
A origem do surfe é incerta. Os pescadores do Peru, há cerca de 3.000 anos, descobriram que era mais fácil voltar à areia usando uma canoa feita de junco, e se aproveitavam das ondas para isso. Outras fontes alegam que os inventores na verdade foram os polinésios, povo especialista na exploração marítima e que habitou diversas ilhas na Oceania, além do Havaí, hoje pertencente aos Estados Unidos.
O primeiro registro oficial do esporte, no entanto, foi feito milênios depois pelo navegador britânico James Cook, em 1778, justamente no Havaí. E foi lá que um dos maiores fenômenos do surfe brasileiro se consolidou.
Tatiana Weston-Webb nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1996, fruto de um grande intercâmbio cultural. Seu pai, Douglas Weston-Webb, é britânico, mas cresceu no estado da Flórida, nos Estados Unidos, se apaixonou pelo surfe e se mudou para o Havaí no início da vida adulta. Sua mãe, Tanira Weston-Webb, era bodyboarder profissional e conheceu Douglas no Havaí. Dois meses depois do nascimento de Tatiana, a família se estabeleceu na ilha que é berço do surfe.
Suas raízes deram sustentação para uma carreira de grandes frutos. Em 2013 e 2014, Tati foi bicampeã mundial na categoria júnior, enquanto ainda representava o Havaí. Anos depois, em 2021, defendeu as cores do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio, a primeira que incluiu disputas de surfe. O resultado, entretanto, não foi o esperado: depois de passar pela repescagem, a brasileira foi eliminada nas oitavas de final para a japonesa Amuro Tsuzuki.
Já em 2024, nas Olimpíadas de Paris, o final foi diferente. Pelo Brasil, as mulheres foram as protagonistas dos Jogos: foi a primeira vez que elas medalharam mais que os homens e Tati foi uma das responsáveis pelo novo panorama, com uma das medalhas mais pesadas da campanha verde e amarela. Ela conquistou a prata, em final emocionante contra a americana Caroline Marks.
A gaúcha foi responsável pela primeira medalha da história do surfe feminino brasileiro. O palco? A Polinésia Francesa. O berço do esporte para o mundo é o lugar onde também as pranchas brasileiras escreveram um de seus capítulos mais bonitos.
Agora, em entrevista exclusiva ao MASSA!, Tati Weston-Webb revelou suas próximas metas, descreveu as suas origens, detalhou a sua identidade e exaltou o seu esporte. Confira tudo abaixo:
Como é ter a identidade atravessada por culturas de dois países diferentes? O que tem de Brasil na sua personalidade? E de Havaí?
Tati Weston-Webb: Essa mistura cultural sempre foi algo muito presente na minha vida e na minha identidade. Eu nasci no Brasil, mas me mudei para o Havaí ainda criança, então cresci entre essas duas culturas que, de certa forma, se complementam muito bem. Do Brasil, eu carrego a paixão, a alegria e aquela energia contagiante, também tem a garra e a determinação que levo para o meu surf. Já do Havaí, veio minha conexão com o mar, é um lugar mágico para o surfe, e foi lá que o amor pelo esporte se fortaleceu. Sou essa mistura.

Gaúcha posa com prancha em ensaio fotográfico
Ser surfista no Havaí é como ser peixe no mar. Como foi essa sensação para você? Sente que estava no lugar certo e na hora certa?
TW: Com certeza! Crescer surfando no Havaí foi algo muito especial, é um lugar onde o surfe faz parte da cultura, do dia a dia, e isso me fez sentir muito conectada com o esporte. Lá as ondas são poderosas, desafiadoras e isso me ajudou a construir uma base muito sólida como surfista. E claro teve também a influência do meu irmão mais velho, que surfava.
O que tem em comum entre o Brasil e o Havaí? E as diferenças?
TW: O Brasil e o Havaí têm muitas coisas em comum, acho que isso fez com que eu me sentisse conectada aos dois lugares. Os dois têm uma cultura muito forte, uma energia vibrante e pessoas acolhedoras. Agora, falando das diferenças, acho que as principais estão ligadas a história de cada lugar. O Havaí tem uma herança polinésia que reflete nos costumes, na música, na dança, na forma como as pessoas se relacionam com a natureza. Já no Brasil tem uma diversidade cultural enorme, com influências indígenas, africanas e europeias, o que faz do país uma mistura de ritmos, sabores e expressões.
O surfe chama atenção pela união dos atletas. O companheirismo parece superar a rivalidade. Quais os benefícios desse ambiente?
TW: O surfe é muito especial nesse sentido. Claro que existe a competitividade, afinal todos querem vencer, mas, ao mesmo tempo, há um respeito muito grande entre os atletas. Acho que isso vem do próprio estilo de vida que o surf proporciona. Estamos todos no mar, lidando com a natureza, compartilhando ondas e momentos que são muito especiais, isso cria um senso de comunidade. Além disso, tem a troca de experiências, estamos sempre aprendendo uns com os outros, seja observando, treinando juntos ou simplesmente conversando sobre as condições do mar. Também tem a questão do apoio emocional. Viajar pelo mundo competindo pode ser desafiador, então ter essa rede de amigos dentro do circuito faz toda a diferença.
Sua medalha olímpica ajudou a consolidar o Brasil como potência do surfe mundial. O que você sente levando o surfe brasileiro adiante? Qual a meta para Los Angeles 2028?
TW: Ganhar a medalha olímpica foi um momento inesquecível e uma grande conquista, não só para mim, mas para o surfe feminino brasileiro como um todo. O Brasil já vinha se consolidando como uma potência no esporte, com campeões mundiais e uma nova geração muito forte, então poder contribuir para essa história nas Olimpíadas foi uma honra. Saber que inspirei outras meninas e ajudei a elevar ainda mais o nome do Brasil no surf mundial me deixa muito feliz e motivada para o que vem pela frente. Quero continuar trabalhando para conquistar mais resultados para o meu país, vamos com tudo em Los Angeles 2028.
No ano passado, você foi superada por Caroline Marks na final olímpica e na semifinal da WSL. “Se vingar” está entre suas metas para 2025?
TW: Olha, o surfe é um esporte de altos e baixos, a rivalidade faz parte do jogo. A Caroline Marks é uma surfista incrível, muito talentosa, e competir contra ela sempre eleva o meu nível. Meu objetivo para 2025 é seguir evoluindo e estar cada vez mais preparada para esses momentos decisivos, ajustar detalhes, fortalecer meu mental e continuar crescendo como atleta.
A temporada de 2025 da WSL já começou. Qual a importância do resultado da etapa de Pipeline para o restante da temporada? É essencial começar com o pé direito ou ainda tem muita onda pela frente?
TW: Pipeline sempre é uma etapa importante, pois dá o tom para o restante da temporada. Claro que começar com um grande resultado dá aquele impulso extra, mas o circuito é longo, ainda tem muita onda pela frente. Ter chego até as oitavas em Pipe foi um bom começo, mas sei que posso mais. Agora é focar nas próximas etapas, ajustar o que for necessário e seguir forte na busca por bons resultados ao longo da temporada. O importante é manter a consistência e estar sempre evoluindo.
Você rompeu longa parceria com Ross Williams e anunciou Mineirinho como novo treinador. O que esperar desse novo ciclo?
TW: Sim, essa mudança marca um novo ciclo na minha carreira, estou muito animada com essa parceria com o Mineirinho. O Ross Williams foi um grande treinador, aprendi muito com ele, mas senti que era hora de buscar uma nova abordagem. O Mineirinho tem uma experiência gigante, foi campeão mundial e sabe exatamente o que é preciso para chegar no topo. Além disso, ele tem aquela mentalidade guerreira que define o surf brasileiro.
Desde o início da carreira você lida com expectativas: em 2015, foi eleita a estreante do ano. O sucesso te trouxe pressão?
TW: Aprendi, desde cedo, a transformar isso em motivação. O sucesso traz pressão, porque as pessoas esperam que você continue evoluindo e alcançando grandes resultados, mas, no geral, uso como combustível para me desafiar e buscar sempre melhorar. O surf é um esporte imprevisível e o mais importante é estar bem preparado mental e fisicamente.
O que acha da nova geração do surfe brasileiro? Luana Silva, Tainá Hinckel e outros nomes?
TW: Essa nova geração está vindo com tudo, isso me deixa muito feliz! A Luana, a Tainá e várias outras meninas estão mostrando um nível de surf altíssimo, com muita técnica, atitude e vontade de crescer. É incrível ver como o surf feminino no Brasil está cada vez mais forte e com mais representatividade. Saber que posso ser um exemplo para elas é algo muito especial, quero mostrar que é possível sonhar grande, que com dedicação e trabalho duro dá pra chegar lá.

Surfista dá show de manobras nas grandes ondas da Polinésia Francesa
Como o surfe molda sua personalidade? O mar, o dia a dia como atleta, as competições, a irmandade…
TW: O surfe é muito mais do que um esporte pra mim, é um estilo de vida que molda minha personalidade em vários aspectos. O mar me ensina a ter paciência, resiliência e humildade. Ele muda todos os dias, isso me faz entender que nem sempre temos controle sobre tudo, mas podemos aprender a nos adaptar e a tirar o melhor de cada situação.
A rotina como atleta me trouxe muita disciplina e determinação. Viajar o mundo competindo exige foco, preparação física e mental, e a capacidade de se reinventar a cada etapa. A irmandade também é muito importante, essa conexão entre os surfistas. Mesmo sendo um esporte individual, a gente compartilha experiências e se apoia. Tudo isso fez de mim a pessoa que sou hoje, o esporte me ensinou a viver com paixão, a respeitar a natureza e a buscar sempre minha melhor versão – dentro e fora d’água.
Qual bateria da sua carreira é sua favorita?
TW: Eu gosto bastante de surfar a onda de Teahupo’o, onde ano passado conquistei uma nota 10 no circuito mundial e a medalha inédita para o Brasil nas Olimpíadas de Paris no surfe feminino. Me sinto super confortável surfando lá. Claro que essa onda é muito poderosa, ela tem vários riscos, é bem rasa, tem a barreira de corais. Todas as ondas têm seus perigos, mas essa é diferente. Por isso sempre me preparo bastante para dar o meu melhor e me sentir segura.
Seu lugar favorito no Brasil ainda é Garopaba? Quais as outras cidades ou praias que mais gosta?
TW: Garopaba é um lugar muito especial no meu coração! Celebrei meu casamento com meu marido Jessé na praia de Silveira em novembro de 2023, então sempre que posso, gosto de voltar para lá, porque tem uma energia única, praias lindas e ondas incríveis. Mas, o Brasil tem muitos lugares maravilhosos! Eu também amo o Guarujá, cidade onde o meu marido nasceu, e onde também mantenho residência quando estou no Brasil gosto bastante do litoral do Rio de Janeiro, principalmente Saquarema que tem um clima de surf clássico e recebe uma etapa da WSL.
*Sob a supervisão do editor Léo Santana

A origem do surfe é incerta. Os pescadores do Peru, há cerca de 3.000 anos, descobriram que era mais fácil voltar à areia usando uma canoa feita de junco, e se aproveitavam das ondas para isso. Outras fontes alegam que os inventores na verdade foram os polinésios, povo especialista na exploração marítima e que habitou diversas ilhas na Oceania, além do Havaí, hoje pertencente aos Estados Unidos.
O primeiro registro oficial do esporte, no entanto, foi feito milênios depois pelo navegador britânico James Cook, em 1778, justamente no Havaí. E foi lá que um dos maiores fenômenos do surfe brasileiro se consolidou.
Tatiana Weston-Webb nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, em 1996, fruto de um grande intercâmbio cultural. Seu pai, Douglas Weston-Webb, é britânico, mas cresceu no estado da Flórida, nos Estados Unidos, se apaixonou pelo surfe e se mudou para o Havaí no início da vida adulta. Sua mãe, Tanira Weston-Webb, era bodyboarder profissional e conheceu Douglas no Havaí. Dois meses depois do nascimento de Tatiana, a família se estabeleceu na ilha que é berço do surfe.
Suas raízes deram sustentação para uma carreira de grandes frutos. Em 2013 e 2014, Tati foi bicampeã mundial na categoria júnior, enquanto ainda representava o Havaí. Anos depois, em 2021, defendeu as cores do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio, a primeira que incluiu disputas de surfe. O resultado, entretanto, não foi o esperado: depois de passar pela repescagem, a brasileira foi eliminada nas oitavas de final para a japonesa Amuro Tsuzuki.
Já em 2024, nas Olimpíadas de Paris, o final foi diferente. Pelo Brasil, as mulheres foram as protagonistas dos Jogos: foi a primeira vez que elas medalharam mais que os homens e Tati foi uma das responsáveis pelo novo panorama, com uma das medalhas mais pesadas da campanha verde e amarela. Ela conquistou a prata, em final emocionante contra a americana Caroline Marks.
A gaúcha foi responsável pela primeira medalha da história do surfe feminino brasileiro. O palco? A Polinésia Francesa. O berço do esporte para o mundo é o lugar onde também as pranchas brasileiras escreveram um de seus capítulos mais bonitos.
Agora, em entrevista exclusiva ao MASSA!, Tati Weston-Webb revelou suas próximas metas, descreveu as suas origens, detalhou a sua identidade e exaltou o seu esporte. Confira tudo abaixo:
Como é ter a identidade atravessada por culturas de dois países diferentes? O que tem de Brasil na sua personalidade? E de Havaí?
Tati Weston-Webb: Essa mistura cultural sempre foi algo muito presente na minha vida e na minha identidade. Eu nasci no Brasil, mas me mudei para o Havaí ainda criança, então cresci entre essas duas culturas que, de certa forma, se complementam muito bem. Do Brasil, eu carrego a paixão, a alegria e aquela energia contagiante, também tem a garra e a determinação que levo para o meu surf. Já do Havaí, veio minha conexão com o mar, é um lugar mágico para o surfe, e foi lá que o amor pelo esporte se fortaleceu. Sou essa mistura.

Gaúcha posa com prancha em ensaio fotográfico
Ser surfista no Havaí é como ser peixe no mar. Como foi essa sensação para você? Sente que estava no lugar certo e na hora certa?
TW: Com certeza! Crescer surfando no Havaí foi algo muito especial, é um lugar onde o surfe faz parte da cultura, do dia a dia, e isso me fez sentir muito conectada com o esporte. Lá as ondas são poderosas, desafiadoras e isso me ajudou a construir uma base muito sólida como surfista. E claro teve também a influência do meu irmão mais velho, que surfava.
O que tem em comum entre o Brasil e o Havaí? E as diferenças?
TW: O Brasil e o Havaí têm muitas coisas em comum, acho que isso fez com que eu me sentisse conectada aos dois lugares. Os dois têm uma cultura muito forte, uma energia vibrante e pessoas acolhedoras. Agora, falando das diferenças, acho que as principais estão ligadas a história de cada lugar. O Havaí tem uma herança polinésia que reflete nos costumes, na música, na dança, na forma como as pessoas se relacionam com a natureza. Já no Brasil tem uma diversidade cultural enorme, com influências indígenas, africanas e europeias, o que faz do país uma mistura de ritmos, sabores e expressões.
O surfe chama atenção pela união dos atletas. O companheirismo parece superar a rivalidade. Quais os benefícios desse ambiente?
TW: O surfe é muito especial nesse sentido. Claro que existe a competitividade, afinal todos querem vencer, mas, ao mesmo tempo, há um respeito muito grande entre os atletas. Acho que isso vem do próprio estilo de vida que o surf proporciona. Estamos todos no mar, lidando com a natureza, compartilhando ondas e momentos que são muito especiais, isso cria um senso de comunidade. Além disso, tem a troca de experiências, estamos sempre aprendendo uns com os outros, seja observando, treinando juntos ou simplesmente conversando sobre as condições do mar. Também tem a questão do apoio emocional. Viajar pelo mundo competindo pode ser desafiador, então ter essa rede de amigos dentro do circuito faz toda a diferença.
Sua medalha olímpica ajudou a consolidar o Brasil como potência do surfe mundial. O que você sente levando o surfe brasileiro adiante? Qual a meta para Los Angeles 2028?
TW: Ganhar a medalha olímpica foi um momento inesquecível e uma grande conquista, não só para mim, mas para o surfe feminino brasileiro como um todo. O Brasil já vinha se consolidando como uma potência no esporte, com campeões mundiais e uma nova geração muito forte, então poder contribuir para essa história nas Olimpíadas foi uma honra. Saber que inspirei outras meninas e ajudei a elevar ainda mais o nome do Brasil no surf mundial me deixa muito feliz e motivada para o que vem pela frente. Quero continuar trabalhando para conquistar mais resultados para o meu país, vamos com tudo em Los Angeles 2028.
No ano passado, você foi superada por Caroline Marks na final olímpica e na semifinal da WSL. “Se vingar” está entre suas metas para 2025?
TW: Olha, o surfe é um esporte de altos e baixos, a rivalidade faz parte do jogo. A Caroline Marks é uma surfista incrível, muito talentosa, e competir contra ela sempre eleva o meu nível. Meu objetivo para 2025 é seguir evoluindo e estar cada vez mais preparada para esses momentos decisivos, ajustar detalhes, fortalecer meu mental e continuar crescendo como atleta.
A temporada de 2025 da WSL já começou. Qual a importância do resultado da etapa de Pipeline para o restante da temporada? É essencial começar com o pé direito ou ainda tem muita onda pela frente?
TW: Pipeline sempre é uma etapa importante, pois dá o tom para o restante da temporada. Claro que começar com um grande resultado dá aquele impulso extra, mas o circuito é longo, ainda tem muita onda pela frente. Ter chego até as oitavas em Pipe foi um bom começo, mas sei que posso mais. Agora é focar nas próximas etapas, ajustar o que for necessário e seguir forte na busca por bons resultados ao longo da temporada. O importante é manter a consistência e estar sempre evoluindo.
Você rompeu longa parceria com Ross Williams e anunciou Mineirinho como novo treinador. O que esperar desse novo ciclo?
TW: Sim, essa mudança marca um novo ciclo na minha carreira, estou muito animada com essa parceria com o Mineirinho. O Ross Williams foi um grande treinador, aprendi muito com ele, mas senti que era hora de buscar uma nova abordagem. O Mineirinho tem uma experiência gigante, foi campeão mundial e sabe exatamente o que é preciso para chegar no topo. Além disso, ele tem aquela mentalidade guerreira que define o surf brasileiro.
Desde o início da carreira você lida com expectativas: em 2015, foi eleita a estreante do ano. O sucesso te trouxe pressão?
TW: Aprendi, desde cedo, a transformar isso em motivação. O sucesso traz pressão, porque as pessoas esperam que você continue evoluindo e alcançando grandes resultados, mas, no geral, uso como combustível para me desafiar e buscar sempre melhorar. O surf é um esporte imprevisível e o mais importante é estar bem preparado mental e fisicamente.
O que acha da nova geração do surfe brasileiro? Luana Silva, Tainá Hinckel e outros nomes?
TW: Essa nova geração está vindo com tudo, isso me deixa muito feliz! A Luana, a Tainá e várias outras meninas estão mostrando um nível de surf altíssimo, com muita técnica, atitude e vontade de crescer. É incrível ver como o surf feminino no Brasil está cada vez mais forte e com mais representatividade. Saber que posso ser um exemplo para elas é algo muito especial, quero mostrar que é possível sonhar grande, que com dedicação e trabalho duro dá pra chegar lá.

Surfista dá show de manobras nas grandes ondas da Polinésia Francesa
Como o surfe molda sua personalidade? O mar, o dia a dia como atleta, as competições, a irmandade…
TW: O surfe é muito mais do que um esporte pra mim, é um estilo de vida que molda minha personalidade em vários aspectos. O mar me ensina a ter paciência, resiliência e humildade. Ele muda todos os dias, isso me faz entender que nem sempre temos controle sobre tudo, mas podemos aprender a nos adaptar e a tirar o melhor de cada situação.
A rotina como atleta me trouxe muita disciplina e determinação. Viajar o mundo competindo exige foco, preparação física e mental, e a capacidade de se reinventar a cada etapa. A irmandade também é muito importante, essa conexão entre os surfistas. Mesmo sendo um esporte individual, a gente compartilha experiências e se apoia. Tudo isso fez de mim a pessoa que sou hoje, o esporte me ensinou a viver com paixão, a respeitar a natureza e a buscar sempre minha melhor versão – dentro e fora d’água.
Qual bateria da sua carreira é sua favorita?
TW: Eu gosto bastante de surfar a onda de Teahupo’o, onde ano passado conquistei uma nota 10 no circuito mundial e a medalha inédita para o Brasil nas Olimpíadas de Paris no surfe feminino. Me sinto super confortável surfando lá. Claro que essa onda é muito poderosa, ela tem vários riscos, é bem rasa, tem a barreira de corais. Todas as ondas têm seus perigos, mas essa é diferente. Por isso sempre me preparo bastante para dar o meu melhor e me sentir segura.
Seu lugar favorito no Brasil ainda é Garopaba? Quais as outras cidades ou praias que mais gosta?
TW: Garopaba é um lugar muito especial no meu coração! Celebrei meu casamento com meu marido Jessé na praia de Silveira em novembro de 2023, então sempre que posso, gosto de voltar para lá, porque tem uma energia única, praias lindas e ondas incríveis. Mas, o Brasil tem muitos lugares maravilhosos! Eu também amo o Guarujá, cidade onde o meu marido nasceu, e onde também mantenho residência quando estou no Brasil gosto bastante do litoral do Rio de Janeiro, principalmente Saquarema que tem um clima de surf clássico e recebe uma etapa da WSL.
*Sob a supervisão do editor Léo Santana