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11 Mar 2025, Tue

Remédios para dor não funcionam tão bem para mulheres. Entenda por quê




Diferenças hormonais, falta de representação em pesquisas e diagnósticos tardios revelam como o sistema de saúde falha com o sexo feminino, agravando seu sofrimento e os riscos à sua saúde A dor é, provavelmente, a queixa que mais leva as pessoas a procurarem ajuda médica. Por muito tempo, no entanto, os tratamentos foram (e ainda são) aplicados de forma padronizada, sem levar em conta as diferenças entre os sexos.
Somente nas últimas décadas alguns especialistas começaram a reconhecer que as mulheres experimentam a dor de maneira diferente dos homens e, em muitos casos, os tratamentos tradicionais não são tão eficazes para elas.
Leia também
Essa descoberta tem grandes implicações para a medicina e para as mulheres em especial. Estudos apontam que o sexo feminino tende a sentir dor com maior intensidade do que os homens e é mais suscetível a condições crônicas, como enxaqueca e fibromialgia.
Apesar disso, suas queixas são frequentemente subestimadas pelos profissionais de saúde, o que resulta em diagnósticos tardios e terapias inadequadas.
Uma revisão de 77 artigos científicos, publicada em 2018, avaliou a diferença entre os sexos no tratamento da dor crônica. Os cientistas descobriram que, quando relatam esse sintoma, os homens recebem mais prescrição de analgésico e as mulheres, de calmantes. Embora a queixa seja mais prevalente e intensa no sexo feminino, a medicina não nos leva tão a sério.
Uma reportagem sobre o tema publicada em fevereiro pela revista National Geographic aponta que, antes de 1993, os pesquisadores não eram obrigados a incluir mulheres em pesquisas clínicas financiadas pelo National Institutes of Health (NIH), o principal órgão de fomento a pesquisas médicas nos EUA.
“Isso se baseava na noção de que os ciclos menstruais das mulheres distorciam os resultados dos testes e no medo de prejudicar uma possível gravidez. Em vez disso, os pesquisadores presumiam que se um medicamento fosse seguro e eficaz em homens, também o seria em mulheres”, informa o texto assinado por Katie Camero.
Essa premissa, porém, é falsa. “O ponto principal é que ainda sabemos muito pouco sobre a biologia feminina e sua relação com a dor”, afirmou Elizabeth Losin, neurocientista da Universidade Penn State, em entrevista à revista.
Diferenças hormonais e respostas aos medicamentos
Uma das explicações para essa disparidade está nos hormônios sexuais. O estrogênio, presente em maior quantidade nas mulheres, influencia a forma como o corpo processa os medicamentos. O hormônio retarda o esvaziamento do estômago, aumenta a gordura corporal e reduz as proteínas que transportam fármacos no sangue. Esses fatores fazem com que os analgésicos sejam menos eficazes para as mulheres.
Além disso, o sistema imunológico feminino é mais ativo, o que pode levar a respostas inflamatórias mais intensas, informa a reportagem da National Geographic. Isso pode explicar por que mulheres precisam de doses mais altas de medicamentos e por períodos mais prolongados. No entanto, essa necessidade nem sempre é atendida, o que agrava o sofrimento e prolonga o tempo de recuperação.
+ Saúde: Pesquisa brasileira pode explicar por que mulheres têm mais Alzheimer do que homens
A falta de representação feminina nos estudos clínicos também significa que muitos medicamentos têm efeitos colaterais pouco estudados para as mulheres. Uma pesquisa de 2020 revelou que elas metabolizam 86 fármacos, incluindo morfina e prednisona (um corticoide), mais lentamente do que os homens, o que resulta em concentrações mais altas no sangue e em efeitos adversos como náuseas, dores de cabeça e convulsões.
Impactos da dor não tratada
A dor crônica não tratada pode ter consequências devastadoras para as mulheres, afetando sua qualidade de vida e aumentando o risco de complicações médicas. Além disso, a sobrecarga de responsabilidades domésticas e familiares pode agravar o sofrimento.
A dor crônica também está associada a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, e ao uso inadequado de medicamentos. Dados do NIH mostram que, embora mais homens morram de overdose por opioides, as mortes entre mulheres aumentaram 642% desde 1999, ante 439% entre os homens, diz o texto da National Geographic.
Especialistas defendem a necessidade de mais pesquisas focadas nas diferenças de gênero no tratamento da dor. Enquanto isso, o self-advocacy (capacidade de agir em defesa dos seus interesses) e a busca por informações são fundamentais para as mulheres que lidam com a dor.
“Não que deva ser nossa responsabilidade, mas quanto mais pesquisas você puder fazer com antecedência para participar mais ativamente do seu tratamento, melhor será para você”, disse Elizabeth Losin à reportagem.


Diferenças hormonais, falta de representação em pesquisas e diagnósticos tardios revelam como o sistema de saúde falha com o sexo feminino, agravando seu sofrimento e os riscos à sua saúde A dor é, provavelmente, a queixa que mais leva as pessoas a procurarem ajuda médica. Por muito tempo, no entanto, os tratamentos foram (e ainda são) aplicados de forma padronizada, sem levar em conta as diferenças entre os sexos.
Somente nas últimas décadas alguns especialistas começaram a reconhecer que as mulheres experimentam a dor de maneira diferente dos homens e, em muitos casos, os tratamentos tradicionais não são tão eficazes para elas.
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Essa descoberta tem grandes implicações para a medicina e para as mulheres em especial. Estudos apontam que o sexo feminino tende a sentir dor com maior intensidade do que os homens e é mais suscetível a condições crônicas, como enxaqueca e fibromialgia.
Apesar disso, suas queixas são frequentemente subestimadas pelos profissionais de saúde, o que resulta em diagnósticos tardios e terapias inadequadas.
Uma revisão de 77 artigos científicos, publicada em 2018, avaliou a diferença entre os sexos no tratamento da dor crônica. Os cientistas descobriram que, quando relatam esse sintoma, os homens recebem mais prescrição de analgésico e as mulheres, de calmantes. Embora a queixa seja mais prevalente e intensa no sexo feminino, a medicina não nos leva tão a sério.
Uma reportagem sobre o tema publicada em fevereiro pela revista National Geographic aponta que, antes de 1993, os pesquisadores não eram obrigados a incluir mulheres em pesquisas clínicas financiadas pelo National Institutes of Health (NIH), o principal órgão de fomento a pesquisas médicas nos EUA.
“Isso se baseava na noção de que os ciclos menstruais das mulheres distorciam os resultados dos testes e no medo de prejudicar uma possível gravidez. Em vez disso, os pesquisadores presumiam que se um medicamento fosse seguro e eficaz em homens, também o seria em mulheres”, informa o texto assinado por Katie Camero.
Essa premissa, porém, é falsa. “O ponto principal é que ainda sabemos muito pouco sobre a biologia feminina e sua relação com a dor”, afirmou Elizabeth Losin, neurocientista da Universidade Penn State, em entrevista à revista.
Diferenças hormonais e respostas aos medicamentos
Uma das explicações para essa disparidade está nos hormônios sexuais. O estrogênio, presente em maior quantidade nas mulheres, influencia a forma como o corpo processa os medicamentos. O hormônio retarda o esvaziamento do estômago, aumenta a gordura corporal e reduz as proteínas que transportam fármacos no sangue. Esses fatores fazem com que os analgésicos sejam menos eficazes para as mulheres.
Além disso, o sistema imunológico feminino é mais ativo, o que pode levar a respostas inflamatórias mais intensas, informa a reportagem da National Geographic. Isso pode explicar por que mulheres precisam de doses mais altas de medicamentos e por períodos mais prolongados. No entanto, essa necessidade nem sempre é atendida, o que agrava o sofrimento e prolonga o tempo de recuperação.
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A falta de representação feminina nos estudos clínicos também significa que muitos medicamentos têm efeitos colaterais pouco estudados para as mulheres. Uma pesquisa de 2020 revelou que elas metabolizam 86 fármacos, incluindo morfina e prednisona (um corticoide), mais lentamente do que os homens, o que resulta em concentrações mais altas no sangue e em efeitos adversos como náuseas, dores de cabeça e convulsões.
Impactos da dor não tratada
A dor crônica não tratada pode ter consequências devastadoras para as mulheres, afetando sua qualidade de vida e aumentando o risco de complicações médicas. Além disso, a sobrecarga de responsabilidades domésticas e familiares pode agravar o sofrimento.
A dor crônica também está associada a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, e ao uso inadequado de medicamentos. Dados do NIH mostram que, embora mais homens morram de overdose por opioides, as mortes entre mulheres aumentaram 642% desde 1999, ante 439% entre os homens, diz o texto da National Geographic.
Especialistas defendem a necessidade de mais pesquisas focadas nas diferenças de gênero no tratamento da dor. Enquanto isso, o self-advocacy (capacidade de agir em defesa dos seus interesses) e a busca por informações são fundamentais para as mulheres que lidam com a dor.
“Não que deva ser nossa responsabilidade, mas quanto mais pesquisas você puder fazer com antecedência para participar mais ativamente do seu tratamento, melhor será para você”, disse Elizabeth Losin à reportagem.



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