica ortopedista e médica do esporte, colunista do EU Atleta.
Ricardo Soares é médico ortopedista do Hospital Ortopédico da AACD.